20 setembro, 2013

Que justiça é esta, senhores magistrados?

Para ampliar, clique sobre a imagem no botão esquerdo do rato, depois no direito em exibir imagem

Na edição de hoje do JN, onde extraí esta notícia, vinha igualmente publicado um inquérito do Centro de Estudos Sociais, feito a magistrados judiciais e do Ministério Público, sobre o que eles pensavam da reputação da Justiça aos olhos da opinião pública. Muitos assumiram que não era a melhor, mas responsabilizaram a comunicação social pelo facto.

Mesmo reconhecendo que a nossa comunicação social não é exemplar, que está longe de se poder orgulhar do serviço público que produz, é inadmissível que os juízes atirem para cima dos jornalistas a exclusividade das culpas pela má justiça que temos. Os juízes, como diz, com razão, Marinho e Pinto, pararam no tempo da outra senhora. Sendo órgãos superiores do poder, deviam exigir dos seus pares um nível de justiça muito mais elevado, condizente com o prestígio que deviam ter, e que agora sentem que perderam.

Governantes e presidentes da República, também têm culpas no cartório, porque durante estes 39 anos de democracia foram incapazes de intervir usando da famosa magistratura de influência em casos como os do artigo acima publicado, podendo assim evitar que temas desta natureza afogassem os tribunais de processos sustentados em invejas e boatos. Por exemplo, processos como o Apito Dourado e as escutas, que deram azo a toda a espécie de especulações, a discriminações pessoais e regionais, tendo o FCPorto e os clubes nortenhos como epicentro, resultaram no ostracismo socio-económico de que hoje a região padece, quando podiam ser reprimidos com um simples  "raspanete" dos órgãos de soberania atrás referidos.

Há inúmeros exemplos que indiciam a falta de elevação dos Chefes de Estado e dos governantes das últimas décadas. Sempre se notabilizaram pela lei do menor esforço, pelo não me comprometam, aliando-se preguiçosamente a supostas maiorias como almofadas de conforto, sem se incomodarem com as fracturas regionais que a sua indolência pudesse originar. O caso aqui noticiado é paradigmático da negligência desses órgãos de soberania e do péssimo "funcionamento" dos tribunais. 

O crime de difamação do Presidente do Benfica praticado na RTP [a tal do serviço público], contra a integridade da pessoa do vice-Presidente do FCPorto, Antero Henrique, prova como em Portugal é possível a determinado tipo de pessoas* brincar com a Justiça [e com os senhores magistrados], e fazer as acusações mais indecorosas que é possível imaginar, sem que o acusador seja julgado e punido em tempo útil. O processo de Antero Henrique a Vieira foi levantado em 2005, já lá vão 8 anos, mais precisamente, 2.920 dias [sem os bi-sextos], 70.800 horas. E o arguido não compareceu mais uma vez em tribunal...

Afinal, a quem querem os senhores magistrados enganar? A eles próprios? Será assim possível medir o respeito da Justiça pelos cidadãos? Por que não esquecem o sindicalismo da classe colocando-se ao nível do simples operário? É imperativo saber ser digno do estatuto que outrora já tiveram. É um crime destruir os alicerces da democracia, como são, e sempre foram, a JUSTIÇA!

* Vale e Azevedo - curiosamente, também ex-presidente do Benfica -, não só escarneceu com a justiça como vexou todos os que a representam.  Foi preso em 2001, mas em 2008 fugiu para Londres onde viveu como um nababo, voltando a ser detido apenas em fins de 2012. 

Ninguém duvidará da celeridade desta mesma "justiça" se a provocação e a desobediência tivesse partido de um cidadão desconhecido, mesmo que muito honrado.

19 setembro, 2013

FCPorto na Champions. Uma estreia muito pobre

Quando alguém tem um objectivo, e o consegue alcançar com maior ou menor dificuldade, e se atrás desse mesmo objectivo existem outros candidatos que não o conseguem, é injusto negar-lhe competências. Mas, se esse objectivo for mesclado de outras mais valias, como o empenho, a inteligencia, a concentração e [porque não dizê-lo] e espectacularidade, o reconhecimento é total, e inegável. Refiro-me, claro, ao futebol e aos homens cuja principal tarefa é levar os clubes ao topo mais alto das competições: os treinadores.

