Ministra da "Justiça" |
Escrevo com este desprezo por saber, como qualquer português saberá, que em Portugal somos incapazes de conviver pacificamente com a Lei. Os incêndios nunca foram encarados com seriedade e com respeito pelas vidas que deles são vítimas. Desde Abril de 1974, até hoje, continuamos a ignorar o que se fez em matéria legislativa, preventiva e fiscal para nos protegermos dessa praga. Não sabemos o que se faz, sistematicamente, para obrigar à limpeza das matas, tanto a proprietários particulares como aos do Estado, antes da chegada do verão. Ignoramos se há equipas de fiscais a percorrerem campos e montes na recolha de informações sobre eventuais infractores, se identificam terrenos e o seu estado de manutenção. Não temos conhecimento se alguma vez foram punidos e como foram punidos por incumprimento desses supostos deveres legais. Desconhecemos a existência de políticas de reflorestação que contemplem arvoredo resistente e a diversificação da flora, consoante as características do solo. Ignoramos se há, ou não, limites ao plantio de eucaliptos [que como é sabido, absorvem água como nenhuma outra árvore].
Enfim, a ignorância geral, assim como a dúvida permanente sobre assuntos tão caros ao povo, durante tantos anos [quase 40, pós Abril/74], dá-nos o direito de tratarmos esta gente por canalhada, sem apelo nem agravo. Qualquer analfabeto [como são no fundo estes políticos], resolveria o assunto com o "problema/culpa" dos incendiários. Os incendiários existem, é verdade, devem ser castigados, como é óbvio. Mas quem andará a semeá-los? Alguém de boa fé acreditará ser essa a principal causa de todos os incêndios?
Em Portugal a Lei é uma chatice. Uma chatice sobretudo para aqueles que a deviam RESPEITAR, sem mais delongas: os políticos. Quando temos uma Ministra da Justiça e o próprio 1º.Ministro a desrespeitar o que está legalmente instituído, afirmando que o "Tribunal Constitucional não está acima do escrutínio", está, por outras palavras a dizer que as Leis são como uma espécie de bola de futebol para chutar à baliza em momentos convenientes.
É tão flagrante a falta de senso ético de alguns governantes [vulgo canalhada], que nem sequer se dão ao dever moral de plasmarem claramente no site do Parlamento o registo curricular dos seus interesses. É só espreitar o que se pode ler sobre Rui Machete e Paulo Portas [e outros]para ficarmos esclarecidos.