Será defeito meu talvez, porque vejo muito pouca gente preocupada com o assunto, mas nunca me passou pela cabeça ter hoje que concluir que a única coisa que separa uma ditadura do regime actual, é a possibilidade de constatarmos os factos e de os podermos comentar. Isto, se falarmos dos cidadãos, porque se estivermos a referir-nos a jornalistas e fazedores de opinião, nem para comentar seriamente os factos têm coragem.
Senão vejamos: será porventura surpreendente que o Porto lidere - como noticia o JN de hoje - o ranking dos ataques a ourivesarias? Mas é claro que não! E não é difícil encontrar razões. A primeira, é porque, é no Porto, em Gondomar, a região do país onde há mais ourives, logo onde há peças valiosas, que é o que qualquer assaltante procura. E depois, a principal razão, porque fica no Porto, e no norte do país, a região onde o nível de desemprego atingiu as maiores proporções e simultaneamente aquela que mais espoliada foi [e continua a ser] por sucessivos governos. Logo, só um cretino daqueles muito retintos é incapaz de dissociar o aumento de desemprego com o aumento da criminalidade. Isto, são factos, mas factos para os quais não é preciso grande coragem para os constatar, e comentar. São os "bons" factos para o tipo de jornalismo que hoje se faz.
Agora, faltam os outros factos, os maus, aqueles que realmente incomodam os jornalistas, ou seja, citar a ordem em cadeia dos nomes e das causas que os originam. Pois aqui vai a novidade: os primeiros responsáveis pela criminalidade e a violência, são, as pessoas [sim, porque os governos são compostos por pessoas] que [des]governaram o país de 1974 para cá. Todas! Ah heresia, o que eu fui dizer! Pois é, isto pode parecer assustador mas é a pura realidade. No entanto, poucos têm a coragem de o escrever!
Dito isto, é eticamente censurável que os jornalistas que temos continuem a assobiar para o lado fingindo que ignoram as fontes da criminalidade, tratando os governantes como se eles nada tivessem a ver com o fenómeno. Consequentemente, o nosso infortúnio não resulta apenas da incompetência de quem nos tem governado, mas também de quem só faz metade do serviço público que devia ser informar, de quem só transmite o que é conveniente, de quem teme represálias e procura esconder cumplicidades com o poder: os jornalistas. Se juntarmos à incompetência de ambos [governantes e jornalistas], a veia criminosa de uns tantos, é caso para dizer que a integridade é uma palavra morta que há muito se afastou de certos humanóides. A integridade tem dias...
Cavaco Silva já tinha deixado fugir-lhe o pé para o chinelo - do qual nunca mereceu ter saído, aliás - quando teve a amabilidade de convidar o povo a emigrar, logo seguido pelo acéfalo discípulo Passos Coelho, dando assim início a uma nova geração de imbecilidade cuja duração e efeitos colaterais são difíceis de imaginar. Mas nunca serão positivos, podemos estar seguros.
Se porventura estiver a ser lido por algum conterrâneo que já meteu pés ao caminho e emigrou - não para seguir o "conselho" destes idiotas, mas para poder cuidar do futuro - gostava que me permitisse também a mim dar-lhe um conselho, mas dos bons: se a vida lhe correr bem, se começar a ganhar dinheiro, por favor não se porte como um idiota e deposite-o num banco do país que lhe permitiu ganhá-lo. Porque, para além de ser um acto de gratidão, irá contribuir activamente para a redução em Portugal dos proxenetas de Estado encartados. Faça isso.