14 março, 2008

A ratoeira do "Bufo"

A sociedade portuguesa não consegue sair do espartilho de subdesenvolvimento que a sufoca desde há longos anos, por duas razões essenciais: a corrupção e a incompetência consentidas. Mais adiante, explicarei melhor porque digo "consentidas".

A corrupção tem duas escalas, a grande e a pequena corrupção, sendo que a primeira gera e icrementa a segunda. Enquanto a grande corrupção é praticada ao mais alto nível do poder, tanto político como económico e manipula enormes quantidades de dinheiro e o próprio património nacional, a pequena corrupção não faz mais do que "seguir o exemplo" da grande, numa categoria de valores e influências mais baixa, mas não menos perniciosa.

Expressões como estas: "vê lá se falas ao Manel", "o meu filho está desempregado, vê se consegues arranjar um lugarzinho para ele na tua empresa", "fala lá com o médico teu amigo, para internar a minha mãe no hospital", foram e ainda são , o dia a dia da vida em Portugal e ninguém, por mais íntegro que seja, pôde - pelo menos uma vez na vida - dar-se ao luxo moral de lhe escapar.

Em Portugal ( não apenas), é esta a rotina "normal" da vida. É assim, que a lei do desenrascanço dita as regras do jôgo com que se progride ou não, na vida. É talvez por isso que os mais honestos são quase sempre os mais prejudicados e quando esta "norma" se quebra, os psicologicamente mais débeis, optam muitas vezes pela fuga para a frente, enveredando pela criminalidade mais violenta. É enfim, o tudo ou nada a que agora estamos a assistir em Portugal.

Aliada à corrupção, está sempre a tal outra razão, a incompetência, que emperra o bom funcionamento das instituições públicas e particulares, blindando por consequência qualquer iniciativa para a combater.

Além desta irmandadade tácita entre corrupção e incompetência, existe um outro factor não menos influente que contribui para a sua manutenção na sociedade e a intensifica, que é o trocadilho usado por gente responsável (incluindo pela classe política) na aplicação de certas palavras. Uma delas, talvez a mais deturpada desde o 25 de Abril para cá, é a palavra denunciar.

O período pós-revolucionário viveu estigmatizado por sinais e expressões que serviam para nos demarcarmos dos outros, dos capitalistas, dos comunistas, dos latifundiários, dos ditadores, dos fachistas, etc. Entre elas, houve uma que quando proferida era imediatamente conotada com o antigo regime ou com a PIDE (Polícia Internacional de Defesa do Estado), chamava-se: bufo. Tinha uma relação directa com a traição aos valores da democracia e com o colaboracionismo com o regime anterior.

Foi a partir daqui que se estabeleceu a confusão na mente das pessoas, que se abriram as portas ao laxismo e às cumplicidades do silêncio ferindo de morte o são desenvolvimento da democracia.
Nas fábricas, nas repartições do Estado, nas empresas, nas escolas, os colaboradores (e chefes) aplicados e competentes preferiam omitir a negligência e abstenção ao trabalho de alguns dos seus colegas, do que correr o risco de serem apelidados de "bufos". Como não prevaleceu o bom senso, imperou a lei da rôlha travestida de solidariedade.

A corrupção e incompetência consentidas tiveram no pretenso"bufo" um aliado invisível mas poderoso.

O que se está a passar no Ensino é um pouco isso, e para nosso azar os melhores ministros, aqueles que querem de facto reformá-lo têm tido dificuldades de percurso e de fazer passar a mensagem. É no que dá a mistura da competência com a mediocridade e a total falta de coordenação entre ambas.

Como em todas as áreas de actividade, há bons e maus professores, muitos dos quais não têm o menor perfil para o cargo, mas o medo de denunciarem os maus profissionais por eventuais complexos delatores, leva-os a acompanhar a corrente fazendo com que se confunda o todo com a parte. Só teme as avaliações quem "deve", quem não tem confiança no trabalho que produz.

A permissividade é inimiga da optmização do trabalho em todas as áreas. Denunciar a insuficência profissional e o incumprimento do dever é um acto de civismo tão nobre como denunciar um crime, desde que - evidentemente - acompanhado de provas irrefutáveis.

