13 janeiro, 2011

A falsa boa educação


Amiúde, tenho-me interrogado e até já partilhado com amigos, que ideia de boa educação terão aquele tipo de pessoas que são incapazes de se indignar, de dar um valente murro na mesa, quando, publicamente, outra pessoa, deliberada e sistematicamente, ofende alguém ou alguma coisa que muito estimam. Quero-me referir concretamente a alguns representantes do F.C. do Porto em determinados programas desportivos, onde são constantemente submetidos a um autêntico massacre de insinuações caluniosas e suspeitas pela parte dos seus adversários, com a cumplicidade de moderadores sem personalidade e sentido de isenção. 

Insultar desbragadamente alguém só porque fez algo de errado [no transito por ex.], ou pronunciar asneiras ordinárias ao fim de cada palavra, são hábitos de óbvia má educação, agora, estarmos publicamente perante alguém que está apostado em corroer a nossa imagem ou a do nosso clube, usando dos truques mais abjectos para defender o seu, é uma coisa muito diferente que devia merecer  uma respopsta à altura e o maior repúdio, além de um contraditório de circunstância! 

Não tenho pois qualquer pejo em afirmar aqui que José Pedro Vasconcelos é dos comentadores desportivos mais repugnantes que alguma vez pude observar. É repugnante, porque recorre por sistema à manipulação dos dados para inverter a verdade e lançar para cima do F. Clube do Porto o anátema de tudo o que é ilegal no futebol português. Infelizmente, este homenzeco não está só nesta miserável empreitada, tem com ele além da comunidade benfiquista, quase toda a comunicação social, o que em si mesmo, traduz o baixíssimo nível de democraticidade do país. Ninguém, incluindo o Governo e a classe política sai inocente desta pouca vergonha, todos padecem do mesmo mal.

Só gostava, era de saber o que é que leva o Miguel Guedes a deixar-se intimidar pelas permanentes interrupções e distorções do seu "colega" de painel. A verdade, é que o cineasta falido quase não o deixa falar, aliás - como já fazia com Rui Moreira -, fazendo quebrar pela metade as suas  respostas, tornando-as praticamente inaudíveis e, consequentemente, inócuas. É uma estratégia antiga, mas que com a colaboração do subserviente moderador, vai resultando. O Manuel Serrão não é malcriado, e no entanto, sabe impor-se pelo humor e a inteligência de argumentação, e quando é preciso, quando tentam impedí-lo de falar, sabe levantar a voz. É preciso ter consciência que nem todos os participantes são gente civilizada e perceber que alguns [como é o caso do impostor benfiquista] só interrompidos à força é que se dignam deixar falar os outros.  

Aqueles programas não foram feitos para gente politicamente correcta, foram feitos premeditadamente para denegrir o Futebol Clube do Porto. Como tal, os portistas que tiverem a coragem de e-x-i-g-i-r o estricto respeito pelas regras do jogo, antes do contrato e durante os programas,  têm o dever de se irem embora quando e sempre que essas regras forem violadas. A boa educação deve traduzir-se também nalgum desprendimento pelo  cachet  recebido, quanto mais não seja para marcar uma posição à luz da qual se dará a entender que não será sob a sua influência que estaremos disponíveis para prostituir a nossa capacidade de indignação.

Eu, muito educadamente, já teria abandonado o Trio de Ataque, não sem antes projectar a acidez do meu cuspo nas fuças do cineasta, mesmo correndo o risco de ter o Portugal profundo todo contra mim. As multidões fartam-se de opinar de olhos trocados, e em Portugal a existência de Cavaco é a prova suprema dessa realidade. 


12 janeiro, 2011

As promessas da ruína


Sou tão português como os portuguêses que nos "governam", mas não deixo por isso de me sentir envergonhado, quase vexado com a lixeira social que eles fizeram do país. Em Portugal, dá-se mais importância ao canudo do que àquilo que se é capaz de fazer com ele. Apesar disso, havendo muitos licenciados broncos e ignorantes, no grupo dos quais abundam os políticos, continuamos a entediar de tanto ouvirmos os governantes a exigir da população mais e mais formação, sem nada ter para lhe entregar em troca. Os governantes em Portugal existem para dar conselhos. Ponto.

Aos jovens pais, recomendaria pois esta palestra a fim de assegurar o futuro dos filhotes: forma-te, em 3 ou 4 áreas técnicas e académicas e terás garantida fortuna para o teu ego. Só. Emprego, já não te prometo! Se pretendes ser recompensado em bom dinheiro, então dedica-te à política. Se não for dentro, será através dela que atalharás caminho para a cadeira suprema de um qualquer Banco, ou de uma Mota Engil.  Sobretudo, se não tiveres fortuna própria...Muitos já o conseguiram.

