17 junho, 2011

Oeiras

Numa carta de 1890, escrevia Eça de Queirós: «Um país, no fundo, é sempre uma coisa muito pequena: compõe-se de um grupo de homens de letras, homens de estado, homens de negócio, e homens de clube, que vivem de frequentar o centro da capital. O resto é paisagem (...)» E adiantava: «A direcção de um país é dada justamente por essa minoria da capital.»

Este ano de ouro, prata, cristal, diamante, safira, pão de ló e vinho do Porto (que para mim são jóias) com que o FCP nos brindou, não podia deixar de ser rematado com mais uma imposição da minoria da capital: a final da Taça teria, em nome dos cânones do Estado Novo (que, em matéria de colonização das províncias, está cada vez mais presente), de ser disputado no Wembley de trazer por casa, no «altar da Pátria» (como ouvi a um exaltado centralista): o Estádio mussoliniano de Oeiras, chamado - pelos patriotas de Sacavém - «Nacional».

Um velho pescador da Ilha do Pico ensinou-me máxima adequada aos tempos que correm: «Não acredito em nada daquilo que ouço e só acredito em metade daquilo que vejo». Talvez por isso, estou sempre de pé atrás, desconfiado, em relação aos ventos que nos vêm, não de Espanha, mas do Terreiro do Paço. Dali, como nos últimos 30 anos, vem asneira de quem não percebe nada do país e trata dos seus interesses e dos dos «homens do clube» - os centralistas militantes. Olhando a Taça de Portugal, vemos um lindo serviço: 64 finais foram disputadas na Capital e 4 no Porto! A primeira, no Campo das Salésias (em 1939), do Belenenses, que alternou, até 1946, com os estádios do Sporting. A partir daqui, o salazarismo impôs «urbi et orbi» o santuário do regime, em Oeiras. Mesmo assim, em golpe de compaixão pela província, aceitaram, em 09.07.61, a final nas Antas. Ou se distraíram, ou sofreram crise de inteligência, porque o jogo era Porto-Leixões.

Com os três Dês do 25 de Abril (Democratizar, Descolonizar, Desenvolver – que são a essência da descentralização), as coisas mudaram. Em 12.06.76, jogaram, nas Antas, Boavista e Guimarães, em 18.05.77, Porto e Braga. Havia esperança. Mas foi sol de pouca dura. Em 21.08.83, ainda aqui se disputou a final Porto-Benfica (que milagre! – a capital deslocou-se ao Porto). A partir daí, esqueceram-se os Dês e como, provavelmente, o país está mais centralizado do que em monarquia, república e ditadura, as finais voltaram ao Wembley de Oeiras, que está para um estádio digno do séc. XXI como um carro de bois para o último Airbus.

Enfim, obrigar, em época de crise e quase bancarrota, milhares de flavienses, vimaranenses (no ano passado e neste) e portistas a consumirem recursos para se deslocarem a Oeiras, não lembra ao diabo. Que tristeza: além de gastador, temos o centralismo mais estúpido da Europa! Glória ao FCP por ter conquistado mais uma, e hurra! pelo Vitória, que foi à final jogar futebol e tentar ganhar (e não para impedir o adversário de jogar, como sucedeu em Dublin). Glória, sim, porque as vitórias portistas são da cidade contra o Terreiro do Paço. Do país contra o anti-país.

[Hélder Pacheco / Semanário Grande Porto]


Comentário do RoP

Ao mesmo tempo que funcionários públicos da RTP, em desespero de causa,vergam e ajoelham submissos aos pés do centralismo, com notório medo de perderem o emprego, no Porto, há ainda alguns resistentes dispostos a manter intacta a génese tripeira. Um desses velhos resistentes, chama-se: Hélder Pacheco, o autor da belíssima crónica aqui publicada. Só mesmo alguém profundamente ligado ao Porto, pode descrever tão bem o pulsar da nossa cidade. Lê-lo, provoca-nos sentimentos difusos. Tanto podemos sorrir intimamente, como conter algumas lágrimas de alegria, tantas são as afinidades e os sentimentos que o autor nos desperta. O Porto, é o Douro, é o granito, o azul intenso do céu, a bruma da ribeira, mas também...  pessoas como ele.

O contraste entre portuenses desta solidez, desta estirpe [Germano Silva, é outro], e outros residentes ocasionais que por cá fazem vida, e por aqui deixaram prole, sem nunca se fundirem com a cidade,  é mais do que flagrante, é um antípoda. 

