22 fevereiro, 2014

As infelizes declarações de Paulo Fonseca

«Agora, o F. C. Porto vira as atenções para o duelo deste domingo com o Estoril e Paulo Fonseca tem uma certeza: "Todos nós sabemos que o Estoril é uma excelente equipa e o último jogo demonstrou bem isso. São muito perigosos no contra-ataque e esperamos jogo complicado".»

Paulo Fonseca é a confusão em forma de treinador. Além de se enganar frequentemente no nome dos adversários (o que é lamentável),  trata-os a todos por igual, mas não da forma mais correcta, que seria respeitá-los sem os sobrevalorizar. Assim, ao contrário do que provavelmente pensa, não está a respeitá-los, está a vulgarizá-los por cima, o que não parece sério. A excelência com a qual cobre equipas como o Marítimo, Académica, Setúbal, Nacional, Frankfurt Eintracht, é tão inadequada como desproporcionada face ao valor real de cada equipa. E mais. Os elogios exagerados podem provocar nos seus jogadores um sentimento de medo e inferioridade, esse sim, altamente injusto para eles, sobretudo para alguns que já foram campeões e contra equipas, essas sim, poderosas. Não será isso que deixam transparecer em cada jogo, mesmo quando jogam um bocadinho melhor e têm vantagem no marcador?  Não haverá alguém no FCPorto que lhe saiba transmitir isto sem o melindrar?

Para ler o artigo do JN completo, clicar aqui




21 fevereiro, 2014

Abaixo a praxe!

ACABAR JÁ COM ESTE ERRO ANTES QUE FIQUE MUITO CARO

O acordo ortográfico é uma decisão política e como tal deve ser tratado. Não é uma decisão técnica sobre a melhor forma de escrever português, não é uma adaptação da língua escrita à língua falada, não é uma melhoria que alguém exigisse do português escrito, não é um instrumento de cultura e criação.

É um acto político falhado na área da política externa, cujas consequências serão gravosas principalmente para Portugal e para a sua identidade como casa-mãe da língua portuguesa. Porque, o que mostra a história das vicissitudes de um acordo que ninguém deseja, fora os governantes portugueses, é que vamos ficar sozinhos a arcar com as consequências dele.
O acordo vai a par do crescimento facilitista da ignorância, da destruição da memória e da história, de que a ortografia é um elemento fundamental, a que assistimos todos os dias. E como os nossos governantes, salvo raras excepções, pensam em inglês “economês”, detestam as humanidades, e gostam de modas simples e modernices, estão bem como estão e deixam as coisas andar, sem saber nem convicção.

O mais espantoso é que muitos do que atacaram o “eduquês” imponham este português pidgin, infantil e rudimentar, mais próximo da linguagem dos sms, e que nem sequer serve para aquilo que as línguas de contacto servem, comunicar. Ninguém que saiba escrever em português o quer usar, e é por isso que quase todos os escritores de relevo da língua portuguesa, sejam nacionais, brasileiros, angolanos ou moçambicanos, e muitas das principais personalidades que têm intervenção pública por via da escrita, se recusam a usá-lo. As notas de pé de página de jornais explicando que, “por vontade do autor”, não se aplicam ao seu texto as regras da nova ortografia são um bom atestado de como a escrita “viva” se recusa a usar o acordo. E escritores, pensadores, cronistas, jornalistas e outros recusam-no com uma veemência na negação que devia obrigar a pensar e reconsiderar.

Se voltarmos ao lugar-comum em que se transformou a frase pessoana de que a “minha pátria é a língua portuguesa”, o acordo é um acto antipatriótico, de consequências nulas no melhor dos casos para as boas intenções dos seus proponentes, e de consequências negativas para a nossa cultura antiga, um dos poucos esteios a que nos podemos agarrar no meio desta rasoira do saber, do pensar, do falar e do escrever, que é o nosso quotidiano.

Aos políticos que decidiram implementá-lo à força e “obrigar” tudo e todos ao acordo, de Santana Lopes a Cavaco Silva, de Sócrates a Passos Coelho, e aos linguistas e professores que os assessoraram, comportando-se como tecnocratas – algo que também se pode ter do lado das humanidades, normalmente com uma militância mais agressiva até porque menos "técnicas" são as decisões –, há que lembrar a frase de Weber que sempre defendi como devendo ser inscrita a fogo nas cabeças de todos os políticos: a maioria das suas acções tem o resultado exactamente oposto às intenções. O acordo ortográfico é um excelente exemplo, morto pelo  “ruído” do mundo. O acordo ortográfico nas suas intenções proclamadas de servir para criar uma norma do português escrito, de Brasília a Díli, passando por Lisboa pelo caminho, acabou por se tornar irritante nas relações com a lusofonia, suscitando uma reacção ao paternalismo de querer obrigar a escrita desses países a uma norma definida por alguns linguistas e professores de Lisboa e Coimbra.

