18 dezembro, 2010

Tiros nos pés

Como nota prévia, declaro que não faço parte daqueles que embirram com a PSP e com todo e qualquer elemento dessa força policial. Eu, pelo contrário,genericamente penso bem dessa corporação, reconheço a sua utilidade, a dificuldade da sua missão, os perigos que frequentemente correm os seus agentes, e o quanto são mal pagos. Olhando umas dezenas de anos para trás, vejo como mudou a imagem física do polícia. Nesse tempo eram normalmente uns "tacos de pia", barrigudos, de bigode façanhudo, boçais e incultos. Hoje são a antítese desta descrição, mas curiosamente a mentalidade dos seus dirigentes parece não ter acompanhado a transformação física, mantendo-se numa espécie de escuridão medieval.

Vem isto a propósito da anunciada intenção de os municípios do Porto e de Lisboa transferirem para as respectivas polícias municipais a responsabilidade da fiscalização do trânsito nas suas áreas.

Não sei o que se passa em Lisboa, mas conhecendo a realidade do Porto só posso aplaudir esta intenção, e a razão é simples, pois a acção da PSP neste campo, define-se por uma única palavra: VERGONHOSA. E vergonhosa sobretudo pela sua ausência, reveladora de incúria e desinteresse totais, propiciando o caos vergonhoso em que se transformou o estacionamento, selvagem e abusivo, em todos os locais e a todas as horas.

Este é um mal geral mas permito-me destacar, como mero exemplo, o que se passa à volta do hospital de Sto. António. Estaciona-se abusivamente em frente à escadaria da entrada principal, dificultando a movimentação daqueles que pretendem aceder ao hospital, e quantas vezes também impedindo a passagem dos eléctricos. Estaciona-se em tudo que é passagem para peões, incluindo nos passeios do jardim do Carregal. Estaciona-se até no espaço reservado às ambulâncias, obrigando-as a esperar os seus doentes na via pública. Este é um espectáculo que tenho observado diariamente durante semanas e meses, e que continua e continuará perante o desinteresse da secção de trânsito da PSP.

Os exemplos da permissividade duma autoridade que é suposta fazer cumprir a lei mas que tem uma interpretação sui generis desta obrigação,estendem-se por todo o Grande Porto, mas gostaria no entanto de eleger, como símbolo da inércia policial, o que se passa junto à esquadra da PSP instalada no edifício do Norteshoping. Aí, bem em frente da entrada da esquadra e a uns 20 ou 30 metros de distância, diariamente estacionam carros irregularmente, incluindo em cima das "zebras" pintadas no chão ( serão carros dos próprios agentes?) na maior impunidade. Parece que não é somente nos desenhos animados que os ratos vêm comer o queijo nas barbas dos gatos!

Em face do deprimente espectáculo levado à cena diariamente perante os habitantes desta desgraçada cidade e seus visitantes, penso que não pode senão aplaudir-se a anunciada intenção do Porto e de Lisboa, e por uma simples razão: pior do que está, não pode ficar, e alguma coisa tem de ser feita.

Em consequência penso que é necessária uma grande lata e uma enorme dose de má-fé para um sindicato dos oficiais da polícia, corroborado posteriormente por uma individualidade da direcção nacional da PSP, vir afirmar publicamente a sua oposição, com a alegação de que os municípios apenas pretendem ficar com o dinheiro das multas!

Penso que declarações deste jaez só descredibilizam quem as profere. Lamentável que a PSP, que precisa de credibilizar-se, acabe por dar tiros nos próprios pés.

17 dezembro, 2010

Que reste-t-il de nous amours - Nolwenn Leroy & Patrick Bruel




Versão original: Charles Trenet

Carlos Pinto Coelho, o senhor "Acontece"

CARLOS PINTO COELHO
Sou pouco dado a unanimismos, sobretudo quando promovidos pela máquina de propaganda centralista. Um dos inumeráveis defeitos do regime centralista é o de alienar muito mais e por motivos  óbvios, os poucos que dele beneficiam, do que a imensa maioria a quem prejudica.

Se a fonte do mal centralista vem de Lisboa, a tendência natural dos habitantes das regiões afectadas pelo seu sorvedouro, é criarem anti-corpos contra os lisboetas. Dirão que é uma reacção injusta. Talvez, mas é natural. Tão natural, como o conformismo dos lisboetas em relação às injustiças do centralismo para com o resto do país. Conformismo, e uma crónica falta de solidariedade, ensurdecedoramente silênciosa...

