01 novembro, 2014

O espetáculo deprimente da Justiça

Paula Ferreira
São apontados como responsáveis pelo crash que deixou 44 dias os tribunais portugueses moribundos: um especialista em Ciência Política, outro em Marketing. Paula Teixeira da Cruz encontrou os rostos que, parece acreditar a ministra da Justiça, diminuem a sua responsabilidade política. As notícias vindas agora a público devem dar que pensar. O Estado, esse pequeno monstro que para tudo pede pareceres, cria grupos de trabalho e comissões pagas a preços de ouro - dizem até ser essa uma das explicações por que a despesa pública não emagrece - entregou a um indivíduo, que entrou na PJ como segurança e, em dois anos, ascendeu à direção do Departamento de Arquitetura de Sistemas do Instituto de Gestão Financeira e Equipamentos da Justiça, a gestão do sistema informático do Ministério da Justiça.











Bem pode Paula Teixeira da Cruz usar a velha fórmula de pedir que a Justiça investigue e daí lavar as mãos. Antes disso, a senhora ministra deve uma explicação ao país, aos cidadãos. Esta novela leva já episódios em demasia e cada um mais deprimente que o anterior.
Deixem a Justiça investigar. Se de facto houve sabotagem, como Paula Teixeira da Cruz deu a entender, é muito grave. Todavia, antes de a Justiça chegar a alguma conclusão, a ministra, ou alguém por ela, tratou de crucificar várias vítimas. A Procuradoria-Geral da República há de chegar a alguma conclusão - no limite, arquiva o caso. As responsabilidades políticas são outra coisa: nesse campo, esta ministra não tem tido limites para as chutar para canto.
No mesmo dia em que os rostos do colapso do Ministério da Justiça foram conhecidos, o JN relata mais um episódio de um outro crash. Nas escolas portuguesas, há alunos ainda sem aulas: há professores colocados de manhã e descolocados ao final da tarde.
Nádia Bastos, docente do primeiro ciclo, recebeu um e-mail a colocá-la no agrupamento de escolas de Carnide. A viver em Ermesinde, no concelho de Valongo, preparava-se para mudar para Lisboa com as duas filhas de três e cinco anos. Mulher prevenida, decidiu ligar primeiro para a escola. Poupou a viagem: pois a vaga já estava preenchida. A confirmação chegou mais tarde, novamente por e-mail, com um pedido de desculpa da Direção-Geral da Administração Escolar para que desconsiderasse o mail anterior. Era um erro informático.
É caso para perguntar quem serão os técnicos informáticos contratados pelo Ministério da Educação. Se o Ministério da Justiça escolheu um antigo segurança, licenciado em Ciência Política, e um especialista em marketing, sem qualquer formação em Informática, que razões teria o Ministério de Nuno Crato para não fazer o mesmo?                                                                                                                    
(do JN)


29 outubro, 2014

Uma gala sem sal nem pimenta. Chôcha!


Espero não surpreender ninguém se passar a falar menos de política e dos políticos. A paciência tem limites.

Se a política em si mesma nunca gozou de boa reputação, se anda justa e lendariamente associada ao mundo fétido das pocilgas, os políticos, por sua vez, pelo seu comodismo, por falta de brio, ou por mera incompetência, vão continuar naturalmente a ser comparados aos suínos que as habitam. Se não arriscam mais de si mesmos, se não querem comprometer-se a sério com os cidadãos além de verbalizar processos de intenções, que prometer para convencer o eleitorado, é porque não se importam muito de continuar a viver sob o estigma do curral. Nesse caso, por mim, podem esperar sentados, jamais lhes darei o meu voto. E podem à vontade tornar o voto obrigatório, que a minha decisão está tomada.  

Não é por acaso que os cidadãos tendem a concentrar-se no futebol e a afastar-se  da política. Os portistas, por efeito das muitas alegrias causadas pelos sucessos desportivos do clube nos últimos anos, em contra-ponto com o desprezo que os políticos têm lançado ao FCPorto e à cidade, acabaram por canalizar para o clube todas as expectativas, dado já não esperarem nada de positivo dos governantes. Pessoalmente, não perco um segundo a ouvir Passos Coelhos, Cavacos, Sócrates, Barrosos, Constâncios,  e toda a súcia que os rodeia, porque já interiorizei que nada de sério e importante pode sair daquelas bocas. E tenho a certeza que não estou errado. Por isso, prefiro falar do FCPorto.

Assisti a mais uma Gala dos Dragões de Ouro, e não gostei do que vi. Exceptuando a entrega dos troféus aos atletas e colaboradores, acho que em relação a anos anteriores a qualidade do espectáculo piorou. Os humoristas convidados não tinham piada nenhuma, e os cantores (rappers e fadistas) não tinham grande interesse. O único de jeito foi Jorge Palma (eu gosto), mas mesmo ele não esteve brilhante naquele "concentrado" minimalista de canções. A acústica não ajudou, e o público também não.  

