16 março, 2012

De novo nos "tops"


 

Com no anúncio televisivo, "ainda sou do tempo em que" um bilhete de autocarro custava oito tostões (menos de meio cêntimo) e que Portugal era campeão europeu de hóquei de patins e de mortalidade infantil. Uma das muitas malfeitorias do 25 de Abril foi tirar-nos, em poucos anos de SNS, o honroso título de mais crianças mortas no primeiro ano de vida, relegando o país para o fim dos "rankings" mundiais.

38 anos depois do 25 de Abril, graças aos esforçados mandatários dos "mercados" que nos governam, chegámos de novo aos "tops" da Europa: segundo o Eurostat, Portugal foi, no último trimestre de 2011, o segundo país mais rápido da UE (logo a seguir à Grécia) a destruir empregos, com a notável marca de mais 3,1% de empregos eliminados do que em igual período do ano anterior; ao mesmo tempo, somos agora, "ex-aequo" com a Irlanda, campeões europeus da redução de salários nos empregos (ainda) não eliminados.

Quanto à mortalidade infantil não há, para já, dados recentes. Em contrapartida, só em duas semanas morreram em Portugal, segundo o Instituto de Saúde Ricardo Jorge, 6 100 pessoas de frio e gripe, a maior parte idosos com mais de 75 anos. Os aumentos das taxas moderadoras, juntamente com a redução das prestações sociais, mais os aumentos da electricidade e gás, que levam muitos reformados pobres a não poder ligar os aquecedores, estarão, segundo especialistas, na origem da assinalável "perfomance".

Nota de RoP:


É uma injustiça! Estes portugueses, entre os quais me incluo, são uns derrotistas. Um país com a nossa dimensão, cometer a façanha de se bater taco a taco com esse outro potentado europeu chamado Grécia e estar no 2º lugar no CEPS - Campeonato Europeu de Países Suicidas, e não ser devidamente reconhecido pelas populações, é uma ingratidão! 
B'ora lá para a estrada! Toca a colocar  bandeirinhas verdes e vermelhas nas janelas e lenços no pescoço do cãozinho! Toca a  soltar os campinos ribatejanos das lezírias e pô-los a cavalgar nas auto-estradas! Saia daí uma patriotice à moda de Scolari! Viva Lisbonal! Viva o centralismo!

15 março, 2012

"Custe o que custar"

Esta foi a expressão utilizada pelo primeiro-ministro - e agora parece que também pelo ministro das finanças - referindo-se ao cumprimento rigoroso das metas económico-financeiras impostas pela troika.

Neste contexto, esta frase é uma declaração de guerra ao povo português e é de uma crueldade inaudita, é uma frase assassina. Em português, " custe o que custar" só tem um significado, quer dizer que a obtenção do desiderato final terá que ser obtido com total desprezo pelas consequências, incluindo sacrifícios, que daí resultarem.

O desemprego aumenta? Seja. A miséria acentua-se , a fome irrompe nas classes mais desfavorecidas? Seja. As instituições de benemerência verão escassear os seus recursos para atender os mais indefesos? Seja. O apoio médico do SNS torna-se mais deficiente e mais caro? Seja. O ensino degrada-se ainda mais? Seja. A cultura regride? Seja. Os cérebros que são uma das riquezas de um país, aceleram a fuga para o estrangeiro? Seja. Em resumo, os indicadores económicos e de bem estar regridem ao nível dos anos 50? Paciência. O importante é que a troika nos considere bons rapazes e os "mercados" nos tenham em alta consideração, como se os mercados formassem os seus juízos por razões técnicas e não por razões de especulação financeira, como está mais que provado.

Quem nos livra destes governantes maníacos, fundamentalistas loucos nas mãos de quem estamos? A oposição é frouxa e sofre do síndrome dos PEC socratinos. O PR é para esquecer, o "supremo magistrado da nação" tem outras preocupações.

Parece não haver ninguém que contrarie estes aprendizes de feiticeiro, que diga alto e bom som que " fizemos asneiras no passado, agora temos de pagar um preço, temos de aceitar alguns sacrifícios, mas não vamos deixar exterminar um país e um povo para que, custe o que custar, uma tal de troika nos dê palmadinhas elogiosas nas costas".

Estamos num barco a caminho do naufrágio. O futuro é imprevisível. Nem os "sábios" sabem o que vai acontecer . Quem tiver Fé, que reze.

