12 novembro, 2010

Pretensiosismo

Neste mês de Novembro vai realizar-se em Lisboa uma cimeira da Nato. Acontecimento de alto risco, alvo apetecido de todos os movimentos terroristas, nomeadamente os fanáticos islamitas da Al-Quaeda e aparentados, imaginem-se os recursos preventivos e de acção repressiva que forçosamente terão de estar a postos, e imagine-se também os respectivos custos. O país está na m**** , grande parte da população enfrenta difíceis condições de sobrevivência e a situação irá ainda piorar com a entrada em vigor do PEC 3, mas seguimos impassivelmente no caminho que nos conduziu ao pântano em que nos encontramos. Continuamos a fazer "vida de rico com carteira de pobre".

Por isso sou contra a realização desta cimeira em Portugal, vamos gastar milhões de euros para quê? Para satisfazer a vaidade dos governantes que nos lançaram nesta situação miserável?

Estou a imaginar os argumentos a favor da sua realização.

"Há muito que tínhamos o compromisso para a sua realização em Lisboa". Acredito, mas também há muito tempo que a crise existe, por isso o governo teve mais do que tempo para dizer, sorry boys, escolham outro local porque nós não estamos em condições de vos receber.

"A realização da cimeira em Portugal traz prestígio ao país". Atitude errónea e parola, o que nos daria prestígio era não termos chegado à miséria em que estamos, e termos diminuído o nosso atraso em relação aos nossos parceiros da União Europeia. Isso sim, seria prestigioso.

"É certo que o país vai gastar dinheiro, mas pensem nos euros que vão ficar aqui em consequência da estadia de tanta gente importante". Pois, é o costume, o país ( nós todos) pagamos a factura, mas os benefícios ficam em Lisboa. Ou alguém pensará que o resto do país verá algum dos euros deixados pelos visitantes em Lisboa, Estoril, Cascais, Sintra, Sesimbra? Além de que, feitas as contas, duvido muito que o saldo final seja positivo.

É assim que, como português e como nortenho, considero inoportuna a cimeira em Lisboa nas presentes circunstâncias, e não vejo que argumentos "patrióticos" possam justificar o pretensiosismo de querermos parecer importantes aos olhos dos nossos aliados da Nato.

HELEN SHAPIRO - Walking Back to hapiness [1970]



"Twistem", se souberem! Bom fim de semana!

O malvado RSI


Não posso garantí-lo, mas quase apostava como na Europa não existe povo tão contraditório e ao mesmo tempo tão influenciável como o português. O que é legal hoje, amanhã - por qualquer estranha conveniência -, deixa de o ser. O que é criticável para uns, em certas circunstâncias, já não o é para outros, em circunstâncias pouco diferentes.

Ao assistir à devastação do direito ao trabalho que assola o país, com fábricas e empresas a falirem à velocidade da luz, já não sei bem se hei-de lamentar ou aplaudir. Não me interpretem mal porque tenho muito respeito por quem está nessas condições, sobretudo aqueles que querem trabalhar e pouca responsabilidade têm pela desgraça que nos foi imposta fruto da absoluta incompetência de sucessivos governos. Só não se entende são as reacções de alguns cidadãos perante a tragédia de outros só porque o seu posto de trabalho ainda não passou pela provação do despedimento. E ainda entendo menos essas reacções neste momento onde a crise política e financeira não pára de fazer estragos. 

Foram os despedimentos da Groundforce no Algarve que me suscitaram algumas dúvidas sobre a solidariedade do povo. A televisão deu-lhes a devida relevância, opostamente à que tem dedicado à população do Norte, indiscutivelmente a mais flagelada pelo desemprego. Por isso, esta notícia pareceu-me mais um acto de discriminação negativa praticado contra a imensa mole de desempregados desta região. Os lamentos daquelas pessoas no Algarve, cujas vidas vão ficar seriamente afectadas, deixou-me, ao contrário do que seria normal, algo frio e distante. Tanto, como aqueles que agora estão empregados e apoiam o corte de subsídios sociais aos que estão sem trabalho.