Denunciar não é igual a bufar, a diferença é quase antónima, embora os dicionários não o atestem. Em suma: é a isto que chamo corrupção e incompetência consentidas, porque alguém as encobre em antigos pactos de silêncio e teme a denúncia do que está mal.

Simplificando: denunciar os maus exemplos, está para a sociedade como o duche matinal para o nosso corpo.

13 março, 2008

O Benficaracol e a varinha 1-2-3 das tvs...

O um, da RTP é o chamado 2 em 1,porque como se sabe tem dois canais. O dois, é o 3 da SIC, e o três corresponde ao 4, da TVI. Este é o número mágico das televisões centralistas: 1 2 3.

Mágico, porque pratica à dezenas de anos a mais descarada arbitrariedade a nível de informação desportiva nas barbas das autoridades do país que nada fazem para pôr na ordem os respectivos responsáveis.

A Procuradoria Geral da República parece considerar estes procedimentos normais, transparentes e sérios.

Hoje, por exemplo, a RTP 1, um dos canais do Estado - também pago com os impostos dos portuenses - voltou a fazer prova do seu exemplar sentido de serviço público abrindo o jornal da tarde com a afilhada de estimação, a Excelentíssima, Digníssima, Ilustríssima, Insuspeitíssima, Credibilíssima Santa, Carorila Salgado. E por quê? Mas porque haveria de ser? Porque quanto mais gente houver (seja lá quem for) a acusar ou insinuar qualquer coisa, mesmo que ridícula, de Pinto da Costa, melhor é para as "audiências" e para o ego vampiresco do centralismo.

Ora, só por esta pouca vergonha levada a cabo por uma estação de TV do Estado que tem o dever de ser escrupulosamente imparcial e obrigatoriamente sóbria, os portuenses deviam recusar-se a pagar a percentagem correspondente dos impostos que contribuem para o seu sustento. Nem os canais privados centralistas conseguem fazer pior!

Se mais exemplos fossem necessários para confirmar aquilo que penso sobre o poder político, este basta para nos fornecer uma prova grave da sua total ausência de sentido de Estado. É ao poder político que cumpre controlar o que é público.

A PGR, consome grande parte do tempo com toda esta brincadeira de catraios que circunda o processo Apito Dourado, e permite que outros bem mais graves como o Casa Pia e o vergonhoso escândalo do BCP, se arrastem e morram no tempo.

As entidades reguladoras não regulam grande coisa, pois se regulassem não davam como dado adquirido certos conceitos dogmáticos que defendem direitos comerciais altamente arbitrários, como aquele que serve para justificar as prioridades dos noticários desportivos dadas ao Benfica.

O argumento falaccioso de ser "o clube português com mais adeptos" é de per si, uma verdadeira negação dos princípios democráticos, como reza o direito à alternância do poder (no caso desportivo, o dever de dar prioridade informativa ao vencedor). E não falo assim por ser do FCP, o clube lesado, falo em relação a qualquer clube que ganhe um campeonato por mais modesto que ele seja, precisamente porque é através das vitórias e da consequente maior visibilidade que poderá crescer e tornar-se grande.

No entanto, qual é o democrata deste país que se preocupa com isto? Admite-se, que em nome das audiências aparentemente vitalícias, mas perdedoras, se desprezem outras não menos importantes de adeptos de outros clubes que ainda por cima são vencedores? Mas onde é que estará a seriedade desta gentinha tão ciosa noutras situações a botar discurso sobre transparências e demais valores?

É um autêntico enjôo, para uma parte significativa dos portugueses ter de ouvir e ler a toda a hora e à viva força os problemas existenciais de um clube desta natureza. Ora, porque é grande, ora, porque ganhou, ora, porque perdeu, ora, porque devia ganhar. Uffa! Mas que praga!

Em vez de nos impingirem estas pragas psicóticas, porque não soltam a desgraçada da águia e a substituem por um caracol que, ainda por cima é hermafrodita? Se, como parece, gostam de se "copular" a si próprios, o caracol é o símbolo perfeito...
PS-Haverá quem ainda não tenha percebido por que é que de vez em quando aparecem em cena alguns pardais bem falantes a "aconselhar-nos" a não misturar a polítca com o futebol?

Nem tudo é mau...

"Nem tudo é mau", dizem os optimistas do regime. E ainda bem, digo eu. O problema é que as boas notícias que temos são casos pontuais protagonizados quase sempre pela sociedade civil e quase exclusivamente pelo empenho pessoal dos cidadãos.