Marinho e Pinto - um tiro no próprio pé?


Pois é, no melhor pano cai a nódoa. E o drama é que por este andar já nem sabemos se ainda sobram panos fiáveis, ou se as nódoas é que são resistentes... 

O bastonário dos advogados Marinho e Pinto tem-se destacado por combater a corrupção sem medos nem tabus, inclusivé, no meio da própria classe, mas de súbito, e algo contra a corrente habitual, negou-se a colaborar com a Polícia Judiciária nessa luta, alegando que não está para ser bufo dos advogados que supostamente prestam serviços a gestores e políticos corruptos. Salvo melhor opinião, parece-me que este é mais um caso, a revelar os males da velha tradição de que falei no post anterior. Só acatamos pacificamente a lei quando ela nos é conveniente.  

De um modo geral tenho estado de acordo com os valores que Marinho e Pinto defende, mas neste caso concreto não o aplaudo. Primeiro, porque não gostei dos argumentos que utilizou para se negar a colaborar com a PJ, e depois porque ele próprio se recusa a cumprir a lei, no caso, a Nº. 25/2008, que obriga os advogados e solicitadores a comunicar respectivamente, ao Bastonário e  Presidente dos Solicitadores casos que indiciem branqueamento de capitais ou financiamento de terrorismo. 

"Jamais, enquanto bastonário, farei uma comunicação dessas ao PGR". "A polícia que cumpra o seu *papel! Cada macaco no seu galho". Por mais razoáveis que estas declarações possam ser, sem mais explicações, a ideia que ressalta é que continua a não existir bom senso nem vontade para cooperar entre pessoas e instituições no combate à corrupção. Em assuntos desta natureza, de crime organizado, ou de branqueamento de capitais, todas as entidades envolvidas [PJ, PGR, e Advogados], deviam esforçar-se por estar em sintonia, esquecendo as rivalidades. Deviam ignorar a importância das respectivas capelinhas, colaborando reciprocamente, e unirem-se para combater a grande criminalidade. Calculo que não seja coisa fácil, mas há valores que ultrapassam todos os códigos deontológicos, mesmo os dos advogados. Em primeiro lugar terá de estar sempre a defesa da sociedade e dos bons costumes. Uma sociedade minada por abdicar do combate à grande criminalidade, é uma sociedade eternamente doente.

Importa recordar que Marinho e Pinto, que agora diz "não querer ser bufo dos clientes de advogados", foi criticado há tempos por colegas seus, por ter afirmado "haver indícios de que alguns escritórios de advogados são quase especialistas em ajudar certos clientes a praticar determinados delitos, sobretudo o delito económico", e de não apresentar provas. Que esse é um papel que cabe à PJ parece não haver dúvidas. Agora, quando os deveres deontológicos dos advogados colidem desta forma com os dos investigadores criminais, nem um Hercule Poirot nos podia valer.

 De facto, ninguém percebe estas contradições, e eu também não.

*Marinho e Pinto alega que cabe à Polícia Judiciária a descoberta de provas, mas talvez se tenha esquecido de dizer que, enquanto a PJ  procura essas provas, entretanto, já os seus colegas advogados trataram de as encobrir para defender os seus clientes, mesmo que estes sejam retintos corruptos. É uma questão de deontologia. Bonita, por sinal.E séria...

14 março, 2012

Portugal desleal

O que me vale, é que não levo muito a sério os presságios "intelectualóides" de Pacheco Pereira, caso contrário teria de lhe perguntar as diferenças que ele vê entre o perigo populista do aparecimento de "novos Sidónios Pais", e a longa lista de governos populistas que tivemos desde o 25 de Abril, num regime que ele [ainda] considera democrático...

Para que não me interpretem mal, esclareço que por populista entendo [também], todo o governo ou governante que chega ao poder através de promessas eleitorais que depois acaba invariavelmente por não cumprir. É isso mesmo que tem acontecido, tanto com governos passados, como no que está agora no activo, facto que de per si, me dispensa da apresentação de outras provas. Presumo que Pacheco Pereira não pensará assim. Ele lá terá bem guardadas, secretas razões para pensar o contrário. Digo eu.

