Se o portismo se medir pela contenção, pela negação do que os olhos vêem e a cabeça dita, então terei de pensar em reavaliar o meu. Mesmo assim, ainda que me furte a crucificar o treinador e os jogadores, as críticas que aqui fizer, em termos do jogo jogado, estarão implicitamente a eles associadas, é incontornável.
Por duas ocasiões o FCPorto desperdiçou a possibilidade de se distanciar do Benfica, o adversário directo quando este perdeu pontos, e com equipas perfeitamente ao seu alcance. A explicação mais simpática que posso encontrar para estas escorregadelas podia passar por dizer que "isto é futebol", ou atirar as culpas para os árbitros, como costumam fazer, sem razão, os nossos adversários. Acontece, que o FCPorto que jogou com o Olhanense [empate], o Sporting [empate] e o Estoril [victória], só para falar nestes 3 jogos, foi um FCPorto de quartos de hora, e de baixo apetite atacante. Pior do que isso, foi um FCPorto irritavelmente lento, previsível, generoso a entregar a bola aos adversários e a deixar jogar no seu meio campo, o que vale dizer que deixou de pressionar no campo do opositor. Ora, quase sempre que isto acontece, dá-se mal e cede pontos.
Hoje, a vontade dos jogadores para ultrapassarem o 2º desaire da época [o jogo com o Málaga], que os afastou da Champions [e privou de uma boa meia-dúzia de milhões de euros], até foi genuína, mas pecou pela falta de lucidez e de muita garra. Afirmar que só o FCPorto procurou ganhar, parece-me demasiado lisonjeiro para uma equipa da sua categoria, em comparação com o Marítimo - que não tem os mesmos recursos humanos nem financeiros -, e que não fez tudo que se lhe exigia para chegar à victória. E o que é que eu quero dizer com "o não fez tudo que se lhe exigia"? Quero dizer, que a equipa que espantou meio-mundo no Dragão com o Málaga, essa equipa veloz, de pressão asfixiante, de passe preciso, mas mesmo assim pouco produtiva (1-0), não foi a que caracterizou a maioria dos jogos que disputou neste Campeonato. Descontando o cansaço dos últimos jogos, este FCPorto do Victor Pereira, tem pautado a sua forma de jogar pela intermitência, pelo mau passe, pelo deficiente controlo da bola, e pouca apetência para o remate em termos colectivos. Em boa verdade, nem o imenso João Moutinho pode considerar-se grande perito no remate.
Estou cansado de ver os movimentos atacantes afunilados, com os jogadores a desmarcarem-se anarquicamente, às vezes tropeçando uns nos outros, atrapalhando-se, a não controlarem a bola na recepção do passe, e isso não pode acontecer com a frequência que acontece. Isso, é corrigido nos treinos, e se não é, é porque alguma coisa está mal. Chega a ser irritante. Passes que deviam ir para os colegas a parar direitinhas nos pés do "inimigo", não são coisa rara. Jogadores a agarrarem-se demasiado à bola e de forma inconsequente também não. E que dizer dos marcadores de livres? Há alguém "especializado" para essa tarefa, ou são todos "especialistas"? Serão? Acham os senhores que me lêem que o FCPorto tem bons marcadores de livres, ou um só que seja? Se tem, quem será ele?
Não queria perder tempo com outros "detalhes", mas sendo a fé a última coisa a morrer, haverá mesmo assim, algum portista capaz de confessar que a insegurança da equipa não o contagia? E isso, será para reprimir e inverter a realidade, ou para assumir sem papas na língua? Costuma dizer-se, que até ao lavar dos cestos é vindima, mas tenho a certeza que não há portista no Mundo que não preferisse sacrificar toda a colheita de um Barca Velha, a ter de concluir que um treinador deve ser colocado numa redôma de vidro só porque ainda tem remotas esperanças de salvar o muito que já desbaratou. Sim, porque o FCPorto, já não depende de si. Isso colou até à jornada anterior, mas hoje já não pega. A realidade, nua e crua, é que o FCPorto falhou nos piores momentos. Na champions, quando o mais difícil estava feito. No campeonato, em dois momentos: nos jogos que atrás referi, e agora, que só faltam 7 jornadas para o fim, passando para a posição ingrata de dependência dos deslizes do nosso adversário. Mas convém não esquecer uma coisa: da forma como estamos a jogar podemos ser nós a voltar a cair...