15 agosto, 2013

As portagens não têm futuro

A maior parte dos leitores só costuma pagar classe 1 nas portagens. Se tivesse que pagar classe 2, 3 ou 4, não ia acreditar. Uma carrinha média, tipo Ford Transit, paga quase 150 euros em classe 2 para uma ida e volta do Porto ao Algarve. Junte-se o valor do gasóleo (vamos imaginar 10 litros aos 100) e os 1200 quilómetros custam 168 euros (a 1,40 euros). Ou seja, esta pequena viagem - à escala europeia - fica por mais de 300 euros. Que pequeno negócio vende produtos que consigam incorporar margens para estes custos? Que agricultura, pequena indústria ou turismo sobrevive a mais de 100 quilómetros de Lisboa e Porto? Como exportar se não há ferrovia e os barcos são demasiado grandes para encomendas das PME?

Do ponto de vista de transporte, ou de férias, Espanha é muito mais barata e pode atravessar-se quase totalmente em autoestrada sem portagens. O mesmo se passa com a França onde uma rede de estradas secundárias com duas faixas de cada lado permite viajar sem pagar. Os ingleses têm portagens apenas em Londres, a Bélgica e a Alemanha, por exemplo, não têm estes custos, assim como outros países concorrentes das nossas empresas.

Portugal está a fazer o contrário. Autoestradas com preços altíssimos e estradas nacionais, entupidas e perigosas, a onerar a manutenção da Estradas de Portugal (paga por todos os contribuintes) são um garrote à produtividade. Ninguém pode culpar a Brisa e a Ascendi (da Mota-Engil) e as outras detentoras de 120 PPP (parcerias público-privadas) rodoviárias de serem bem geridas, mas estas empresas representam um oligopólio de alta rentabilidade à custa da economia real e vão custar este ano 1750 milhões de euros. Ainda por cima atualizam as portagens sempre pelo valor da inflação, apesar da economia portuguesa já ter mingado quase 15% nos últimos anos. As SCUT são a repetição deste erro (preços altos, barreiras à circulação, custos absurdos para implantar os sistemas de pagamento) pelo país inteiro.

Uma parte da modernização do país esbarra nas portagens. Sócrates e agora Passos Coelho estabeleceram muitas medidas de racionalização de custos no país (concentração de especialidades hospitalares e de tribunais nos distritos, por exemplo). Mas esta 'centralização de meios' torna os custos da periferia ainda mais injustos.

Como resolver o problema sem aumentar os impostos? Seria necessário, provavelmente, antecipar o fim da concessão de autoestradas aos privados e substituí-las por uma alternativa de pagamento mais justa - uma pequena taxa no combustível com custo idêntico ao que hoje representam as portagens e a manutenção de todas as vias. Porque hoje o princípio do "utilizador-pagador" está a ser aplicado apenas às autoestradas, mas há uma rede nacional e municipal de estradas sem qualquer custo e intensamente usadas.

Um pequeno acréscimo sobre o combustível (as complexas contas dariam um artigo por si só), disseminado por muito mais gente, teria o efeito de não fazer pesar os custos das infraestruturas apenas sobre o interior ou sobre a economia que produz bens físicos. Assim baixava-se, e muito, o valor da circulação de pessoas e bens ao longo de todo o país (medida descentralizadora). As áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, onde está o principal rendimento nacional, eram chamadas a participar no valor das infraestruturas (incluindo as suas CRIL, IC19, VCI, grande avenidas e túneis), o que talvez diminuísse as filas e a poluição nas cidades.

Com combustível mais caro incentivava-se o uso mais intensivo dos transportes públicos (que assim diminuiriam o défice de exploração) ao mesmo tempo que se desincentivava o transporte individual nas cidades. Cada euro pago em transportes públicos vale por dois: um euro que abate ao défice dessas empresas e um euro que não vai para os produtores de petróleo.

O combustível representa 75% da fatura energética do país e a mobilidade dos portugueses (combustível, portagens, carro, seguros e sinistralidade) é já mais cara do que o custo médio com a própria habitação, segundo o Instituto Nacional de Estatística. Qualquer medida que ataque o centro deste problema nacional tem de ser equacionado sob pena de andarmos a fingir que mudamos alguma coisa na competitividade da economia e no equilíbrio da balança comercial. 