Feita esta pequena introdução, gostaria de manifestar publicamente os meus sentidos pêsames pela morte [ontem] de Carlos Pinto Coelho por duas singelas razões. A primeira, por ter conhecido e privado com a sua mãe D. Sara, nos tempos em que vivi em Lisboa. A D. Sara era uma fantástica comunicadora, uma mulher de ideias arejadas muito avançadas para a sua idade. Era uma apaixonada pelo teatro e, como atrás escrevi, uma pessoa com quem dava gosto conversar horas a fio.

A segunda razão, é por considerar Carlos Pinto Coelho um jornalista de uma classe invulgar, completamente descontextualizada do jornalismo voyer e intriguista que agora se faz.

O Mundo não é perfeito, apesar disso, custa-me saber que à sua volta gravitavam "amigos" que nada tinham a ver com ele. Mas, a vida também é feita destes desencontros...

16 dezembro, 2010

À atenção da nossa classe política e empresarial...

Na sétima greve geral da Grécia este ano, a violência tomou conta das ruas de Atenas quando os manifestantes entraram em confrontos com a polícia. Carros incendiados e até um hotel em chamas e vários feridos é o balanço da violência que se prolongou por mais de uma hora na capital grega.



Alguns manifestantes arremessaram cocktails molotov e pedras e paus contra a polícia, que respondeu com gás lacrimogéneo e bastonadas contam os relatos das agências de notícias.

O número de manifestantes, que gritavam por revolta nas ruas contra as medidas de austeridade do Governo, não é certo. A BBC News cita uma fonte policial que indica 15 mil pessoas. A agência Reuters avança com 40 mil manifestantes. Isto no dia em que o parlamento aprovou mais medidas de contenção e cortes de despesa para conseguir uma ajuda estimada em 110 mil milhões de euros do Fundo Monetário Internacional e da União Europeia.

Cerca de 200 manifestantes à porta do parlamento grego chegaram mesmo a agredir um antigo ministro conservador Kostis Hatzidakis que, segundo relato da Reuters, teve de se refugiar num edifício nas imediações.

Voos cancelados, escolas, portos, ministérios e portos fechados e a rede pública de transportes paralisada foram outras consequências desta greve. Os jornalistas também se juntaram impedidno muitos órgãos de comunicação social de funcionar.

“A ira é tão grande que ninguém a pode parar. Isto é só uma amostra do que poderá acontecer depois da época de festas”, disse à Reuters Ilias Iliopoulos da associação ADEDY, grupo que luta contra formas de exploração no trabalho. Segundo a ADEDY a marcha de protesto de hoje foi maior que uma outra em Maio que juntou 50 mil pessoas.

Anastasia Antonopoulou, 50 anos, é professor e juntou-se à marcha: “Sou professora e a maioria dos pais dos meus alunos estão desempregados”, disse.

[Fonte: Público]



15 dezembro, 2010

O rosto do centralismo travestido de cineasta/comentador desportivo

António Pedro Vasconcelos [vestido à PIDE]
A foto ao lado é uma imitação ridícula do Hercule Poirot lisboeta, patético e complexado. Como sabem, Poirot foi um detective privado, criado pela talentosa escritora britânica Agatha Christie que se tornou conhecida na  produção de novelas policiais.

Ao contrário da escritora, cuja fama atingiu níveis de popularidade internacionais, esta criatura esguia e de aspecto cadavérico, só conseguiu ter alguma visibilidade em Portugal como cineasta porque o Estado centralista tudo fez, e continua a fazer, para lhe dar algum protagonismo com subsídios e apoios de toda a espécie. 

Curioso, é reparar que António Pedro Vasconcelos, apesar de ser um ilustre desconhecido em termos internacionais, se sente muito confortável a criticar o vetusto cineasta Manoel de Oliveira, como se ele próprio estivesse a um nível superior, desprezando o reconhecimento internacional e os inúmeros prémios recebidos pelo realizador portuense em vários festivais de cinema. Mas, agora que o Estado, através da RTP, nos deu a oportunidade de o conhecer melhor em sectários  Trios de Ataque,  será caso para nos admirarmos?  Não, não é, mas o que é demais é moléstia.