Mas não chega, para ter repercussões significativas no bem estar dos portugueses. O que seria então se os nossos governantes também se empenhassem para nos dar melhores condições. Andam quase à 34 anos a prometer que fazem, mas nada!

Não há dúvidas: a nossa classe política é uma lástima. Por mim, estes politiqueiros que por aí espalham a sua vaidade despropositada estavam todos no desemprego.

Mas, é para felicitar uma excepção como a do professor Nuno Crato cujo trabalho mereceu um prémio (2º.) da Comissão Europeia na área da Investigação Científica a razão principal deste post.

12 março, 2008

O Mercado do Bolhão

Tendo acompanhado com interesse e alguma reserva toda a polémica em torno da remodelação do mercado do Bolhão concluí aquilo que sempre pensei sobre a capacidade de Rui Rio para gerir os interesses da cidade do Porto, que é manisfestamente negativa.

Independentemente da valia dos projectos apresentados a concurso, Rui Rio não foi capaz de dar deles o devido conhecimento público, ou sequer promover uma comissão mista de experts constituída por elementos das partes interessadas na busca de uma solução tão consensual quanto possível.

Como não o soube fazer oportunamente, o que se assiste agora, é uma espécie de lavar de roupa suja, entre promotores imobiliários, arquitectos, comerciantes, vendedoras do mercado e público em geral, onde alguém terá razão mas ninguém parece querer entender-se. É para situações como esta, geradoras de conflitos em que o interesse público deve nortear as prioridades que a mediação da autarquia se impõe, e mais uma vez não está a saber fazê-lo.

O oportunismo dos promotores imobilários, que a coberto da rentabilização do projecto, vem beneficiando de créditos como sendo o sector mais importante das negociações, não pode prevalecer sobre os interesses da cidade e principalmente de quem trabalhou toda uma vida no mercado do Bolhão.

Salvo honrosas excepções, os projectos previamente anunciados como mais valias para a cidade têem-se revelado inferiores às expectativas criadas. O paradigma mais recente é o complexo comercial Porto Plaza, de cuja integração arquitectónica na Baixa não nos podemos queixar, mas com um comércio pouco condizente com o local e a grandeza da infra-estrutura, o que contraria um pouco o entusiasmo inicial à volta do projecto e até da sua própria precisão. Mesmo ao lado, está o Catarina Shopping.

Esta corrente unanimista de erguer grandes centros comerciais e hotéis de luxo (ex.o Palácio das Cardosas) como meio para atrair pessoas à Baixa parece-me errada. As cidades não podem ser construídas para atrair turistas sem gente lá dentro. São as pessoas que lhe dão vida.

Na minha opinião, a prioridade das prioridades devia ser dada totalmente à reabilitação urbana residencial. O casario reabilitado que a conta-gotas se consegue ver é insuficiente para aliciar a procura. As pessoas por norma não gostam de viver em "palácios" rodeadas de lixo e prédios em ruína. Os espaços reabilitados devem criar uma área envolvente relativamente grande (quarteirões) e limpa de modo a dar a ideia à população que está num ambiente novo e digno.

Quando a solução discutida do projecto RCN é dominada pela "inevitabilidade" do retorno do investimento com a imposição de edifícios de habitação, à volta e sobre o mercado do Bolhão, o resultado final só pode ser a total descaracterização do projecto original enquanto mercado.

O que será então edificado, será uma zona residencial com fachadas de mercado tradicional, mas com o mercado do Bolhão adulterado e morto.


PS-Sendo adepto da modernidade e defensor do progresso, ainda hoje estou para perceber as "supremas" razões que levaram à destruição do magníficoPalácio de Cristal para construir o Pavilhão do Desportos (hoje Rosa Mota). Com tanto terreno à volta não teria sido possível conciliar os dois edifícios? Há obras que, pela sua beleza e carga simbólica merecem ser preservadas e a memória dos seus autores também.

