05 janeiro, 2012

Que "modelo" sugere, caro Daniel?

Apesar da pertinência das questões levantadas por Daniel Deusdado na crónica plasmada aqui em baixo, não estou certo que "a pior coisa que nos pode acontecer seja fazer do FCPorto o líder do processo político de combate à macrocefalia lisboeta".  Estou para esta opção, como a anedota do limite da paciência: não vale a pena defecar para dentro de uma gaiola e esperar que o acto se transforme num belo canto de passarinhos... A mesma teoria aplico à regionalização. Não quero, nem preciso de me deixar matar pela ganancia centralista para me tornar num regionalista convicto. Essa, é a teoria dos falsos regionalistas, como Rui Rio. 

Deusdado diz que o FCPorto não é uma instituição pública imitável, e eu pergunto: qual é a instituição pública que o é? A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa de Santana Lopes? Diz também que o FCPorto é uma empresa notável, de um líder absoluto, mas com uma capacidade de acção e métodos que não se compaginam com decisões democráticas, e eu questiono: que líder conhecerá Deusdado, que seja simultaneamente Líder, e compaginável com decisões democráticas? Os leitores conhecem? Eu não. 

Por mim, cansado que estou de políticos medíocres e desonestos, alguns deles, verdadeiros gangsters, já aceito qualquer solução, incluindo aquela que o Otelo defendia, um golpe militar, caso fossem ultrapassados todos os limites. Venha ele. Os limites já foram ultrapassados há muito, e estão directamente ligados com a degradação social, moral e económica da actualidade. 

Só quero, firmemente, é que me tirem deste pesadelo e metam os verdadeiros responsáveis pelo status quo nos calabouços, que é também para tipos como eles, que foram criados. 


F.C.Porto / Lisboa





Por que chegamos à indigência social e económica do Norte? Situo no tempo o ano de 1995 - quando o Banco Português do Atlântico (BPA) foi entregue ao BCP, depois fundido e arrasado na sua matriz de instituição com centro de decisão no Norte.

O BPA era o braço da indústria e o seu centro de estudos um alforge de pensamento estratégico para as universidades e Poder Político. Quem tomou a decisão de o comprar e levar para Lisboa? Um homem do Porto na capital, Jardim Gonçalves.

Quando um grupo dos empresários, liderados por Belmiro de Azevedo, tentou fazer frente à aquisição hostil (OPA) do BCP, a coesão do grupo nortenho falhou e venceu a lógica do encaixe rápido. Poderia ter sido diferente? O que seria hoje da Sonae, Mota (Engil), Riopele, entre outros, se um importante motor financeiro como o BPA tivesse existido?
E Portugal seria diferente se o portuense Valente de Oliveira, o ministro do Planeamento e Ordenamento do Território, não tivesse fomentado, durante o cavaquismo, a teoria de Lisboa como "centro de difusão de riqueza" para o resto do país?
Outra circunstância histórica: a globalização fez entrar os produtos asiáticos a preços imbatíveis. Uma boa parte da geração dos "capitães da indústria" do Norte vendeu ou fechou as empresas. Muitos dos que conseguiram aguentar-se transferiram boa parte do capital ganho na indústria para os negócios financeiros (acções de bancos, por exemplo). Ora, o mundo financeiro é controlado na capital. O Norte financiou a explosão do lobby financeiro gerido a partir de Lisboa... Obviamente, reconstruir uma geração de exportadores fortes e com força política para ser ouvida pelo Governo demora décadas. Estamos a meio deste processo.

Outra questão central é a dos média. E, neste ponto, o cenário é de catástrofe. Ainda há bem poucos anos havia pelo menos três órgãos de comunicação com dimensão e capacidade de influenciar as decisões em Lisboa: o Público, que lentamente perdeu pessoas e meios e cujo futuro é incerto; a TSF, hoje muito mais reduzida no Norte do que já foi; e a RTP, a única televisão com uma grande Redacção no Norte.

O actual processo de privatização da RTP é o novo momento de desmantelamento do que resta de "televisão com força política" fora de Lisboa. Sem média fortes, sem políticos, universitários e comentadores em estúdio, sem programas e notícias pensados e emitidos doutro sítio que não da capital, o mundo português é o eixo Lisboa-Cascais. Curiosamente, os média no Porto têm ignorado olimpicamente a questão da provável dissolução da RTP no Norte como se isso até fosse positivo.

