Podem acusar-me de tudo. De ser pouco dado a apreciações surperficiais, de ser dificilmente influenciável, de não me entusiasmar com ninharias, de não apreciar a classe política, de não acreditar em democracias que desprezam a lei, de me marimbar para a economia abstracta, ou de desprezar o politicamente correcto. Porque tudo isso é verdade. Agora, o que não me podem dizer é que me ando a enganar.
Tenho uma noção realista do país em que vivo. Um país que foi incapaz de se educar, política e democraticamente, e que não soube extrair da liberdade de expressão o seu melhor, como ser criterioso nas escolhas que faz de quem se apresenta como capaz de o governar. Por isso, também é um pouco nossa a culpa, porque alguns (como eu), deixaram de votar por não terem em quem, ou seja, por não acreditarem nas propostas dos candidatos, mas também por não se destacarem muito dos que já conhecemos. Apesar disso, sempre prefiro não votar, do que votar em quem não tem perfil para governar com seriedade e competência.
Como estarão lembrados, escrevi aqui mesmo, ainda há poucos dias, que ansiava por saber os resultados da investigação da PJ no caso dos e-mails do Benfica. Ainda é cedo para isso, mas o facto de saber que houve um juíz de instrução que bloqueou a investigação depois de numa primeira abordagem ter concordado com a procuradora do Ministério Público, pode ser mau sinal. O Benfica tudo fará para atrasar, ou mesmo travar, o andamento do processo, podendo resultar em mais um caso falhado da Justiça, como aconteceu com o caso Sócrates e do Banif.
Os investigadores estão a ser lesados no seu trabalho e na sua dignidade profissional, e os clubes também, particularmente o FCPorto, que tem sido, sem qualquer dúvida, o mais prejudicado. Em Portugal, a verborreia jurídica é muitas vezes responsável pelo branqueamento dos crimes de corrupção mais gravosos. A Justiça portuguesa não é tão eficiente quanto devia. Qualquer dia, para incriminar alguém só será possível com a presença dos juízes no acto do crime.
Por esta andar, talvez ainda possamos assistir a um fenómeno insólito, mas muito portuga para provar a autoria de um crime: ver o assassino ligar ao juíz para o informar da arma, da data, da hora e do local, onde tenciona praticá-lo...