22 dezembro, 2015

A geringonça ainda vai no adro

PAULA FERREIRA
Não basta anunciar que se vende um banco, praticamente em ruína, por essa ser a solução que melhor defende o interesse nacional. Quando se vende um banco por 150 milhões de euros e se entra com 2 mil milhões para guardar os seus ativos tóxicos - aquilo que ninguém quer, aquilo que contamina - é preciso explicar aos cidadãos a opção. E em detalhe.
Não é a primeira vez, em poucos anos, que os portugueses são chamados a pagar os erros de gestão da banca nacional. Banca privada, dirigida por gestores privados bem pagos. Muitos dos ativos que ficaram no Banif "mau" (o filme repete-se) são o resultado de crédito concedido, sem o mínimo critério de exigência, e corporizado por imóveis altamente desvalorizados. Algum gestor assume essa responsabilidade?
As pessoas, as mesmas de sempre, agora chamadas a entrar com dois mil milhões de euros, não entendem e perguntam com toda a legitimidade: "Por que raio não deixam os bancos ir à falência?" Ao longo de seis anos, entre 2008 e 2014, os portugueses contribuíram com quase 20 mil milhões de euros para suster instituições bancárias. A troco de quê? Da estabilidade financeira, dizem-nos. Algo pouco concreto. Real, bem real, foi aquilo que sentimos. Mais impostos, mais e mais austeridade. Disseram-nos: era preciso cortar salários, apoios sociais, subsídio de férias e de Natal. A nossa vida piorou. E afinal não andávamos a gastar acima das nossas possibilidades. Outros andariam. O povo português, isso sim, anda a pagar (por erros que não comete) acima das suas possibilidades.
Valerá a pena? Temo que não. Já vão quatro. Primeiro foi o BPN, depois o BPP, o BES e agora o Banif. Fica por aqui cortejo fúnebre da nossa desgraçada banca? As autoridades fiscalizadoras, reguladoras, as altas figuras do Estado nunca falaram com clareza aos portugueses. Pelo contrário. Até fomentaram o engano. Antes da derrocada do BES, o Banco de Portugal autorizou um aumento de capital, conduzindo os pequenos acionistas do banco para um beco sem saída. Na madrugada de ontem, ficámos a saber mais do rigor de quem regula o nosso sistema bancário. O caso Banif deveria ter sido atacado há um ano! Em vez disso, foi escondido: comprometia a saída limpa do plano de resgate. Não comprometeu, mas que benefícios trouxe esse jogo de sombras, esse silêncio cúmplice? O problema irrompe, agora, em todo o seu esplendor.
Havia eleições à porta, e isso, pelos vistos, tinha muita força. Tal como nos mentiram com a fábula da sobretaxa, também nos enganaram com o Banif. Temos muitas razões para desconfiar - e a geringonça ainda vai no adro.
Nota de RoP: é esta pouca vergonha que faz com que muita gente não acredite na Democracia. A questão é que, como sempre venho dizendo, a Democracia não é nada disto. 
Os políticos, tanto quiseram anarquizar as liberdades, que hoje transformaram o povo refém dessas pseudo liberdades. Uma Democracia com leis meramente decorativas é uma autêntica mina para os poderosos, um verdadeiro atentado às Liberdades e a porta perfeita para a Ditadura. E quem se fica a rir  são os Ricardos Salgados e Carlos Costas desta vida. Assim, é fácil enriquecer. A cadeia é o único lugar onde deviam curtir a  sua sabedoria.  




21 dezembro, 2015

O Pinto da Costa de ontem, e de hoje



Havia uma característica na acção de Pinto da Costa que, não sendo consensualmente simpática na opinião pública geral, continha aspectos muito positivos quando usada em defesa do FCPorto. Para a grande maioria dos portistas, a sua ironia, mordaz e provocante, encaixava como luva no cinismo conspirativo dos representantes dos clubes da segunda circular que, impotentes, mas cientes dos efeitos desse estilo aguerrido [dentro e fora do balneário], não descansaram enquanto não engendraram forma de o conotar como uma espécie de Al Capone do futebol português.