Por fim: a pior coisa que nos pode acontecer é fazer do F. C. Porto o líder do processo político de combate à macrocefalia lisboeta, por muito que se goste do clube (e eu gosto). O F. C. Porto não é uma instituição pública imitável. É uma "empresa" notável e quase global, de um líder absoluto, mas com uma capacidade de acção (e métodos) que não se compaginam com decisões democráticas.
Infelizmente, a frase "Lisboa a arder" e a dúbia posição do presidente do clube contribuíram para tribalizar a gestão do território, como se ela fosse futebolística. Portanto: se o país não esquece as ameaças separatistas de Pinto da Costa e não deixa o Porto (o Norte?) ser "livre", qual o passo seguinte? Só vejo o caminho da internacionalização da economia. Exactamente o que aos poucos se vai fazendo. O que dará novo fôlego político à região.
E a regionalização? Sou a favor da ideia de que "perto" se gere melhor do que "longe". Não é um João Jardim que apaga milhares de bons autarcas (e não, a única rotunda boa do país não é a do Marquês do Pombal...). Mas estou convencido de que só haverá regionalização se a medida for imposta já que Portugal é o único país da União Europeia não regionalizado. Ora... alguém conhece um dos membros da troika e o convence a meter isso na agenda? Só assim. Não vejo a maioria dos portugueses a querer deixar de depender do "Estado centralista" gerido a partir da capital. Está tudo escrito há muito pelo Eça de Queiroz.

32º. sorteio consecutivo sem acertadores e novo 2º.prémio... sem prémio

NÃO JOGUEM NO TOTOLOTO, PORRA! 
ISTO É MAIS UMA VIGARICE!


Consultar Sorteios
 Totoloto
Sorteio: 001/2012 - Quarta-Feira Data do sorteio: 04/01/2012
Chave:618253940+6Ordem Saída:391840256+6
PrémioAcertosNúmero de vencedoresValor
1.º Prémio5 Números + Nº da Sorte0(1)
2.º Prémio5 Números0(2)
3.º Prémio4 Números198€ 350,47 
4.º Prémio3 Números8.749€ 4,40 
5.º Prémio2 Números125.290€ 1,84 
Nº da SorteNº da Sorte148.180Reembolso do valor da aposta de Totoloto
Estatísticas
Nº de Bilhetes/Matrizes590.046
Nº de Apostas1.730.727
Receita ilíquida apostas€ 1.557.654,30
Montante para prémios€ 771.038,88
(1) Previsão 1º Prémio c / Jackpot€ 11.900.000,00
Observações


Jogos

O Departamento de Jogos tem por objectivo explorar os jogos sociais concedidos pelo Estado de forma eficiente, garantindo o cumprimento da política nacional de jogos definida, nomeadamente, o respeito pelo princípio da proibição, da ordem pública que visa preservar, contribuindo para a satisfação dos apostadores e criando valor a devolver à sociedade através do financiamento público das despesas de natureza social.
Nota do RoP:
Sobre a satisfação dos apostadores suponho que estamos conversados...

03 janeiro, 2012

Chamar os nomes aos "boys"

No seguimento de entrevistas anteriores a figuras públicas do Porto sobre a macrocefalia de Lisboa, o JN publica hoje a opinião de outras personalidades, àcerca  das declarações do bispo do Porto, D. Manuel Clemente feitas no Natal, inseridas no mesmo jornal, desse mesmo dia.

A avaliar pelas respostas, quase podíamos garantir que o Norte está finalmente determinado a libertar-se do velho jugo centralista, mas daí a transformar as palavras em iniciativas, tudo indica que ainda há um longo caminho a percorrer. Quando a palavra de ordem devia ser a União do Norte, com manifestos de claro repúdio às provocações a que temos sido sujeitos por sucessivos governos, continua a constatar-se da parte de alguns entrevistados pareceres ostensivamente reverenciosos, como foi o caso do Presidente do C.A. da Casa da Música, José Manuel Dias da Fonseca: " Lisboa, deve manter o seu caminho de crescimento e de referência nacional e internacional, sem esquecer as outras regiões"... Não sei de onde é este senhor, se é do Norte, do Porto, ou de Lisboa, mas pela resposta, só pode ser mais um oportunista. Se fosse eu o Director do JN era a última vez que o abordava para falar sobre o centralismo. Mas o JN deve entender o contrário, talvez por considerar "construtiva e democrática" a opinião de falsos regionalistas, como tudo indica ser este cavalheiro.