Já aqui escrevi imensas vezes que o pior que aconteceu à Democracia foi terem-lhe rapinado a componente mais importante a qualquer sociedade evoluída: o respeito pela autoridade, pela Lei, e pelas regras socias. Ao longo dos anos, permitiu-se que as instituições mais nobres do país fossem invadidas por gente desqualificada e pouco séria, conferindo-lhes poderes para os quais não estava preparada, nem habilitada intelectual e eticamente. O resultado só podia ser este.

Senão, vejamos. O actual Governo, que tem mantido uma postura servil para tentar demonstrar à Troika que é diferente do anterior, que se disponibiliza a cumprir "à risca" todas as medidas de austeridade por ela impostas, está todavia apenas a levar a sério as que penalizam os mais desfavorecidos. De novo , repetiu-se a história pelo lado mais negativo: o Governo, desautorizou e desmoralizou exactamente o elemento [Henrique Gomes] que estava a querer levar a austeridade mais a sério, para lá colocar um outro com perfil de boy, e de yes men [Artur Trindade], para assim franquear as portas aos lobbys instalados na EDP.

Não pretendo repetir o que vem na imprensa, o que quero destacar aqui, é o detalhe da tal falta rigor de que vos falei anteriormente, da ancestral aversão às regras democráticas, da tendência em Portugal de se governar cedendo  fatalmente à mediocridade.

Outro exemplo que confirma a minha tese, e que nada tem de populista, são as chamadas "limpezas" às candidaturas do QREN de que agora se fala.

Os gestores dos projectos foram intimados pelo Ministério da Economia a respeitar determinados prazos e um conjunto de regras para os verem aprovados. Que coisa terrível!  Haverá algo de preocupante nisto? O que é que quererá dizer, afinal? Para mim, é muito simples: quer dizer que estes procedimentos [respeito pelos prazos e rigor na actuação], nunca fizeram escola em Portugal. Quer dizer que no nosso país, não estamos habituados a pontualidades, a procedimentos normais nas relações sócio-económicas, por isso entre nós, ganham a dimensão de ultimatos. O que agora se propõe, afinal, era o que sempre devíamos ter feito. Ponto. Não estranha pois que o Estado seja um dos grandes caloteiros nacionais, o primeiro responsável pela contaminação dos maus exemplos na sociedade civil.

Querem outro exemplo? Este, mais comezinho, mas nem por isso elucidativo, atendendo ao estatuto da protagonista. Aquela procuradora que foi à RTP relatar pormenores sobre o criminoso que recentemente assassinou a mulher, a filha e a neta, e que levou o Conselho Superior do Ministério Público a acusá-la de se ter excedido na entrevista, vê agora os respectivos membros a recuarem na intenção de lhe abrir um inquérito... Segundo o JN apurou, houve consenso entre os conselheiros a respeito da inadequada conduta da procuradora, mas preferiram não intervir disciplinarmente. 

Em que é que  incongruências desta natureza podem resultar no futuro? Que não tardará muito para voltarmos a ver na televisão, esta ou outro(a) magistrado, a satisfazer a curiosidade pública com os detalhes mórbidos de um outro assassinato qualquer. O que está aqui em causa não é em si a gravidade do comportamento da magistrada, mas o [mau] exemplo que dá, não só à própria classe, que devia distanciar-se dos holofotes e de sensacionalismos, como à própria sociedade. O simples facto da procuradora ter sido autorizada pela Procuradoria Geral da República a dar a entrevista, revela a vulnerabilidade desta instituição - que é um órgão de soberania -, e que confirma o vazio de rigor e de autoridade em que se deixou a Democracia, como referi no início deste post.

Repito: a tolerância não pode confundir-se com laxismo, e a Lei é para ser levada à letra. Com rigor! A começar pelos representantes do Estado e a terminar no Povo. Assim, sim. Como está, é que não!

13 março, 2012

Ex-Ministro da Justiça mal comportado versus Presidente do Sindicato dos Juízes

Ex-Ministro da Justiça Alberto Martins
Sabemos muito bem o que a expressão popular "tal pai, tal filho" quer dizer, mas não conhecemos outra do mesmo género que a desminta. 

Por exemplo: correndo o risco de me enganar, porque o meu conhecimento pessoal sobre estas pessoas é meramente intuitivo, acho que o filho do Presidente da Câmara de Gaia, Luís Menezes tem muito pouco a ver com o pai. Enquanto o pai aparenta ser uma pessoa relativamente simples e sociável, o filho é o modelo-tipo do betinho da Foz, arrogante e mal encarado. Isto, vale o que vale, mas a verdade é que neste caso concreto os traços de carácter entre pai e filho parecem bem distintos.

