01 fevereiro, 2013

"O capitalismo na reabilitação do Bolhão"

No mesmo dia, no mesmo jornal – Público 29 de Janeiro de 2013 –, duas notícias que podem tudo ter a ver uma com a outra: “Reabilitação do Bolhão só terá verbas do QREN, se houver sobras” e “Se o Estado não tem dinheiro para a cultura, é preciso inventar saídas”. Na indisponibilidade de verbas do QREN, tudo indica que a Câmara do Porto irá seguir o seu “plano de lavagem da cara ao Bolhão”, com os 735 mil euros inscritos no Orçamento Camarário. A habitual política nortenha do “caldo verde”. Mas não há mesmo outras opções?

Num dos artigos acima referidos, das conclusões dos encontros internacionais de gestão cultural realizados a semana passada em Madrid, por não ser possível depender apenas do Estado para a criação artísticas: “… não há dinheiro mas existem ideias, fulcrais para que se inventem novas formas de financiamento, é possível continuar a criar, é possível ganhar dinheiro com a cultura, só é preciso descobrir como. Às vezes das formas mais inesperadas. Não existem fórmulas, há que arriscar” e um apelo à colaboração entre o Estado e o sector privado.

Esperar que o Estado seja a solução para os problemas começa a ser uma questão do passado, sendo a crise uma oportunidade de transição de um modelo obsoleto de financiamento para um modelo de colaboração. John Holden, professor de Política Cultural na City University of London, destaca a importância da revolução tecnológica, que deve ser vista como uma oportunidade: “… cada vez surgem meios alternativos para angariar fundos, como as plataformas de crowdfounding…, dado que as pessoas dão valor à cultura, como se pode ver pelos grandes museus, que estão sempre cheios, e os espectáculos e concertos tantas vezes esgotados”.

Regressando à nossa telenovela da reabilitação do Mercado do Bolhão, na falha da resposta pública, porque não a sua entrega directa aos cidadãos do Porto, em vez desta intermediação que não tem sabido dar respostas aos problemas? Os 20 milhões de euros poderiam ser objecto de uma oferta pública de subscrição de acções destinadas aos privados, aos cidadãos do Porto: 100 mil habitantes, investindo 20 euros cada, ou uma qualquer outra combinação, seriam suficientes. Isto mesmo, o mal amado capitalismo também pode dar boas respostas, como modelo popular de intervenção no financiamento de projectos, neste caso a reabilitação do imóvel.

Proponho a criação de uma sociedade municipal que integre o edifício do Mercado do Bolhão, que seria objecto de avaliação, e que depois proceda à entrada de novos pequenos accionistas, minoritários. Os resultados das rendas do espaço, definidas a partir de um valor fixo e de uma percentagem das vendas, tal como nos modelos de gestão dos centros comerciais, seriam afectos à remuneração dos capitais investidos, pela Câmara e pelos cidadãos. Uma parte substancial, afecta a programas de promoção e de animação turística da cidade, dado que a importância e a rentabilização de uma cidade passa pela sua promoção. E para isso é necessário que se aposte mais numa estratégia de marketing cultural e turístico.

“Não se pode esperar que nos resolvam os problemas, nós fazemos parte da solução”. É preciso renovar e inovar, os modelos antigos não são mais rentáveis nem fazem sentido.

José Ferraz Alves, Movimento Partido do Norte
(Extraído do blogue A Baixa do Porto]

31 janeiro, 2013

Se não há democracia, que haja um tsunami!

Terramoto de 1755
Pelo andar da carruagem, ainda veremos no supremo trono do poder, um assassino, ou mesmo um actor de filmes pornográficos. Se a memória para alguma coisa serve, não é caso para nos escandalizarmos, até porque há um vigarista e potencial assassino, em "prisão domicilária", que já foi deputado, que privou com o actual Presidente da República, mais toda a corja de deputados do PSD/CDS e ninguém parece incomodar-se com isso. 

