27 março, 2015

FCPorto, sempre curto, sempre atrasado


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Não escondo a ninguém o meu desagrado com o modo como o Pinto da Costa da actualidade tem dirigido o FCPorto, e tem gerido a sua (não) relação com os adeptos. Ultimamente, remete-se ao silêncio quando se esperava que falasse, e fala quando podia estar calado. Diga-se o que se disser, Pinto da Costa não é o mesmo. Não é por acaso que o Porto Canal é uma nódoa no que à informação diz respeito. Comete erros de palmatória, técnicos e de comunicação, como o FCPorto dos últimos tempos.

Não vai muito tempo, escrevi vários artigos sobre o Porto Canal, e - para meu desgosto - não foi pelas melhores razões. Foi para alertar para algum laxismo que se estava a instalar e sobretudo para a falta de criatividade dos seus responsáveis directos. Ao mesmo tempo, e uma vez que o FCPorto era (diziam) seu proprietário, estendia as críticas à aparente indiferença dos responsáveis do clube com o que se estava a passar no Porto Canal.

Há cerca de 3 anos, os jornais, incluindo o JN, anunciavam a compra pelo FCPorto de 97% do capital  da Media Luso (do grupo espanhol Mediapro), prevista para Janeiro de 2012. Esta notícia nunca foi desmentida. A partir daí, nunca mais soubemos ao certo como andavam as coisas. Nem o Porto Canal, nem o FCPorto, tiveram o cuidado de informar o universo portista do que se estava a passar, o que, como é normal nestas condições, deu aso a todo o tipo de especulações. Nunca ouvi o Presidente Pinto da Costa dizer nada de concreto sobre uma ideia de projecto para o Porto Canal. Apenas trivialidades. Coisas como: "será um canal para o Porto e para o Norte, com particular destaque para as regiões". De concreto, ficamos a saber que não seria um canal exclusivamente desportivo, mas antes um misto de generalista e desportivo. E foi tudo.

Hoje, tanto o JN, como o Porto Canal, publicitaram a entrevista que Pinto da Costa deu ao jornal do clube, e que será transmitida logo à noite. Pelo pouco que pude saber, trata-se de mais do mesmo, redundâncias. A realidade, é que já não condiz com o que foi  propagado anteriormente, que o FCPorto era quase dono do PCanal. Agora sabe-se, que há uma nuance em relação ao que o JN escreveu em 2011, ou seja, que afinal os espanhóis da Mediapro ainda eram proprietários do Porto Canal, e só agora (ler aqui) é que o FCPorto (FCP-Media) deterá cerca de 70% do capital, 20% para a Mediapro, e  o restante das acções serão para algumas empresas nortenhas. 

Quanto ao conteúdo, nada de novo. Banalidades. Será, "um canal para a região nortenha e contra o centralismo" (palavras de Pinto da Costa). Para mim, e até prova em contrário, isto é palha, pois nada de verdadeiramente novo foi dito. Não há um projecto, um sinal que seja que indicie uma profunda remodelação, uma linha de rumo, uma substância. Se zelar pela região fôr manter programas com nome apelativo, mas sem conteúdo, e sem verdadeiro interesse público, como o "Parlamento das Regiões", que é pura intriga política, estamos conversados. 

Pinto da Costa tem razão para arrasar Fernando Gomes, actual presidente da FPF, mas talvez fosse mais útil para o clube que atacasse o toiro pelos cornos, isto é, que já tivesse alertado a Comissão de Arbitragem da dita cuja federação para a pouca vergonha das arbitragens que nos custaram pelo menos 6 pontos na tabela classificativa.

Por isso, não espero logo à noite qualquer surpresa na entrevista de Pinto da Costa. Como já tenho vindo a dizer, este, não é o senhor Jorge Nuno Pinto da Costa que me habituei a admirar. Este, rendeu-se ao triste papel de corta-fitas.    


25 março, 2015

Meu Porto, meu Douro, minha região, e o resto...

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Grande Douro
A moda é efémera, por isso, é bom não nos entusiasmarmos demais com ela. Mas que culpa temos nós se o Porto, o Norte e o Douro não páram de ser notícia. Seria caso para desconfiar, se fossemos nós próprios a "inventar" tanta e boa notícia. Por este andar, Passos Coelho, condicionado que é, intelectualmente, ainda pensa que estamos todos ricos, e vem cá roubar-nos a Casa da Música, Serralves e o Estádio do Dragão...