Além disso, há efectivamente um aburguesamento instalado na estrutura dirigente do clube (não serão eles que contagiam o público?). Falta alguém - que não é Júlio Magalhães seguramente - que perceba alguma coisa de espectáculos daquela natureza, que transmita mais leveza e naturalidade ao evento. E falta essencialmente público que seja capaz de aportar mais  calor, vivacidade, alegria e espontaneidade ao ambiente. Há demasiado formalismo na entrega dos troféus, e tempos demasiado longos de silêncio. Curiosamente, ou talvez não, sempre o silêncio... 

Por que será que este clima não me espanta? Talvez por ser pública e notória a incapacidade do FCPorto encontrar alguém que perceba realmente de comunicação e saiba organizar eventos de carácter festivo, e não de espectáculos a lembrar outro tipo de cerimónias. Júlio Magalhães é um locutor de televisão, não tem tarimba de criativo. Aliás, nem sei porque foi ele o apresentador da cerimónia quando tinha no Porto Canal gente mais habilitada para a tarefa (mulheres, sobretudo!).

Sobre organização, no ambito do clube propriamente dito, o FCPorto dá cartas. Na comunicação, ainda não. E faz muita falta.

PS-Esqueci-me de citar a gafe mais grave em termos de televisão: a falta de pontualidade. O início do espectáculo propriamente dito estava anunciado para as 21H30, começou perto das 22H00. No Porto Canal isto é recorrente.

27 outubro, 2014

De que estás à espera Porto Canal?

Pinto da Costa perdeu a língua?

Não fosse a nossa memória, podíamos admitir - não sem estranheza, sublinhe-se - que o silêncio a que os dirigentes do FCPorto se submeteram, particularmente o seu presidente, se devia a uma qualquer estratégia inacessível às mentes mais simplórias.

Acontece que ainda temos memória, e o que ela tem para nos recordar para além das grandes victórias do FCPorto, é que Jorge Nuno Pinto da Costa, aquele presidente que os adeptos se habituaram a admirar, que nunca se furtou a falar à comunicação social sempre que percebia que o nosso clube estava a ser ostensivamente prejudicado pelas arbitragens parece outra pessoa.

Agora, que estamos mais que nunca a ser afectados por arbitragens desastrosas, de modo sistemático, jogo após jogo, e de forma escandalosa, com o consequente prejuízo na classificação do Campeonato Nacional, Pinto da Costa e a respectiva direcção, não dizem uma palavra! O que se passa? Estarão agora com medo? De quê, podemos saber? Estarão mal de saúde? Será esta mudez uma estratégia? A mim, até se me põem os cabêlos em pé só de imaginar que possa ser uma estratégia, porque por mais astúcia que reconheça ao líder portista, não vislumbro nesta indiferença, neste laissez faire laissez passer, nada que possa contribuir para uma boa gestão na carreira da equipa principal.

Ainda se vivéssemos num país de gente séria, de líderes políticos honrados e fiáveis, com um Presidente da República corajoso e interventivo, talvez pudesse admitir que salvaguardadas as respectivas provas, conseguíssemos rectificar a classificação geral e acertar as contas no fim do campeonato. Mas nós não vivemos nesse país. Estamos em Portugal, numa terra onde a palavra orgulho perdeu toda a expressividade e que apenas serve para ornar a carcaça dos gangsters que nos têm desgovernado. Para eles, que não sofrem na pele a voragem da "crise", faz sentido despertar o orgulho pátrio com ninharias, porque eles sabem muito bem o que fizeram de mal para o surripar da nossa alma. Por isso, pergunto: para que serve um Porto Canal ao FCPorto se não lhe devolve a voz que tivemos no passado sem ele? 

Pela enésima vez digo, que não me anda a agradar nada esta passividade dos dirigentes do FCPorto. Isto de responder em campo, ganhando, é muito bonito mas não resulta eternamente, porque as forças em causa são cada vez mais desiguais. Além de que, é profundamente injusto, desumano mesmo, exigir dos jogadores e do treinador do FCPorto performances que eles não podem dar. Com rotatividade, ou com ideias fixas, mais ou menos ortodoxas, o treinador só pode fazer o que lhe é possível, não tem capacidade para jogar contra equipas de arbitragens preparadas para, com maior ou menor subtileza, negar ao nosso clube faltas a seu favor, ou para as marcar deliberadamente contra. Não é nada, não é nada, mas os penálties são mesmo para marcar, quando e sempre que eles existem, não podem ficar condicionadas a caprichos de árbitros despudorados, quando toda a gente vê claramente o que eles fingem não ver.


Com este silêncio incompreensível, os inimigos do FCPorto e do seu presidente, podem bem concluir que a passividade de Pinto da Costa é o resultado e uma consequência do Processo Apito Dourado, que apesar de o ter inocentado perante os tribunais civis, conseguiu, ainda assim, um feito importante: silenciar o Presidente.