27 novembro, 2010

CHARLES AZNAVOUR // Que c'est triste Venice



Que c'est triste le Porto!!!

O Império Colonial II

Depois da notícia sobre a fusão dos portos, sabe-se agora da intenção do Governo de sujeitar o Teatro Nacional de São João a idêntico modelo. Neste caso, está prevista a sua integração, juntamente com o Teatro D. Maria II, no Opart, que gere o São Carlos e a Companhia Nacional de Bailado, em nome da lógica da contenção da despesa do Estado por razões mais que consabidas, e que, por isso mesmo, vão sendo invocadas e aceites pela população como consequências inevitáveis do mal geral que afecta o país.

Já se sabe que os equipamentos culturais, por não servirem as necessidades primeiras, são olhados com suspeita e, por isso, são um alvo fácil para os políticos. Pior ainda quando se situam na periferia. Ora, não se podendo ignorar a necessidade de reduzir os custos de funcionamento do Estado, a verdade é que os cortes na despesa não podem ser feitos, apenas, à custa da "província", por mero e cego instinto centralizador. Mesmo sendo curta a manta, e estando o Governo em Lisboa, o que o recomenda a destapar o país distante para poder continuar a aconchegar a excelsa capital, há um momento em que os súbditos longínquos se devem revoltar, e recusar esse aconchego. O que sucede no caso do TNSJ, porque a decisão é iníqua, porque se trata de um equipamento indispensável para a cultura na cidade, e porque a sua gestão, ao longo dos anos, tem sido muito melhor do que a de outros equipamentos similares. O TNSJ, que também tutela o Teatro Carlos Alberto e São Bento da Vitória, tem 94 trabalhadores, acolherá, este ano, 80 mil espectadores, e recebe 4,9 milhões de euros anuais do Estado, enquanto a Opart, que inclui a Companhia Nacional de Bailado e o São Carlos, tem 413 trabalhadores para 100 mil espectadores mas custa 18,4 milhões de euros ao Estado.

Para além disso, e porque os números não reflectem todas as realidades, lembre-se ainda que o TNSJ tem um impacto externo na cultura porque apoia companhias independentes e contrata muitos actores locais, sendo também responsável pela exportação artística, o que é caso único entre todos os organismos do Estado. A título de exemplo, "Sombras", neste momento em exibição, tem já assegurada uma digressão por Santiago, Vigo, Corunha, Madrid e Paris, e deverá também vir a ser apresentada no Brasil, onde o "Turismo Infinito", com textos de Fernando Pessoa, teve um êxito assinalável em 2009. Na sua produção própria destacam-se as produções contemporâneas de peças clássicas, de autores como Tchekhov, Gil Vicente e Shakespeare, que têm grande acolhimento junto do público.

Diz a ministra da Cultura, que aliás nunca assistiu a uma produção própria do TNSJ, que se não ocorrer esta fusão, o TNSJ não terá dinheiro para fazer face às despesas. Mas não nos iludamos. A fusão terá como única consequência a dissolução da sua unidade técnico-artística, já que, em contrapartida, gerará, "ceteris paribus", uma poupança pouco significativa, com a redução de dois administradores e com a concentração dos serviços de contabilidade. E se mesmo essa poupança é necessária, então que se faça à custa do Ministério, de automóveis e de assessorias.

A gestão autónoma do TNSJ, elogiada pelo Tribunal de Contas, tem sobrevivido a cortes sucessivos e à perda do seu mecenas, e sobreviverá decerto a uma redução de orçamento. Só não sobreviverá ao rolo compressor do centralismo. E, por isso, saúdo todos aqueles que esta semana deram as mãos para darem um abraço ao edifício do teatro, e apelo às forças da cidade para que não consintam neste desmando, permitindo manter vivo o TNSJ.

Rui Moreira

Fonte: JN

26 novembro, 2010

Nat King Cole // Smile




Smile[tem todas as razões para isso] e
passe um bom fim de semana

Rui Moreira tem razão

Fonte: Semanário Grande Porto
Autor :
Rogério Gomes - Director Interino

A posição de Rui Moreira em ponderar a sua não continuidade à frente da Associação Comercial do Porto é compreensível e perfeitamente demonstrativa da apatia que tomou conta da “sociedade civil”, neste caso nortenha. O presidente da ACP tem sido nos últimos anos talvez a voz mais interveniente no debate público regional, em especial quando as questões dizem respeito ao Porto e ao Norte – diríamos que sempre que os interesses da região ou da cidade estão em causa.