11 março, 2008

A fobia antiregionalista do MST

Já vão perceber porquê, mas tenho de confessar que gosto muito de animais. Não há pitbull que me assuste, o que me assusta, são alguns dos seus donos, que os treinam e usam para fins pouco nobres, como por exemplo, para disfarçar a sua própria cobardia.
O problema, é que, apesar de gostar de animais vivos, ainda não atingi um patamar de elevação cívica capaz de me privar do sabor de alguns deles mortos e assados no meu prato, como o incomparável leitão da Bairrada do "Rocha", no Luso (passe a publicidade). É uma questão de tempo, quando chegar aos 80, é possível que só lá vá para comer a salada mista ou a sobremesa...
Contudo, já fiz alguns progressos, que não são de agora ou sequer foram penosos de alcançar. Sempre gostei de animais e, excluindo os meus pecaminosos hábitos alimentares (os meus pais não eram vegetarianos...), detesto ver alguém divertir-se à custa do sofrimento de um animal.

Reconhecida a minha ambivalência emocional com a bicharada, ainda assim, cabe-me alguma vantagem moral em relação àqueles que em pleno século XXI e à sombra de tradicionalismos quase pré-históricos, pagam para ver touradas.

Vem isto a propósito da posição assumida há uns anos atrás por Miguel Sousa Tavares em relação à festa de touros da vila alentejana de Barrancos que, como é sabido apoiava a "tradição" local que culminava com a morte do bicho

Diga-se o que se disser, uma coisa é sabermos que um animal foi morto longe da nossa vista para o podermos comer, outra sadicamente diferente, é pagarmos para supostamente nos divertirmos e vermos uns patetas judiarem o animal até à morte. Nunca aceitarei este tipo de tradições.

Ora, o Miguel Sousa Tavares cujas opiniões costumo subscrever maioritariamente, às vezes, deixa-me um bocadinho decepcionado dada a credibilidade que justamente alcançou na opinião pública. Às vezes, acha que a liberdade de fumar é um direito muito importante e que é um crime de lesa-majestade "proibir-se" a intoxicação pulmonar dos cidadãos pelo tabaco (e eu fumei durante muitos anos).

Não sei o que pensará o Miguel da saúde do planeta aonde ainda vai podendo enegrecer os pulmões com a nicotina do cigarro, nem do boicote americano ao protocolo de Quioto, mas não acredito que leve a sério todos os que seguindo o seu exemplo, consideram um atentado à liberdade individual proibir a emissão de gases poluentes, mas, enfim...

O Miguel tem destas coisas, defende o Futebol Clube do Porto mas não compreende o povo do Porto, nem a alternativa da Regionalização. Enveredou pela tese dos medricas centralistas com o perigo da desintegração nacional como se ela já não estivesse a ser forjada com total autismo pela própria macrocefalia centralista.

Insiste na descentralização, apesar de a ver sistematicamente sonegada e recusa-se a procurar novas alternativas. Mal comparando, faz lembrar aquele treinador de futebol que durante anos não consegue vencer um único jogo nem se atreve a alterar o sistema, apenas porque se convenceu que um dia o ganhará. O "clube e os adeptos" podem esperar...
Esta não pode ser a solução. Isto não é futebol e os adeptos são pessoas que estão cansados de "esperar" por uma descentralização que nunca mais se faz. E aquilo de que o Porto precisa não é de nenhum Messias, nem do colo do Estado, mas tão só de tratamento igual.

O Porto foi tudo isso, mas numa época onde ainda não existiam (várias) estações de televisão ao serviço do Centralismo a sugar-lhe todo o tipo de recursos, incluindo os humanos. As "armas"que o Porto tinha - apesar do obscurantismo - eram mais equilibradas em relação à capital, as distâncias eram maiores, os tempos mais longos, e os eventuais boicotes mais lentos. O Porto tinha o seu próprio espaço, menos contaminado, longe da lupa castradora das tvs lisboetas de agora, e as pessoas não viam por isso muita necessidade de sair daqui. Objectivamente, por incrível que pareça, o Porto foi muito menos causticado na ditadura do que actualmente. É a minha firme convicção.

O Porto tem sido tratado como o patinho feio do país e a marca de modernidade que Sousa Tavares exemplifica como única excepção à regra da depressão actual - o Futebol Clube do Porto - prova exactamente o contrário do que diz. O Futebol Clube do Porto de Pinto da Costa tem tido sucesso porque trabalha bem, porque é irreverente e mais organizado que os adversários, mas também porque bate o pé, não se intimida, tem orgulho e afirma-se sem complexos. E será bom não esquecermos as perseguições e os boicotes de que há anos a fio tem sido alvo (e isto não é nenhuma mania, há provas) até aos dias de hoje, tão bem retratados no Processo Apito Dourado.