É inadmissível que, em momentos terríveis como aquele que agora vivemos, continue a  haver gente que alinha irresponsavelmente pelo discurso de políticos fúteis e demagogos [como Paulo Portas e outros], sem perceberem que podem estar a bater em si próprios. Às tantas, muitos desses que agora choram por se encontrarem com o futuro comprometido, são os mesmo que aqui à uns dias consideravam os subsídio dependentes os grandes culpados pela crise. Com tamanha vulnerabilidade intelectual e fraco sentido cívico, quem se fica a rir e aproveita são os "empresários" sem escrúpulos que continuam a crescer como cogumelos, aproveitando a crise para despedir a torto e a direito ou então para continuarem a baixar os salários a quem os devia subir nivelando-os "estrategicamente" pelo rendimento mínimo. Que quem abusa e beneficia dessas ajudas sociais sem precisar seja devidamente penalizado só podemos concordar, agora, que se caia levianamente a meter no mesmo saco dos oportunistas aqueles que nada têm é uma atitude profundamente injusta e desumana. Tento na língua!

O próprio Governo, como aliás é sua imagem de marca, continua a atirar areia para os olhos deste povo-eternamente-criança obrigando os beneficiários a frequentarem cursos de requalificação escolar,  não lhes dando o mais importante, que é a garantia de trabalho remunerado concluída a respectiva formação. Por que é que ninguém questiona isto? E os jovens licenciados também não têm qualificação? Se têm, aonde estão os empregos? O que o Governo quer, disso não tenho a menor dúvida, é arranjar mais um pérfido pretexto para sacar dinheiro a quem já não o tem.

O Governo dita, destrói vidas, não governa. Entretanto, eles, os meninos do aparelho, continuam a gerar os jobs for the boys, sem pingo de vergonha, como aconteceu recentemente com o Secretário de Estado dos Transportes que ofereceu uns bons tachos nos CTT's aos amigos.

A corrupção está aqui, e as provas estão à vista de todos. Mas, pergunto: quem mete esta garotada na cadeia? Na cadeia, sim! Quem? Querem a resposta? Ninguém! Porque é nesta Democracia pôdre, corrupta e tremendamente destrutiva que estes bandidos melhor se acoitam! Querem provas? BPN não vos diz nada?
Dias Loureiro, também não? Querem que vos leia a lista? Não é preciso, pois não?


11 novembro, 2010

Nova nota autenticada pelo Banco Europeu

Era esta a seriedade que os portuenses procuravam?

Nova derrota de Rui Rio. Para mim não é novidade.
Corforme se previa, foram ontem absolvidos da acusação por crime de participação em negócio ruinoso, o ex-Presidente da Câmara Nuno Cardoso e os dirigentes desportivos do FCPorto, Angelino Ferreira, Adelino Caldeira e Eduardo Valente. Como se pode ler aqui, as conclusões da juíza foram demolidoras para a Inspecção Geral de Finanças e particularmente humilhantes para o actual Presidente da Câmara do Porto, Rui Rio.

Todos estamos sujeitos a fazer precipitados juízos de valor quando alguém é constituído arguido, a tendência é quase sempre essa. Na maior parte dos casos, a balança da nossa avaliação pende e depende, tanto da simpatia ou  antipatia que intimamente nutrimos pelos acusados, como do modo sensacionalista e frequentemente sectário como os media transmitem as notícias. Inevitavelmente entalados entre estas duas contradições, o mais sensato nestes casos, é acompanharmos com a máxima atenção a evolução das informações com grande  e repartido sentido crítico, quer para os suspeitos quer para as fontes de informação. É isso que procuro fazer, não garanto é que o faça sempre bem...