O problema é que sobra para nós, os aplicantes solitários da ortografia do acordo. O acordo, cuja validade na ordem jurídica nacional é contestável, que nenhum outro país aprovou e vários explicitamente rejeitaram, só à força vai poder ser aplicado. A notícia recente de que, nas provas – que acabaram por não se realizar – para os professores contratados, um dos elementos de avaliação era não cometerem erros de ortografia segundo a norma do acordo mostra como ele só pode ser imposto porDiktat, como suprema forma de uma engenharia política que só o facto de não se querer dar o braço a torcer explica não ser mudado.

Porém, começa a haver um outro problema: os custos de insistirem no acordo. A inércia é cara e no caso do acordo todos os dias fica mais cara. A ideia dos seus defensores é criar um facto consumado o mais depressa possível. É esta a única força que joga a favor do acordo, a inércia que mantém as coisas como estão e que implica custos para o nosso défice educativo e cultural.

É o caso dos nossos editores de livros escolares que começaram a produzir manuais conforme o acordo e que naturalmente querem ser ressarcidos dos seus gastos. Mas ainda não é um problema insuperável e, acima de tudo, não é um argumento. Passado um período de transição, pode voltar-se rapidamente à norma ortográfica vigente e colocar o acordo na gaveta das asneiras de Estado, junto com as PPP e os contratos swaps, e muita da “má despesa”. Porque será isso que o acordo será, se não se atalhar de imediato os seus estragos no domínio cultural.

O erro, insisto, foi no domínio da nossa política externa com os países de língua portuguesa, e esse erro é hoje mais do que evidente: os brasileiros, em nome de cuja norma ortográfica foram introduzidas muitas das alterações no português escrito em Portugal, nunca mostraram qualquer entusiasmo com o acordo e hoje encontram todos os pretextos para adiar a sua aplicação. No Brasil já houve vozes suficientes e autorizadas para negar qualquer validade a tal acordo e qualquer utilidade na sua aplicação. Os brasileiros que têm um português dinâmico, capaz de absorver estrangeirismos e gerar neologismos com pernas para andar muito depressa, sabem que o seu “português” será o mais falado, mas têm a sensatez de não o considerar a norma.

Nós aqui seguimos a luta perdida dos franceses para a sua língua falada e escrita, também uma antiga língua imperial hoje em decadência. Querem, usando o poder político e o Estado, manter uma norma rígida para a sua língua para lhe dar uma dimensão mundial que já teve e hoje não tem. Num combate insensato contra o facto de o inglês se ter tornado a língua franca universal, legislam tudo e mais alguma coisa, no limite do autoritarismo cultural, não só para protegerem as suas “indústrias” culturais, como para “defender” o francês do Canadá ao Taiti. Mas como duvido que alguém que queira obter resultados procure no Google por “logiciel”, em vez de “software”, ou “ordinateur”, em vez de “computer”, este é um combate perdido.

Está na hora de acabar com o acordo ortográfico de vez e voltarmos a nossa atenção e escassos recursos para outros lados onde melhor se defende o português, como por exemplo não deixar fechar cursos sobre cursos de Português nalgumas das mais prestigiadas universidades do mundo, ter disponível um corpo da literatura portuguesa em livro, incentivar a criatividade em português ou de portugueses e promover a língua pela qualidade dos seus falantes e das suas obras. Tenho dificuldade em conceber que quem escreve aspeto – o quê? – em vez de aspecto, em português de Portugal, o possa fazer.

José Pacheco Pereira

[Fonte: Blogue Abrupto]


Nota de RoP:

Pacheco Pereira tem algumas semelhanças com Miguel Sousa Tavares. Quando falam de coisas alheias ao futebol acertam muitas vezes e com distinção.

20 fevereiro, 2014

Os media gostam é de marionetes

Para os media o bom espectador tem de ser assim
Podem estar certos que não vivo obcecado com nada, nem com ninguém. Nas análises que faço neste blogue a enfase recai por ordem crescente de prioridades em três assuntos: política, comunicação social e F.C.Porto. Todos eles, girando à volta de dois : a cidade do Porto e o FCPorto.

Acontece que, contrariamente a determinados analistas avençados, não faço apreciações abstractas, e muito menos técnicas, porque isso já há gente demais a fazer. Faço-as à minha maneira, sem nunca esquecer que por detrás dessas temáticas existem organismos, instituições e pessoas. Sendo identificáveis - e como não gosto de hipocrisia -, coloco-lhes os nomes, que é a única forma de lhes transmitir uma coisa da qual procuram fugir como diabo da cruz: a responsabilidade.

Falo assim porque, quando episodicamente considero justo e oportuno louvar alguém, todos (incluindo os visados), acham bem e até aplaudem, mas quando faço o contrário, quando critico, inspirado pelas contradições e mesmo pelas faltas de carácter dos próprios visados, então aí a coisa muda de figura, e de pessoa correcta e sensata, passo num ápice a ter todos os defeitos da humanidade, e o português (que tento escrever o melhor que sei) passa de repente a ser uma língua difícil de interpretar. É normal, dir-me-ão, mas é errado.

Tal como os políticos, os jornalistas não gostam que lhes apontem o dedo. Tudo vai bem quando são eles a fazê-lo, de preferência, em regime de monopólio. Eles, podem mentir, brincar, maldizer, insultar, insinuar, ofender, conspirar, ameaçar, manipular, que tudo, tudo mesmo, é em nome da liberdade e do interesse público. Com o resto dos cidadãos já não é bem assim.