Já Júlio Magalhães foi bem mais frontal. Disse que as pessoas de Lisboa não conhecem o resto do país, mas acrescentou que "as mais decepcionantes que encontrou em Lisboa foram portuenses ou nortenhos". Vendem-se rapidamente ao centralismo e adoptam um discurso ainda mais duro em relação ao resto do país. Como querem entrar no circuito do poder, adoptam o discurso deles". 

Aquela que optou por um discurso mais "revolucionário" foi Beatriz Pacheco Pereira: "Já é tempo de as pessoas do Norte se insurgirem contra o actual estado de coisas". Apesar disso, faz-me espécie ouvir estes tipo de comentários, sabendo que um grupo de cidadãos anónimos [entre os quais eu me incluía] liderados pelos ex-deputados Pedro Baptista e Anacoreta Correia, criaram um Movimento político [Movimento Pró Partido do Norte], com vista a devolver à discussão pública o tema da Regionalização, e que, como devem estar lembrados, não conseguiu atrair às suas fileiras muitos dos que agora se "assumem" regionalistas e... se insurgem.

Talvez por isso, e também pela miserável adesão de muitos portuenses [e portistas] à assinatura de uma petição pública que visava responsabilizar as directorias da RTP pela discriminação feita ao FCPorto, subscrevo - com alguma mágoa, confesso -, as palavras do futuro Director do Porto Canal. Na realidade, os homens do Norte já não são o que eram. No entanto, para Júlio Magalhães ser conclusivo, faltou ao ramalhete, apontar os nomes desses tais portuenses e nortenhos que o decepcionaram. Eu por acaso, até conheço um, que é seu amigo e jornalista. Chama-se Manuel Queiroz, escreve as "Crónicas do exílio"  no Semanário Grande Porto de cariz circunstancialmente regionalista, mas é incapaz de se impor ao seu colega Valdemar Duarte, quando está a comentar os jogos do Futebol Clube do Porto na TVI com um fanatismo digno de talibans, em... Lisboa.

Vamos esperar que Júlio Magalhães também fale dos centralistas lisboetas, porque isto de dar uma no cravo e outra na ferradura, também não esclarece muito. É verdade que há muita gente do Norte a trair a região, mas também é verdade que os lisboetas ajudam à missa. Nada de branqueamentos, portanto. É tempo de dar os nomes aos bois, ou seja, é preciso começar a deitar cá para fora o nome desses políticos e jornalistas que nos envergonham a todos. Eu começo: Cavaco Silva, Rui Rio, Sócrates, Soares...


  

02 janeiro, 2012

O "impoluto" Rui Rio


O Comércio do Porto

Publicado em 2011-12-29

 
A esmagadora maioria dos leitores desconhece os meandros da relação esquizofrénica entre a Câmara do Porto e os principais jornais da cidade. Jorge Fiel, subdirector deste jornal, dedicou no sábado um editorial a Manuel Teixeira, o chefe de gabinete de Rui Rio, um "Richelieu" dos nossos tempos. Na base da atitude da Câmara do Porto está uma sistemática perseguição à Imprensa através de uma cruzada moral. De um lado os jornais politicamente orientados, do outro os políticos insubmissos salvadores da democracia. Nada mais triste e falso. Recuemos então uns anos.

Em meados da década de oitenta. Manuel Teixeira era director d"O Comércio do Porto", Cavaco Silva havia chegado ao poder em 1985, governava em minoria, e a tensão política levou à convocação de eleições antecipadas. No Porto, o "JN" era considerado um jornal de esquerda, o "Primeiro de Janeiro" vivia em pré-agonia e "O Comércio do Porto" tinha um obstáculo à tomada de controlo político pelo PSD: dois chefes de redacção independentes, Jorge Fiel e Rogério Gomes. Subitamente, numa noite, os dois foram afastados e Teixeira mandou vir um tal de Santos Martins, chefe da delegação de Lisboa, assumir a chefia da redacção. O "golpe de estado" destroçou a redacção por completo. Estava lá e vi começar a morrer nesse momento "O Comércio do Porto".