Falando de treinadores, ontem não pude deixar de me lembrar de Victor Pereira por se encaixar no primeiro quadro que acima apresentei, porque conseguiu atingir um dos principais objectivos que foi a conquista sem brilho do Campeonato, mas falhou outros. O futebol, repito, é fantasia, é técnica, é táctica e estratégia, mas perde muito do seu interesse se o espectáculo não for garantido. Ontem, foi Paulo Fonseca que esteve ao leme da equipa e aquilo que vi fez-me lembrar o pior de Victor Pereira.

Se houve coisa que me animou nos jogos da pré-época, da Taça, e nos primeiros do campeonato, foi a mobilidade dos jogadores. Ontem, foi exactamente o contrário. A equipa apresentou-se apática, nervosa, esqueceu-se de pressionar alto e jogou desorganizada. Os laterais não subiam, tornando os avançados como Licá e Varela, completamente inofensivos. Ao "esquecer-se" de pressionar como costuma, a equipa do FCP deu muito espaço ao adversário, aumentando as dificuldades no sector defensivo, onde atletas normalmente assertivos nos tempos de entrada, pareciam baratas tontas à procura da bola. Às vezes apetece-me dar razão ao Miguel Sousa Tavares que, como se sabe, exagera nas críticas que lhe faz, mas Varela põe-se a jeito. Licá, também não existiu, e Jackson ligou o complicómetro que Varela lhe emprestou... Jackson, vai marcando, mas está lento, quase irreconhecível. 

Há dois aspectos que no nosso futebol me causam estranheza desde há muitos anos, que são, em primeiro lugar a incapacidade quase absoluta para chutar de primeira, e a cisma em quererem dar muitos toques na bola antes de a passarem ao companheiro perdendo imensas oportunidades para surpreenderem os adversários. Será assim tão complicado alterar isto? Não sei que razões objectivas poderão estar por detrás desta mania, mas é uma realidade. Basta olharmos para os nossos vizinhos de Espanha, para vermos como sabem fazer do remate pronto e da rapidez um argumento importante nos seus movimentos ofensivos  [isto, já para não falar de Inglaterra]. Em alta competição, não nos podemos dar ao luxo de ignorar tais argumentos, caso contrário, e a jogar como (não) jogamos ontem, corremos o risco de um dia ser vexados. Cuidado!

Estou convicto que o jogo de ontem foi apenas um dia mau, apesar do bom resultado, mas a segunda parte do jogo com o Gil Vicente também não deu para perceber. Foi miserável. De Paulo Fonseca espera-se muito mais, não pode permitir que a intermitência passe a ser a imagem de marca do FCPorto. O espectáculo tem de ser salvaguardado. E os resultados também. Não confundo nunca, o futebol com ópera, porque confundí-los é já uma aberração intelectual. Por isso, não me falem de ópera, sim?     

17 setembro, 2013

O candidato Luís Filipe Menezes

Luís Filipe Menezes foi um autarca despesista, é verdade. Mas foi também o único que tirou Vila Nova de Gaia do estigma de cidade/dormitório em que viveu durante dezenas de anos. Tão "cidade dormitório" como é certo o esquecimento geral do nome dos presidentes da Câmara que o antecederam. Reconhecer isto, não é concordar com excessos de gestão ou com a acumulação de dívidas. Sucede, é que quando o próprio Governo, além de mau pagador, é hiper-centralista e usurpador de fundos destinados a outras regiões para os entregar à gorda capital, desaparece a legitimidade para criticar um autarca que usa o mesmo expediente no desenvolvimento da sua cidade. Neste contexto, não me repugna mesmo nada a política do "olho por olho, dente por dente", caso contrário, o que fica para a história, é um presidente submisso, cinzentão, e improlífero, como foi Rui Rio.