Curiosamente, dada a propriedade com que se pronuncia sobre os assuntos, reúne quase sempre um conjunto vasto de concordâncias ou, pelo menos, de aquiescências tácitas. O problema é que raramente há movimentação sócio/política consequente com os aplausos que as suas palavras merecem.

No muito discutido caso da reorganização da ANA que leva a gestão do aeroporto de Sá Carneiro e os seus lucros para uma holding que, naturalmente vai diluir os interesses próprios e a autonomia financeira do equipamento, Rui Moreira ainda teve a satisfação de ver um grupo económico (Sonae) a interessar-se pelo assunto. Mas agora, quando denuncia uma manobra semelhante em relação à APDL que, a concretizar-se a intenção do Governo, será integrada numa estrutura que vão “comer” o altamente lucrativo porto de Leixões, a resposta é a indiferença.

Se o caso do aeroporto levantou vozes e alertou consciências, a hipótese de também a gestão dos portos do Douro e de Leixões serem centralizados devia levar-nos a uma revolta imediata e enérgica contra esta intenção.

Mas, não: reina o silêncio (uma excepção no caso do teatro de S. João, cuja passagem para uma administração centralizada em Lisboa motivou uma concentração de centenas de pessoas; o Movimento para o Partido do Norte telefonou a Rui Moreira a apoiar as suas posições) 

A crise parece ter amolecido o ânimo social e as “forças vivas” do Porto e do Norte estão desmotivadas. Os partidos andam entretidos com a discussão do orçamento, os empresários procuram entre as migalhas do Estado e os milhões da Europa alguns tostões para manter actividade e os cidadãos fazem contas à vida e à crise, tentando não perder o emprego e assegurar a saúde e a educação dos seus. Os líderes políticos, ou estão reféns de estratégias pessoais que não passam por acicatar neste momento os ânimos ou à esperam uma redefinição política nacional para jogarem os seus trunfos.

Ao Porto e ao Norte falta-lhes sentimento de revolta; falta-lhes, hoje, a capacidade de indignação e quem tenha a capacidade de a corporizar. Não existe uma opinião pública forte capaz de mobilizar consciências e de iniciar um movimento suficiente forte para contrariar o centralismo galopante que o Governo vem impondo.

Todos os dias temos muita gente a queixar-se de Lisboa, do modo como o Estado suga recursos e abafa o desenvolvimento regional. Não faltam exemplos, grandes e mais pequenos, de como diariamente isto é feito. Também não é difícil ter o acordo de muitas figuras públicas e até de dirigentes partidários locais em como isto é assim mesmo… Mas, depois, falta a consequência. E demasiadas vezes vemos como aqueles que, em privado, concordam connosco, em público, se remetem a uma comprometido silêncio ou são capazes mesmo de se contradizerem.

Por inveja política, por calculismo partidário ou por simples comodismo, é o silêncio que impera. E quando pessoas como Rui Moreira se vêem a pregar no deserto é muito natural que sintam desânimo e que não vale a pena continuar.

É muito difícil remar contra esta maré de apatia e de posturas calculistas de quem tinha a obrigação de defender a região e a cidade. Seria, no entanto, uma enorme perda para ambas se Rui Moreira deixasse de ser aquilo que é: um portuense, uma referência e uma das principais vozes do Norte.

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De facto, Rui Moreira é a única voz a remar contra a maré, para além de Pedro Baptista e Anacoreta Correia que, contra ventos e "anti-corpos", se vão esforçando por implantar um novo Partido político a partir do Porto.

Talvez Rui Moreira comece agora a perceber a imprestabilidade  da sociedade civil do Porto contemporâneo, principalmente a das chamadas elites, acomodada, submissa, e  sem capacidade de reacção aos flagelos centralistas.

