07 julho, 2012

Obrigado Rui Farinas!

Rui Farinas, um bom amigo
Um dia virá em que chega a inevitável separação, que teremos saudades de todas as conversas, das tertúlias apaixonadas, dos ideais partilhados, da revolta, das anedotas políticas, do nosso Futebol Clube do Porto. Um desses dias chegou hoje para mim, com a triste notícia da morte do meu jovem amigo Rui Farinas [tinha apenas 81 anos] . Jovem sim.  Oitenta e um anos mais jovem do que muitos com vinte e um.

Até um dia amigo, gostei mesmo muito de te conhecer.

As minhas sentidas condolências a toda a família e amigos.


06 julho, 2012

Humanidade e ciência


Sinais da partícula bosão

  
Que me desculpem os leitores por querer partilhar convosco as minhas inquietações, mas enquanto predominar a anarquia sobre a justiça, sobre a ordem social e continuar a verificar que não existe seriedade política para alterar esta situação não vou deixar de o fazer.

Já aqui dei o exemplo da exploração do espaço, do lançamento de satélites artificiais, das viagens tripuladas à Lua, das sondas a Marte,  e dos rios de dinheiro que se consomem nessas experiências, todas elas movidas pelos melhores desígnios [humanos, científicos, tecnológicos]. Mas, se olhamos para a Terra e continuamos a constatar que as desigualdades sociais se acentuam e que ainda há quem nela morra de fome e frio, depressa concluímos que isto não faz qualquer sentido. Como podemos nós gerir sabiamente o espaço quando não conseguimos governar harmoniosamente este grão de areia universal que é a Terra? Se tivermos alguma relutância em acreditar que todas essas experiências nascem dos melhores propósitos, nesse caso não é o exemplo de gestão terrena que pode servir de tónico.

O paradigma mais recente é a aparente descoberta de uma partícula [o bosão] segundo a qual se admite a criação da matéria, e consequentemente a origem do Universo. É fascinante sem dúvida a evolução científica da humanidade. E o que é que entretanto se vem fazendo para a evolução da própria humanidade, que mais não é que a maximização do bem estar de todo o ser humano? Vamos persistir na fórmula retrógrada, arcaica, do macro-capitalismo, versus mão de obra barata, versus exploração=miséria? Ou entregámos a Terra a cientistas e banqueiros em exclusividade, e acabamos com  todas as outras actividades? Seria possível sobreviverem sozinhos, mesmo assim? E quem sobraria para fazer as outras tarefas? É que não vejo alternativa se continuarmos a apostar na mesma qualidade de políticos e no mesmo modelo de política. O argumentário neo-liberal está-se a esgotar de dia para dia, apesar dos povos continuarem a alhear-se da política e paradoxalmente a apostarem na repetição de soluções falhadas do passado. Pois o neo-liberalismo representa esse mesmo passado, e o "neo" que precede o liberalismo é para o revitalizar, para o maquilhar da própria decrepitude ideológica,   mas o facto é que  já está em coma há muito tempo.

Não será por acaso que hoje os capitalistas preferem designar-se como neo-liberais. Até eles começaram a perceber a inanidade ideológica do capitalismo. Incapazes de se adaptarem aos padrões mais elevados de capitalismo, onde o regime apesar de caduco se vai aguentando através de uma distribuição da riqueza mais justa, de governações decentes e qualificadas [a generalidade dos países nórdicos], os empresários portugueses continuam agarrados à ideia do enriquecimento rápido, de retribuições salariais miseráveis, tentando protelar com argumentos estapafúrdios a atribuição de vencimentos mais elevados, ora por falta de competitividade, ora porque não é oportuno. Salvo raras excepções, muito raras mesmo, a regra do empresariado português é a da exploração de outrem para exclusivo benefício próprio.

Os políticos fazem parte deste puzzle de interesses e não é propriamente para o purificar, é para o tornarem mais denso e difícil de desmontar. Daí que, enquanto cidadão,  não me contentar com os diagnósticos [as televisões fazem-nos todos os dias], preciso da cura. Mas, antes da cura há que dar lugar à detecção, identificação e condenação dos malfeitores, sejam eles banqueiros, empresários, políticos, investigadores ou juristas. Finalmente, só temos é de descobrir processos eficientes e eficazes de prevenir que este tipo de gente aceda ao poder através da política, e impedir que a insanidade mental se alastre a outros e à própria sociedade.