Na moda, ou fora dela, a verdade é que, ou tenho andado muito distraído, ou nunca vi tanto entusiasmo vindo do exterior com Lisboa, como tenho visto com o Porto.

Hoje, foi só mais uma dessas notícias. O JN noticiou aqui, que os passeios de barco no Douro foram considerados pelo jornal on-line norte americano The Huffington Post, dos 8 melhores da Europa. E ainda bem, digo eu. É que, se em vez da Europa fosse do País, às tantas já tínhamos os lisboetas e o seu Tejo à perna, tratando a notícia como mais um sinal de bairrismo bacôco.

Os gostos não se discutem, diz-se. Sou tão suspeito por gostar da minha cidade e da região onde nasci, como um lisboeta é por gostar de Lisboa e da Estremadura. No entanto, não é por gostar da minha cidade, mais que qualquer outra, dentro e fora do país, que me sinto inibido de gostar de outras. Prefiro cidades pequenas, como Viana do Castelo, Braga, Barcelos, Vila do Conde, ou mesmo Esposende. Guimarães tem um antiquíssimo centro histórico, mas tem um senão para mim: parece uma cidade fechada em si própria. Lá fora, só para falar do país vizinho, prefiro Barcelona a Madrid, embora neste caso ache a capital espanhola também muito bonita, com um pequeno senão em relação à Catalunha: falta-lhe o mar.

Como os gostos não se discutem, ninguém pode levar a mal se disser que de Lisboa só aprecio algumas coisas (como a Rua Rodrigo da Fonseca onde vivi, na zona pombalina), mas a cidade no seu todo não me entusiasma, e gosto muito pouco da região onde está plantada. Em seu redor, os lisboetas só têm a aristocrática Sintra (onde também vivi, de 1974 a 76) para regalar os olhos, e mais além, a saloia Mafra com o seu imponente mosteiro. Até nisso, a região do Porto é diferente. Não é preciso percorrer muitos quilómetros, quer a norte, como a sul, para em pouco tempo, estarmos em Monção, na região do Alvarinho, ou um pouco mais a sul na Bairrada, a terra do verdadeiro leitão (nunca o de Negrais). O Porto desfruta de si próprio, mas também da frescura bucólica típica da região, que torna qualquer viagem aprazível, quer se rume ao Minho, quer serpenteando as encostas xistosas do magnífico Douro plantadas de vinhedos deslumbrantes. Amar o Porto é também amar o Norte, e todas as suas cidades, e pessoas.

Há outra coisa que não ajuda Lisboa a ser mais apreciada, que é ser uma capital onde se concentram o maior número de provincianos por metro quadrado, em que os piores de todos, são precisamente aqueles que abandonaram as suas terras para ganharem a vida e delas quase se esqueceram com medo de serem socialmente discriminados.

Lisboa, é sobrevalorizada pelos que lá estão, e pelos que lá estando, não são de lá. Lisboa, é o centralismo. Abusiva e poeticamente, alguém se lembrou de a baptizar como a cidade-luz, adulterando o cliché e a fama atribuída a Paris. Não nasceu centralista, mas cresceu mentalizada para essa vocação, e os que de lá nos desgovernam, achando isso pouco, tudo têm feito para obliterar o crescimento do resto do país, e ofuscar quem possa tirar-lhe o brilho. Lisboa, tem complexos de inferioridade em relação ao Porto, não o contrário. Por isso, tenta amordaçá-lo, política, económica e desportivamente. O FCPorto que o diga, e os responsáveis pela comunicação social do país que o confirmem, se ainda tiverem um pingo de dignidade. Lisboa, é como uma única foz, onde obrigatoriamente têm de desaguar todos os rios do país.

Ainda bem que a Natureza fala mais alto que o centralismo de Lisboa, num português correcto  e bem mais patriótico...

PS-Para que não sobrem dúvidas, Lisboa, é também a gente que lá vive. Sendo alguns meros cidadãos, pacíficos, e sem responsabilidades políticas, nem por isso se lhes ouviu a voz para contestar a discriminação feita ao resto do país... Tal como alguns portuenses, aliás. Só com uma pequena grande diferença: o Poder está em Lisboa.
     

24 março, 2015

Cavaco Silva, barra BES

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Parece um presidente? De quê?

