14 agosto, 2009

Bom fim de semana

O Tua e as Portas de Ródão

«Classificação das Portas de Ródão regulamentada

O Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional publicou, dia 20 de Maio, em Diário da República, o Decreto Regulamentar n.º 7/2009, alusivo à classificação do monumento natural Portas de Ródão.

O Governo considerou as Portas de Ródão “um relevante património natural”, que além de ser um geossítio (com particularidades geológicas, geomorfológicas e paleontológicas), inclui “outros valores geológicos, biológicos e paisagísticos”, além dos arqueológicos, “testemunho de uma presença humana com centenas de milhares de anos”. Por tudo isto, reiterou, por decreto, que “o carácter notável das Portas de Ródão justifica, per si, a importância da sua classificação”. A singularidade deste monumento natural também reafirma a sua importância em termos regionais e nacionais, o que também justifica a sua classificação.

Esta classificação, recorde-se, teve como principais objectivos “a preservação das formações geológicas e geomorfológicas e dos sítios de interesse paleontológico; a preservação das espécies e dos habitats naturais; a protecção e a valorização da paisagem; a preservação e valorização dos sítios de interesse arqueológico; a promoção da investigação científica indispensável ao desenvolvimento do conhecimento dos valores naturais referidos, numa perspectiva de educação ambiental; e a manutenção da integridade do monumento e área adjacente”.

As Portas de Ródão passam assim a ser geridas pelo Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB), sendo dotado de um plano de gestão próprio, a elaborar no prazo de três anos a contar da entrada em vigor do Decreto Regulamentar agora publicado.

Por ser classificado como um monumento natural, dentro dos seus limites há actividades proibidas e outras limitadas, sendo a fiscalização das mesmas da responsabilidade do ICNB, das autarquias limítrofes (Vila Velha de Ródão e Nisa) e da entidade policial competente, se a infracção assim o justificar.»

in Jornal Reconquista de 228-05-09


O Vale do Tua e a sua riqueza paisagística e patrimonial têm diferenças óbvias com o Tejo e as Portas de Ródão. A saber:

1) No Vale do Tua não corre o rio Tejo;
2) As Portas de Ródão situam-se muito mais perto de Lisboa;
3) Os beirões e alentejanos residentes em Lisboa são muito mais influentes que os residentes durienses e trasmontanos.

P.S. - Concordo totalmente com a classificação de monumento natural atribuído às Portas de Ródão.

Medina Carreira

Ontem, publiquei aqui o vídeo da entrevista de Medina Carreira à SIC sem ter a pretensão de focar exclusivamente na sua pessoa alguma relevância especial - porque o que ele disse, só poderá surpreender os lunáticos -, mas pelo facto de ser um ex-ministro das Finanças do PS a fazê-lo e, porque, apesar de tudo, teve a dignidade de abandonar o cargo que então ocupava por discordar da política económica que estava a ser seguida. Hoje, são cada vez mais raros os que tomam resolução tão "simples"...
Depois, não me parece justo despí-lo radicalmente de competências, só porque foi mais um "que nada fez". Já aqui o disse várias vezes, que o grande problema da nossa e de outras democracias, é não estarem preparadas para «obrigar» as várias componentes governativas [ministérios, secretarias, etc] a inter-agirem com a naturalidade de uma engrenagem mecânica, a cooperarem, de modo a todos tomarem conhecimento dos assuntos sem complexos nem autoritarismos para tomarem as melhores decisões. Como tal não acontece, os bons políticos e funcionários, são esmagados pela burocracia dos pequenos/grandes poderes dos gabinetes dos aparelhos e "comem por tabela" com as más prestações de todo o Governo.
Medina Carreira, não nos interessa a nós nortenhos, porque como já sabemos é um anti-regionalista primário, mas é um homem que merece algum respeito. Foi bacharel em Engenharia Mecânica, licenciou-se em Ciências Pedagógicas, em Direito e, curiosamente, frequentou o curso Superior de Economia e Gestão, sem o terminar, curso esse mais apropriado para o cargo de Ministro que acabou por desempenhar.
Apesar de me ter decepcionado o seu anti-regionalismo, para o qual não apresentou argumentos consistentes, foi pondo o dedo na ferida dos problemas e embaraçando o pivot do programa que com sucessivas tentativas de "normalizar" a entrevista, foi [mais uma vez] completamente ridicularizado. Mais. Voltou a disponibilizar-se, para debater com o próprio Sócrates, coisa que, pelos vistos a SIC de Pinto Balsemão não parece estar muito interessada, ou então, o próprio Sócrates...
Para ter brilhado, só lhe faltou, ter evidenciado uma visão mais abrangente do país, menos lisboa-dependente. Comparou os tempos de hoje, com os tempos miseráveis de Salazar, mas não foi capaz de revelar a mínima preocupação com a miséria acrescida a Norte de Portugal.