Enquanto os paus mandados da RTP*, aproveitam a silly season para causticarem a reputação do FCPorto, inventando tudo o que é notícia feia, para colar ao único baluarte da resistência nortenha, há Homens que continuam a investir no carácter das coisas, sem aderirem à ditadura das verdades lisbonárias.

Se por acaso me leres, Hélder, fica ciente que estou contigo. E com todos aqueles que rejeitam a domesticação do intelecto. Mais do que liberal, o Porto tem de ser uma cidade LIVRE! Nem que para isso seja preciso recorrer às armas.

*Não sou muito tolerante com os fracos, mas por vezes, causa-me dó ver o rosto constrangido de alguns empregaditos públicos, do tipo caniche, lambe-botas, transmitirem notícias carregadas de venêno, que lhes foram encomendadas pelos chefes. Ai, crise, crise, a quanto obrigas.

16 junho, 2011

A RTP odeia o FCPorto, já nem finge...

É um facto, que dispensa o contraditório, que a blogosfera teve [e continua a ter] o grande mérito de permitir a imensos cidadãos, expressarem as suas opiniões sobre o mais variado tipo de assuntos, de forma muita mais democrática e livre, do que qualquer órgão de comunicação social. A web, através dos sites, blogues e redes socias, é sem dúvida uma ferramenta preciosa para as populações que  nela encontram a janela de liberdade que  jornais e  televisões apenas reservam a uns quantos, e mesmo assim, obedecendo a um sofisticado crivo de censura a que eufemisticamente chamam, critérios editoriais. 

Apesar disso, a Net ainda não entra na casa de muitos portugueses, sendo o grupo etário dos mais idosos, aquele que menos familiaridade tem com o uso das novas tecnologias, independentemente dos recursos materiais de cada um. Não sei se existem dados fiáveis sobre esta realidade, mas a percentagem de pessoas sem acesso à Net deve ser ainda muito elevada.  Suponho que esta situação pode explicar, em parte, a leviandade com que alguns media continuam a fazer notícia, dando prioridade às audiências, em prejuízo da qualidade informativa que, por respeito ao público deviam sempre preservar.

Este assunto da Comunicação, é a par da Justiça, aquele que mais me preocupa enquanto cidadão, e que mais gosto tenho em abordar. E, por quê? Porque não tenho dúvidas em afirmar que na génese de muitos problemas do país - alguns até, que acabam, desnecessariamente, nos tribunais -, está um péssimo trabalho jornalístico. Ressalvando aqueles casos pontuais, muito respeitáveis, onde certos jornalistas arriscam a vida em plenos palcos de guerra para desenvolver o seu trabalho, o jornalismo de estúdio contém uma componente excessiva de sensacionalismo, não raras vezes, distorcida da realidade.

Continuo na minha, sem perceber o papel efectivo das entidades reguladoras para a comunicação, que, com tanto trabalho sério por fazer, resumem a sua actividade a casos irrelevantes e praticamente não se fazem ouvir. Quem é, afinal, que decide sobre o destino a dar aos organismos [há imensos] reguladores quando estes são ineficientes? O Governo? E se o Governo segue o mesmo caminho? Quem tem legitimidade para obrigar o Governo a cumprir o seu dever? O Povo, seu representado? Quando, e em que condições? Cada quatro anos, nas eleições? Pois, meus caros, são estas "normalidades" que estão a transformar a Democracia numa caricatura, e a contribuir para, pouco a pouco, moralizar os amigos do antigo regime. Estranhamente, não vejo estes temas serem tratados com a frequência desejável, noutros espaços de cidadania, mesmo que extrapolando o âmbito específico da respectiva linhagem. Por que será?

Foi por, pela enésima vez, ter assistido a mais um lamentável acto de mau jornalismo que voltei a este tema. Hoje, a RTP, sim a estação do Estado, aquela que devia representar-nos, sem arbitrariedade,  voltou logo pela manhã a dar destaque a um não assunto, retomando a história de um suposto jantar de Pinto da Costa com  os árbitros [quem mais havia de ser] que apitaram o jogo do FCP com o Villareal para a Liga Europa, mesmo depois de este ter desmentido veementemente o rumor e de  indicar testemunhas.

