06 agosto, 2010
Futebol versus Regionalização
Desculpem-me voltar à carga com a questão do futebol, mas considero de extrema importância denunciar alguns equívocos que giram à volta do tema sempre que o relacionamos com a política.
Em primeiro lugar [vou-me repetir, mas não me importo], poucas coisas conheço que não tragam consigo um qualquer sinal político. Até na hora da morte, que ao momento é das poucas barreiras que ainda não conseguimos superar, as pessoas têm tratamento diferenciado [ou não vivêssemos nós numa sociedade classista]. Um doente terminal endinheirado pode não resistir à ferocidade de um cancro, mas terá garantidamente mais recursos económicos e financeiros para se defender do que um pé-rapado. Quando falamos em ricos e pobres, estamos a falar de política, uma eterna guerra-fria entre o capital e o social, travada entre os cidadãos e os partidos políticos que representam ambas as tendências. Então, porque raio teria o futebol de ser a excepção?
Nascemos e crescemos a ouvir determinado tipo de clichés e não hesitamos em recorrer a eles sempre que queremos dar consistência acrescida aos nossos argumentos ou às nossas paixões, passando grande parte das nossas vidas a repetí-los como se para além dessas "certezas" só existisse o vácuo. Quantas vezes dizemos que "podemos trocar de carro, ou até de mulher, mas nunca de clube"? Presumindo que as mulheres pensarão o mesmo em relação aos homens, não haverá neste discurso paixão a mais para racionalidade a menos? Pois é. Parece que já estou a ouvir alguém dizer: o futebol é isto mesmo, paixão [não é lengalenga exclusiva de treinadores e jogadores], e é por isso que arrasta multidões, blábláblá. A realidade, é que o futebol na Europa é o único desporto catalisador das raízes populares, e simultaneamente, aquele que mais as une e divide. O futebol é um paradoxo respeitável.
Então, como poderemos contornar esta "paranóia" colectiva para nos concentrarmos em coisas mais sérias? Destruindo o futebol e a paixão clubística, ou esclarecendo as populações?
Compreende-se, que dá menos trabalho aos dirigentes políticos - também eles influenciados por clichés e paixões -, resolverem politicamente este dilema optando pela colagem tácita [ou nem tanto] ao clube que teoricamente lhe garanta mais votos. Em Portugal, esse clube chama-se Benfica, todos sabemos. Agora, pergunta-se: será essa a solução acertada? Colarem-se à fonte do problema, arriscando-se a fazer parte dele? Creio que não. É que, foi também às cavalitas deste comodismo político-ideológico que se gerou ao longo destes anos toda uma panóplia de discriminações que redundaram no hiper-centralismo de hoje.
A solução, passaria pois por explicar às populações que o Norte, essa grande região, precisa de todos os nortenhos, incluindo daqueles cujas paixões clubísticas pouco têm a ver com a região, porque são sobretudo esses que precisam de ser persuadidos, aqueles que oferecerão mais resistência à Regionalização por razões óbvias. Não tenhamos ilusões.
Gostaria de não estar tão seguro das minhas convicções, mas ao longo destes anos, e já são alguns, habituaram-me a não ver nos adeptos dos clubes centralistas a clarividência intelectual e política que reclamam agora para os nortenhos com a Regionalização. Não me recordo de os ver separar, ciosamente, as águas do futebol e da política sempre que tal se impunha. E tiveram tantas oportunidades para o fazer! Bem pelo contrário, nunca os vi solidários, genuinamente preocupados com a pobreza do Norte. Reivindicam isso sim, sempre, e cada vez mais para si, para Lisboa.
A guerra Norte / Sul, é ao contrário, é Sul / Norte, porque foi e continua a ser o centralismo que implicitamente a declarou, fazendo das televisões e jornais as suas guardas pretorianas de eleição. O Norte, limita-se a defender-se e lamentavelmente, mal.
Nascemos e crescemos a ouvir determinado tipo de clichés e não hesitamos em recorrer a eles sempre que queremos dar consistência acrescida aos nossos argumentos ou às nossas paixões, passando grande parte das nossas vidas a repetí-los como se para além dessas "certezas" só existisse o vácuo. Quantas vezes dizemos que "podemos trocar de carro, ou até de mulher, mas nunca de clube"? Presumindo que as mulheres pensarão o mesmo em relação aos homens, não haverá neste discurso paixão a mais para racionalidade a menos? Pois é. Parece que já estou a ouvir alguém dizer: o futebol é isto mesmo, paixão [não é lengalenga exclusiva de treinadores e jogadores], e é por isso que arrasta multidões, blábláblá. A realidade, é que o futebol na Europa é o único desporto catalisador das raízes populares, e simultaneamente, aquele que mais as une e divide. O futebol é um paradoxo respeitável.
Então, como poderemos contornar esta "paranóia" colectiva para nos concentrarmos em coisas mais sérias? Destruindo o futebol e a paixão clubística, ou esclarecendo as populações?
Compreende-se, que dá menos trabalho aos dirigentes políticos - também eles influenciados por clichés e paixões -, resolverem politicamente este dilema optando pela colagem tácita [ou nem tanto] ao clube que teoricamente lhe garanta mais votos. Em Portugal, esse clube chama-se Benfica, todos sabemos. Agora, pergunta-se: será essa a solução acertada? Colarem-se à fonte do problema, arriscando-se a fazer parte dele? Creio que não. É que, foi também às cavalitas deste comodismo político-ideológico que se gerou ao longo destes anos toda uma panóplia de discriminações que redundaram no hiper-centralismo de hoje.