António P. Vasconcelos exibe perante as câmaras da televisão tudo aquilo que há de pior na sociedade portuguesa: a inveja e a falta de carácter. De facto, basta consumir alguns minutos para apreciar o seu comportamento no referido programa e perceber que ali não se discute, exactamente e só, futebol, dita-se o centralismo, com capital em Benfica. E para isso, vale tudo, até queimar autocarros!

Quem, por presunção intelectual, ou simples vaidade, continuar agarrado à ideia de que o futebol é um mundo menor, distinto do resto da sociedade, fará mal se não dedicar algum tempo a observar este tipo de programas pois isso poderá ajudar a compreender outros fenómenos de prepotência e discriminação que a política ainda consegue mascarar. Na RTP, como noutros canais sediados em Lisboa, aqueles programas onde seria suposto debater-se o futebol - o desporto dilecto dos portugueses -, o que se discute resume-se a um assunto:  arbitragens.

O espectador incauto [ingénuo, ou futebolisticamente inculto] poderá até admitir que esses desvios programáticos em que subitamente  a nomenclatura se desajusta do conteúdo, deixando portanto de fazer sentido , se devem apenas à incompetência de quem os concebe e dirige, mas é aí que está o engano. Os crónicos desvios temáticos destes programas [Trio de Ataque, na RTPN, Dia Seguinte, na SIC e Prolongamento, na TVI24], são intencionais de acordo com as circunstâncias, isto é, afastam-se sistematicamente da componente técnico-desportiva, para a componente das arbitragens, quando o centralismo representado pelo Benfica começa a perder terreno [pontos] em relação ao seu inimigo visceral da  "província", o Futebol Clube do Porto. O fenómeno é recorrente e tem a cobertura activa do regime.

Só que, este miserável cenário é suficientemente sofisticado, porque na aparência é democrático... De facto, cada clube, dos três mais populares, tem o seu representante que teoricamente dispõem de "toda" a liberdade para o defenderem, só que as coisas não são exactamente assim. No programa Trio de Ataque [e nos outros é a mesma coisa], o pivôt está nitidamente instruído para dar mais protagonismo ao representante do Benfica que ultrapassa sempre o tempo de antena que é concedido aos outros dois participantes. Além de que, interrompe constantemente os seus interlocutores vitimizando-se exactamente para disfarçar os excessos e poder voltar a falar logo a seguir. Nisto, o detective/cineasta falhado, é exímio. Mas é exímio porque tem a conivência do pivôt, que por sua vez está mandatado pelo seu director para dar lastro a esta discriminação em nome do glorioso clube do absolutismo!

Por isso, o cineasta subsídio-dependente faz o que lhe dá na gana. Insinua, difama, provoca, mente, envenena, contradiz e insulta impunemente. Enfim, tem as costas quentes, porque  sabe que lá no fundo, o Estado com todos os seus representantes incluídos,  é o seu grande mestre e protector.

13 dezembro, 2010

Separar o trigo do joio na política

Ao contrário do que poderá parecer, não olho para a Regionalização com os mesmos olhos que o doente olha para o remédio, apenas a defendo convictamente por me parecer que a proximidade do cidadão com o poder simplifica não só o seu controlo, como permite melhores desempenhos a quem governa. O centralismo, isso sim,  será sempre o problema, nunca a solução. S e g u r a m e n t e. Só o senhor  1º. Ministro e o respectivo Governo é que ainda "não perceberam" o que se está a passar, porque embora em teoria "defendam" a Regionalização, na realidade, não a querem, como aliás se pode facilmente comprovar pelas decisões que vão tomando.

A minha preocupação em relação ao futuro político do país já se libertou dos dogmas que nos andaram a impingir durante anos,  que afinal de contas só serviram para nos estupidificar e para facilitar a vida a todos aqueles que, à sua sombra, se governaram melhor a si mesmos que governaram o país. Palavras como Democracia, Justiça, Humanismo, na prática, não correspondem em nada ao que os dicionários traduzem, visto que suas excelências os senhores políticos trataram de as desvirtuar sempre a pretexto de qualquer interesse "superior".

Por essa razão - que não me parece fútil - é que, independentemente de qualquer programa político, ou ideologia - como agora alguns gostam de dizer -, a minha primeira preocupação enquanto cidadão, é saber como, e com que solidez os futuros governos [regionalistas ou outos] estão dispostos a olhar para a autoridade, assim como para o oportunismo que tanto tem minado a credibilidade da política e da sociedade! A meu ver, é esse o maior obstáculo ao progresso da boa governação. A autoridade tornou-se escrava do autoritarismo, por isso é frágil.