A Justiça Civil e o Tribunal Arbitral da UEFA, absolveram-no, apesar do vácuo das acusações que lhe eram imputadas pela (essa sim) pervertida justiça desportiva nacional, sintonizada com o coro dos media centralistas. Foi a maior sacanagem que vi fazerem a um dirigente de clube em toda a minha vida. Como portuense e portista, nunca me irei esquecer dos autores e das fontes desse atentado consentido à dignidade humana, apenas movido pela inveja. Por isso, e por muito mais, nunca apoiarei qualquer causa em que estejam envolvidos clubes de Lisboa, nem com eles me solidarizarei desportivamente, mesmo que sejam os únicos a representar o país. Se eles se esqueceram de respeitar o clube com o nome da terra que deu nome a Portugal, porque não hei-de eu esquecer-me que existem? Adiante.

Na realidade, a característica beligerante e de humor negro de Pinto da Costa não morreu, nem nunca morrerá, porque lhe está na génese, mas foi sem dúvida quebrada, e já não é ambivalente, como era. Os tempos mudaram. Agora, as suas declarações assemelham-se a breves atestados pessoais de utilidade social, quase sempre frívolos e tardios.  O seu jeito beligerante e jocoso, está lá, mas já não intimida os adversários e inimigos que o odeiam, porque inconscientemente redireccionou-o para os adeptos. Notemos. 

Quando interrogado das razões por que Lopetegui não lançou ainda o André Silva respondeu:

Já vi o André Silva em acção muitas vezes e quem quiser fazer uns quilómetros para se deslocar ao Estádio de Pedroso, também pode ver. Tenho a certeza de que é mais um jovem que chegará à equipa principal, assim que o treinador entenda que é momento de o fazer. 

Aparentemente, Pinto da Costa deu uma resposta inofensiva, descontando a impertinência habitual da pergunta dos jornalistas. Mas, será que Pinto da Costa acha mesmo que aos portistas só basta quererem fazer uns quilómetros para ver o André Silva jogar? Estará assim tão distante do país e da região em que vive para dar uma resposta destas? Estará já a confundir os destinatários dos seus recados? Não teria bastado sugerir a visão dos jogos da equipa B, no Porto Canal? Ou será que já não se lembra que o Porto Canal existe? Lembra certamente. E já agora, pergunto eu: não bastaria e ficaria mais económico ao Presidente do FCPorto deslocar-se de vez em quando aos estúdios do Porto Canal para comunicar com os adeptos sobre as questões que os apoquentam? Falar das suas relações com Rui Moreira e explicar por que é que ainda não o convidou o seu amigo para ir ao Porto Canal? Os sócios, terão só obrigações? De pagar cotas e mais nada? 

Como portista, não estou a gostar mesmo nada destes desvios temperamentais do presidente do FCPorto. Que o faça com os nossos adversários, não connôsco que não o merecemos. Que acabe com a bajulice serôdia de andar constantemente a convidar as tias e os tios da capital para darem entrevistas fúteis, de gente, e para gente fútil. Nós não precisamos de Lisboa para nada, só precisamos que nos respeitem e tratem sem discriminações de qualquer ordem. Além de mais, escolheu muito mal o timing para "apoiar" Lopetegui. Não me parece sério que queira colher os loiros da subida ao pódio da 1ª Liga, quando não abriu a boca para defender o treinador quando ele mais precisava.

Não sou um fã do tipo de futebol de Lopetegui, mas acho que o Homem não tem sido apoiado e defendido publicamente pelo presidente como devia. Só por isso, gostava que Lopetegui fosse feliz. O mérito seria só dele e dos jogadores. E se Pinto da Costa continuar neste registo de arrogância e distanciamento com quem sempre o apoiou, terei todo o direito de lhe fazer o mesmo.