03 outubro, 2013

O FCPorto de Paulo Fonseca

Já sabemos que Portugal é um dos países com pior nível de vida da Europa, que é o país mais desigual da Europa e que por essa razão tem dificuldades acrescidas para lutar em pé de igualdade com todos os outros países, em quase todas as áreas. O futebol é uma dessas áreas, e o FCPorto o clube que em Portugal mais êxitos tem alcançado no confronto com clubes de países economicamente mais poderosos. Tudo isto é verdade, tudo isto nos honra como portistas, embora nos vexe como  portugueses.

Sendo  isto uma realidade,  torna-se difícil, quase criminoso, imaginar que neste clube de excepção fica alguma coisa por fazer em matéria de organização. Então para o adepto portista a coisa fica ainda mais difícil.

Serve o prólogo para dizer, que pese embora os bons resultados alcançados com a sua famosa política de contratações [de jogadores e treinadores], de comprar barato, fazer evoluir, e vender caro, o FCPorto podia fazer ainda melhor. Épocas há, que com esta cuidada gestão estratégica, consegue juntar aos bons resultados, boas exibições, quando consegue construir um plantel, técnica e psicologicamente equilibrado. Mas outras há, que não o consegue, e quando assim é, os riscos de fracassar aumentam exponencialmente. Se a isto associarmos a contratação de treinadores novos, sem grande experiência, vindos de clubes economicamente mais frágeis e com outros níveis de exigência, os riscos aumentam ainda mais, sobretudo quando  falámos das competições europeias.

O último jogo para a Champions revelou duas coisas. Que o FCPorto ainda não está preparado física e psicologicamente para jogar ao mais alto nível os 90 minutos regulamentares. Que continua a ter no seu plantel alguns jogadores bipolares, que ora fazem coisas extraordinárias como de repente desatam a embrulhar-se com a bola, a complicar, a passar mal, e a entregar repetidamente a bola ao adversário. Basta um só jogador entrar nesta espiral de desconcentração para contagiar todos os outros e colocarmos em dúvida a qualidade do plantel.

Já no tempo de Victor Pereira me perguntava por que é que isto acontecia e se não era possível recuperar estes jogadores para prestações mais consistentes. Nestes casos, qual é o papel do treinador? Fala com eles, ouve-os, corrige-os nos treinos, repreende-os, ajuda-os a ultrapassar as deficiências, aperfeiçoa-lhes os movimentos, as desmarcações, ensina-lhes as várias opções do remate, a qualidade/velocidade do passe? Ou, opta por uma estratégia mais conservadora aceitando naturalmente as limitações próprias de cada jogador?  Será que os treinadores portugueses só percebem de estratégia e de métodos de treino por catálogo? É assim, e mais nada?

Antigamente, quando alguns treinos eram abertos ao público, ainda era possível observar os processos de treino dos técnicos, mas agora só podemos mesmo imaginar [a culpa não é nossa...]. O saudoso Boby Robson podia não ser um colosso em matéria de estratégia, mas era fantástico a treinar os movimentos de ataque, os cruzamentos e sobretudo o remate, que é coisa que actualmente parece intimidar certos jogadores.

Estas especulações, não fariam sentido para mim, e suponho que também para a maioria dos portistas, se não estivéssemos preocupados com o comportamento bipolar da equipa. Parece não estar preparada para jogar 90 minutos com a mesma concentração e empenho. Essa, não é a cultura competitiva do Porto. O que é que estará a falhar? 

Resta-nos acreditar que a lendária capacidade do nosso clube para ultrapassar dificuldades faça jus à tradição. Mas o Paulo Fonseca tem de ajudar...

30 setembro, 2013

A minha opinião sobre a victória de Rui Moreira

Como disse em post anterior, se votasse no Porto e se não fosse o apoio de Rui Rio [e de outras figuras públicas] à candidatura de Rui Moreira, teria votado nele. 