Se alguém disser, escrever, berrar, acusar até, que Cavaco Silva é cúmplice, por omissão, pelos maus tratos infligidos pelo Governo  à população, estará porventura a fazer algo indevido, a desrespeitar Sua Exa.?

Se alguém, porque confiou na palavra do Presidente da República, depositou e investiu nos Bancos (BES) as suas economias, e que passado algum tempo ficou despojado das mesmas, poderá afirmar, sem cair no ridículo, que o PR alguma vez usou da magistratura de influência para sugerir ao Banco de Portugal a reposição dos valores subtraídos? Não, não pode, bem pelo contrário!

Cavaco, induziu os depositantes em erro quando disse que (sic), "os portugueses podiam confiar no BES". Cavaco, é tão intelectualmente limitado, que ao proferir essas palavras estava a dizer aos portugueses (e aí sim, com sabedoria) que não podiam confiar no homem, nem no Presidente da República...

Cavaco é duplamente cúmplice e irresponsável: primeiro, porque influenciou, e segundo porque se demitiu de responsabilizar quem o influenciou a ele. Mas há ainda um terceiro grau de irresponsabilidade: decorridas todas estas peripécias, nem mesmo assim Cavaco foi capaz de abrir a boca para se redimir das suas leviandades perante os cidadãos

Ainda que mal pergunte: e agora, senhor Cavaco? Teria V. Exa. coragem para consentir a prisão dos depositantes se amanhã decidissem eles assaltar o BES? Teria sim, senhor, digo eu! A coragem dos fracos. Porque para decisões dessa "grandeza" nem é preciso ser corajoso!

23 março, 2015

Democracia, "por vezes num segundo se evolam tantos anos"

Talvez estejamos no mais baixo ponto de funcionamento da nossa democracia. Será a ausência do grande reformador o mais sério sintoma, presságio, de uma perturbação funcional da democracia?

1. Por vezes, a democracia também falha...
O processo de selecção da democracia deveria conduzir à escolha dos melhores. Por vezes, porém, conduz à escolha dos piores. Por vezes, a democracia escolhe pessoas que não prestam. Como é que a democracia nem sempre distingue, a tempo, e não segrega, os políticos de pouca diligência, de débil carácter, por vezes o puro sacana e velhaco, por vezes o venal? Para mim, isto é quase um mistério.
A democracia deveria ter mecanismos de alerta, e tem, mas funcionam mal e tarde. E por vezes, a democracia afasta os melhores e flagela o mérito, a honra, a rectidão. Por vezes, a democracia guia-se mais pelas belas palavras do que pelas boas ideias.
E, por vezes, fecha os olhos ao nepotismo, oportunismo, facilitismo, e a outras formas de corrupção intelectual ou material.
Por vezes, a democracia embarca em erros e omissões que nos desestruturam, por muitos anos. Por exemplo, tivemos a opção de uma entrada desproporcionada na moeda única. Foi logo no início dos anos 90, quando iniciámos as etapas da "convergência nominal". Escrevi então várias vezes, como outros fizeram, sobre as nefastas e longas consequências da opção, mas em vão.
Por vezes, a democracia tolera perigosos desvios à ética da responsabilidade de políticos que estão no topo das funções do Estado. Por exemplo, um dos maiores erros dos presidentes da República foi aquele, de 2004, em que o PR concordou que a democracia fosse subalternizada, diria, humilhada, pelo primeiro-ministro que trocou o seu lugar democraticamente eleito pelo lugar de chefe dos eurocratas.
Noutro campo, já não por vezes, mas em predomínio, a democracia cultiva o centralismo e está de costas voltadas para o bom princípio da subsidiariedade política. Somos um dos países de finanças públicas mais centralizadas de toda a UE. Ora, foi sob o manto deste centralismo que ocorreu o histórico colapso das nossas finanças públicas.