O Movimento Pró Partido do Norte precisa de mobilizar para os seus quadros gente capaz e séria, que possa criar propostas bem estruturadas de forma a afastar do povo  o sentimento de desconfiança profunda em relação aos partidos políticos.

Há um outro ponto [quanto a mim fundamental], que devia ser incluído nos estatutos do novo Partido, que é prevenir situações de novas formas de compadrio e oportunismo. Evitar que se instale no seio dos seus militantes a ideia do tacho, do carreirismo e da banha da cobra. 

Falar sério e agir ainda mais  a sério, é  o futuro da boa governabilidade.


25 novembro, 2010

Comunicado do Partido Pró Movimento do Norte

Para quem estiver interessado em ler, clicar aqui.

A cassete do costume


Animado pela terceira derrota do Benfica na Champions, onde a chantagem sobre os árbitros e os "sistemas" não cola nem é permitida, hoje só me apetecia falar das flores e dos passarinhos. Mas, nem essa fútil alegria me afaga a alma. Tal como o Benfica, o país é um bluff!

Como é hábito [encarniçado], o governo teima em ver o que não existe e ignora a realidade dos factos. A greve geral, apesar de ultimamente estar a ser desvalorizada por tudo quanto é opinador oficial dos media, foi um sucesso. Contudo, o Governo, desonesto como é, vira mais outra vez as costas à realidade e à população com o coerente desprezo  do costume preferindo dizer que a greve foi um fracasso, mitificando e aldrabando. Para isso é que lá tem gente qualificada na matéria.  

Solidário com a prole rapa-tachos do Partido, o Ministro da Defesa, naquela arrogância típica dos deslumbrados do Poder, desvaloriza a oposição dos 3 ramos das Forças Armadas à reforma da saúde militar, como de resto desvaloriza tudo o que colida com as suas magnas decisões. E como não há-de ele desvalorizar se, tal como o resto do Governo, está farto e cansado de dar provas inequívocas da sua competência?

Para nosso desgosto, a oposição e certos opinadores credenciados pela lógica do porque sim, não nos deixam dormir sossegados [excepto se o soporífero Benfica der uma ajudinha], porque continuam a manifestar uma visão maniqueista da Política. O melhor Estado menos Estado é a tecla gasta de alguns iluminados, dando sinais preocupantes de algumas limitações estratégicas e ideológicas caso venham a ser Governo. Miguel Júdice, é um desses casos típicos. Fazendo parte da comissão de honra da candidatura de Cavaco Silva às Presidênciais, entendeu agora publicar um livro malhando sem dó nem piedade no seu Presidente de eleição alegando entre outras coisas que "Cavaco fez do PSD um partido de consumidores, que aumentou o peso do Estado espartilhando a sociedade civil... Se o Estado tivesse emagrecido, se tivesse alterado a Lei laboral [cá temos a crónica tentação para mexer nas leis], hoje estaríamos melhor".

Não é que discorde com o que este senhor advogado diz sobre Cavaco [embora de forma paradoxal, diga-se], só não consigo é ouvir ninguém a explicar quem é que controla a sociedade civil uma vez que o próprio Estado não é capaz de se controlar a si próprio. Estou-me a lembrar daqueles "empresários" que aproveitando a boleia do Estado [e da sempre-eterna crise] se habituaram, sem dignidade nem vergonha, a dizer aos empregados que não sabem se têm dinheiro para lhes pagar, para desta forma lhes manterem os salários em atraso. Ou então, daquele gerente do Intermarché que atentou contra a vida dos seus funcionários só porque ousaram aderir à greve.

Suponho que o Dr. Miguel Júdice terá na manga algum trunfo para este modelo de liberalização da sociedade civil. Talvez confie na auto-regularização, digo eu. É que, nós somos mesmo bons a auto-regular-nos. Basta contar os longos anos que levamos a convencer os automobilistas a parar nas passadeiras e a colocar o cinto de segurança...

Que líderes tão cinzentamente repetitivos!

24 novembro, 2010

Mais nojo



Como um autêntico tsunami que tudo destrói à sua volta, o "Governo" continua apostado em infernizar a vida aos portuenses. Agora, chegou a vez do Teatro S. João servir de cobaia à paranóia açambarcadora do centralismo lisboeta, com a intenção de o incluir no Organismo de Produção Artística [OPART] da capital.