Qualquer partido, novo ou antigo, que continue a assobiar para o lado face a este cancro terrível que consiste em não querer perceber que a autoridade e a Lei são imprescindíveis a uma sociedade futurista, que não devem ser manipuladas ao menor obstáculo, não terá sucesso. Se quisermos  devolver o devido significado às palavras e dar-lhes o sentido correcto, só há um caminho a seguir: é respeitá-las e não brincar demais com elas.

Um país que muda de Leis como quem muda fraldas de criança, não é um país para levar a sério e os seus defensores devem ser olhados com desconfiança pelos cidadãos. Só mexe frequentemente na Lei quem não tenciona respeitá-la. As pessoas já se habituaram [mal, quanto a mim] a conviver com os escândalos dos políticos, de os ver saltar da política para a administração de bancos privados e de grandes empresas, e esse é um hábito que é preciso perder. A política deve ser para os políticos, o empreendedorismo para os privados. Essa teria de passar a ser a ordem natural das coisas. Mas não esperemos que sejam eles próprios, os que já estão a gozar dessa privilegiada flexibilização a inverter esses hábitos porque como diz o ditado "as ovelhas não se tosquiam a si mesmas"! Pergunte-se, por exemplo [só dois,  mas há centenas deles], ao Jorge Coelho, ou ao Dias Loureiro, se concordam com estas ideias e podem ter a certeza que dizem que não. Como não, se elas colidem com a forma enviesada como eles decidiram singrar na vida? Foram para a política, não por uma opção determinada de servir o país, mas apenas para encurtarem o caminho que os pode conduzir à riqueza. Estes paradigmas não devem mais continuar a ser avaliados pelos cidadãos eleitores como normais, porque fazê-lo, é contribuir para a subversão das responsabilidades e dos próprios valores.

Estou por isso curioso de saber o que é que nesta matéria - que para  mim é fundamental -, vamos ouvir nos próximos jogos eleitorais. Pressinto que lhes vai passar ao lado, porque os bufos da antiga PIDE ainda não morreram. Servem também hoje de rótulo àqueles que não convivem bem com a corrupção e a querem denunciar...mas não é bem a mesma coisa. Ou será?

Carta aberta à ministra da Cultura

No dia 29 de Novembro, uma segunda--feira, tive a oportunidade de reunir com a Administração e Direcção Artística do Teatro Nacional de S. João (TNSJ), em conjunto com vários deputados do PSD eleitos pelo distrito do Porto. O objectivo desta reunião era tentar perceber a razão de ser da fusão do TNSJ no Organismo de Produção Artística (Opart).

Como preparação para a reunião que íamos ter, fui tentar perceber o que era o Opart. Percebi que gere o Teatro Nacional São Carlos e a Companhia Nacional de Bailado, em Lisboa. Percebi que tem um orçamento a rondar os 19 milhões de euros. E por fim percebi que dava prejuízos sucessivos há mais de três anos, tendo o prejuízo de 2009 sido de mais de 700 mil euros de resultado líquido negativo.

Este é o retrato, ainda que simplista, do Opart.

Já olhando para o TNSJ, a Administração tem sob a sua alçada, para além do TNSJ, mais dois equipamentos: o Teatro Carlos Alberto e o Mosteiro de S. Bento da Vitória, em Santo Tirso. O TNSJ tem um orçamento a rondar os 4,9 milhões de euros anuais, 25% do orçamento do Opart, para gerir três equipamentos culturais. O TNSJ cumpre os seus orçamentos à risca. E não dá prejuízo.

Este é o retrato, em termos comparativos com o anterior, do "nosso" TNSJ.

Mas o TNSJ é muito mais que mera aritmética.

Tem uma taxa de ocupação média dos seus espectáculos acima dos 70%, tendo um crescimento sustentado de espectadores todos os anos. Tem vários projectos em comum com grupos de teatro do Porto e do Norte. Tem encetado projectos comuns com a Orquestra Sinfónica do Porto, entrando em simbiose com outro grande equipamento cultural do Porto e do Norte do país, que é a Casa da Música.

Em suma, o TNSJ, é um dos grandes esteios da política cultural de toda a Região Norte, extravasando em muito a delimitação geográfica da cidade do Porto.

A sua integração numa macroestrutura centralizada em Lisboa, com vícios despesistas comprovados por anos de prejuízos sucessivos, como é o caso do Opart, nada mais fará que deitar por terra mais de 15 anos de trabalho da instituição TNSJ, arrojada na promoção cultural, e rigorosa na gestão da coisa pública.