Já entre o ex-ministro da Justiça, Alberto Martins e o filho, o jornalista da RTP, João Martins, tudo indica existirem traços em comum. O pai, segundo notícias vindas a público [no JN de hoje], foi acusado pelo Presidente do Sindicato dos Juízes, António Martins  [estes martinis são intragáveis], de ter sido o mais gastador dos ministros da Justiça. Consta que usou e abusou dos cartões de crédito públicos para pagar despesas de milhares de euros em refeições, apesar de receber dinheiro para despesas de representação. Do filho, não sei se também recebe verbas da RTP para despesas de peculato - perdão, queria dizer de representação -, ou se anda a usar o cartão de crédito do canal público para fins particulares. O que sei, é que em matéria de carácter também deixa muito a desejar, visto se prestar a fazer a mesma figura de capacho de alguns colegas seus, na discriminação que a RTP faz ao FCPorto. 

Este sim, é um interessante exemplo de como o ADN do filho tem fortes semelhanças com o do paizinho. Mesmo que esse paizinho tenha ocupado um lugar político altamente respeitável, sem ter competência nem categoria para o merecer. 

Mas, não nos iludamos, ninguém está inocente em matéria de ética. O próprio acusador do ex-ministro da Justiça, é o Presidente do Sindicato dos Juízes, António Martins, precisamente o mesmo que promoveu o congresso pomposo do Sindicato de Juízes patrocinado por instituições bancárias sob suspeita aqui referidos por Marinho e Pinto. Olha para o que eu digo, pá...

Estamos em Portugal, ninguém leva a mal, e é tudo gente fixe.  

Ainda o artigo de Marinho Pinto


Oportuníssima a transcrição que o Rui Valente fez do artigo do bastonário Marinho Pinto relativo ao congresso dos magistrados do Ministério Público (MP).

O alerta do bastonário revela uma série de feridas na Justiça portuguesa, que na realidade já são mais do que simples feridas : trata-se de gangrena incurável que só cirurgia impiedosa poderá tratar.

A ser verdade o que o bastonário escreve, e não tenho motivos para pensar o contrário, uma série de factos lamentáveis emerge de tudo isto.

1- O Poder Judicial é, ou deveria ser, um dos pilares do Estado democrático. Este tipo de prostituição revelada pelo artigo em questão, é da maior gravidade e deveria originar acções condizentes de várias entidades. No mínimo esperar-se-ia um desmentido do MP com as respectivas explicações. Ainda não li nada.

2-Do actual Procurador Geral da República nada de bom se espera, mas será que vai continuar a assobiar para o lado? Acha ele que a acusação, vindo de quem vem, não merece um comentário e uma averiguação?

3-A ministra da Justiça não terá uma palavra pública a dizer? Em que outro país supostamente civilizado tal silêncio seria possível, e admitido por uma opinião pública séria e por uma Comunicação Social actuante, responsável e honesta?

4-Finalmente, Cavaco Silva. Tenho a ideia, provavelmente infantil e romântica, que o PR deveria ser a reserva moral máxima da Nação, o garante da transparência política, o homem atento ao que se passa no país e que, embora não podendo governar porque quem governa é o governo eleito, exercesse a tal "magistratura de influência" e que fosse visto pelos portugueses como a última esperança para tentar emendar o que está errado, uma espécie de justiceiro ao serviço do bem comum. Com este presidente podemos tirar o cavalinho da chuva, ele anda mais ocupado a ajustar contas com os adversários, Sócrates em particular.

5- E a opinião pública? Impávida e serena, como sempre. E a TV? Podemos pensar em algum dia ver um "Prós e Contras" sobre a(in) dignidade do Poder Judicial? Afrontar os poderes estabelecidos? Que ideia...

6-E assim vamos, alegremente a caminho do fundo do abismo. Sim, porque um país em que o Poder Judicial não se respeita a si próprio, é um país com um futuro pouco risonho.

12 março, 2012

As decisões que tardam no FCPorto, mas faltam

Ontem, dei a minha opinião àcerca da capacidade de liderança de Victor Pereira, actual treinador do FCPorto,  esperando ter sido suficientemente explícito e correctamente interpretado, porque nada tenho de pessoal contra ele. Pelo contrário, embora não o conheça pessoalmente, a impressão que tenho é que se trata de uma pessoa estruturalmente honesta e dedicada ao clube. 