Não tarda muito, entram-nos pelas nossas casas, para nos dizerem como temos de escovar os dentes... Só à bala mesmo! F.D.P.!

Mas, haverá ainda  quem acredite que o Partido Socialista quer mesmo a Regionalização? Ler mais, aqui: http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Cultura/Interior.aspx?content_id=1719322
 

Nojo!

Quando um povo aceita resignadamente ser comandado por um grupo de indivíduos com características criminosas, esse povo é também cumplíce passivo de todas as patifarias por eles cometidas. Não chega a constatação dos factos, é preciso fazer qualquer coisa para impedir que este comportamento se propague e contagie os governos que se seguirão e a própria população. Um povo que assiste, desinteressado e com alma fadista à destruição compulsiva do seu país é um povo que não  merece ser respeitado. E é precisamente isso que este bando de crápulas que detém o Poder já percebeu, e lhe está a fazer.

Não é só criminoso o psicopata que mata a namorada à marretada, nem o traficante de droga de rua, há muitas outras maneiras de assassinar, sem facas ou pistolas, mas com outro tipo de armas muito mais destruidoras, como mandar por incúria e completa imoralidade, centenas de milhar de pessoas para o desemprego, para a doença e para a miséria.

Se realmente vivemos numa Democracia representativa, se o Poder popular ainda não chegou à rua, são os nossos representantes e todos aqueles que continuam a dar-lhes crédito, os únicos responsáveis pela pouca vergonha a que o país chegou. Se há crime - e penso que já ninguém terá dúvidas sobre isso -, tem de haver castigo, caso contrário o país entrará numa espiral crescente de violência e de ilegalidade que será muito difícil de controlar.

Pessoalmente, revolta-me, incomoda-me profundamente ser "governado" e dever obediência cívica a um conjunto de gente desqualificada, sem sentido ético nem seriedade. Desprezo-os como desprezo o fedor dos escrementos! A esses biltres, só não os coloco na cadeia porque não tenho condições para isso. Comigo, toda essa gente não tinha um único advogado a defendê-los, simplesmente porque não merece defesa. Direito à defesa sim, mas só para o que é defensável. Há coisas que não são defensáveis!

Sei que estas palavras não são politicamente correctas nem encaixam nos padrões democráticos patentes nos chips que durante longos anos colocaram no cérebro do povo, mas é exactamente por isso que hoje estamos reféns desses fúteis paradigmas. Estou-me a borrifar para toda a Democracia que usa as mesmas balanças da Justiça como qualquer feroz ditadura! Chamar a este regime uma  Democracia é insistir num erro que alguns não estão interessados em corrigir porque lhes dá jeito, porque lhes convém viver com a Injustiça que inflinge ao Povo.     

23 novembro, 2010

Imagens do Parque Biológico de Gaia


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Charles Darwin no Parque Biológico de Gaia

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Optimismo, procura-se, mais vivo que morto

Abrimos o jornal [JN]e lemos:

140 euros para salvar os bancos irlandeses
*[falidos salvam falidos?]

Défice cresce 215 Milhões até Outubro
[a endividar-nos somos mesmo bons! E... rápidos]

Greve Geral

Baleado por ter demorado a sair da passadeira
[convenhamos que é castigo exagerado, mas que há para aí uns meninos que gostam de provocar os automobilistas, isso é verdade. Só lhes falta fumar um cigarro e ler o jornal]

Idoso premeditou pegar fogo à mulher

Gangue de menores assaltava estudantes

Tios detidos por raptar sobrinhos

Comerciante atingiu assaltante a tiro

Detido por maltratar mulher, GNR e bombeiros

Cantinas da Câmara de Gaia dão comida todo o dia

Problemas laborais resolvidos a soco

Chefe dos CTT ficou com donativos

E isto é apenas um resumo das notícias de hoje. É claro que os "optimistas" de plantão ao rectângulo plantado à beira mar, dirão que desprezei o Emmy das telenovelas ganho pela TVI em Nova Iorque, que Sócrates "garante" que a crise não afectará a ciência, ou então, que a selecção portuguesa chapou com 4 secos à Espanha. Mas os optimistas são assim mesmo, contentam-se com pouco, normalmente, com muito e bom, dentro da barriga.