Estes métodos pidescos seguidos pela RTP, são recorrentes e, continua a não haver uma entidade, ou personalidade, que se digne vir a público pôr fim a esta pouca vergonha, antes que as consequências degenerem para a violência. O Presidente da República, faz como o macaco: não vê, não lê, nem ouve. O Procurador da República, também não. De que estão estes cavalheiros à espera para actuarem? Quanto mais não fosse, uma palavra, um simples apelo à moderação, sempre podia servir de travão a estes constantes impulsos de ódio por parte da Direcção da RTP, cujo comportamento se assemelha em muito à máquina de propaganda nazi.

Era nestes momentos que gostava de me encontrar cara a cara com algumas figuras públicas para lhes perguntar se em casa não vêm televisão, e se é com base nestes repugnantes exemplos de mau jornalismo que defendem a manutenção da RTP no Estado, por [cito] garantirem qualidade ao serviço público.

Decididamente, desprezo estes políticos. Querem o meu voto? Está bem, tê-lo-ão. Mas primeiro, e se ainda forem a tempo de se regenerarem, aprendam a ser sérios, e a seguir, competentes. Depois, conversamos.

Nota do autor:
Não sou responsável pela eleição de nenhuma das actuais figuras públicas nacionais, incluindo o Presidente da República. Nem do governo do Sócrates. É só para não ter de ouvir que a responsabilidade pelos maus governos é de todos nós... Minha, não é!

15 junho, 2011

Um mero detalhe, uma casualidade...

Pinto da Costa lidera votação para CEO de 2010


Pinto da Costa lidera a votação dos leitores do "Económico.pt" para a eleição do CEO do ano 2010, em todas as categorias, nas empresas da bolsa com cotação no Eurolist. Seja na estratégia, liderança, responsabilidade social, comunicação, energia e resultados obtidos, o presidente do FC Porto é o preferido de mais de três mil votantes. Pinto da Costa está mesmo à frente de nomes consagrados da economia portuguesa, como Belmiro de Azevedo (Sonae), Zeinal Bava (PT), ou Pedro Soares dos Santos (Jerónimo Martins). 

Aliás, a lista inclui outros concorrentes que exercem a sua actividade no futebol como Luís Filipe Vieira, presidente do Benfica, e José Eduardo Bettencourt, ex-presidente do Sporting, que também aqui não conseguem concorrer com Pinto da Costa, cuja gestão no FC Porto dura há 27 anos. A votação está aberta até 24 de Junho e os resultados serão publicados no Diário Económico até ao final do mês de Julho.

O Norte não é nada, Lisboa "é" Portugal...

Como receava, o Movimento Pró Partido do Norte não conseguiu obter os resultados que os maus tratos centralistas infligidos à região, fariam prever. Não sendo especialista em coisa nenhuma, e muito menos em análises sócio-políticas, tenho a minha opinião sobre o assunto, tão credível como a de qualquer opinador encartado, mas bem mais barata. Neste espaço, as opiniões são gratuitas, não oneram o Estado, nem a dramática dívida com o FMI. A consciência não me pesa, portanto.

Uma opinião, é uma opinião, não tem poder decisório, e é apenas como opinião que deve ser avaliada. Como tal, resumo em poucas palavras o aparente insucesso eleitoral do MPPNorte: baixos recursos financeiros, consequente fraca propaganda, e total desinteresse dos media. De destacar, a coragem de Pedro Baptista que, em clara desvantagem competitiva, deu a cara pelo Movimento e ousou fazer o que muitos apenas ousam dizer. Aqui, há já uma grande diferença. Avançou, pegando na bandeira da Regionalização, que outros usam oportunísticamente para logo a arrear, mal expira o prazo de serventia eleitoral. Paradoxalmente, foi para outros partidos, para aqueles que há muitos anos nos desgovernam e prometem sem depois cumprir, que os eleitores decidiram confiar o futuro do país. Contra estas maiorias masoquistas, pouco há a fazer. A "democracia" conservadora aprecia e agradece estas patologias populares.