Hoje, tenciono dizer algumas coisas de natureza administrativa sobre o Futebol Clube do Porto, e daquilo que se podia ir fazendo, e ainda não se fez, para evitar que determinado tipo de problemas   contaminem o clube. Refiro-me a umas quantas medidas de carácter disciplinar, para pôr cobro a certas declarações proferidas por atletas no activo passíveis de gerar situações potencialmente nefastas ao grupo de trabalho.

As redes sociais, como o Facebook e o Twitter, são hoje em dia, uma forma de comunicação apreciada e usada por muita gente, incluindo os jogadores de futebol, às quais os clubes têm rapidamente de saber adaptar-se e proteger-se, sob pena de, se não o fizerem, poderem hipotecar a privacidade necessária ao seu bom funcionamento. Para tal, urge incrementar um conjunto de regras internas que devem ser transmitidas clara, e categoricamente, aos atletas mal chegam ao clube. Informá-los, que enquanto forem atletas ao serviço do FCPorto, e por este pagos, não serão toleradas afirmações públicas que possam interferir na estabilidade do grupo, como por exemplo, manifestar vontade de jogar noutros clubes.

Suponho que, se regras dessas forem devidamente apresentadas e implementadas, sem beliscar a liberdade pessoal dos jogadores, mas de forma assertiva, eles cedo se aperceberão que não estão num clube qualquer, que o FCPorto não é um simples apeadeiro para outras viagens, mas sim um clube respeitado, com um notável currículo nacional e internacional, tão bom ou melhor que outros, financeiramente mais ricos. Que é um clube onde quem chega, tem de chegar para triunfar, do primeiro ao último dia de contrato. Seria fundamental passar-lhes esta mensagem. Lembrar-lhes, que enquanto estiverem contratualmente vinculados ao clube, é sua obrigação estar com ele, de corpo e alma. Chegaram, assinaram com o FCPorto, a partir desse momento, são portistas! Terá de ser esse o chavão, ou parecido.   

Estranha-se pois que medidas deste tipo ainda não tenham sido traçadas num clube como o FCPorto, habituado a blindar-se como nenhum, contra todas as adversidades. Afinal de contas, a Net e as redes sociais não apareceram ontem. E o facto, é que alguns jogadores continuam a falar com demasiado à vontade para tudo quanto é media sobre eventuais saídas para outros campeonatos, contra aquilo que seria norma, em tempos idos...

Estranha-se ainda mais, que sendo o FCPorto o clube mais causticado do país por uma comunicação social  sectária, ostensivamente empenhada na produção de programas vocacionados para o prejudicar, tanto no plano ético, como no desportivo, não tenha ainda engendrado no Porto Canal [que gere], maneira de se defender em tempo útil desses ataques soezes, deixando transparecer [por omissão] para a opinião pública, uma postura subserviente e consentida. 

Este FCPorto anda de facto muito estranho. O que se estará afinal a passar? Temos uma ferramenta preciosa, como é o Porto Canal, e não queremos tirar partido dela? Ou, não sabemos? O que se passa?

Um congresso histórico



O recente congresso do sindicato do Ministério Público, realizado num hotel de cinco estrelas de Vilamoura, no Algarve, mostra bem a degenerescência moral que atingiu esta magistratura ou, pelo menos, a sua fação hegemónica. Para realizar o sinédrio, os magistrados dirigentes sindicais não hesitaram em pedir dinheiro a várias empresas, incluindo bancos outrora indiciados de envolvimento em atividades ilícitas. Com efeito, o congresso contou com o «alto patrocínio» do Banco Espírito Santo e do Montepio, dois bancos envolvidos na célebre «Operação Furacão» - o primeiro diretamente e o segundo porque comprou um banco envolvido, o Finibanco. Além disso, o congresso teve também o «alto patrocínio» da companhia de seguros Império Bonança, bem como o patrocínio oficial da Caixa Geral de Depósitos e da Coimbra Editora e ainda o patrocínio do BPI e dos Cafés Delta, entre outros.
Os procuradores sindicalistas reuniram assim um vasto conjunto de apoios financeiros que lhes permitiram não só realizar o congresso mas sobretudo oferecer um luxuoso programa social para acompanhantes e congressistas que incluiu um cruzeiro pela costa algarvia, almoços e jantares em hotéis de cinco estrelas, passeios diversos e provas de produtos regionais e, por fim, dar as sobras dessa abastança a uma instituição privada sem fins lucrativos como é a Fundação António Aleixo. Eles não hesitaram em pedir dinheiro a entidades suspeitas de crimes económicos graves para agradar aos convidados entre os quais diretores de órgãos de informação que permanentemente violam o segredo de justiça. Como é possível pedir dinheiro para pagar um programa social principesco, manifestamente fora do alcance económico dos seus organizadores, concebido para aliciar colegas e convidados a participarem no evento?

