20 julho, 2012

Pie Jesu - anna netrebko

Petição Pública

A PETIÇÃO PÚBLICA PELA REGIÃO AUTÓNOMA DO ALGARVE está online desde as 20:00 de 13 de Julho de 2012.

Recomendamos que a leiam, subscrevam caso concordem e que a divulguem neste mesmo sentido pelos vossos contactos.

http://tinyurl.com/pelaRegiaoAutonomaDoAlgarve

(excerto)

«no âmbito constitucional presente não está obviamente impossibilitada a criação de novos partidos, sendo até possível - hipótese que permanece em aberto - a criação de um partido regionalista português que integre, pura e simplesmente, todas as vontades e movimentos das regiões que se revejam nos mesmos princípios gerais da regionalização: não apenas os autonómicos, mas também os da regionalização administrativa, consoante o caso.
Somos claros e deixamos aqui uma pergunta apenas:
O que aconteceria à configuração eleitoral e aos partidos políticos actuais se tal acontecesse de leste a oeste e de norte a sul de Portugal, passando pelas actuais duas regiões autónomas?»
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antónio alves

18 julho, 2012

O Porto em 1912

O bispo que não se esconde

Manuel António Pina




O que o bispo D. Januário disse na TVI não foi, como clama o jornalismo de "soundbyte", que "este Governo é profundamente corrupto". Disse que "há jogos atrás da cortina, habilidades e corrupção, este Governo é profundamente corrupto nestas atitudes a que estamos a assistir". Há uma diferença essencial. E há uma desonestidade igualmente essencial quando se retiram da frase algumas palavras omitindo o resto.
Por coincidência, no mesmo dia o vice-presidente da Transparência Internacional afirmava que os envolvidos nas privatizações da EDP e da REN devem ser chamados a responder pelo que se terá passado "atrás da cortina". E, no dia anterior, fora noticiado que a PJ e o DCIAP fizeram buscas nos bancos ligados a essas privatizações, não decerto por estarem seguros de que tudo se terá passado sem as "habilidades" ou sem a "corrupção" de que fala o bispo.

A reacção do ministro Aguiar-Branco, tomando as dores dos "alguns" a quem D. Januário insistentemente se reporta, traiu-o: mandou o bispo escolher entre "ser bispo (...) e ser comentador político". O mesmo que Salazar queria que D. António Ferreira Gomes fizesse.

E imagino o que diria Aguiar-Branco se D. Januário também tivesse, como o bispo do Porto, condenado o "financismo 'à outrance'", o "economismo despótico", o "benefício dos grandes contra os pequenos", a "opressão dos pobres" e o "ciclo da miséria" hoje promovidos pelo Governo.

A ética dos sem ética

A questão sobre os valores éticos e sociais de determinada classe política está esgotada, ainda que prossiga pertinente. E está esgotada porque se esgota em si mesma e nas suas flagrantes contradições. Apesar disso, passados todos estes anos de liberdade pouco democrática, diga-se,  a verdade é que ainda ninguém foi capaz de arrancar a resposta.

Quando digo ninguém, é claro que só posso estar a referir-me à comunicação social, essa actividade de profissionais que tanto enfatizam a sua acção de serviço público mas que está longe de ser séria e completa. Até hoje, ainda não vi nenhum jornalista colocar questões verdadeiramente perturbantes aos defensores de um liberalismo que adjectiva a generosidade e a tolerância e que, por outro lado, substantiva o capitalismo mais retrógrado. Podemos dizer que a demagogia começa logo aqui. Mas há mais.