É um mistério para mim, como em tantos anos de práticas governativas mentirosas e incompetentes,  alguns portugueses conseguem ainda ter margem de manobra para acreditar nas promessas políticas. Pessoalmente, quando leio qualquer "boa" notícia fico sempre de pé atrás. Digámos que, regra geral, a percentagem de alegrias é substancialmente dominada pela das decepções. Essa regra,  não se aplicou à Casa da Música, ao Estádio do Dragão, nem ao Metro do Porto [agora com o serviço a piorar a olhos vistos], nem ao Aeroporto, nem ao Parque da Cidade, mas aplicou-se principalmente às obras urbanas de reabilitação, que deviam merecer toda a prioridade.

O Shopping Grand Plazza, que antes de construído garantiam tonar-se num must para o Porto, está às moscas. O cinema Batalha que deixou de o ser para se tornar em algo híbrido, acaba de fechar. O Edifício Trindade Domus [a Pedreira] está praticamente disfuncional sobrevivendo apenas à custa do supermercado Froiz, apesar da falsa promessa [mais uma] de ali vir a implantar-se uma 2ª.Loja do Cidadão. O Rivoli, está à deriva, depois do La Féria ter percebido que o filão do Porto se esgotou com a desertificação da cidade e o desemprego.  O Teatro S. João, agora também está sob a cobiça centralista, correndo o risco de se degradar. Os mercados do Bolhão e do Bom Sucesso, não atam nem destam. O que é que se passa no Porto?

A mistura do Centralismo [do Governo] com o Imobilismo [da Câmara do Porto] nem sequer é explosiva, porque se o fosse, pelo menos teríamos a esperança de reconstruir o Porto com novos protagonistas, é antes implosiva, o que contribui para a aceleração da sua ruína.

Há muito anos que mantenho a ideia fixa de que à cidade do Porto falta preencher de residentes o buraco que o transformou no donut gigantesco de hoje, antes de Shoppings e de Grandes Hoteis. Uma cidade sem gente é uma cidade morta, e ninguém - nem os turistas - gosta de visitar cidades sem vida natural, mesmo que maquilhadas de movidas de fim de semana.

A reabilitação urbana tem de ser a prioridade das prioridades e deve ser levada a cabo sem mais perdas de tempo. Os valores do arrendamento têm de ser equilibrados e atractivos, sob pena de se abortar o melhor dos projectos de reabilitação. Só seguindo esse rumo se poderá evitar que os hotéis e o comércio em geral percam clientela.

O Porto está a tornar-se uma cidade deprimente. Por favor, salvem-no.


11 janeiro, 2011

Embuste nacional


ELIAS, O SEM-ABRIGO / R.Reimão e Aníbal F. [JN]


Além do refinado humor, frequentemente, um boneco de cartoon consegue traduzir a realidade com a frieza de uma ciência exacta, colocando no mais profundo ridículo a farsa de muitos debates televisivos. É o caso do desenho acima exposto. 

De facto, a promiscuidade está longe de ser exclusivo do futebol. É uma espécie de bola de ténis que anda de um lado para o outro do court até sair fora dos limites jogáveis. Ora "pontua" o político, ora retribui o empresário. Sempre extrapolando o razoável.

Não me vão ouvir a mim repetir a cassete do optimismo encomendado, nem dizer que os momentos de crise são bons para empreender, porque fazê-lo, valeria o mesmo que afirmar que só não investe quem não quer, ou que a Banca por tradição nos habituou a financiar-nos, sem levantar grandes entraves e a cobrar taxas de juros razoáveis, mesmo perante projectos muito promissores. O que não deixarei de dizer - porque é um facto cíclico -, é que é nos momentos de crise que as máscaras de políticos e dos empresários sem escrúpulos, costumam cair de podres para revelar a mentalidade medieval que ainda possuem e a ideia retrógrada que fazem dos negócios e do progresso.

Se aos governantes não passa outra ideia de governo que não se restrinja ao crónico aumento dos impostos e ao desbaratar do próprio património, aos empresários [salvo muito raras excepções], o "optimismo" empurra-os invariavelmente para o despedimento massivo, para a degradação das regalias e condições de vida da mão de obra com a "clássica"  descida de salários.

Ainda não foi desta que os empresários conseguiram reunir condições para passar o salário mínimo nacional para os 500 euros [uma fortuna], talvez [quem sabe?], porque o record de vendas do ano findo dos Porches e dos Mercedes tôpo de gama, terá sido, presume-se, atingido pelos "parasitas" beneficiários do rendimento mínimo. Só pode...