Mas, meus caros, tudo isto só será possível no dia em que os cidadãos dispuserem de meios para destituir em tempo útil todo o governo que não cumpra com as suas promessas eleitorais [pelo menos a maioria]  ou se desvie das linhas programáticas. Só assim teremos garantias de não sermos permanentemente ludibriados. Porque, como bem sabem, eles não têm de facto vergonha, e não hesitam um segundo em nos enganar, como é fácil provar.

O que eu quero dizer em suma, é isso mesmo, que temos sido governados por traidores. E como pode um povo digno orgulhar-se de ter traidores a governar o seu país?

04 julho, 2012

Meias verdades

Será defeito meu talvez, porque vejo muito pouca gente preocupada com o assunto, mas nunca me passou pela cabeça ter hoje que concluir que a única coisa que separa uma ditadura do regime actual, é a possibilidade de constatarmos os factos e de os podermos comentar. Isto, se falarmos dos cidadãos, porque se estivermos a referir-nos a jornalistas e fazedores de opinião, nem para comentar seriamente os factos têm coragem.

Senão vejamos: será porventura surpreendente que o Porto lidere - como noticia o JN de hoje - o ranking dos ataques a ourivesarias? Mas é claro que não! E não é difícil encontrar razões. A primeira, é porque, é no Porto, em Gondomar, a região do país onde há mais ourives, logo onde há peças valiosas, que é o que qualquer assaltante procura. E depois, a principal razão, porque fica no Porto, e no norte do país, a região onde o nível de desemprego atingiu as maiores proporções e simultaneamente aquela que mais espoliada foi [e continua a ser] por sucessivos governos. Logo, só um cretino daqueles muito retintos é incapaz de dissociar o aumento de desemprego com o aumento da criminalidade. Isto, são factos, mas factos para os quais não é preciso grande coragem para os constatar, e comentar. São os "bons" factos para o tipo de  jornalismo que hoje se faz.

Agora, faltam os outros factos, os maus, aqueles que realmente incomodam os jornalistas, ou seja, citar a ordem em cadeia dos nomes e das causas que os originam. Pois aqui vai a novidade: os primeiros responsáveis pela criminalidade e a violência, são, as pessoas [sim, porque os governos são compostos por pessoas] que [des]governaram o país de 1974 para cá.  Todas! Ah heresia, o que eu fui dizer! Pois é, isto pode parecer assustador mas é a pura realidade. No entanto, poucos têm a coragem de o escrever!

Dito isto, é eticamente censurável que os jornalistas que temos continuem a assobiar para o lado fingindo que ignoram as fontes da criminalidade, tratando os governantes como se eles nada tivessem a ver com o fenómeno. Consequentemente, o nosso infortúnio não resulta apenas da incompetência de quem nos tem governado, mas também de quem só faz metade do serviço público que devia ser informar, de quem só transmite o que é conveniente, de quem teme represálias e procura esconder cumplicidades com o poder: os jornalistas. Se juntarmos à incompetência de ambos [governantes e jornalistas], a veia criminosa de uns tantos, é caso para dizer que a integridade é uma palavra morta que há muito se afastou de certos humanóides. A integridade tem dias...

Cavaco Silva já tinha deixado fugir-lhe o pé para o chinelo - do qual nunca mereceu ter saído, aliás - quando teve a amabilidade de convidar o povo a emigrar, logo seguido pelo acéfalo discípulo Passos Coelho, dando assim início a uma nova geração de imbecilidade cuja duração e efeitos colaterais são difíceis de imaginar. Mas nunca serão positivos, podemos estar seguros.

Se porventura estiver a ser lido por algum conterrâneo que já meteu pés ao caminho e emigrou - não para seguir o "conselho" destes idiotas, mas para poder cuidar do futuro - gostava que me permitisse também a mim dar-lhe um conselho, mas dos bons: se a vida  lhe correr bem, se começar a ganhar dinheiro, por favor não se porte como um idiota e deposite-o num banco do país que lhe permitiu ganhá-lo. Porque, para além de ser um acto de gratidão, irá contribuir activamente para a redução em Portugal dos proxenetas de Estado encartados. Faça isso.

