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Por que será que isto não me espanta? |
Nem sei como começar. É tanta a decepção com este país - e em particular, por razões de afinidade regional -, com a cidade onde nasci e fui criado, que a minha vontade era deixar de me preocupar com estas coisas e alistar-me no clube dos videirinhos. Mas, para desgraça de certos migueis de vasconcelos que visitam o Renovar o Porto a coberto do anonimato para me insultar, tenho uma má notícia para lhes dar: não vão ter sorte. Eu vou continuar.
Quase apostava que sei quem é o autor desses comentários anónimos, mas como ainda não o posso provar, vou manter comigo (por enquanto), as suspeitas...
Tenho a certeza que a maioria dos leitores que me visitam com regularidade podem testemunhar como vi com entusiasmo a notícia da compra do Porto Canal pela FCPorto Media, SA. Mesmo antes de tal acontecer, já acompanhava com curiosidade, o Porto Canal, porque apesar das conhecidas limitações técnicas e financeiras, sempre abrangia temáticas e áreas geográficas que me eram caras. Assim aconteceu desde o início, ainda o canal era dirigido por Bruno de Carvalho, um ex-candidato à presidência do Benfica... Quando soube do interesse do FCPorto em adquirí-lo, pensei cá para os meus botões, que finalmente o Porto e a região nortenha ia livrar-se das amarras centralistas e melhorar toda a programação e informação. Pura ilusão. Júlio Magalhães, o homem escolhido pela directoria do FCPorto, foi e é, um autentico flop como director geral. Eu só o conhecia da TVI, não tinha má opinião sobre ele, ainda que apenas fundada na imagem bonacheirona de apresentador descontraído.
Antes de prosseguir a minha exposição, considero importante para mim e para os leitores colocar-me no lugar do actual director-geral do PCanal, para tentar descobrir como teria agido caso me convidassem para um cargo da mesma responsabilidade e tão mediatizado. Como qualquer mortal ao cimo da terra, a questão do salário seria para mim muito importante, e teria naturalmente de estar relacionada com o tipo de recursos logísticos e orçamentais que me fossem oferecidos. Como não sei em que princípios assentou a contratação de Júlio Magalhães, nem faço ideia se lhe foi exigido um projecto, não me é possível detalhar nem escalonar responsabilidades. O que sei, é o que qualquer espectador interessado e atento pode avaliar com os seus próprios olhos e a conclusão não é positiva. Se fosse eu o autor do projecto, e se este fosse aprovado, é porque me tinha sido garantido à priori o capital combinado para o concretizar. Se me falhassem com as condições estipuladas contratualmente, incluindo as de ordem financeira referentes ao projecto, só tinha um caminho a seguir: sair pela porta grande e agradecer o convite.
Como nada tem sido comunicado aos sócios (eu não sou, mas já fui), e devia ser, porque o FCPorto é dono maioritário do Porto Canal (detém 82,4% das acções), a partir daí a porta para a especulação ficou aberta. Logo, ninguém de ambas as partes pode queixar-se com o que os próprios accionistas semearam. É que, há uma coisa que parece ainda não ter sido bem assimilada: a propriedade de um canal com ambições generalistas nas mãos de um clube de futebol pode ser incompatível com os interesses do clube e até com a descentralização. Por mais que queiram separar as águas entre serviço público e de clube desportivo, haverá sempre um dia que o choque de interesses será inevitável. E se falarmos de descentralização ou de regionalização, as contradições serão mais evidentes. Melhor teria valido, digo eu, apresentarem-se frontalmente como canal desportivo, porque o que está agora a acontecer é um regresso ao déjà vu, é mais um faz de conta. Inicialmente, fui a favor da ideia de uma televisão mista de informação generalista e desportiva, mas pensando que nunca desistiriam de enfatizar as causas da nossa região, agora assim é retroceder.
Além de mais, a política descentralizadora que teoricamente está a ser realizada pela direcção do Porto Canal, com a abertura de delegações um pouco por todo o país, está a ser feita ao contrário, isto é, sem primeiro acautelar os alicerces e a solidez da sede. Quando a própria sede do Porto Canal emudece e fecha as portas a Rui Moreira, o autarca-mor da 2ª cidade do país - criando outro foco de especulação - e convida autarcas de outras cidades para comentar, algo não anda bem... E quando a sede tem de recorrer tantas vezes a gravações de programas e entrevistas, muitas delas com figuras sobejamente conhecidas através dos canais de Lisboa para preencher os tempos de emissão, não se pode dizer que as coisas estejam no bom caminho.
E repito, é nos detalhes que se podem prever as coisas importantes. E os detalhes mostram-nos coisas que preferíamos não ver, como falhas frequentes de imagem, adereços como mesas e balcões danificados dias e dias seguidos, imagens distorcidas dos comentários, programação descoordenada, camera-mans (ou womans) cometendo erros de enquadramento e focagem (o mais recente, constava de uma reportagem sobre a pesca da sardinha, e as imagens filmadas mostravam repetidamente que eram carapaus). Enfim, um sem número de coisas e coisinhas que impossibilitam o espectador interessado de acreditar que são supervisionadas pelos respectivos responsáveis, incluindo, os accionistas.
Sei que isto não é simpático para os visados, mas é a realidade. E seria melhor que em vez de se deixarem melindrar por verem expostas situações concretas de laxismo, tivessem a humildade de as reconhecer e reparar. Deviam era canalizar essas frustrações para outras latitudes, essas sim as fontes certas dos nossos problemas tão nefastas para a nossa região e para o próprio país.. Reagir prestando vassalagem a tudo o que vem da capital, é o sintoma mais servil que o norte pode evidenciar, e não o contrário. Eu, para defender a minha cidade e região (sou nortenho assumido), não me inibo de apontar o dedo a quem a ataca, seja essa entidade sulista, ou nortenha. Não me sinto mais português por tratar com pinças de delicadeza pessoas ou instituições que andam há muitos anos a prejudicar-nos. Se eles não gostam de ouvir certas coisas, nós também não temos de gostar do que nos têm feito, nomeadamente, através dos media.
Se o Porto Canal pretende ser uma imitação do que abunda em Lisboa, então não precisa de ir primeiro a Roma, pode atalhar caminho e instalar já a sede em Lisboa. Já me chega o Público, e agora o JN, como maus exemplos de empresas de comunicação "sediadas" no Porto mas com todo o poder na capital. Para esse peditório de hipocrisia e de capitulação, nunca darei.
PS - A propósito da vulgaridade de certos programas pirosos e plagiadores no PCanal, o canal lisboeta Q, "Altos e Baixos", conhecido pela ironia e crítica mordaz, já descobriu uma fonte de inspiração para trabalhar: o Porto Canal...O que mais me constrange é ver o nome do FCPorto ligado a tanta mediocridade. Aquilo é tudo, menos Porto.