Num outro contexto, num Portugal com tradições verdadeiramente democráticas, habituado a respeitar os cidadãos, até concederia que D. Januário Torgal Ferreira se teria excedido nas palavras que dirigiu ao governo e a Passos Coelho. Só que o contexto não é, nem nunca foi esse. Se há coisa que os governantes têm feito e de forma compulsivamente ascendente, é desrespeitar quem lhes tem dado aval para governar. Estarei a exagerar? Não, não estou. O povo - que não é maioritariamente constituído por elites - sabe que não há exagero nenhum nisto e por isso diz [com razão] que os políticos são todos uns aldrabões. E se são de facto aldrabões, que moral têm eles para se melindrarem quando alguém com o prestígio de D. Januário lhes diz o que o povo pensa? Serão corruptos? Eu acho mais que sim do que não, é claro. Corresponderão porventura as fortunas que têm acumulado [e poupo-vos à maçada de os elencar]   ao trabalho produzido ao serviço do país? Não! Se houvesse correspondência justa mereciam pouco mais que o salário mínimo nacional... E alguns, só a cadeia.

Gostava de ver um jornalista perguntar a certos políticos coisas tão simples como isto: por que é que vocês se incomodam tanto com as críticas de uma pessoa prestigiada [como o bispo das F.A.], procurando logo aniquilá-la política e moralmente, e assobiam para o ar quando é o povo a fazê-las? Será por saberem que o povo está democraticamente desprovido de poder para ameaçar o vosso? Numa democracia sólida não seria suposto exercer o poder pelo, e para o povo? Por que o despeitam então com tanta evidência? Por que é que só o ouvem nas campanhas eleitorais? Por que é que lhes prometem coisas quando não sabem se as podem cumprir? Será que Passos Coelho não foi um aldrabão quando disse aos portugueses que não aumentava o IVA nem mexia nas reformas? Quem será afinal que está agora  a chefiar o governo, não é Passos Coelho? Será outra pessoa? Foi ou não ele o ALDRABÃO? Sabem o significado de aldrabão? Será falta de cultura, de memória, ou de vergonha? Ou será falta de tudo isso? Acham que pessoas que usam e abusam da mentira merecem respeito? Acham que merecem estar no poder quando outras talvez menos despudoradas estão na prisão?

Dificilmente teremos no nosso país [e noutros, diga-se], o gosto de ver levantar estas questões nem jornalistas com coragem para tanto, porque eles pactuam tacitamente com o regime. Tudo o que é popular é ditado por eles - e por políticos -, e o que é populista, também. Ora são cúmplices como são adversários, depende do sentido para onde se desloca o poder [dinheiro]. 

É por estas e outras, muitas, como estas, que tolero os excessos dos corajosos, dos que quebram as amarras ferrugentas do passado, como é o caso de D. Januário Torgal Ferreira, porque são uma lufada de ar fresco neste país de resignados, de gente curvada que passa a vida a orgulhar-se de futilidades ronaldianas e mourinhenses porque já perderam a própria dignidade. Não lutam.


17 julho, 2012

Abril foi queimado por salazaristas residuais, o resultado é o que vemos

Vasco Lourenço: poder foi tomado por "bando de mentirosos"
O capitão de Abril referiu este sábado que o poder foi tomado por um "bando de mentirosos", justificando a conclusão com um vídeo que "corre" na Internet com declarações de Passos Coelho que foram "renegadas" nos actos do Governo.


O presidente da Associação 25 de Abril falava aos jornalistas no final de um encontro que juntou cerca de um milhar de militares e que, por proposta das associações (de oficiais, de sargentos e de praças), foi decidido por maioria esmagadora promover uma concentração de protesto, dia 12 de Novembro, no Rossio, em Lisboa, contra as medidas de austeridade impostas pelo Governo aos portugueses e aos militares.

"Ao ver aquele vídeo, eu tenho que chegar à conclusão que são um bando de mentirosos, de mentirosos puros", declarou Vasco Lourenço, observando que, ao fazer o confronto entre o vídeo e a realidade, o primeiro-ministro "renega nos actos tudo aquilo que acabou de dizer há muito pouco tempo".

O militar de Abril disse ter visto o "vídeo" e ficado "absolutamente indignado" e "escandalizado", ironizando que se diziam que José Sócrates era o "Pinóquio", este primeiro-ministro comparado com ele "cuidado".