Nova Sede da Vodafone no Porto - Page 15 - SkyscraperCity

Nova Sede da Vodafone no Porto - Page 15 - SkyscraperCity

É sem dúvida magnífico e arrojado o edifício da Vodafone do Porto. O projecto, da responsabilidade do arquitecto José António Barbosa, será inaugurado a 25 de Setembro (segundo o GP).

Segundo a mesma fonte, tem uma característica curiosa, a estrutura com fachada de betão branco autocompactável [mais líquido que o betão vulgar] permite chegar a todas as formas irregulares e é o primeiro do género em Portugal.

13 agosto, 2009

Semanário Grande Porto

Como critico também elogio quando é caso disso. Os tipos do Semanário Grande Porto quase ao fim de uma semana descobriram que não estavam a disponibilizar o número da semana anterior em PDF, mas apenas a capa, naquele site meio amador que têm. Agora que finalmente li o último número, posso dizer que melhorou substancialmente. Assuntos interessantes e bem abordados; entrevistas com gente inteligente e interessante, novos opinantes e uma maior abrangência geográfica e de temas. Talvez a fase aparolada tenha sido ultrapassada. Se continuarem assim talvez volte a comprar.

Medina Carreira [na SIC]: "Portugal é um grande BPN"



Nota do RoP

Medina Carreira borrou a escrita toda, quando misturou alhos com bugalhos, melhor dizendo, quando misturou a corrupção política com a regionalização. Isto vale menos que o seu contrário. Dizer que o centralismo é uma das causas da corrupção, é mais correcto, pois o factor de proximidade com o poder regional pode permitir um maior controle destes fenómenos.

Belmiro, «paradigma» do empresário português

Se alguém perguntar se Belmiro de Azevedo e Américo de Amorim são dois homens, empreendedores [do Norte], bem sucedidos, a história de ambos fala por si, ninguém poderá negá-lo. O mesmo já não se pode dizer das suas preocupações específicas pela região que os viu nascer. E isto, por mais pragmáticos que queiramos ser, a despeito da ideia que é quase obrigatório fazer do homem de negócios moderno, não deixa de ser preocupante.
Já não é a primeira, nem segunda vez, que coloco esta mesma questão e me vejo compelido a contrariar a minha vontade, ou seja, a rejeitar a ideia aparentemente populista, de que estes empresários por mais valor que se lhes reconheça, são empresários ultrapassados e insuficientemente úteis para gerar no país o tipo de riqueza que deles se esperaria. E ainda, inconsequentes, se particularizarmos a atenção que [não] têm dedicado ao Norte.
Eu começo a convencer-me que menos populista que o povo, é o próprio povo. São aqueles que mais verbalizam o populismo e o usam como o eixo de todos os males, os verdadeiros populistas.
As populações, pelo contrário. Por ingenuidade, estupidez ou boa fé, ainda são capazes de reconhecer méritos a quem afinal olha mais propriamente pelos seus impérios económicos e [sobretudo] financeiros, do que pelo sucesso empresarial assente no bem estar social.
O empresário português tradicional, tal como o profissional da política, não se cansa de dar provas de um total alheamento com o bem estar público. Fala do mercado, e de economia, como se fosse seu dono, sabendo contudo que depende desses factores, mas esgota-os pela ganância de lhes sorver os frutos.
Belmiro de Azevedo, criou muitos postos de trabalho, é certo, mas continua a pagar mal ao pessoal menos qualificado. Os horários de trabalho são abusivos, a tal flexibilização está a tornar-se numa nova forma de escravatura. Os quadros são bem remunerados, mas há um fosso colossal entre o conhecimento de uns e a remuneração de outros. Esta forma de avaliar os méritos está caduca e é insustentável.
Se ao engenheiro que concebeu e queimou os neurónios para projectar uma ponte sólida é merecidíssima uma remuneração generosa, ela também não deve ser negada - ainda que mais modesta, mas digna - ao pedreiro, ao pintor, que suou o corpo e arriscou a vida para a tornar uma realidade. Nunca, um oceano de dinheiro a discriminar competências como sempre se tem feito. Um, sem o outro, não valem nada. No entanto, há salários escandalosamente discriminatórios a separá-los. E este escandalosamente devia ser levado a sério... Economias de mercado com «doutrinas sociais« deste jaez, são um disparate, resquícios de uma civilização arcaica e classista.
A despeito da crise financeira, e da falta de trabalho, aquilo que ouvi há tempos a Belmiro de Azevedo [é preferível ter um part-time" do que não ter emprego nenhum], não me agradou de todo. No contexto actual, uma expressão desta natureza só pode contribuir para exacerbar a bandalheira do empresariado nacional. Para muitos, foi um convite à expansão da precaridade de trabalho e ao abuso, pela parte de uma classe empresarial que está longe de ser exemplar. Como dizia o outro: as ovelhas não se tosquiam a si próprias. Belmiro é a prova disso. Se não são os empresários bem sucedidos a dar o primeiro passo, quem o fará?
E o primeiro passo, começaria por pagar melhor a quem tem menos. É por aí que a tal economia doente pode começar a restabelecer-se, isto é, transformando uma maioria muito pobre sem poder de compra, numa maioria de potenciais consumidores. O resto virá por acréscimo.