Como se sabe, Cavaco ganhou as eleições de 1987 com maioria absoluta. Fixei para sempre o Jornal da Tarde da RTP1 do dia seguinte à vitória: Cavaco filmado no alpendre do jardim do Palácio de São Bento. Em cima da mesa um único jornal: "O Comércio do Porto".

O Governo decide depois privatizar os jornais. Qual o primeiro? "O Comércio do Porto". Ganho por Manuel Teixeira e uma "cooperativa de jornalistas" feita à medida da lei. E é também a Rádio Press (de Teixeira) que ganha o concurso lançado pelo Governo para a principal frequência de rádio do Porto. Era o tempo do cavaquismo absolutista e imaculado. E depois vendeu tudo a quem percebia do negócio...

E aqui chegamos a Manuel Teixeira, contratado para chefe de gabinete de Rui Rio e aos seus métodos de fragilização sistemática da Imprensa. Um exemplo: em 2003, era eu subdirector do Público, e recebo um telefonema da Presidência da República no qual um dos assessores de Jorge Sampaio pedia para visitar o jornal no Porto. Quando chegou, explicou: "Temos recebido na Presidência queixas de Rui Rio contra o vosso jornal e o Presidente gostaria de saber a razão". Como se imagina, vistos os casos que Belém recebia da Câmara do Porto, sobravam cinzas e o ridículo das denúncias.

Dez anos passados, quase nada mudou. Rio e Teixeira usam e abusam do legal "Direito de resposta" para esclarecer coisas que qualquer outra Câmara (ou ministério) resolve com um telefonema de cinco minutos. O objectivo final é levar os jornais à humilhação. Gerar o desgaste no leitor através da ocupação do espaço das notícias com desmentidos sistemáticos, muitas vezes de pormenor. Instigar as outras câmaras a fazerem o mesmo.

Contra os média não é "Pacheco Pereira" quem quer. Infelizmente Rui Rio não sabe isso e Teixeira não lho diz. A Câmara do Porto, entretanto, é ela própria uma entidade de média. Edita revistas (por interpostas empresas) e publicita em ecrãs da cidade a informação que o presidente quer/gosta/controla. Criou uma micro "TV Porto" cujo interesse é dizer, sem "jornalistas", o que quer aos munícipes. Todas estas coisas pagas com dinheiro dos contribuintes para exclusiva propaganda do grande líder.

Se a cruzada é moral, deixo aqui manifestado o meu interesse em que surjam nos ecrãs luminosos da cidade, nas revistas (que abusivamente colocam no meu correio e no de milhares de habitantes da cidade) e na "TV Porto" a seguinte opinião como munícipe: "O presidente da Câmara Rui Rio usa dinheiro público para fazer propaganda a si mesmo neste meio de comunicação social". A bem da democracia. E só semanalmente, não precisa de ser todos os dias.

Nota do RoP: 
Este artigo já foi publicado há uns dias, mas o tema é imtemporal, sobretudo por desmontar a falsa imagem de homem integro do actual Presidente da Câmara do Porto.

Totolo - 31º. sorteios contínuos SEM 1º. PRÉMIO! Mas que cheiro a vigarice!



Consultar Sorteios
 Totoloto
Sorteio: 095/2011 - Sábado Data do sorteio: 31/12/2011
Chave:713192031+3Ordem Saída:197203113+3
PrémioAcertosNúmero de vencedoresValor
1.º Prémio5 Números + Nº da Sorte0(1)
2.º Prémio5 Números2€ 21.431,11 
3.º Prémio4 Números1.357€ 39,48 
4.º Prémio3 Números20.391€ 2,62 
5.º Prémio2 Números220.463€ 1,45 
Nº da SorteNº da Sorte172.519Reembolso do valor da aposta de Totoloto
Estatísticas
Nº de Bilhetes/Matrizes763.350
Nº de Apostas2.405.288
Receita ilíquida apostas€ 2.164.759,20
Montante para prémios€ 1.071.555,80
(1) Previsão 1º Prémio c / Jackpot€ 11.400.000,00

Mas onde é que já [ou]vi isto!?


