Como nota prévia, declaro que não faço parte daqueles que embirram com a PSP e com todo e qualquer elemento dessa força policial. Eu, pelo contrário,genericamente penso bem dessa corporação, reconheço a sua utilidade, a dificuldade da sua missão, os perigos que frequentemente correm os seus agentes, e o quanto são mal pagos. Olhando umas dezenas de anos para trás, vejo como mudou a imagem física do polícia. Nesse tempo eram normalmente uns "tacos de pia", barrigudos, de bigode façanhudo, boçais e incultos. Hoje são a antítese desta descrição, mas curiosamente a mentalidade dos seus dirigentes parece não ter acompanhado a transformação física, mantendo-se numa espécie de escuridão medieval.
Vem isto a propósito da anunciada intenção de os municípios do Porto e de Lisboa transferirem para as respectivas polícias municipais a responsabilidade da fiscalização do trânsito nas suas áreas.
Não sei o que se passa em Lisboa, mas conhecendo a realidade do Porto só posso aplaudir esta intenção, e a razão é simples, pois a acção da PSP neste campo, define-se por uma única palavra: VERGONHOSA. E vergonhosa sobretudo pela sua ausência, reveladora de incúria e desinteresse totais, propiciando o caos vergonhoso em que se transformou o estacionamento, selvagem e abusivo, em todos os locais e a todas as horas.
Este é um mal geral mas permito-me destacar, como mero exemplo, o que se passa à volta do hospital de Sto. António. Estaciona-se abusivamente em frente à escadaria da entrada principal, dificultando a movimentação daqueles que pretendem aceder ao hospital, e quantas vezes também impedindo a passagem dos eléctricos. Estaciona-se em tudo que é passagem para peões, incluindo nos passeios do jardim do Carregal. Estaciona-se até no espaço reservado às ambulâncias, obrigando-as a esperar os seus doentes na via pública. Este é um espectáculo que tenho observado diariamente durante semanas e meses, e que continua e continuará perante o desinteresse da secção de trânsito da PSP.
Os exemplos da permissividade duma autoridade que é suposta fazer cumprir a lei mas que tem uma interpretação sui generis desta obrigação,estendem-se por todo o Grande Porto, mas gostaria no entanto de eleger, como símbolo da inércia policial, o que se passa junto à esquadra da PSP instalada no edifício do Norteshoping. Aí, bem em frente da entrada da esquadra e a uns 20 ou 30 metros de distância, diariamente estacionam carros irregularmente, incluindo em cima das "zebras" pintadas no chão ( serão carros dos próprios agentes?) na maior impunidade. Parece que não é somente nos desenhos animados que os ratos vêm comer o queijo nas barbas dos gatos!
Em face do deprimente espectáculo levado à cena diariamente perante os habitantes desta desgraçada cidade e seus visitantes, penso que não pode senão aplaudir-se a anunciada intenção do Porto e de Lisboa, e por uma simples razão: pior do que está, não pode ficar, e alguma coisa tem de ser feita.
Em consequência penso que é necessária uma grande lata e uma enorme dose de má-fé para um sindicato dos oficiais da polícia, corroborado posteriormente por uma individualidade da direcção nacional da PSP, vir afirmar publicamente a sua oposição, com a alegação de que os municípios apenas pretendem ficar com o dinheiro das multas!
Penso que declarações deste jaez só descredibilizam quem as profere. Lamentável que a PSP, que precisa de credibilizar-se, acabe por dar tiros nos próprios pés.