A propósito destes patrocínios, Vital Moreira interrogava, recentemente, no seu blogue «Causa Nossa»: «Não restará nestes sindicalistas judiciais um mínimo de sentido deontológico sobre a incompatibilidade entre a sua função e o financiamento alheio dos seus eventos sindicais? Não se deram conta de que se amanhã um dos seus generosos financiadores deixar de ser investigado ou acusado de alguma infração penal que lhe seja assacada, tal pode lançar a dúvida sobre a sua isenção»?

Com que cara é que magistrados do MP vão pedir dinheiro a um banco envolvido na «Operação Furacão» e ainda suspeito de corromper políticos no caso do abate de sobreiros da Herdade da Vargem, em Benavente, e indiciado por ter feito desaparecer nas suas filiais internacionais o rasto de cerca de 30 milhões de euros, alegadamente pagos como comissões pela compra, pelo Estado português, de dois submarinos a um consórcio alemão?

Diz o artigo 373º n.oº 2 do Código Penal que comete o crime de corrupção passiva para ato lícito quem «por si, ou por interposta pessoa, com o seu consentimento ou ratificação, solicitar ou aceitar, para si ou para terceiro, sem que lhe seja devida, vantagem patrimonial ou não patrimonial de pessoa que perante ele tenha tido, tenha ou venha a ter qualquer pretensão dependente do exercício das suas funções públicas». Será que esta norma só não se aplica a magistrados? Será que nenhum dos patrocinadores teve no passado alguma pretensão dependente do exercício das funções dos magistrados do MP? Claro que sim. E houve até situações, no âmbito da «Operação Furacão», em que o procurador titular do processo defendeu teses mais favoráveis aos arguidos do que a do próprio juiz de instrução.

Sublinhe-se que o MP perseguiu criminalmente alguns médicos a quem acusou de terem solicitado e aceite patrocínios da indústria farmacêutica, alguns deles para poderem participar em congressos. Então os magistrados do MP podem fazer o mesmo sem quaisquer consequências?

Seja como for, os procuradores que estiveram no congresso, no mínimo, não deverão no futuro intervir em processos em que sejam partes quaisquer das empresas patrocinadoras do evento, pois tal constituirá «motivo, sério e grave, adequado a gerar desconfiança sobre a sua imparcialidade», nos termos dos artigos 43º n.oº 1 e 4 e 54, n.oº 1 do Código de Processo Penal.

Nota de RoP:
É humanamente desonesto e eticamente censurável, não reconhecer razão ao bastonário Marinho Pinto. Com magistrados desta categoria o futuro do país está condenado ao presente. Ou, pior... 


11 março, 2012

Bom final de domingo

Victor Pereira II

Como portista e portuense íntegro que me gabo de ser, rejubilei com a victória do FCPorto contra aquela agremiação megalómana, e elitista-novo-rica de Lisboa, cujo nome nauseabundo prefiro não pronunciar. Rejubilo sempre. O clube de Lisboa representa para mim o que há de pior e mais ridículo nos portugueses, tanto nalguns autóctones,  como numa grande parte dos assimilados pela expansão do país, de norte para sul... É a história [e os factos] que o diz, não sou eu.  

Mas, o *facto de ser um portuense-portista devidamente enquadrado na região e nos seus símbolos mais autênticos, não me inibe de dizer, mais uma vez, o que penso sobre o actual treinador do FCPorto. Antes porém, em nome da coerência e da justiça, há que prestar homenagem à Académica de Coimbra e ao seu treinador, o nosso ex-jogador Pedro Emanuel, que soube montar muito bem a equipa e jogar no Dragão como se estivesse em casa, conquistando um precioso ponto que podiam até,  sem escandalizar, ter sido três. A Académica jogou a maior parte do tempo com mais personalidade e lucidez que o FCPorto. 