Nas palavras de Vasco Lourenço é "preciso desmascarar os indivíduos que ocupam o poder" e que "o estão a roubar", vincando que se "sente roubado".

O capitão de Abril lembrou ainda as recentes declarações do bispo das Forças Armadas, D. Januário Torgal Ferreira, de que o que se está a passar é "terrorismo puro".

D. Januário «profundamente chocado» com Passos Coelho

«Parecia que estava a ouvir um discurso de uma certa pessoa há 50 anos», disse o Bispo das Forças Armadas.

O Bispo das Forças Armadas disse estar «profundamente chocado» com o agradecimento de Pedro Passos Coelho à paciência dos portugueses em tempos de austeridade. Em entrevista à TSF, nesta quarta-feira, D. Januário Torgal Ferreira ficou com «vontade de pedir ao povo para sair à rua».

«Portugal não tem governo neste momento e vão uns certos senhores dar uma passeata num certo dia fazer propaganda tipo união nacional, de não saudosa memória, pelo país fora, a dizer que somos os melhores do mundo», começou por lamentar.

«No fim ainda aparece um senhor, que pelos vistos ocupa as funções de primeiro-ministro, dizendo um obrigado à profunda resignação de um povo tão dócil e tão bem amestrado que até merecia estar no Jardim Zoológico. Conclusão: parecia que estava a ouvir um discurso de uma certa pessoa há 50 anos», lamentou o bispo, acrescentando: «Estou profundamente chocado. Apetecia-me dizer: vamos todos hoje para a rua. Não vamos fazer tumultos, vamos fazer democracia.»

[Declarações do Bispo D.Torgal Ferreira à TVI24]

Comentário de RoP:

Se houvesse uma palavra para classificar esta cambada de indignados que agora vêem a público repudiar as declarações do Bispo das Forças Armadas eu saberia reproduzi-la, mas não há. Falar de hipocrisia já não diz nada. À força de tanto a usarem qualquer dia ainda lhe dão um estatuto sagrado...

Quem os ouve falar até parece que temos sido governados por gente idónea, sensata, capaz, séria! Mas, já sabemos que para eles o falso é sério, e vice-versa. É neles que eles querem que o povo acredite, nos que colaboraram e colaboram com esta palhaçada a que eles compreensivelmente chamam democracia.

Decididamente, deixei de acreditar nas revoluções com cravos. Os cravos não intimidam ninguém...



16 julho, 2012

A "vida fácil" dos outros




Os números são relativos a 2010, ainda antes do PEC 1, PEC 2 e PEC 3, do memorando da "troika" e do Governo PSD/CDS: 18% dos portugueses, segundo o INE, e 25,3%, segundo o Eurostat, estavam em "risco de pobreza", eufemismo estatístico que significa que viviam com menos de 421 euros/mês, ou seja, que eram pobres.

Entretanto, Passos Coelho chegou a primeiro-ministro, clamando que "os portugueses não podem suportar mais sacrifícios". Afinal, podiam: em pouco mais de um ano, o desemprego subiu de 10,8% para 15,2%, foram drasticamente reduzidas as prestações sociais, confiscados, contra todas as promessas eleitorais, os subsídios de férias e Natal a funcionários públicos e pensionistas e aumentado o IVA para 23%, subiram para valores incomportáveis as taxas moderadoras no SNS, reduziram-se até à irrelevância as deduções no IRS e IRC e as isenções no IMI, aumentaram brutalmente os transportes, a electricidade e o gás, despedir tornou-se fácil e barato, multiplicou-se o trabalho precário e sem direitos, regressou o trabalho infantil...

Hoje há 1,4 milhões de pensionistas a viver com menos de 500 euros/mês, 550 mil trabalhadores com 485 euros (431,6 após os descontos) e 416 mil desempregados não recebem subsídio de desemprego. Tudo isto, como explicou Cavaco Silva a um jornal holandês, porque foram "demasiado negligentes e estão hoje a sofrer as consequências de "uma vida fácil".