Nota de RoP:

Eis um excelente artigo para usar como reforço complementar inspirador no orgulho pátrio dos parolos que seguem a selecção de  futebol, como se vivessem no melhor país do mundo. Alguns, deles, pasme-se, são emigrantes. Que gente esta de masoquistas! Quanto mais lhes batem... 

14 agosto, 2013

FCPorto e estratégias

Há pelo menos duas coisas em comum entre o Porto Canal e os jogadores do FCPorto: têm contratos legais com o clube, e ambos precisam urgentemente de uma estratégia.

Começando pelo Porto Canal, é imperiosa uma maior cooperação entre clube e estação, de modo a minimizar a péssima imagem que esta vem dando nos últimos tempos, de falta de liderança e de programação. Mais que não seja, porque existe um acordo entre a MediaPro e o FCPorto para a aquisição completa do capital em 3 anos [o clube já detém 97%], além de um compromisso de fornecimento de programas durante 4 anos, facto que pode virar-se contra o clube, caso não se sejam tomadas atempadas precauções.

Por qualquer razão, talvez de ordem financeira, o Porto Canal não ata, nem desata. O que é lamentável, porque, admitindo que se trate apenas de uma situação passageira, tudo podia ser atenuado com uma política de comunicação mais próxima dos espectadores, de forma a evitar antipatias, inerentes duma gritante falta de respeito para com eles. É pois necessária uma estratégia, não apenas comunicacional, como programática, e procurar fugir o mais possível ao déjà vu medíocre das outras estações. Para isso, é muito importante saber, antecipadamente, se o "treinador", no caso o Director Geral, terá ou não, de facto, perfil para o cargo. De gajos "porreiros" está o jornalismo cheio... Aliás, em matéria de gestão, não é o clube que tem de aprender com o canal, mas talvez o contrário, isto, salvaguardando a especificidade de cada área. Daí, não me escandalizar um maior controle do FCPorto dentro do  Porto Canal.

Com os jogadores terá também de haver uma estratégia de comunicação e de pedagogia para fazer escola. Em cada nova época será necessário reunir todo o plantel e transmitir, sobretudo aos jogadores recém chegados, não só o histórico do clube, como um determinado tipo de regras a seguir religiosamente. Ou seja, lembrar-lhes que estabeleceram contratos com o clube, com vencimentos, prémios e prazos bem definidos, não sendo toleráveis comportamentos extemporâneos que possam comprometer a estabilidade desportiva e financeira do clube. Alertá-los para a importância de não se deixarem influenciar por empresários, nem com as notícias dos jornais, ou com as transferências, que são na maior parte das vezes falsas. Recomendar-lhes prudência nas redes sociais e aconselhá-los a não as usarem para falar da sua vida profissional e até mesmo privada, sob pena de poderem gerar problemas não só na sua própria carreira como para o clube. Acho mesmo, que nesse âmbito, podiam ser estabelecidas regras [comportamentais] passíveis de punição e coimas. 

Os clubes hoje, os principais, são sociedades anónimas, têm deveres laborais e fiscais, mas tal como os jogadores, também direitos. Os primeiros a quebrar as condições contratuais e os códigos de conduta terão de ser responsabilizados. Se nada for feito, tanto no caso do Porto Canal, como dos jogadores, estará instalada a bagunça, e daí à falência, o passo é muito curto.

PS-Não me passa sequer pela cabeça que no FCPorto não haja um código deontológico instalado, resta saber, é se disciplinarmente ele dará a cobertura devida a casos como os de Iturbe [que felizmente parece controlado] de Atsu, Rolando, e agora até Jackson Martinez. O que duvido é que a mensagem esteja a passar.

12 agosto, 2013

Almoços grátis?