Ao contrário da avaliação de Marinho Pinto [artigo JN ] não creio que Rui Rio também tenha saído vencedor destas eleições, embora compreenda essa leitura. Penso assim, porque estou convencido que até o eleitorado afecto a Rui Rio, se fosse hoje, não voltava a querê-lo na Câmara do Porto. E por quê? Porque Rui Rio, gozando embora da fama exagerada de pessoa idónea e contida em gastos, fez muito pouco pelo Porto. Desprezou a cultura, desprezou o desporto [excepto as corridas de automóveis], afrontou o FCPorto [talvez a Instituição que mais visibilidade dá à cidade], não resolveu o problema do Bolhão, adulterou a génese do Mercado do Bom Sucesso, não reabilitou expressivamente a urbe do centro do Porto e, para resumir, tornou a cidade num antro indecente de sujidade. É manifestamente  pouco para 12 anos como autarca...

Por estas razões e muitas outras que me escuso agora recordar, acho que o grande vencedor foi a pessoa de Rui Moreira e não o apoio da figura de Rui Rio. E o grande perdedor foi sem dúvida o Partido Social Democrata, ou melhor, o Governo, ou melhor, Pedro Passos Colelho.

Não aprecio autarcas despesistas, mas não seria por isso que negaria o meu voto a L.Filipe Menezes, porque mudou completamente Gaia e para melhor. Como já disse, não lhe perdoei a renúncia à Regionalização imediatamente a seguir a tomar o comando do PSD. Para além disso, Rui Moreira fez uma campanha pautada pela discrição, não prometeu mundos e fundos, e desde há tempos que apoia a Regionalização.

Rui Moreira tem portanto agora uma oportunidade de oiro para fazer a diferença e mostrar o que vale como político, mas também como Homem. Para mim, à frente de qualquer distinção social, profissional, militar ou política, está o Homem, a força da sua honradez e da sua competência.

Se Rui Moreira cometer a ingenuidade de seguir a cartilha de alguns dos seus apoiantes que tem consistido sempre na abdicação da Regionalização, mal alcançam o poder, fundamentando as viragens na inoportunidade temporal [a eterna desculpa dos falsos regionalistas], provocará uma grave machadada na sua credibilidade e entrará irremediavelmente no clube dos "são todos iguais". Portanto, aqui fica o aviso. Parabéns e boa sorte. 

Tem a palavra Rui Moreira.

Ainda sobre as eleições:  

Abstenção em 2013:  
47,26%, 
a mais alta desde 2001...

http://www.publico.pt/multimedia/video/o-porto-foi-um-laboratorio-politico-do-pais-20130929-235339

Viva o Porto!





As duas principais câmaras municipais do país deram sinais bastante diferentes (quase diria contraditórios) nas eleições autárquicas de ontem. Enquanto o Porto, numa votação que só surpreendeu quem não conhece as suas gentes, recusou claramente o clientelismo partidário e os profissionais da política, elegendo um empresário independente com provas dadas fora da política, Lisboa, pelo contrário, optou, também de forma clara, por um político profissional do bloco central dos interesses e dos negócios. António Costa é de facto o grande vencedor na Câmara da capital, mas a sua vitória tem um sabor amargo, pois os resultados nacionais impedem-no, para já, de realizar os voos para os quais ele já anda a bater as asas há algum tempo. É que, tendo em conta todas as manobras, intrigas e conspirações que se vinham realizando contra a direção nacional do PS, a verdadeira vitória de Costa seria um mau resultado nacional do seu partido, que lhe permitisse avançar como alternativa à atual liderança, em termos de disputar as eleições as legislativas de 2015 como candidato a primeiro-ministro. Os grandes derrotados destas autárquicas são, assim, não só o PSD e Pedro Passos Coelho, mas também aqueles que dentro do PS se preparavam para um xeque-mate a António José Seguro. Outro grande derrotado, a confirmarem-se as tendências existentes à hora em que escrevo estas linhas, é Alberto João Jardim e o PSD Madeira, que perde várias câmaras municipais. Jardim deveria saber que quem não sabe sair a tempo, pelo seu próprio pé, pode acabar por ter de sair aos empurrões. 