A ministra da Cultura argumentou com poupanças que rondam os dois milhões de euros, resultantes da integração do TNSJ e do TN D. Maria II no Opart. Ora, ninguém consegue explicar de onde nasceram estes números. Tanto quanto nos foi até agora dado a entender, nascem da imaginação, fértil e generosa, de alguém no Ministério da Cultura, não tendo qualquer aderência à realidade.

No fim do dia, números à parte, e de forma objectiva, o que temos aqui é mais um exemplo da conhecida, e indisfarçável, tentação centralista deste governo socialista.

Sr.ª Ministra da Cultura, se quiser, reduza a modesta dotação orçamental que atribui todos os anos, que nós por cá nos arranjamos. A isso, infelizmente, já estamos habituados. Mas não destrua 15 anos de trabalho de promoção cultural, numa cidade e numa região, tão carentes de oferta pública e privada nesta área.

Por isso, peço-lhe humildemente, mas sem rodeios: deixe o Teatro Nacional de São João em paz!

[Luís Menezes, JN]

O Porto não vive sem reabilitação

O Porto só se manterá vivo se conseguir preencher o espaço vazio desse grande donut em que a cidade se transformou com a progressiva mudança de habitantes para uma periferia mais económica e pintada de fresco. Rui Moreira sabe que o repovoamento da cidade é uma causa política, imprescindível para que o centro histórico deixe de ser o que é: um monumento decrépito e, ainda por cima, oco. Espera-se, e acredita-se, que a escolha de Rui Moreira, presidente da Associação Comercial do Porto há quase dez anos, para a presidência da Porto Vivo, Sociedade de Reabilitação Urbana, em substituição de Arlindo Cunha, se traduza em maior dinamismo numa tarefa absolutamente crucial para o futuro da cidade.

A SRU tem entre mãos a recuperação de 32 quarteirões, a maior parte dos quais, como não poderia deixar de ser, na zona histórica do Porto, aquela que mais importa reabilitar, e cuja conclusão mudará a fisionomia da cidade. Mas o lento trabalho de reabilitação da SRU, quarteirão a quarteirão, está particularmente vocacionado para responder à procura de investimento de grandes empresas, interessadas na compra e recuperação de grandes áreas. O cidadão que individualmente recorra à SRU na tentativa de encontrar ajuda na procura de uma casa da zona histórica para recuperar é recambiado para as mesmíssimas imobiliárias às quais é possível aceder através de um anúncio num jornal ou de um classificado na Internet. E corre igualmente o risco de não ser informado sobre algumas das regalias que existem para quem adquira casa no perímetro de intervenção prioritária da cidade, que tanto podem implicar a devolução ou o reembolso do IMI ou do IMT, pela simples razão de que é insuficiente a articulação entre os serviços camarários e a SRU. E a reabilitação urbana mais visível na cidade foi a que resultou da intervenção da Porto 2001 ou da reabilitação individual, casa a casa, que acabou por ter um efeito mimético em algumas ruas, como aconteceu, quando os terrenos eram bem mais acessíveis, na Rua do Bonjardim, junto ao Marquês.

Como PSD e FCP não têm falta de interessados nas candidaturas à presidência da câmara e do clube, Rui Moreira pode ser bem mais útil à cidade. Se há algo de verdadeiramente estratégico para o Porto, aparentemente na moda, ao ponto de figurar como sugestão de luxuoso fim-de-semana na superexclusiva How to spendt it do Finantial Times, é a sua reabilitação urbana, histórica e cívica.

[Amílcar Correia, Público]

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Quem tomar conta do lugar agora deixado vago na Porto Vivo, seja Rui Moreira ou outra pessoa qualquer, terá incontornavelmente de se convencer que acima de todos os projectos de reabilitação urbana, tem de estar o cidadão residente.

É só com a sua inclusão massiva, mas criteriosa, que a cidade pode sair do estado comatoso a que chegou. Desiluda-se quem se contentar com as galerias e movidas nocturnas. A cidade tem que pulsar de vida também durante o dia, e é da mais imperiosa urgência acabar com o aspecto ruinoso e desolador que muitas casas ainda apresentam.

É triste percorrer as ruas do centro do Porto em pleno dia. As poucas e avulsas casas recuperadas passam despercebidas. 

Rui Valente