Apesar destas humanas imperfeições, há coisas de tal maneira intuitivas que quase tomam a forma de certezas. Uma delas, foi a que alguns portuenses sentiram depois da queda paraquedista de Rui Rio no Porto e a sua improvável eleição a Presidente da Câmara do Porto. Disse aterragem, porque até então, praticamente ninguém no Porto conhecia Rui Rio, ou mesmo sabia que era daqui, ou conhecia em rigor o seu currículo político . Isto explica, em parte, porque um homem apagado, cinzentão e inábil como Rui Rio decidiu investir a pouca audácia que possui no confronto com a instituição mais popular da cidade que é, sem dúvida, o FCPorto, com o notório fito de se guindar politicamente a vôos mais altos que de outro modo sabia jamais conseguir.  Colou-se, sem honra nem pudor (nem amor ao Porto), à campanha centralista anti-Porto e acabou por se tornar sua presa. Se antes de ser Presidente ninguém o ouvia, agora todos o ignoram, ninguém, nem o próprio partido o leva a sério.

Afinal de contas, a permuta de terrenos entre a família Ramalho e os lotes do Parque da Cidade foi um negócio bem mais transparente e vantajoso para ambos do que tantos outros similares realizados por outras autarquias [Lisboa, Estádio da Luz e Alvalade], pelos quais Rui Rio nunca teve a coragem e a coerência de se interessar e pronunciar. É que nestes casos, há grandes gatos escondidos com o rabo de fora  e com muita susbstância...

Rui Rio não é aquilo que se pinta. No meu caso e de outros portuenses, a intuição acertou na mouche. No caso dos [vencedores] eleitores de Rui Rio, admita-se, foi um redondo fracasso. Hoje, mais do que Rui Rio, o meu grande enigma é saber o que é que os seus eleitores esperam dele. Se quiserem continuar teimosamente a justificar a opção na pseudo seriedade do autarca, só negando a constatação dos factos. Este caso, torna-o algo mais do que suspeito: um oportunista.   

10 novembro, 2010

Na montra mesmo sem a Champions [Onde está Jesus?]

HUGO SOUSA [do jornal O JOGO]

Quantos adjectivos vale Hulk? Para a Marca, jornal espanhol que ontem o considerou destaque da semana, vale mais de meia dúzia: "endiabrado", "instintivo", "provocador", "sublime", "besta", "imparável", "incrível". Estão todos no mesmo texto, onde ainda houve espaço para mais alguns, com referências ao "intratável" FC Porto, ao "golaço" de Falcao e ao "magistral treinador de top" que é Villas-Boas.

A vénia aos portistas estendeu-se a outros jornais europeus, não só como eco da vitória gorda sobre o Benfica, mas também a título de espreitadela complementar a uma equipa que começa por surpreender nas estatísticas. Afinal de contas, sublinham espanhóis e italianos, este FC Porto continua sem derrotas. Ironia das ironias: à falta de Champions, e apesar da cavalgada imparável na Liga Europa, os portistas parecem ter encontrado, nas páginas de jornais por essa Europa fora, uma montra alternativa para garantir atenções. Só ontem, Hulk brilhava na Marca, como já se disse; Falcao também garantia umas linhas simpáticas à custa de uma acrobacia em forma de golo; João Moutinho estava no onze preferido da Gazzetta dello Sport, e André Villas-Boas estava em todo o lado: no banco, a comandar a equipa da semana da Marca, e num artigo de opinião capaz de lhe rebentar com o ego que aparecia generosamente espalhado nas páginas do italiano Corriere della Sera.