Todo este clima de menorização do Porto, algumas vezes próximo do desprezo, deixou sequelas, incluindo na cabeça dos próprios políticos locais, que começaram a ser menos reinvindicativos mal perceberam que podiam comprometer a sua carreira se fossem demasiado "regionalistas".

O Dr. Fernando Gomes foi o primeiro a pagar as consequências por ser portista, bairrista e "provinciano"(e demasiado ingénuo, digo eu).
O Engº. Belmiro de Azevedo perdeu a OPA da PT só por ser do Porto e Luís Filipe Menezes que não é pior do que os que lhe antecederam também já está a pagar a factura.
E que dizer das nomeações para a Direcção da PJ do Porto aqui tantas vezes abordadas? E das muitas pessoas que já se inibem de se identificar como portuenses para não correrem o risco de serem penalizados nos seus negócios quando têm de se deslocar a Lisboa? Foram só os portuenses que geraram estas súbitas transformações económicas e sociais para pior? Alguém de perfeito juízo será capaz de acreditar neste mito? De repente, perdemos todas as qualidades?

E Rui Rio? Porque terá ele entrado "a matar" quando, sem saber ler nem escrever, foi parar à Câmara do Porto? Porque sabia bem que a ovelha negra do regime centralista, o alvo a abater, era Pinto da Costa e teve engenho para aproveitar muito bem a crise camarária e para lá se instalar.

Quem pensar que estas águas são de ribeiros diferentes, engana-se. O sucesso do Futebol Clube do Porto foi o pretexto que fez expandir as práticas centralistas para os demais sectores.

O Miguel Sousa Tavares, engana-se. Só tem razão num pormenor: é que, a muitos tripeiros falta a coragem e o desassombro de Pinto da Costa. E isso sim, é que é preocupante.

10 março, 2008

PROCURADORICES E JORNALICES

Que critérios poderão ter afinal orientado o CSM (Conselho Superior de Magistratura) a desaconselhar e a influenciar o Sr. Procurador Gereal da República ao não apoiar o magistrado Almeida Pereira para a Direcção da PJ do Porto?

O que constou publicamente nos jornais, e não foi nunca desmentido, seria a sua eventual ligação com o Futebol Clube do Porto. Mas, posteriormente, e a pedido de esclarecimentos públicos pela parte do acusado, Almeida Pereira foi declarado como pessoa idónea e insuspeita de quaisquer ligações comprometedoras. Assim sendo, por que razão não lhe foi reconhecida competência para assumir o cargo e se procurou outro director?

Muito estranho, mesmo. Quando o que está na origem do Processo Apito Dourado é, entre outros argumentos, a suspeita da falta de transparência de processos pela parte de alguns dirigentes desportivos (todos de clubes do Norte), a Procuradoria Geral, não está mais do que a cometer o mesmo tipo de "crime".

Se realmente foram os pressupostos que se conhecem a balizar a recusa de Almeida Pereira para comandar a PJ Porto, é legítimo que saibamos também quais são as simpatias clubísticas do novo Director (caso as tenha). Ou, estaremos a analisar mal a lógica até aqui seguida?

Outra situação não menos caricata e grave, é a que foi criada à volta da imagem do Dr. Almeida Pereira num clima de suspeita nunca verdadeiramente assumido pela Procuradoria, mas com efeitos práticos demolidores para a carreira de qualquer magistrado. Do estigma de "suspeito" já ninguém o livra, sobretudo por não lhe terem sido apresentadas atempadamente explicações condignas para tudo o que foi insinuado e escrito a seu respeito.

Não conheço de lado nenhum o Dr. Almeida Pereira e não sou seu advogado de defesa, mas no lugar dele teria muitas razões para duvidar muito deste "Estado de Direito".

É até provável que já esteja a fazê-lo, mas no seu lugar, teria movido um processo à Procuradoria Geral por injúria e ofensa à dignidade.

E os senhores jornalistas habitualmente tão afoitos a cilindrar as asneiras das figuras do poder, estão estranhamente mansos e cordatos para com as performances do actual procurador.

Será que são todos benfiquistas???