Porto Canal, que futuro?

O JN de ontem informava de forma discreta o abandono da direcção do Porto Canal, de Bruno Carvalho, para assumir funções destacadas na Direcção da Media Luso, empresa accionista maioritária do grupo espanhol Media Pro.
A evolução do Porto Canal continua a ser expectante. Fica-se com a ideia de que se trata de mais um projecto sem bases sólidas e com ambições pouco definidas a nível regional. Sabendo-se que Bruno Carvalho é benfiquista e das incongruências provocadas pela clubite na actividade política e social do país, não vislumbro grande futuro para a estação da Senhora da Hora.
Diz também o jornal que o antigo director será susbstituído por Juan Figueroa, um espanhol que, pelo que é noticiado, e pelo que percebi, ficará sob a dependência da Direcção e Grandes Formatos da Media Luso que é como atrás foi dito, uma empresa accionista maioritária do grupo para a qual Bruno Carvalho foi agora nomeado director.
Posso enganar-me, mas palpita-me que vamos ter, a curto prazo, um Porto Canal menos portuense, e menos regional. Há até alguns programas que já começam a cheirar a sul...
ps. Bruno Carvalho, recente candidato derrotado à presidência do SLB, vai desempenhar o novo cargo onde os «portuenses de gema» mais ambicionam chegar: a Lisboa...

12 agosto, 2009

Uma forma de amar o Douro

Parque Natural do Douro sem vigilantes
(Fonte JN)
Calculo, que será com estas precauções que querem transformar o Douro num centro turístico de excelência... Onde está a entidade responsável por este desmazelo? Quem é?

11 agosto, 2009

Alugue-se a Província!

Tenho razões para pensar que a WORTEN, do nortenho Belmiro de Azevedo, tem o seu armazém central em Alverca do Ribatejo, ou seja praticamente em Lisboa. Estão portanto nessa cidade os respectivos empregos e demais actividade económica daí resultante. Não bastava termos os centralistas convictos, a começar pelo Estado, a levar actividade e emprego para o mais perto possível do Terreiro do Paço, surge a ajuda dos nossos próprios conterrâneos. A Worten possivelmente dirá que se trata de um bom acto de gestão, na medida em que o principal mercado consumidor está naquela área. Se este é um argumento válido, e portanto de aconselhável generalização por parte de outras empresas, então proponho que não se perca mais tempo: transfira-se tudo para Lisboa e feche-se o resto do país. Para não ficar ao total abandono a deteriorar-se, talvez se possa alugar a Espanha, a preço de amigo.

Falando sério. Será que se o armazém central da Worten estivesse no Grande Porto, os lucros da empresa teriam uma eventual quebra superior a uns escassos milésimos por cento?

p.s. O Serviço de Informação ao Consumidor do Continente, está na Amadora...

O bom senso começa a vir ao de cima

O General Loureiro dos Santos e o Clube Via Norte publicaram este fim de semana dois artigos de opinião sobre o TGV que considero fundamentais para desmontar o argumento da prioridade e importância da projectada ligação Lisboa – Madrid por Badajoz. Finalmente o bom senso começa a vir ao de cima: personalidades e entidades influentes e idóneas começam a aperceber-se do logro que nos têm tentado vender. Eu já aqui e aqui tinha chamado a atenção sobre isso, e sobre a verdadeira casca de banana que o centralismo lisboeta estendeu a algumas personalidades e instituições do Norte com a Linha Aveiro - Salamanca, entretanto estrategicamente atirada para as calendas gregas, transformando o fantástico pi deitado num magnífico L de Lisboa. Há quem não aprenda nunca e seja até mais “cego” que o pobre do ditado – porque esse, quando a esmola é grande, desconfia.