Aos 33 anos, dado que não é esquecido, o treinador surge como mentor inevitável da mudança, centrando atenções à imagem do molde que continua a servir para decalcar semelhanças: José Mourinho, obviamente. Por cá, essa comparação foi perdendo força, mas a Europa, que começa a descobrir Villas-Boas, ainda a usa. Mas já não abusa, porque, ainda que o Sport, de Barcelona, insista na ideia de "clone", ontem a Marca (que antes desta página 36 tinha umas dezenas dedicadas ao fenómeno Mourinho, incluindo um longuíssimo artigo de opinião que assinalava o impensável para o Real Madrid: o galáctico é o treinador, numa "mistermania" nunca antes vista por ali) lembrava que os números do FC Porto de Villas-Boas "são melhores" que os de Mourinho. O Corriere della Sera não resiste a chamar-lhe "Mourinho loiro", mas informa os leitores de que o portista detesta a comparação e sublinha haver indícios de que Villas-Boas tem tudo para "uma caminhada autónoma". Diz mais: "Portugal é um laboratório perfeito para um aprendiz." E mais ainda, na tal parte capaz de levar pelos ares, numa explosão épica, o ego de Villas-Boas. Considerem-se avisados para o que se segue: "Tacticamente, o trabalho do Mourinho loiro é mais sofisticado que o do original, não só pela preparação dos jogos (baseada num estudo obsessivo de cada um dos jogadores adversários), mas também pela disposição da equipa em campo, com um 4x3x3 sólido e muito virado para o jogo de ataque." A isso junta-lhe o "poder de comunicação". Chega, não?

"Tic-tac, o Incrível voltará"

Hulk, "o brasileiro Incrível que chegou do subsolo asiático", está estampado na página 36 da Marca. Os adjectivos que lhe são dispensados já foram assinalados no texto principal, aqui ao lado, mas há mais. O autor do artigo diz que Hulk passou por David Luiz, "o central do futuro", como se fosse "uma bala" e superou os defesas benfiquistas "como se fossem cones". Hulk fez do Benfica "um gigante com pés de barro" e, elogiando o futebol dos portistas, a Marca diz que "os adeptos contam as horas para o jogo seguinte. Tic-tac, o Incrível voltará." Deve ser já no domingo, com o Portimonense...

"Mourinho loiro"

A Marca sentou-o no banco da equipa da jornada, diz que é "magistral treinador de top", e o Corriere della Sera dedica-lhe um artigo (as citações estão no texto principal...) capaz de lhe rebentar com o ego. O "Mourinho loiro", como é apelidado, "prepara melhor os jogos" e aposta num futebol "mais atacante", dizem os italianos....

Moutinho na equipa da semana

Hulk está na equipa da Marca, que já o imagina a brilhar noutros campeonatos; João Moutinho faz parte do meio-campo escolhido pelos italianos da Gazzetta dello Sport; Falcao também garantiu uns elogios em Espanha por conta do "taconazo", ou golo de calcanhar, que marcou a Roberto.

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Nota do RoP
A procissão ainda vai no adro, André Villhas Boas começa agora a consolidar a competência que já se notava quando treinava a Académica de Coimbra, mas não há dúvida que há nele algo de "specialmente" diferente de Mourinho.
Com tantos encómios da imprensa estrangeira não sei como se sentirão os crápulas invejosos da imprensa dita nacional...

09 novembro, 2010

MP pede absolvição de todos os arguidos no caso que envolve o FCP e Nuno Cardoso

Por Patrícia Carvalho
[ do Jornal Público]

Procurador defendeu que o processo se revelou "um balão sem ar". Representante da Câmara do Porto pediu indemnização para colmatar alegado prejuízo de 2,5 milhões de euros

Amanhã, os seis arguidos do processo que envolveu uma permuta de terrenos com o FC Porto, no âmbito do Plano de Pormenor das Antas (PPA), deverão descobrir se a juíza atendeu à recomendação do procurador do Ministério Público (MP), absolvendo-os a todos. Ao ex-presidente da Câmara do Porto Nuno Cardoso, a três dirigentes do FCP e a dois antigos engenheiros da autarquia é ainda pedida, pela autarquia, uma indemnização na ordem dos 500 mil contos (2,5 milhões de euros).

Depois de ouvir diversas testemunhas nas várias sessões de julgamento, o procurador do MP concluiu que o processo se revelou "um balão sem ar" e que, em tudo o que apontava para um alegado conluio entre Nuno Cardoso, os técnicos municipais e o FCP para beneficiar este último, estava-se, em termos judiciais, perante "uma ficção". "Não posso pedir a condenação de pessoas com base em ficções, peço com base em realidades", explicou o procurador, durante a tarde de ontem, nos juízos criminais do Porto, durante as alegações finais do julgamento.