Mas não foi em obediência à política do "olho por olho" que LFM endividou a Câmara de Gaia. Foi porque sabe quão importante era para a cidade [e também para si próprio], apresentar obra útil [e não me refiro às rotundas e aos jardins-infantis]. É indiscutível que a cidade de Gaia e toda a região envolvente, mudou para melhor, desde que LFM chegou à câmara. Se falarmos na marginal esquerda do Douro e a compararmos com a antiga, ou até com a margem direita, sabemos ver a diferença. Assim como o próprio teleférico, a reabilitação de toda a costa marítima até Espinho e respectiva higienização de águas, e areias. A instalação do Corte Inglês na cidade contribuiu também para criar uma nova centralidade no grande Porto. Os recintos desportivos foram também obra sua não despicienda. Enfim, pode-se dizer  que em termos de dinamismo, de interacção com a cidade, com mais ou menos demagogia, LFMenezes apresentou "serviço" válido. De Rui Rio, só herdamos truculência, problemas, e uma gestão de mercearia, poupadinha. Mas as corridas de popós que patrocinou, vieram destoar o seu discurso economicista. A intensidade da indignação com a promiscuidade entre a política e o desporto foi débil, matando-lhe a credibilidade, porque afinal, ficamos a saber que era tudo uma questão de preferências desportivas...

Resumindo, LFMenezes podia ser um interessante candidato ao Porto se, tivesse respeitado a memória do povo. Tal como agora, antes de chegar a líder efémero do PSD, Menezes fartou-se de bramir pela causa da regionalização,  para logo a meter no baú das promessas demagógicas assim que chegou ao topo da pirâmide. Agora, convencido [com certa razão, diga-se] que a memória do povo é fraca, volta a pegar na mesma bandeira, juntamente com um grupo de colunáveis, auto-intitulados "Forças Vivas". Menezes, e as suas "ilustres" Forças Vivas [sem qualquer ambição eleitoralista, é claro], anunciam agora que vão lutar contra o centralismo na distribuição de fundos comunitários... 

Sua Exa. descobriu agora que [cito]: «podemos estar a caminhar no sentido da mimetização de um centralismo insuportável, que tem história em Portugal na gestão dos fundos comunitários, prejudicando o Porto e o Norte sempre de forma incrível». «Temos de ser muito rápidos a reunir as Forças Vivas da cidade e da região e ir a Lisboa dizer que temos direito a fundos comunitários». Se ele o diz, é porque o vai fazer. Quando, é que mais difícil... Até aqui, andou muito desmemoriado e com a voz doente... As artroses nas mãos também o impossibilitaram de enviar umas missivas anti-centralistas ao Passos Coelho. Sejamos pois compreensivos...

As Forças Vivas constituem uma equipa de peso de notáveis "regionalistas", ou não fizessem dela parte nomes como Américo Amorim, Ilídio Pinho, Manuel Violas, Miguel Cadilhe e Joaquim Azevedo. Até cansava ouví-los falar do centralismo, sobretudo quando iam a Lisboa. Imaginem que de repente ficaram preocupados com a situação da RTP/Porto. É que a RTP/Porto, como todos sabemos, era a voz fiável do Norte, sempre muito defensora da regionalização que  sempre lutou pela sua autonomia... Os funcionários vão ser despedidos? Têm o que merecem. Afinal, não foram mais do que a voz do dono do centralismo. A RTP é o canal mais centralista de todos os canais. Por isso, como portuense e nortenho essa causa não me comove. Inventem outra!

Se votasse no Porto antes de Menezes chegar a líder do PSD teria votado nele. Mas ele estragou-me a intenção. Traiu-me quando chegou ao poleiro que sempre almejou, e por muito mérito que lhe reconheça jamais lhe perdoaria a afronta. Só confio uma vez. Mas, sei, conheço bem este povo, as suas ancestrais tendências servilistas, e sei que também ele me vai trair, e que mesmo assim Menezes vai ser Presidente da Câmara do Porto. Se quando lá chegar voltar a meter a viola no saco, quer dizer, se mandar às malvas o tema da regionalização, não digam que eu não avisei. Se a mediocridade se instalou na política, é porque os eleitores não são menos medíocres.