Neste momento impõe-se reequacionar estrategicamente toda esta questão da nova rede ferroviária e estabelecer definitivamente aquelas que deveriam ter sido sempre as prioridades nas ligações internacionais: a mudança de bitola e o escoamento de mercadorias para a Europa utilizando o eixo Irun – Salamanca. Os TGV não nos ligam à Europa. No máximo, com o traçado proposto, ligam Lisboa a Madrid e deixam mais de metade dos portugueses e mais de metade da economia nacional de fora. É hora também de deixar de pensar a Linha do Douro apenas como detentora de um grande potencial turístico. É inquestionável que o tem, mas o seu grande contributo para a “estruturação da Ibéria” será mesmo a sua reactivação para o transporte de mercadorias e abrir o Atlântico ao grande porto seco de Salamanca e ao nó logístico de Valladolid. O Porto de Leixões é a porta atlântica de excelência para toda a Castela interior.

mega regiões ibéricas


Richard Florida identificou três mega regiões na Ibéria: a de Madrid, a de Barcelona-Lyon e uma na costa ocidental, talvez a maior, a que por compreensível ignorância chamou de Lisboa. Devia ter-lhe chamado mega região galaico-portuguesa porque é essa a realidade e no seu fulcro não está Lisboa mas sim todo o nosso noroeste atlântico. A charneira de toda esta região, porque equidistante dos seus extremos, e com meios logísticos para a potenciar, é o Grande Porto. Haja pensamento estratégico e ambição. Aproveitemos o que já existe. Nem sequer é preciso construir de novo.

10 agosto, 2009

Daniel Campelo



fonte: JN

«O pior que Portugal tem hoje é o centralismo, não só no aspecto político como ao nível das empresas. Tudo isso está centralizado num pequeno espaço, o que impede o desenvolvimento global do país. O maior desafio que o país tem pela frente é o da criação das regiões administrativas, com capacidade de lutar para fazer melhor. E estou disponível para esse combate. Eu sempre acreditei nisso. Hoje as pessoas já interiorizaram que o país deve ter cinco regiões. Já não vamos discutir limites nem número de regiões. Cada vez há mais defensores da Regionalização, pessoas que entendem que esse é o único caminho para o país ser mais equilibrado e mais justo. A criação das regiões não representa um custo, mas um benefício.»

in JN

Daniel Campelo foi o único em 30 anos de regime que contra a pressão da partidocracia e contra a barragem mediática da escroque centralista, que ainda hoje vocifera insultos, assumiu a verdadeira essência do deputado: a defesa intransigente dos interesses dos seus eleitores sem perder a perspectiva do todo.
É um verdadeiro Minhoto. Homem de costas direitas. Muito distinto dos aprendizes de nanopolíticos que hoje por aí proliferam.



09 agosto, 2009

Fascinacion - FAUSTO PAPETTI

Gémeos separados

Tenho-me perguntado muitas vezes se as grandes cidades mundiais que se estendem dos dois lados de um rio que as atravessa, seriam o que são hoje se fossem duas cidades diferentes. Penso logo à partida em Paris e Londres, mas também em Colonia, em Frankfurt, em Lyon, em Praga, no Cairo, em Nova Iorque, até em Coimbra, para além de algumas outras de que não me lembre, ou das inúmeras que não conheço. Penso também em Budapest, que é conhecimento geral ter sido duas cidades, Buda e Pest, uma de cada lado do Danúbio, reunidas em 1837 pela clarividência e sentido prático dos governantes de então, que assim permitiram a criação de uma grande e bonita cidade.

De cidades distintas separadas por um rio de dimensões medianas não me lembro de nenhuma excepto do caso do Porto e Gaia.

Porto e Gaia nasceram gémeas. Onde hoje existem, fazia-se a travessia do Douro no tempo dos romanos, como parte da importante via entre Olisipo e Bracara Augusta. Já nesse tempo existiam portagens(!) e assim havia um posto em cada margem do rio. Por isso havia dois locais chamados Cale ou Calem, que mais tarde passariam a Portucale, uma designada por setentrional e a outra por meridional. O seu desenvolvimento foi diferente aos longo dos séculos, provavelmente por razões ditadas pela Igreja. De facto, enquanto o Portucale setentrional, que pertencia à Galécia, foi elevado a diocese em 582, o Portocale meridional, que pertencia à Lusitânia, não era mais que uma simples paróquia da diocese de Coimbra. Com a importância política e administrativa que a Igreja tinha naqueles tempos, não seria de admirar que este facto tenha condicionado a evolução dos dois povoados.

Penso que seria tempo de reunir os gémeos separados. Não por descabidas razões sentimentais, mas porque acredito que as vantagens seriam muito maiores do que possíveis inconvenientes. Esta questão não está na ordem do dia, seja por ser considerada inoportuna ou sem importância, por esquecimento, ou por comodismo de que poderia agitar as águas. Talvez um dia nos inspiremos no exemplo de Budapest...