Com críticas muito duras à forma como o próprio despacho de pronúncia e a acusação estavam delineados - referindo-se a "incongruências" e, pelo menos, uma "contradição insanável" -, o procurador desmontou os argumentos que apontavam para o alegado crime de participação em negócio - com o consequente favorecimento do FCP e lesão do erário público. Desde logo, afirmando que o facto de o FCP ser "pessoa colectiva de utilidade pública administrativa impede o cometimento do crime" pelo qual os arguidos estão acusados.


Câmara insiste no prejuízo

O procurador disse não entender o porquê de terem sido pronunciados os três dirigentes do FCP sentados no banco do tribunal, quando tinham sido duas outras pessoas ligadas à instituição a participar nas negociações da permuta que esteve a ser analisada durante o julgamento. De igual modo, classificou de "libelos persecutórios sem fundamento" o modo como fora associada a participação do antigo autarca socialista no conselho consultivo do FCP ao seu alegado interesse em beneficiar o clube. "Isto é uma imputação calvinista, para não lhe chamar outra coisa. Um conselho consultivo reúne-se uma vez por ano, só tem funções consultivas, a sua opinião não é vinculativa. Como é que pertencer ao conselho consultivo já era a fonte de promiscuidade para beneficiar o FCP? Não podemos ir por aqui", disse.

O pedido de absolvição foi repetido pelos advogados de todos os arguidos, ficando a representante da autarquia sozinha, a pedir uma condenação, de âmbito cível, traduzida numa indemnização na ordem dos 2,5 milhões de euros. A causídica disse ter ficado provado que a segunda avaliação feita aos terrenos da Quinta de Salgueiros teve o "intuito claro de permitir a permuta" com os terrenos do Parque da Cidade, defendendo que "esta permuta não era necessária para executar o PPA". O objectivo, concluiu, era "beneficiar o Futebol Clube Porto à custa do património da câmara".* A sentença será lida amanhã.

Nota do RoP
* É impressionante o contraste das duas facetas de Rui Rio. Mesquinho e oportunista para com os "seus" conterrâneos, dócil e reservado com o Governo Centralista de Lisboa [e respectivos clubes]. Que desgosto para o Porto!



Procurador diz que acusação contra Cardoso é "balão sem ar"

Por vontade do procurador do Ministério Público Carlos Santos, o ex-autarca do Porto, Nuno Cardoso, e três vice-presidentes do F. C. Porto serão absolvidos da acusação de, através de uma permuta de terrenos nas Antas, terem lesado os cofres públicos em 2,5 milhões.

Nas alegações finais do julgamento em que, a par daqueles responsáveis, dois engenheiros da Câmara do Porto são também acusados de crime de participação económica em negócio, o procurador foi além de considerar não ter sido feita prova para condenar: atacou a Inspecção Geral de Finanças, cujo relatório sustentara a acusação.

"Perguntei ao perito avaliador se ele sabe que consequência tem o facto de o F. C. Porto ter utilidade pública. Ele disse que sim. Mas não sabe", acusou.

Isto para sustentar como principal argumento do magistrado para a absolvição o facto de ao clube portista ter sido atribuída, desde o Estado Novo, "utilidade pública", o que lhe afastará a qualificação de "terceiro", num crime de "participação em negócio", que visará evitar promiscuidade entre os sectores público e privado.

O procurador foi cáustico até com a própria acusação e pronúncia do Tribunal de Instrução Criminal do Porto, que se refere a um "conluio" entre Nuno Cardoso e os dirigentes do F. C. Porto, Adelino Caldeira, Angelino Ferreira e Eduardo Valente. Leu, até, trechos do documento e classificou-os como "ficções". "Não posso pedir condenações com base em ficções... É um balão sem ar".

