10 agosto, 2012

Os jornalistas e o poder

O professor Alfredo Barbosa [AB] publicou hoje no semanário Grande Porto um interessante artigo de opinião cuja leitura recomendo vivamente. Em poucas palavras, a crónica pode resumir-se a uma crítica realista e corajosa, dirigida aos partidos políticos do arco do poder, e também aos próprios jornalistas. Poder-me-ão dizer que considerar corajoso alguém, apenas por falar verdade e dizer aquilo que já todos sabemos, é um exagero, mas nos tempos que correm, em que as questões de carácter estão completamente subalternizadas pelas mais espúrias ambições, onde a subserviência ao poder económico transformou os jornalistas em autênticos títeres, penso tratar-se  já de uma questão de coragem. Pela razão inversa, não me parece excessivo tomar como cobardes os jornalistas [e não são poucos] a quem Alfredo Barbosa se quis referir sem precisar de mencionar nomes. Se não são cobardes, são excessivamente temerosos, o que vai dar no mesmo.

E é de medo exactamente que se trata e que está subjacente a todo o artigo de AB. À desonestidade dos políticos, AB chama-lhe "más" práticas governativas, quando se refere às relações de promiscuidade dos governantes com os órgãos de comunicação social do Estado.

Diz Alfredo Barbosa - com uma boa dose de ingenuidade, sublinhe-se - que a Troika tem andado distraída e sugere reduções aos já muito baixos salários dos portugueses, em vez de propor o fim do compadrio e da "cunha". Diz ainda, e com absoluto rigor: "para alguns situacionistas, o facto de alguém ter opinião crítica é suficiente para o afastamento de jornalistas e comentadores. Em casos excepcionais, deixam-nos andar desde que não pertençam à estrutura dirigente ou influenciem as agendas ou intervenham em movimentos fortemente contestatários, nomeadamente na sua liderança."

Só a constatação destes factos devia chegar e sobrar para justificar uma sublevação colectiva da classe jornalista, por atentar contra o exercício da própria profissão, contra a constituição e o direito à liberdade de informação

Mas pelo que se vê eles preferem salvaguardar o seu posto de trabalho a lutar pela democracia, contribuindo assim para manter os cidadãos mal informados e na ilusão de viverem num regime credível.