2. Por vezes, a democracia não equaciona "fins e meios"...
Por vezes, a democracia entra em negação e recusa ver a realidade. O exemplo mais flagrante é o da dimensão do Estado e da sua sustentabilidade, ou, por outras palavras, a questão dos "fins" e dos "meios". Há dez anos escrevi um livro sobre isto e dizia que o abismo estava perto, se não se fizesse a reforma estrutural do Estado. Debalde. O desabamento das finanças públicas e a troika surgiram em 2011, e a austeridade instalou-se por uns anos, que ainda não acabaram. Hoje, o nosso esforço fiscal é dos mais severos da Europa. Mesmo assim, a dívida pública está elevadíssima, porque, na implacável questão dos "fins" e dos "meios", estes são sistematicamente inferiores àqueles.
Percorri a constituição em busca da racionalidade dos "meios", mas nada. A democracia e a constituição sobrecarregam o Estado de "fins" e funções mas, no outro prato da balança que é o das finanças públicas, não encontramos uma única palavra sobre a temperança dos "meios".
Além disso, por vezes, a democracia convive com monstruosidades do despesismo, como certas obras em auto-estradas demasiado densas, ou certos equipamentos militares de motivação duvidosa, ou o enorme "défice tarifário" das energias, ou a extravagância de diversas PPP, etc. Por vezes, a democracia abre portas a "negócios públicos" que são péssima afectação de recursos do Estado e, pior, são plausível fonte de corrupção ao mais alto nível.

3. Por vezes, a democracia é tardia...
Regressemos ao início deste escrito. A qualidade das pessoas que andam na política conta muito. Todavia, penso que precisamos de subir bastante mais a montanha e tentar avistar lá de cima o que se passa. Já não é o político A ou B quem avistamos, já não é um Passos ou um Costa, pessoas de bem, o que mais importa. O problema essencial está acima disso.
O que está em causa é a democracia. Como sistema de sistemas(sistema de governo e de separação de poderes; sistema de mais ou menos presidencialismo; sistema eleitoral e sistema de partidos; sistema de instituições da República, etc.). Comoorganização e superestrutura, como rede de forças endógenas, como esfera de relações e escolhas, de poderes e contra-poderes. Como conceito e matriz constitucional. Como funçãoestabilizadora, mas, por vezes, capaz de destabilizar as coisas a fim de as re-estabilizar noutro equilíbrio...
Não vou falar em eficiência no sentido económico do termo, claro que não vou. Mas, no fundo, do que se trata é de uma espécie de eficiência da democracia, no sentido mais filosófico e qualitativo da expressão.
E chegamos ao âmago. Como hei-de compreender, nestes tempos da democracia, a absoluta ausência de um grande reformador? Como hei-de explicar, do ponto de vista do bom funcionamento da democracia, o quase "grau zero" de autêntico reformismo do Estado? Pois, pergunto, não foram estes quatro anos, em quatro decénios da democracia, a maior oportunidade reformista e o melhor ensejo social e político para chegarmos à solução estrutural da equação dos "meios" e dos "fins", de que tanto necessitamos? Não foi este o tempo mais propício para a democracia gerar a aparição do grande reformador?
Lamento dizê-lo, uma democracia que deste modo se desperdiça não pode estar bem. Tem dentro de si um "mal ruim", como se diz em bom pleonasmo popular. Desse mal ruim, provavelmente, as eleições de 2015 nada vão tratar e resolver, infelizmente. O que é grave e muito delicado. Sinto, como outros sentem, crescentes preocupações sobre a governabilidade da nossa democracia, embora acredite que a democracia também contenha, em si, sementes de regeneração. Só que, por vezes, é tardia, "por vezes ah por vezes num segundo se evolam tantos anos", veio-me à lembrança o belo poema de David Mourão-Ferreira.

(Miguel Cadilhe, no JN)

22 março, 2015

FCPorto ainda

Na continuidade do que anteriormente escrevi, só quero acrescentar que sejam quais forem os resultados desportivos no futebol e das restantes modalidades do FCPorto, não retiro uma vírgula ao que escrevi sobre a direcção do clube.

Se querem saber, penso mesmo que a indolência que se instalou em alguns adeptos, pouco eufóricos no apoio à equipa e estranhamente passivos com as arbitrariedades de toda a ordem infligidas ao clube, pode muito bem ser um efeito de dominó da fonte, isto é, do  Presidente. Todos sabem que quando uma liderança é frágil, seja em que negócio fôr, os resultados nunca podem ser positivos durante muito tempo, acabam sempre por se repercutir na produtividade e na moral de toda a empresa. Hoje o futebol está profissionalizado e os clubes são empresas que empregam muita gente. Por isso, se a liderança perde a eficácia, o resto vem por acréscimo.

Há no entanto factores que podem atenuar a queda, um deslize da concorrência, ou um conjunto circunstancial de situações que a retardam. Como atrás referi, esta falta de ânimo, de empenho, de vontade, constatável em várias modalidades, só pode encontrar explicação num liderança em perda.

Lamento ter de o dizer, mas é exactamente isto o que penso.