Curioso, é haver tanto regionalista "convicto" e tão poucos a fazer algo para que a Regionalização aconteça. O MPPartido do Norte, apesar dos recursos limitados, convocou algumas reuniões abertas ao público a explicar o que se propunha, e só agora aparecem [ler aqui], um pouco por todo o lado, alguns a dissertar sobre as causas da sua baixa votação. Ora, alegam que foi por causa do nome "Norte", ora porque é elitista, ora porque promove o separatismo, enfim, não faltam razões. Depois, convertem a insensibilidade com as desfeitas do governo central ao Norte, numa ternurenta solidariedade com Lisboa, como se a capital e os seus habitantes, não fosse a região do país mais beneficiada, tanto em recursos comunitários, como pela dependência do Estado, como pela drenagem [desvios] de fundos europeus destinados ao Norte. A tendência, invariavelmente, é para fraccionar o país à velocidade dos argumentos, até à exaustão. O Norte, não é nada para eles. Por quê o Norte, se há o Sul o Centro e o Interior? Preocupante e injusto, para eles [ler aqui], não é as SCUT's estarem a ser pagas exclusivamente a Norte, são os custos elevadíssimos da centralidade dos lisboetas, esquecendo que é ali onde os ordenados são mais elevados.

Resumindo, esgotam-se em pretextos pueris para nos convencerem do bicho-papão da Regionalização, fazendo da argumentação política verdadeiras aulas de ficção gramatical, chatas, presunçosas e pouco convincentes. Apesar disso, pelo sim, pelo não, deixam no ar uma imagem de regionalistas empenhados, sem contudo se atreverem a lutar por isso. Lisboa divide, é parte integrante de Portugal, é a capital. O Norte defende-se, por estar a ser discriminado, e é separatista! Com noções tão distorcidas da realidade, temos sérias razões para acreditar que alguns centralistas vivem a Norte, embora possam não ser nortenhos.



13 junho, 2011

O Norte não tem elites. Teve


Terreiro do Paço, símbolo do centralismo apátrida
Muito se tem escrito sobre as elites do Norte e do contributo que, por cobardia ou simples oportunismo,  deram para o agravamento das políticas centralistas levadas a cabo pelos governos, alternados por PS e PSD/CDS.

Como diz o povo, quem cala, consente. Foi praticamente em silêncio, ou apenas com tímidos sinais de desagrado, que as elites locais seguiram as políticas de autêntica terra-queimada contra o Norte, levadas a cabo todos estes anos [e já lá vão muitos], por governantes irresponsáveis cujas consequências ultrapassam a própria crise económico-financeira.

Foram os governos mais recentes, através dos seus multi-facetados canais de propaganda e de práticas políticas hiper-centralizadas, que tudo fizeram para criar nos nortenhos um sentimento de discriminação ainda mal assimilado. O feed-back das redes sociais, deste blogue e da própria comunicação social, dizem-me que, por enquanto, é mais no campo clubístico, no desporto, e no futebol em particular, que os nortenhos sentem essa discriminação negativa por parte do Terreiro do Paço.

Infelizmente para o Norte, as massas ainda estão muito afastadas da política e as elites da região, de elites, só têm o nome. Nos tempos que correm, é um perfeito anacronismo continuar a falar-se em elites, e ao mesmo tempo um revés para a Democracia, se pensarmos que as elites eram mais empreendedoras e politicamente mais interventivas, durante a ditadura. O Porto, em Democracia, perdeu quase tudo e pouco ou nada ganhou. A excepção, diga-se, é curiosamente, a instituição que mais tem sido atacada pelo centralismo, e que tem saber e coragem para lhe bater o pé: o FCPorto... O slogan usado por Pinto da Costa, contra tudo e contra todos, nunca foi tão premente como agora.

Bastaria lembrarmo-nos também da quantidade de organismos que, a partir do 25 de Abril de 1974, ou desapareceram, ou foram "desviados" para Lisboa. Isto, é um ultraje, tanto para a própria Democracia, como para as ditas "elites" locais, que abdicaram de reinvindicar politicamente, por obediência a lógicas seguidistas similares às dos políticos nortenhos, que uma vez chegados ao poder, foram incapazes de impor uma política de governação desconcentrada.

Hoje, Rafael Barbosa do JN, descreveu, e muito bem, mais um ataque desavergonhado ao Norte, a todo ele, "elites" incluídas... Dos 600 milhões de euros disponíveis da UE para financiar a linha do TGV, entretanto renegociados, por efeito da troika, não vai haver nada para a Metro do Porto. Nem tão pouco se sabe para onde vão esses milhões.

E, como disse o cronista, provavelmente, nunca o saberemos. Chama-se a isto, transparência, coisa de que todos os políticos gostam de falar, mas que abominam colocar em prática.