Eles, os compagnons de route, não tugem nem mugem sobre estes exemplos de suprema elevação da nossa política. Deve ser por causa da velha "solidariedade" partidária, não é... Então, porque haviam eles de comprometer os amigos de carreira, mesmo tratando-se de escumalha humana da mais repelente, se podem pregar sermões moralistas ao povo, como se fossem meninos de coro, sem que o povo os possa impedir e repelir? É nesta "democracia" que eles acreditam, pudera! Dá-lhes jeito, claro...

Talvez, num remoto dia, tenhámos o prazer de ver chegar ao poder um Homem de outros tempos, íntegro, despojado de complexos populistas, avesso a modernidades decadentes, que consiga pôr em ordem esta lixeira em que se transformou a política. Mas, vai ter muitos obstáculos, porque os interesses instalados nas instituições mais poderosas do Estado e da sociedade, tratarão logo de o ridicularizar como procuram fazer com o bastonário Marinho e Pinto. Se as pessoas não fossem tão ingénuas, percebiam que não é Marinho Pinto o populista, o demagogo, mas sim os que o criticam. Só teme a verdade quem tem rabos de palha e está comprometido com este regime fétido. Pela parte que me toca, desconfio da honorabilidade de quem critica Marinho e Pinto, seja lá ele empresário, político ou magistrado. Ponho-me logo a pensar aonde terão eles rapinado o Estado e enriquecido? Não me ocorre pensar mais nada a seu respeito. Só desconfiança.

Talvez chegue esse dia, quem sabe? O dia em que o Líder reuna o plenário do partido para lhes dizer aquilo que eles não vão gostar de ouvir. De os obrigar a fazer opções. De não permitir que para além da política se dediquem a outros afazeres contrários aos interesses da própria política. De lhes dizer: ou política, ou actividade privada, ou política ou futebol. Só têm uma opção, as misturas não serão permitidas. 

Estão a ver algum político da actualidade com carácter e dimensão humana para tanto? Não estão, pois não? Eu também. Mas, sejamos optimistas, se não formos nós a livrarmo-nos desta escória, talvez um terramoto como o de 1755 os leve para longe de nós e possamos reconstruir uma nova sociedade. Quem me dera uma tragédia que os vitimasse a todos. Acho que ficava feliz.

Como os desprezo!

27 janeiro, 2013

Treta

Nunca imaginei que a transição do Estado Novo para a democracia implicasse um percurso tão longo, incerto, repleto de armadilhas e decepções. E ainda menos imaginei que decorridos 39 anos após o 25 de Abril, ia experimentar um sentimento misto de traição e ironia, sempre que pronuncio e escrevo a palavra democracia. Da mesma maneira calculei, que como nortenho e portuense, por alguma vez deixaria de acreditar na génese libertadora e combativa dos meus conterrâneos, se alguém ousasse pô-la em causa, com provocações e faltas de respeito. 

Pois foi exactamente isso que aconteceu, e, desta feita, as humilhações, os abusos à dignidade e à soberania nortenha, não vieram dos nossos vizinhos espanhóis, ou de uma nova réplica napoleónica invasora, vieram e continuam a vir, de Lisboa, da capital de um país que é o mesmo aonde o Norte pertence, e o viu nascer... Irónico, não é ? E tremendamente humilhante, também, para os nortenhos. Para todos, é verdade, mas com responsabilidade acrescida para os políticos e grandes empresários da região, que são os únicos que têm poder e capacidade de intervenção para impedirem os excessos e as discriminações com que nos têm "brindado". Acontece, é que alguns desses nortenhos influentes, além de co-responsáveis pelo surto hiper-centralista do Terreiro do Paço, são cumplíces, e desprezivelmente complacentes com o que se está a passar. 

Se o povo fosse como esses traidores dizem, se tivesse culpas directas no cartório pela situação miserável a que se chegou, era  sinal que o governo estava na rua, que era exactamente aquilo que eles tanto criticaram no PREC [Período Revolucuonário em Curso], com a esquerda mais extremista. Mas não foi isso que se passou. As eleições foram democráticas e os governos que desde então sempre tivemos, foram sempre partilhados alternadamente entre o PS e o PSD/CDS. É nestes grupos que se podem encontrar os traidores. O resto, é conversa.