A solução, passaria pois por explicar às populações que o Norte, essa grande região, precisa de todos os nortenhos, incluindo daqueles cujas paixões clubísticas pouco têm a ver com a região, porque são sobretudo esses que precisam de ser persuadidos, aqueles que oferecerão mais resistência à Regionalização por razões óbvias. Não tenhamos ilusões.
Gostaria de não estar tão seguro das minhas convicções, mas ao longo destes anos, e já são alguns, habituaram-me a não ver nos adeptos dos clubes centralistas a clarividência intelectual e política que reclamam agora para os nortenhos com a Regionalização. Não me recordo de os ver separar, ciosamente, as águas do futebol e da política sempre que tal se impunha. E tiveram tantas oportunidades para o fazer! Bem pelo contrário, nunca os vi solidários, genuinamente preocupados com a pobreza do Norte. Reivindicam isso sim, sempre, e cada vez mais para si, para Lisboa.
A guerra Norte / Sul, é ao contrário, é Sul / Norte, porque foi e continua a ser o centralismo que implicitamente a declarou, fazendo das televisões e jornais as suas guardas pretorianas de eleição. O Norte, limita-se a defender-se e lamentavelmente, mal.
Calimero e ... lapa (digo eu)
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Acho imensa graça quando ouço cantar hossanas sobre a integridade de certas figuras públicas, como Rui Rio e Pinto Monteiro (só para dar dois exemplos mais mediáticos). É que, a propalada seriedade destes personagens tem o pernicioso efeito de lhes toldar a noção do sentido de responsabilidade. Ou seja, impossibilita-lhes a capacidade de perceber que para continuarem a gozar desse estatuto seria imperioso reconhecerem o momento e a forma da suas próprias incompetências, para a seguir terem a nobreza de se demitirem. A seriedade nem sempre traduz a boa consciência...
05 agosto, 2010
Norte político e Norte clubístico. Incompatíveis?
Nem quero sequer admitir que o MPPN não consiga atingir o primeiro objectivo que consiste - como é do conhecimento público -, constituir-se em partido político com representação parlamentar na Assembleia da República. Este aparente pessimismo, resulta de uma profunda convicção pessoal assente em dois factores ligados entre si:
- a perda de capacidade de indignação dos nortenhos perante os excessos [abusos] do centralismo, particularmente por parte das chamadas elites.
- a clubite nortenha centralista [adeptos nortenhos do Sporting e principalmente do Benfica], incompatível com os interesses locais, entre os quais se incluem incontornavelmente os dos clubes de futebol da região.
Neste preciso momento, não faltará decerto quem tenha vontade de me contrariar com a costumeira [desculpem-me a expressão], conversa da treta de que "o nosso mal é confundirmos o futebol com a política, etc. e tal", porque se é ponto assente que quase tudo na vida é político, o futebol é, social e etnograficamente, o fenómeno mais político de todos. Mais político que partidário, entenda-se. Não fora isto uma absoluta verdade, teríamos os telejornais, as rádios e a imprensa, com diferentes critérios de informação desportiva [e de outro tipo] que não os aplicados agora, e desde há longos anos, onde a componente do futebol é pornograficamente explorada por um único clube: o Benfica. Todos sabem que esta é a mais pura verdade, execepto os benfiquistas, incluindo alguns nortenhos "regionalistas". E isso é grave, porque é racionalmente desonesto e politicamente pernicioso. Para o Norte...
Mas também é verdade que muitos adeptos de clubes nortenhos, incluindo os do FCPorto, tardam em perceber que os nossos problemas mais sérios não se resolvem com as victórias dos nossos clubes, que é preciso prestar uma maior atenção às questões de carácter político e social, intervir, participar na coisa pública. O futebol não é tudo. É talvez por haver uma disponibilidade excessiva para o futebol em comparação com outras actividades, que os traumatizados anti-futebol, ou os intelectuais de "cerâmica", culpabilizam os apreciadores da modalidade - como é o meu caso - por todos os males do país.
Modestamente, pela minha parte, tenho feito os possíveis por arrastar para a participação cívica essa gente, procurando sensibilizá-la para outros problemas em contactos na blogosfera do futebol, coisa que nem todos acham dever fazer e que eu não entendo muito bem porquê, diga-se.
O MPPNorte, não deve temer chamar a si esta gente, nem tão pouco fugir da clubetização dos assuntos por muito que isso possa parecer contraproducente. O Norte não é o FCPorto, nem o Porto. E também não é o Sporting de Braga, nem Braga, ou o Victória de Guimarães e Guimarães, mas é económica, afectiva e geograficamente, muito mais a soma disto tudo, do que o Benfica e Lisboa juntos. A tarefa é dura, complicada, mas é preciso explicar sem sofismas estas pequenas grandes diferenças. Não será fechando os olhos aos obstáculos que conseguiremos transpô-los.
Luís Filipe Menezes - um excelente autarca -, atingiu o princío de Peter por cometer esse erro crasso quando chegou a Presidente do PSD e calou abruptamente o discurso regionalista, em Lisboa...
A causa da Regionalização é apenas uma ferramenta que serve para governar melhor, não é um fim em si. Depois dela, há muito que trabalhar, muito para corrigir. O país precisa de uma restauração profunda e o Norte ainda mais. Sobretudo na mentalidade.
01 agosto, 2010
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