O actual autarca do Porto, Rui Rio, também não escapou às críticas, nomeadamente por ter-se referido a um prejuízo, para o erário público, de "seis milhões" de euros, contando com os direitos de edificabilidade que viriam a ser doados ao clube, depois do negócio de permuta dos terrenos da família Ramalho com lotes da frente urbana do Parque da Cidade e já na execução do Plano de Pormenor das Antas."O F. C. Porto recebeu duas vezes, mas neste julgamento só está em causa a permuta, pois o MP arquivou. O dr. Rui Rio, de direito não sabe nada; não pode falar de cátedra!".

O autarca do Porto - que exige uma indemnização de 2,5 milhões de euros aos arguidos, o valor estimado pela Inspecção Geral de Finanças como prejuízo, resultante da diferença de valor entre os imóveis permutados - foi também alvo de Gil Moreira dos Santos, advogado de Nuno Cardoso."Rui Rio é que deu os milhões ao FC Porto. Quem está acusado, não deu nada...", argumentou.

Já Sandra Martins Pinto, defensora dos engenheiros que avaliaram os terrenos em causa, acusou Rio e a Câmara de "descaramento" e "litigância de má-fé", ao manter pedidos de indemnização contra os funcionários, que nunca quis punir em termos disciplinares. A sentença será lida amanhã, nos Juízos Criminais do Porto.

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Nota do RoP
As operadoras de televisão de Lisboa - publicas e privadas -, que emitem em canal aberto, são o espelho do governo que temos: completamente sectárias, desonestas e centralistas. Para elas, o Porto só é notícia se for para denegrir a sua gente e as suas mais populares instituições. Por isso, suspeito [para não dizer que tenho a certeza], que divulguem com a mesma atenção e visibilidade a notícia do JN acima reproduzida como divulgaram os Apitos Dourados e as Noites Brancas... Por isso, faço-o eu. 

Prós sem contras

Enquanto o Portugal profundo é cuidadosamente sedado pelos Prós e Contras do regime, o Estado [através da RTP], paga generosas avenças pecuniárias aos infractores [culpados por esta e outras crises], doutos pareceres sobre como sair dela... Por estranho que isto possa parecer,  esta é a mais pura verdade.

Por mais de uma vez escrevi aqui a minha opinião sobre programas como o Prós e Contras e o verdadeiro embuste que eles representam para cidadãos menos atentos, como tal, não vejo necessidade de me repetir. O que é curioso, é que ontem tive o prazer de saber pela RTPN, num programa apresentado pelo Provedor do Espectador, Paquete de Oliveira,  que já há quem tenha a mesma opinião do P&C na vertente económica! O Provedor não abriu propriamente a boca de espanto com a revelação, mas pelo menos, ficou agora a saber, através de um economista aparentemente não alinhado, que os responsáveis do Prós e Contras se limitam a convidar sempre as mesmas pessoas, com as mesmas ideias... Foi isto que o economista entrevistado quis dizer :  que o Prós e Contras não tem contraditório... E assim é.

Mas, será que são só os debates sobre Economia que não têm contraditório? Não, é claro! O Norte, em geral, e o Porto, que o digam! O país é já por si uma grande contradição. Só Lisboa tem tratamento próximo de um país, e mesmo assim, é uma vergonha...

O senhor economista só pecou foi por defeito! É que o viciado paradigma da política económica é apenas uma parte do todo, e o todo é a deteriorização do paradigma do proprio regime capitalista. Era por aí que a conversa devia ter começado, mas todos têm medo de abordar os assuntos pelo princípio... Por que será? Perguntem aos responsáveis editoriais pelos debates televisivos que eles devem saber a resposta. A verdade é muitas vezes perturbante...

Se esta crise pode ter alguma virtude, essa, é deixar cair completamente a máscara das falsas competências e dos falsos méritos. Resta saber se o Povão é suficientemente esperto para fechar de vez a torneira dos rega-bofes do regime. 

   

08 novembro, 2010