Os grandes triunfos individuais são os de António José Seguro (que vence na frente externa contra o PSD e o Governo e na frente interna contra quem se preparava para o substituir na liderança do PS) e Rui Rio que viu claramente sufragada pelo povo do Porto a sua política para a cidade. Esta vitória de Rio vai inevitavelmente gerar uma dinâmica política que o poderá catapultar para outros voos, até porque ela é, em certa medida, sinalagmática da derrota do Governo e da atual liderança do PSD. No plano estritamente partidário, a vitória é da Esquerda, ou seja, do PS e da CDU, e a derrota é da Direita, principalmente do PSD e do Governo.

Curiosamente, o PSD ganhou as eleições naqueles municípios que o Governo mais tem desprezado, em alguns dos quais, inclusivamente, se prepara para encerrar os respetivos tribunais. Oxalá esse PSD profundo consiga impor-se aos betinhos e betinhas de Lisboa que proliferam no Governo.
 

29 setembro, 2013

A gala dos 120 anos e o Museu do FCPorto



Como já aqui referi, apesar do resultado positivo de sexta-feira passada, o FCPorto fez uma exibição para esquecer e não repetir.  Mas no sábado o nosso magnífico clube proporcionou-nos várias alegrias. A primeira, foi indiscutivelmente a inauguração do Museu, a modernidade e grandiosidade do projecto, tendo em Antero Henrique e toda a equipa de colaboradores, os principais responsáveis[parabéns!]. Se a perfeição existisse, quase me arriscaria dizer que se trata da perfeição em forma de Museu Desportivo, passe o exagero. Além disto, que já não é pouco, louve-se o profissionalismo do Director Desportivo do Porto Canal, Rui Cequeira, ocasionalmente investido no papel de "cicerone", que desempenhou exemplarmente. 

Acompanhei o evento pela televisão mas deu para perceber que só depois de várias visitas ao museu será possível ter uma ideia precisa e abrangente sobre o mesmo. Mesmo assim, suponho que ninguém poderá negar a qualidade da obra.

A segunda alegria foi a cerimónia da entrega dos Dragões de Ouro e dos 120 anos do clube. Melhorou consideravelmente em relação à festa do ano passado. Houve humor - que é uma coisa a que dou muito apreço -, originalidade [gostei dos trajes à século XIX alusivos à data de fundação do clube], e muito em particular da ligação histórica estabelecida entre o Porto cidade e o Porto clube, os traços em comum, brilhantemente apresentada pelo historiador Joel Cleto.

Mas o momento da noite foi o discurso emocionado e improvisado de Pinto da Costa, o discurso de um líder na acepção da palavra. Naquela casa respira-se liderança, além da competência, que é algo raro em Portugal, sobretudo se falarmos de política, de políticos e de governos. Por isso, não deixa de me causar alguma estupefacção saber que há determinado grupo de "portistas" mais preocupados em criticar a gestão do clube, do que em defendê-lo dos nossos adversários. 

Há ainda quem acredite no paraíso, tanto numa grande empresa como num grande clube, como é o FCPorto. Isso não existe em lado nenhum. O que existe é o sucesso ou o fracasso. Onde há sucesso há dinheiro, onde há dinheiro há emprego, onde  há liderança a ciumeira amansa-se. Mas aonde é que não há ciumeira? Apesar disso, sinceramente, sinto que há mais inveja de fora para dentro, do que o contrário. Há por aí muito melro, convencido que elogiar Pinto da Costa é perder a sua independência, o seu poder crítico. Esquecem-se que criticar uma gestão de sucesso, desportiva e financeiramente, uma estrutura como o FCPorto é ignorar as imensas dificuldades que é preciso ultrapassar para a bem administrar. Para a criticar com seriedade então mais vale participar regularmente nas Assembleias Gerais do Clube e aí expor abertamente as preocupações.  

Só espero é que o Porto Canal siga o exemplo e não desista de lutar por uma televisão verdadeiramente original. E original, não é propriamente copiar o que se faz noutros sítios, com outras caras. É fazer diferente, é fazer útil, é fazer melhor.