A atual maioria PSD /CDS prepara-se para reduzir em 10% os montantes de todas as pensões do setor público. A medida, que estará inserida no tão propalado corte de quatro mil milhões de euros nas despesas do Estado (montante posteriormente reduzido para dois mil milhões), constitui um ato brutal contra quem trabalhou e descontou durante o período da vida ativa e que, chegado à velhice, acaba sendo alvo de um verdadeiro assalto aos seus rendimentos. Não está só em causa o princípio republicano da solidariedade, um dos valores matriciais de qualquer República Democrática (cfr. Artigo 1.o da Constituição). O que esta maioria se prepara para fazer constitui a negação dos mais elementares princípios do direito. Com essa medida, o PSD e o CDS retiram a milhares de idosos as condições de dignidade para o fim das suas vidas, pois com esse corte muitos idosos terão de reduzir ou eliminar despesas pessoais absolutamente essenciais à sua existência, tais como alimentação e medicamentos. Mas, com tal medida, o PSD e o CDS violam também, de forma acintosa, o contrato de cidadania que o Estado havia celebrado com os seus servidores, mediante o qual estes teriam, no fim da sua carreira contributiva, direito a uma pensão proporcional às respetivas contribuições. O PSD e o CDS, chegados ao poder, não só violam todas as promessas eleitorais que lhes permitiram precisamente alcançar o poder, fazendo justamente aquilo que em campanha eleitoral garantiram que nunca fariam, mas violam ainda as mais basilares regras jurídicas, já que, com uma pusilanimidade estonteante, rasgam os contratos vitalícios que o Estado havia celebrado. Tudo sem qualquer culpa dos prejudicados, com a exceção, porventura, de terem permitido que pessoas sem palavra e sem honradez política chegassem ao poder.



Mas, ao mesmo tempo que se preparam para cortar impiedosamente nas pensões dos aposentados, incluindo daqueles que auferem apenas algumas centenas de euros mensais, o PSD e o CDS propõem-se, com a mesma insensibilidade, isentar desses cortes magistrados e diplomatas, muitos dos quais auferem pensões superiores a cinco mil euros mensais. Trata-se da consagração, na nossa República Democrática, de um privilégio de casta que, numa sociedade decente, deveria envergonhar tanto quem o concede como quem o recebe. Um privilégio que, no caso dos magistrados, acrescerá a muitos outros verdadeiramente escandalosos, como subsídios de habitação a quem vive em casa própria, isenções de impostos, etc. Mas, como a cultura dos nossos magistrados é a de quem se julga acima dos simples mortais, tudo o que sabe a privilégios é sempre bem-vindo para eles.

Porém, como não há almoços grátis, a prebenda que o PSD e o CDS se preparam para oferecer aos magistrados deve ter, obviamente, por detrás, negociatas malcheirosas. Para além de poder constituir um aliciamento por parte de quem não tem a consciência tranquila e procura favores ou indulgências judiciais, ela não pode deixar de ser encarada como um prémio pelo contributo que os magistrados deram para desgastar o Governo anterior com processos vergonhosos, assim contribuindo também para antecipar a chegada ao poder do PSD e do CDS. Mas, por outro lado, ela surge não muito tempo depois de um dirigente do sindicato dos juízes ter insinuado publicamente que se os juízes portugueses tivessem de suportar os sacrifícios da crise como todos os outros cidadãos, eles poderiam deixar de ser independentes e, provavelmente - pensámos todos nós - corromper-se-iam e (pelo menos alguns) passariam a vender sentenças.

É claro que agora não faltarão os habituais magistrados papagaios tentando justificar essa ignomínia com os mais estúpidos argumentos (lembram-se daquele em que, além das férias de Natal e da Páscoa, se justificava a existência de dois meses de férias no verão para os magistrados trabalharem?). Mas isso só demonstra a conta em que eles têm os cidadãos desta República. Por mim, repito: nestas coisas (como em muitas outras da vida), não há almoços grátis, só faltando apurar o que os magistrados, sobretudo os juízes, darão em troca ao PSD e ao CDS, além do que já deram no passado recente.

11 agosto, 2013

Licá, um jogador à Porto? FCPorto 3 - Victória Sport Clube 0

Ainda é cedo para dar opiniões categóricas, foi só um troféu, mas muito importante, para início de época. 

A verdade é que gostei muito de ver o Licá a jogar. Não apenas por ter marcado o 1º. golo contra o Victória de Guimarães, numa jogada de fino recorte entre ele e Lucho Gonzalez. Acho que fazia falta ao FCPorto um jogador com as características de Licá. É rápido, tem grande mobilidade e gosta de galopar para a baliza.

A equipa esteve toda bem. Fucile parece rejuvenescido, Defour esteve muito bem, e o sector defensivo esteve sempre muito concentrado.

As equipas e os adeptos do Porto e do Guimarães souberam dignificar o espectáculo. Muito bom!