Para quem estiver a pensar abrir um negócio sem ter de investir muito dinheiro, é melhor esquecer a área da comunicação social. Quem gostar verdadeiramente da cidade do Porto, e dispuser de alguns milhões de euros, e planear um negócio de retorno lento, mas de grande utilidade pública, fundar um Jornal exclusivamente portuense (virado a norte) pode ser uma aposta ganha.
O Porto devia ser a sua sede, não para imitar Lisboa, porque isso seria matar o negócio pela raiz, mas porque o Porto é sem dúvida a cidade que mais necessidade tem de um jornal assumidamente portuense, e acima de tudo porque é a cidade mais discriminada pelo centralismo, desde o 25 de Abril. Isto, visto à luz da importância histórica da própria cidade no quadro nacional. Cada cidade conhece os seus próprios problemas, mas naturalmente que o interior nordestino é das regiões mais discriminadas do país (como outras).
A nossa cidade tornou-se a segunda mais importante do país, muito antes da "revolução", e por mérito próprio, não foi por beneficiar de ajudas externas. O Porto é competitivo, não é centralista. Não há portocentrismo, há concorrência natural. O centralismo tem sempre responsabilidades de origem política, e se a política é exercida a partir de Lisboa, o Porto nada tem a ver com isso. E pouco interessa saber a origem dos políticos, o que me interessa é o que eles fazem. O Porto foi sempre considerado como a cidade do trabalho, e não foi por acaso. Curiosamente, até essa justa e histórica fama, os centralistas têm procurado descredibilizar para a transformar num mito, e só isso diz tudo. Caberá aos verdadeiros nortenhos escolher se querem continuar a prejudicar a sua região natal, continuando a apoiar política e desportivamente os interesses da capital, ou se querem contribuir para o desenvolvimento do que é seu.
A centralização já é antiga, não nasceu agora. Muitos empresários do norte não tiveram coragem para combater este monstro, e isso tornou-os cúmplices do centralismo. Talvez seja esta permissividade que explica a ausência de um jornal no Porto devidamente identificado com a cidade. O JN já não é há muito um jornal do Porto, é um jornal de Lisboa a servir-se do Porto para estender ainda mais os tentáculos centralistas. E, como as avenças fazem milagres, chegamos ao cúmulo de ver antigos articulistas do jornal a colabor com este embuste com toda a tranquilidade do mundo.
Lamento dizê-lo, mas não foi o Porto que mudou, o que mudou para pior, foram os portuenses, sobretudo aqueles que mais deviam lutar contra a situação actual. Que raio, o "Somos Porto" não pode confinar-se ao teatro do futebol. O Porto não é só o FCPorto.