Na época passada escrevi aqui no Renovar o Porto - e menos enfaticamente, na blogosfera portista -, que não acreditava na capacidade real de Victor Pereira para treinador do FCPorto. Agora, não vou repetir o que escrevi nessa altura, mas pelos sinais que os primeiros jogos da equipa me dão, acrescidos dos que o treinador transmite cá para fora, quase que o podia fazer sem mudar muito o conteúdo.
Antes de prosseguir com a minha premonição, insisto dizendo que nada de pessoal me move contra Victor Pereira, e que sei muito bem separar os sentimentos das competências. E, embora discorde daqueles que subestimam a opinião dos adeptos, chamando-lhes ironicamente "treinadores de bancada" - mas sem eles próprios se furtarem a fazer esse papel -, evitarei entrar em detalhes de ordem técnico-táctica na fundamentação das minhas opiniões. É pois, tempo de mostrar mais respeito pela opinião dos adeptos [nos quais eu me incluo], e de admitir que se tanto e tantos gostam de futebol, é porque alguma coisa devem perceber sobre o assunto. Isto, claro, descontando aqueles que vêm o futebol como uma doutrina fundamentalista que tudo justifica na procura cega e obsessiva de victórias. Como qualquer adepto, prefiro victórias a boas exibições, porque além de moralizarem servem para ofuscar os maus espectáculos, mas o padrão de exigência não pode nem deve ficar-se por aí. Em competição, é da condição humana querer mais e melhor, como reza, aliás, o lema olímpico: "mais rápido, mais longe e mais forte".
Ora não foi nada disso que vi este fim de tarde em Barcelos. O que vi, foi uma réplica angustiante do cenário do campeonato transacto. Uma equipa lenta, que continua refém das iniciativas individuais dos jogadores, sem uma marca forte do treinador, nem um estilo de jogo bem definido. Os lances são demasiadamente afunilados pelo meio, os laterais raramente sobem à linha a cruzar, e quando o fazem, as bolas são repetidas vezes dirigidas para a terra de ninguém tornando impossível rentabilizar o trabalho do ponta de lança que é marcar golos [confirma-o o único golo marcado à Académica por Jackson Martinez para a Taça]. Continuamos a observar má qualidade no tempo e na direcção dos passes, uma desesperante inépcia no remate, e os jogadores a atrapalharem-se uns aos outros na grande área. Tudo, insuficiências do passado recente...
A época ainda agora começou, estarão alguns já a zurzir [armando-se em mais portistas que eu]. Pois é, mas acontece que eu não sou masoquista, e não estou para destruir o meu sistema nervoso a ver jogos desta natureza. Já me bastou o ano passado. É certo que ganhámos o Campeonato, com seriedade e justiça, mas com muito pouco brio, convém admitir. O FCPorto, habituou-nos a funcionar como tónico contra as desconsiderações e sacanices dos governantes, e não como estímulo pró-depressivo. Se os próximos jogos forem uma continuidade do ano passado [e de hoje], deixo esse espectáculo para outros mais masoquistas. Eu passo.
Quem conhece o FCPorto, já sabe, tem de contar com arbitragens duvidosas. Na dúvida, o prejuízo reverte quase sempre contra nós. Não vale a pena queixarmo-nos dos árbitros no fim dos jogos se no princípio dissermos que não comentamos arbitragens. Se o FCPorto não jogar o suficiente para superar as asneiras dos árbitros, bem podemos arrumar as botas que não ganhámos nada. Há muitos anos que a sina é esta. Portanto, Victor Pereira só tem uma solução que é colocar os jogadores certos no lugar certo e ensinar-lhes a jogar em equipa [se souber]. Para já ainda não vi nada de especial. Ganhámos a super-taça, está bem. E o resto? Teremos este ano o mesmo futebol do ano passado? Se sim, eu não serei espectador.
Disse a época que passou que não me importaria de engolir sapos se Victor Pereira me surpreendesse pela positiva, é verdade. Mas, apesar de ganharmos o campeonato, ainda não estou convencido. Portanto, o sapo fica para o futuro, lá mais para diante. E, chegados lá, o que eu realmente queria era não ter razão, e que além de termos acumulado muitas victórias, tivéssemos também para recordar exibições convincentes. Eu gosto de futebol. Do bom, se não se importam.