Esquecem-se, é que foram eles quem escolheu o métier e que ambos (política e jornalismo) implicam uma grande exposição pública, o que os devia obrigar a cuidados redobrados, quer com aquilo que prometem, como com o que escrevem. Mas isso, não é para os próximos tempos. Vivemos a era da estupidez global, das Casas dos Segredos e dos Big Brothers, o petróleo da comunicação social dos novos tempos. Alterar estes hábitos vai levar muitos anos, e se as escolas e os encarregados de educação não começarem a fazê-lo não são os media que o farão.

19 fevereiro, 2014

Um Porto cheio de contradições

Aeroporto Sá Carneiro de novo no pódio europeu

Pois é, o Porto está na moda, enquanto cá dentro é tratado como filho bastardo, até por alguns portuenses, lá fora o olhar sobre a nossa cidade é bem mais amigo. 

Mesmo assim, é uma realidade que não deixa de me intrigar. É que, com todas estas honrarias ainda não fomos capazes de as estender ao povo do Porto. Ainda ontem presenciei com tristeza uma mulher de cabelos brancos tentando dormir na rua, mal agasalhada, muito próxima de uma poça de água, à saida do Supermercado Froiz na Trindade, com o segurança a tentar removê-la do local... 

Deste Porto não gosto.

Os truques do costume

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Nota: Artigo extraído do Jornal de Notícias

17 fevereiro, 2014

Mude-se o paradigma da importância

O que pode dar este homem ao Norte?

É fácil aderir às causas quando a maré é favorável. Nessas circunstâncias, qualquer sevandija imita o nobre, tal como o sendeiro parece um cavalo de raça. Lamentavelmente, é mais este, que outro, o comportamento de um grande número de "lutadores" de marés. Pesssoas que ironicamente pertencem na sua maioria a grupos sociais tidos como os mais "relevantes". Políticos, grandes empresários e jornalistas predominam, constituindo-se como os maiores entraves ao refinamento da democracia.

Não direi que a "maré" da descentralização tenha chegado aos media nacionais, porque lá para a capital continuam a não ligar nada ao assunto, e então se lhes falarmos de regionalização, reagem como se viéssemos de um planeta estranho e falássemos uma língua diferente. Para Lisboa, esses dois temas, (descentralizar e regionalizar), são ambivalentes. Por um lado, funcionam como um alarme, do tipo "estes gajos afinal não dormem",  e por outro, como um súbito sentimento de patriotismo normalmente ligado à "coesão" nacional. Naturalmente que, esse sentimento de coesão é tão falso e acintoso como a indiferença com que olham para a discriminação promovida ao resto do país, com mais evidência a Norte.

É verdade que muitos nortenhos das classes que indiquei (e não só), são responsáveis pela macrocefalia crescente de Lisboa, mas também ainda não vi nenhum lisboeta incomodar-se com a situação. Há quem ache isso normal, quem diga que quem está bem com o que tem não queira mudanças, mas se é normal, então talvez ficasse bem não se melindrarem quando associamos o centralismo aos lisboetas, porque se quisessem provar que confundimos as coisas, talvez surtisse algum efeito mostrarem alguma solidariedade connosco . Só assim teria eco a tal coesão nacional só evocada quando o fantasma da regionalização paira no ar...  Até hoje, ainda não vi um só lisboeta assumidamente regionalista. O que vejo, sobretudo nos políticos, é a tal assunção regionalista de marés. 

Ninguém pode negar a verdade do que atrás escrevi. Contudo, o Porto e o Norte, tendo uma boa oportunidade para mudar esse rumo desvirtuado de fazer política, dispondo agora de um canal de televisão pró-descentralização, parece não querer aproveitar a oportunidade para mostrar como se pode fazer jornalismo sério, nacional e competente, sem plagiar o déjà-vu que se faz na capital do país.

É incompreensívelmente provinciano acreditar que o prestígio de um canal de tv se ganha com a cooperação de derrotados, só porque são famosos, em vez de procurá-lo entre gente credível, com carácter e sem rabos de palha. Fosse minha a responsabilidade, o Porto Canal daria protagoismo a figuras com futuro, nunca àquelas com um passado cinzento, sem êxitos verdadeiramente relevantes para a região (o país não é Lisboa).  E, principalmente fecharia as portas a quem se sabe, ou se suspeita ser apologista do centralismo. Isto para alguns, até poderia parecer anti-democrático (pareceria mesmo?), mas continuar a dar voz a quem nos prejudicou seria repetir novo erro, seria regredir, era uma verdadeira pedra na engrenagem no processo descentralizador. O tempo dos debates sobre o tema já se esgotou. Quem for nortenho, e se depois de tantos anos de discriminação ainda tiver dúvidas sobre a necessidade de combater o centralismo, ou é tolo, ou vive na Lua, ou por qualquer razão anómala não quer mesmo que as coisas mudem.

Historicamente, o medo munca foi o melhor aliado dos vencedores.

PS-Há jornalistas e políticos honestos, mas são uma minoria facilmente identificável.