Cheiro a canela




Em finais dos anos oitenta ou inícios da década de noventa, nas alegações finais de um julgamento em Lisboa, apresentei-me, como sempre gostei de o fazer na capital, como um advogado de província e provinciano. Logo o juiz, um jovem e simpático magistrado, veio em meu próprio socorro, contradizendo-me com bonomia e considerando que eu não precisava de ser tão severo comigo mesmo. Esclareci então que, ao contrário de Fernando Pessoa, para mim o termo provinciano não era depreciativo, bem pelo contrário, até era elogioso, porque - enfatizei - «nós na província distinguimos bem os provincianos dos parolos». Acrescentei que um parolo nunca se imagina como tal, pois, pensa que é superior aos outros, julgando-se sempre muito moderno, muito esperto e muito cosmopolita. E concluí: «Lá na província já quase não há parolos porque eles vêm quase todos para Lisboa, atraídos pelos néons ou pelo cheiro a canela que ainda subsiste por aqui». O juiz sorriu com um olhar breve e logo reassumiu o ar grave de quem condena e absolve, ciente, como eu, de que durante o julgamento ambos detectáramos um espécime do género.

Recordo ainda um outro episódio ocorrido posteriormente e que é também algo elucidativo da minha dificuldade em me relacionar com a grande metrópole. Um velho contemporâneo na Universidade de Coimbra que ocupava um alto cargo na administração pública convidou-me para almoçar. O almoço, que teve lugar num dos restaurantes mais caros de Lisboa, destinava-se a «vender-me» uma qualquer intrigalhada político-jornalística. O repasto decorreu com cordialidade e jovialidade, apesar de ele cedo ter percebido que eu não lhe «adquiria a mercadoria». No final, quando veio a conta, ambos fizemos o gesto de puxar da carteira e antes que eu tivesse tempo para propor o pagamento a meias, como nos bons velhos tempos, ele reteve-me com um gesto firme e, num tom algo teatral, determinou que ele é que pagava, sacando de um cartão de crédito do estado. Não gostei nem do gesto nem do tom e respondi-lhe com rudeza: «pagas tu, não! Pagas tu e eu porque 40% do plafond desse cartão de crédito é dinheiro meu, que é a percentagem que o governo me cobra de IRS todos os anos. Ele ainda fez um esgar de quem iria ripostar, mas optou por um sorriso forçado rematado com uma frase do género: «Vejo que não mudaste nada». Despedimo-nos com um abraço e promessas de contactos futuros, mas até hoje não nos voltámos a encontrar, já lá vão mais de quinze anos.

Tenho por Lisboa sentimentos contraditórios. Por um lado, gosto muito da cidade, da sua luz, da sua paisagem urbana, da sua fisionomia arquitectónica. Lisboa é uma das cidades mais bonitas do mundo. Gosto muito dos verdadeiros lisboetas - os alfacinhas - que resistem dentro da cidade às investidas do progresso e do desenvolvimento que os querem varrer para os subúrbios ou para os dormitórios da periferia. Mas não sou capaz de viver em Lisboa. Já tentei, mas nunca me dei bem com as suas regras. Por isso, mesmo agora, regresso todas as sextas feiras a Coimbra.

Sempre me recusei a aceitar a ideia de que, afinal, os encantos secretos com que a capital amansa os ímpetos mais regionalistas resultam apenas da circunstância de ser aí que se parte e reparte o bolo do orçamento de estado. Mas, não tenho alternativa. A facilidade (e impunidade) com que se esbanja dinheiro em Lisboa é confrangedora. E o dinheiro atrai ainda mais do que os néons e a canela. O centralismo e a macrocefalia lisboetas que asfixiam o país não são mais do que o resultado de opções concretas de pessoas, a grande maioria das quais nem sequer é de Lisboa. É essa espécie de estrangeirados que dá à cidade os tiques de capital do império. Tais degenerescências não resultam, afinal, de nenhum desígnio demoníaco, mas sim da incapacidade da província em gerar elites que combatam essas perversões com coerência. Se exceptuarmos o futebol, Lisboa hegemoniza (centraliza) praticamente tudo o que é relevante em Portugal. E o segredo desse sucesso está em atrair aqueles que na «província» mais se destacam no combate à sua macrocefalia, pois, dando-lhes algum poder e/ou algum dinheiro, logo passam a ser os principais defensores do statu quo. Pelo menos assim tem sucedido até hoje.