Victor Pereira até pode chegar ao fim do campeonato com estes irritantes altos e baixos e vencê-lo que eu não mudo de opinião: não é treinador para um clube com as ambições e a história do FCPorto. Ponto. Escrevo-o aqui, mesmo que ele me dê o prazer de ganhar este ano o campeonato. Nestas declarações não há nenhuma contradição, porque entre as minhas convicções e a minha afeição ao FCPorto, coloco em primeiro lugar o afecto, e os resultados desportivos do clube.

Posto isto, só tenho a acrescentar ao que já tenho escrito, é que Victor Pereira pode até perceber muito de futebol, mas de um treinador de top não é só isso que se espera, é sobretudo a capacidade de liderança. E o que é isso, afinal? Em que é que se traduz?

Ser líder, não é ser literalmente invencível, porque tal não existe. Ser líder é ser mais vezes vencedor do que vencido [Pinto da Costa é um líder na sua área]. Ser líder, é essencialmente saber comunicar, neste caso concreto, com  os jogadores e com toda a equipa técnica, e explicar correctamente o que pretende que estes façam para refinar, sempre numa espiral ascendente, os níveis de produtividade e de qualidade técnico-táctica de todos os elementos. Mas, para saber comunicar tudo isto, um treinador ambicioso tem de cortar a direito quando é preciso, impor-se a jogadores caprichosos, relegando-os para o banco se não obedecerem às suas instruções, sejam eles quais forem, explicando-lhes depois porquê. Saber comunicar, é muito importante, é verdade, mas de nada vale se essa comunicação não passar ao destinatário.

As dúvidas que mantenho em relação a Victor Pereira são dessa natureza. Ontem, quando me interrogava da  razão pela qual Victor Pereira não deu [ou, não soube dar] instruções aos jogadores durante os primeiros 45 minutos para jogarem mais rápido e exercerem maior e melhor pressão no meio campo adversário, dei por mim a rever um filme demasiadas vezes visto esta época com os resultados que se conhecem, e foi isso que aconteceu.

Como é possível contornar a apatia de Victor Pereira depois de com alguma sorte, e tanto mérito, termos recuperado o 1º lugar, sem criticar o treinador? Como é possível jogar com os fantasmas de um passado recente, em casa, e com um adversário cujo clube tem um orçamento infinitamente inferior ao FCPorto? Como? Podem-me dizer, pois é, que não o elogiei no jogo contra os mouros, mas se me permitem, suspeitei [infelizmente, com razão], que o bom jogo do FCPorto se deveu mais a uma questão de orgulho ferido dos jogadores, a uma reacção, do que propriamente às convicções técnico-tácticas do treinador. E não me digam que falo depois de conhecidos os resultados, porque até ao jogo com o Benfica o FCPorto não demonstrou qualquer consistência de jogo. Ontem, repetiram-se os erros colectivos e individuais que vimos em muitos jogos, e a mesma apatia da equipa. Quem tem afinal a responsabilidade de corrigir estes repetidos devaneios? Os jogadores? Desde quando é que eles são o farol da equipa, é que eles se auto-controlam? Desde quando é que um clube de futebol pode prescindir da orientação de um treinador? E para que é que, para além dos aspectos físico-técnicos e tácticos, os clubes lhes  pagam?

No final do jogo, Victor Pereira falou assim para a imprensa: "Demos 45 m de vantagem. Não existimos na 1ª. parte, faltou-nos alma e tivemos de ir atrás do resultado". Que redundância! Pensará ele que os adeptos não perceberam isso? Estaria ele convencido que nos estava a dar uma novidade? Ou, não seria melhor, mais produtivo, guardar este discurso para o balneário e dirigí-lo com objectividade aos jogadores? Tê-lo-à feito? Acreditemos que sim. Mas, como o terá feito? Com que alma, com que inconformismo?

Durante toda a primeira parte bem olhei para ele para ver se descobria esses sinais de inconformismo, essa alma, a ser transmitida aos jogadores, mas a única coisa que vi foi insegurança e medo.


* Assim se fala na RTP

- Olá Paula, há tanto tempo que não te via!
- Olá Maria, é verdade!
- Então? Casaste?
- Não Maria, vivo em união de fato.
- De facto, queres tu dizer.
- Não, não, casei-me com um alfaiate!