Por estarmos habituados a respirar tanta coerência, tanta seriedade intelectual, tanta solidariedade humana, as próximas eleições presidenciais irão seguramente atingir elevadíssimos níveis de participação. Eu já preparei um bom equipamento de corrida, e até já investi as minhas parcas economias numas sapatilhas Nike que é para ver se consigo ser o primeiro a votar em Cavaco Silva, nesse mui grande e iluminado estadista...


10 janeiro, 2011

A culpa é nossa

Lá fora, ninguém acredita que Portugal consiga sair sozinho do buraco em que se meteu. Os responsáveis políticos e financeiros dos países mais representativos da Europa deixaram de fingir confiar num Governo cujas demonstrações de incompetência já constituem um exemplo universal e escolar daquilo que não deve fazer perante uma crise: negá-la, jurar a todos os ventos que esta não chegaria aqui, adiar os remédios óbvios, proclamar austeridade para todos mas negociar excepções para os interesses da corte, desmotivar as pessoas de cumprirem um fim que deveria ser comum, actuar sempre tarde e a más horas e persistir em não alterar a lógica perniciosa que nos conduziu à actual desgraça. Até a Espanha, igualmente assolada pela mediocridade governativa, já não esconde o mal-estar com a fortíssima possibilidade de se afundar por "efeito português". A presente descrença no nosso país é muito mais do que a clássica e desgastada lenda infantil que descreve os "mercados" como entidades tenebrosas e sinistras, supostamente ao serviço de interesses inconfessáveis e que, por pura crueldade, intentariam devorar os inocentes países apanhados de supetão pela ganância internacional - só os excessivamente incautos é que ainda admitirão esta versão cor-de-rosa da crise em que estamos e onde permaneceremos.

Portugal está assim por culpa nossa. Ninguém acredita em nós porque não o merecemos. Somos um país toxicodependente da despesa pública e ameigado à tradição do mau Governo, que está sempre a prometer corrigir os erros mas que constantemente neles volta a recair. Perante o resto do Mundo civilizado, somos como aquele parente ou amigo (quem não os tem?) que insiste em ensaiar historietas e desculpas esfrangalhadas para que sustentemos os seus vícios, nos quais, claro, querem permanecer, e que estão sempre a culpar os outros pelas falhas que são essencialmente suas. Somos um país que, há muito, consente ser dirigido por gente desprovida de rudimentos de qualidade, que social e culturalmente desdenha o mérito, e que se converteu numa arena imensamente fértil para os trapaceiros vivificarem e ditarem as suas regras levianas.

Só conseguiremos iniciar a saída da fossa financeira, política e ética em que estamos quando interiorizarmos que não chegamos até aqui por obra dos "mercados", de Merkel, de Sarkozy, de Jean-Claude Trichet ou dos financeiros norte-americanos, ingleses, japoneses ou da República de Nauru! Não foram os ministros alemães que tomaram as decisões ruinosas que agora nos empobrecem. Nem os políticos franceses que nos forçaram a erigir auto-estradas de forma compulsiva e onerosamente inútil (recordemos que, não há muito tempo, o Governo Sócrates ainda acalentava o projecto de construir uma terceira auto-estrada entre Lisboa e Porto). Não foi o BCE que andou a agigantar a nossa Administração até aos presentes níveis de irracionalidade, nem os norte-americanos que nos impuseram a sandice de sobrepormos o mesmo fim público em várias entidades idênticas para as quais inventámos nomes diferentes e, irresponsavelmente, atulhámos com o dinheiro dos contribuintes.

Quando Portugal passar a ser governado de facto por entidades estrangeiras - última esperança de não nos tornarmos num lugar com carências de Terceiro Mundo -, ou seja, após a entrada do Fundo Europeu de Estabilidade (FEE) e do FMI, seria bom que não desconversássemos, arte em que somos peritos, e que assumíssemos de uma vez que se trata de um resultado que a nossa ineptidão como país prenuncia e apronta há muito tempo. E que os culpados têm rostos e têm nomes: são todos os presidentes da República, todos os primeiros-ministros, os ministros e os demais titulares de cargos políticos que tiveram altas responsabilidades de decisão nos últimos 25 anos e que tão mal agiram por acção ou por omissão. Quem nos condenou aos tempos difíceis que estão iminentes foram os políticos que nos desgovernaram. E nós, que os escolhemos e que reincidimos nessas trágicas opções por diversas vezes, mesmo depois de a incompetência de quem nos tem dirigido ter sido comprovada até ao ponto de não retorno.

Carlos Abreu Amorim

[Fonte: JN]