03 julho, 2012

Amizades impossíveis...

Já sabemos que ninguém é dono das verdades, que não podemos agradar a todos, que até aqueles com quem estamos frequentemente de acordo nem sempre pensam como nós. Contudo, em quaisquer circunstâncias, um único sentimento devia prevalecer sobre as nossas opiniões: o bom senso. E é neste ponto concreto que muito boa gente, mesmo aquela socialmente melhor cotada, se espalha ao comprido em termos de coerência.

Já me confrontei com muitos casos destes, o que me obrigou a reavaliar a opinião que tinha acerca de determinadas pessoas, principalmente figuras públicas.  E isto, aplica-se também com os outros em relação a mim, sendo certo que de figura pública eu não tenho nada [nem quero ter], excepto a exposição a que este espaço aberto de comunicação e opinião naturalmente me sujeita.

De qualquer modo, ninguém resiste a criar a sua própria opinião sobre figuras públicas, e isso tem de ser considerado normal, desde que essa opinião se alicerce preferencialmente em factores racionais mais que emocionais, embora a emoção - como escreveu António Damásio - possa ser em certos casos uma expressão de racionalidade. Dou o exemplo de Rui Rio.

Todos concordarão que os portuenses pouco ou nada sabiam dele quando apareceu no Porto a presidir à respectiva Câmara. No entanto, o seu perfil frio e pouco familiar aos portuenses, associado à hostilidade que desde logo revelou contra o FCPorto e o seu  líder, retirou-lhe desde logo margem de manobra para seduzir os eleitores mais ligados ao clube que viram nessa atitude uma forma oportunista de agradar às cúpulas do partido e com ela subir na carreira política. Eu fui um desses portuenses. E não me enganei... Quem se enganou foi Rui Rio que, não só não viu reconhecida pelo PSD  a facadinha dada aos portuenses, como foi incapaz de a ultrapassar através de um trabalho profícuo e competente ao longo dos seus mandatos. Pelo contrário, agora é o seu partido que está no governo e que não o respeita [prova-o a indiferença e a falta de consideração revelada face à nomeação do líder da Metro do Porto]. Goste-se ou não, Rui Rio desde o primeiro dia marcou irremediavelmente a sua história de fracasso à frente da Câmara do Porto.

Curiosamente, Rui Rio foi apoiado por outras figuras do Porto igualmente ambíguas e pouco dadas às coisas do povo. Miguel Veiga é uma dessas pessoas, para ele o povo também é ralé. O mesmo "ilustre" [e rico] advogado do Porto que foi recentemente acusado pelos tribunais de plagiar um texto do professor Sousa Dias... Curiosamente também, nunca apreciei os dotes intelectuais e políticos desta personagem e ainda menos a forma como os exibe. Há um não sei quê de vaidade exacerbada e pedantice que me desagrada nele - tal como Ronaldo -, embora o narcisismo deste seja mais fácil de digerir, considerando a notoriedade internacional que conseguiu granjear, coisa que o advogado portuense alguma vez conseguirá nos seus escritos. 

Estranho para mim, foi ver Rui Moreira a fazer no JN a defesa de Miguel Veiga  sobre este caso de plágio só porque é amigo dele... Que diabo, o facto de Miguel Veiga dizer que não plagiou, de querer contrariar a decisão do tribunal e dela tencionar recorrer é tudo menos surpreendente. Todos, culpados e inocentes, costumam recorrer das sentenças, sobretudo os culpados e poderosos. O que surpreende é que a amizade comece a banalizar-se quando achamos que a devemos defender só porque o acusado é das nossas relações. Também nunca compreendi porque é que os "amigos" de Carlos Cruz achavam que ele estava inocente dos crimes de que era acusado só porque se tratava de um amigo. Eu, em situação idêntica, limitar-me-ia a deixar correr as investigações e a prestar-lhe a minha solidariedade como amigo em privado, se assim o entendesse. 

E é por ter simpatia e apreço por Rui Moreira que acho que estas 3 personagens não ligam todas lá muito bem. Entre Rui Rio e Miguel Veiga encontro muitas afinidades, já com Rui Moreira, só se forem as da porca da política, que tudo consegue, até criar amizades impossíveis.