*Os textos entre parêntesis são da minha autoria 

22 novembro, 2010

O Porto no New York Times

Clicar em baixo sobre o link para ler

A Grécia está prestes a implementar a Regionalização

Esta notícia talvez surpreenda muitos portugueses que há décadas ouvem quotidianamente a velha lengalenga dos anti-regionalistas que, quais velhos do Restelo, propalam aos sete ventos que a Regionalização é sinónimo de despesismo, "tachismo" e provocaria uma crise.

Mas não. A Grécia, um dos 3 últimos países não regionalizados da União Europeia a 15 (os outros são Portugal e a Irlanda, ou seja, todos eles países da «cauda da Europa», coisa que os anti-regionalistas nem comentam...), e considerado, a par de Portugal, um dos países mais centralizados da Europa, vai implementar a Regionalização. Isto enquanto vive a pior crise da sua história recente. E, segundo os gregos, precisamente para combater essa crise. Tudo isto quando está fortemente pressionada e vigiada pela UE e pelo FMI, e sem que estes se mostrem contra- antes pelo contrário!

Até os gregos já chegaram à conclusão que a Regionalização é dos melhores instrumentos de combate à crise. Foi precisa uma grande crise para o admitirem, mas mais vale tarde que nunca!

Vamos, então, perceber melhor o modelo de Regionalização da Grécia:

A Regionalização é o pilar fundamental do Plano Kallikratis, cujo objectivo é acabar de vez com o caos administrativo no qual a Grécia, à semelhança de Portugal, vive cronicamente. Até agora, a Grécia estava dividida em 3 tipos de unidades administrativas: periferias, prefeituras e municípios.

As periferias eram 13, e equivaliam às nossas Províncias tradicionais: não tinham órgãos eleitos, praticamente não tinham poder a não ser o equivalente às nossas CCDR's, mas eram as divisões mais tradicionais.

As 54 prefeituras eram órgãos intermunicipais, o equivalente às nossas Comunidades Intermunicipais NUT-III. Essas sim, já tinham órgãos eleitos, embora as suas competências fossem mais alargadas que as das nossas Associações de Municípios, uma vez que as prefeituras gregas tinham competências intermédias entre as dos nossos distritos e municípios.

Nos municípios residia um dos grandes problemas: a existência de 1033 municípios num país pouco maior que Portugal fazia com que o mapa administrativo grego fosse ainda equivalente ao que existia em Portugal antes do séc.XIX, com as reformas do reinado de D. Maria II.


O que se fez, então, na Grécia?

Extinguiram-se as prefeituras, e fez-se uma profunda reforma nos restantes órgãos.

Começando pelo nível inferior -os municípios-, os Gregos fizeram uma reforma equivalente à que Portugal fez no reinado de D. Maria II, embora com mais de 150 anos de atraso. De 1033 municípios, passaram a ter apenas 325, um número equivalente ao que existe actualmente em Portugal (o que só prova que, ao contrário do que certas vozes clamam, Portugal não tem concelhos a mais).

Quanto às periferias, passam de 54 para 13, e verão as suas competências ser reforçadas. O cerne da Regionalização grega está nas periferias, que serão as verdadeiras Regiões Administrativas da Grécia. Tal como os municípios, terão órgãos eleitos de 5 em 5 anos, neste caso um Periferiado (equivalente à Junta Regional) e uma Conselho Periferial (equivalente à Assembleia Regional). Deixam, assim, de ser um "híbrido" entre municípios e regiões, e assumem-se como verdadeiras unidades regionais, conforme o seguinte mapa:


Por fim, e para pouco mais que fins estatísticos, a Grécia decidiu instituir 7 "administrações descentralizadas", que serão agrupamentos de periferias que não terão mais que uma representação do Governo, à semelhança do que acontece com o Representante da República na Madeira e nos Açores, sendo que na Grécia participarão neste órgão também representantes das periferias e dos municípios.



A questão do tamanho das regiões:

Em Portugal, há a tendência em afirmar que as regiões devem ter dimensão e população relativamente grandes, supostamente para terem "massa crítica", e que para isso se devem ignorar os contrastes geográficos, económicos e sociais, e esquecer as identidades regionais tradicionais. Daí em Portugal alguns defenderem o mapa de 5 regiões, com as regiões "norte e centro", completamente contrastantes no seu seio, apenas para terem grande tamanho.

Na Grécia, ao invés, pensou-se de outra maneira e seguiu-se aquilo que foi feito em praticamente todos os países regionalizados da Europa (destaco os Países Baixos, a Itália, a Espanha e a Suíça): teve-se atenção aos contrastes regionais, e respeitou-se as identidades existentes, ignorando o tamanho e a "massa crítica"- questão que aparentemente só em Portugal foi suscitada, e que nunca, em nenhum país, foi encarada como um problema.

Deste modo, as regiões (prefeituras) gregas variam muito em tamanho e em população. A região continental menos populosa é a Macedónia Ocidental, que contava em 2005 com 303.857 habitantes (menos do que teriam, por exemplo, Trás-os-Montes e Alto Douro ou a Beira Interior, ambas rondando os 350 a 400 mil habitantes), sendo que a região insular do Egeu Setentrional tem ainda menos habitantes: 208.151. Já no extremo oposto, a região mais populosa é Ática, com 3.841.408 habitantes (população equivalente à de Entre-Douro e Minho ou Estremadura e Ribatejo, ambas superando os 3 milhões de habitantes).

Assim, mais uma vez, fica demonstrado que a questão da "massa crítica" das regiões é um não-problema, suscitado apenas em Portugal para desviar atenções e atacar a Regionalização.


Implementação e reacções 

Esta nova reforma vai apenas entrar em vigor no dia 1 de Janeiro de 2011, e não precisou de qualquer referendo para ser aprovada (à semelhança do que se passou com quase todos os processos de Regionalização da Europa). Os gregos contam, com esta reforma, combater mais eficazmente a crise, diminuir as desigualdades entre as regiões (ao nível europeu, só Portugal as suplanta) e gerir mais eficientemente o território, ao mesmo tempo que diminuem os custos com a administração pública. Ou seja, seguem o lema «com menos, fazer mais», que presidiu à maioria das regionalizações na Europa.

Por seu turno, na Grécia praticamente ninguém fala numa hipotética ameaça à unidade nacional, antes pelo contrário! E não nos esqueçamos que a Grécia é, tal como Portugal, um país historicamente coeso, em que a esmagadora maioria da população fala apenas uma língua, com uma cultura muito própria e enraizada há milénios, com uma história incontornável, e um sentido patriótico bem presente na população. Porém, na Grécia os inacreditáveis discursos anti-regionalistas não colam- talvez devido à Grécia ser não só a pátria-mãe da democracia, como a pátria-mãe da Regionalização: as centenas de Cidades-Estado autónomas existentes na Grécia Antiga foram a primeira forma de Regionalização a nível mundial.

Os gregos já foram às urnas para eleger os novos governantes regionais. Tal aconteceu no mesmo dia das Eleições Autárquicas (aí está uma boa forma de poupar nos gastos e atrair mais votantes), a 7 de Novembro último, com uma tradicional segunda volta no dia 14. Interessante também é o modelo de escolha dos candidatos: estas eleições são apartidárias, e no boletim de voto aparece apenas o nome dos candidatos, tal como acontece em Portugal nas Eleições Presidenciais.


Em jeito de conclusão, saliente-se o modo como a Regionalização foi encarada na Grécia: uma reforma de futuro, para modernizar o Estado e o País, reduzir os custos da Administração Pública e assim combater o défice e a crise, aproveitando para atenuar os contrastes regionais e promover o desenvolvimento.

O que mais será preciso para que em Portugal se deixe de pensar na Regionalização como "tachismo", "despesismo" e "separatismo"? O que mais será preciso para que os anti-regionalistas deixem de chamar aos regionalistas "provincianos", ignorando que com isso estão também a chamar "provincianos" aos alemães, franceses, belgas, holandeses, espanhóis, italianos, suíços, austríacos, ... ?

Está na hora de mudar mentalidades.


João Marques Ribeiro
[in blogue Regiões]