Mesmo um cantinho a dizer que Pinto da Costa e Antero Henrique foram absolvidos deve provocar azia |
É natural, e perfeitamente compreensível, que o que vou dizer a seguir seja também um pensamento comum a outros portistas. Penso não cometer nenhuma asneira se der como certo, que o nosso estado de espírito comum já passou daquela fase inicial do choque, para a fase seguinte da expectativa, sem por isso deixarmos de desconfiar do rumo que a Justiça dará ao caso "Cartilha Encarnada".
Como é do vosso conhecimento, há já alguns anos que me inquieto com o alinhamento editorial do Jornal de Notícias. Sem nunca ter baixado para o nível de pasquim (como alguns da capital), foi mesmo assim perdendo o timbre tripeiro que o caracterizava. Jornal de distribuição nacional, orientou-se para o Porto e toda a região do Norte, de forma a compensar o excesso de informação desde sempre concentrado em Lisboa. Outros jornais da cidade entretanto foram desaparecendo, como o Comércio do Porto, Primeiro de Janeiro e Norte Desportivo. Curiosamente (ou, um sério caso de estudo), todos estes jornais acabaram com o advento desta falsa democracia. Se assim não fosse, tivéssemos nós a sorte de sermos governados por grandes estadistas e verdadeiros democratas, hoje o Porto não estava metido no colete de forças em que os vários governos centralistas pós Abril/74 o meteram.
A verdade, é que se antes já andava desconfiado com a brandura do JN face a um centralismo galopante, fiquei ainda mais céptico com o seu novo rumo editorial e a nova administração. Para director, escolheram um tipo que poucos no Porto conhecem, de seu nome Afonso Camões, albicastrense e benfiquista... Mudaram um pouco a imagem, e acrescentaram-lhe mais Lisboa. Com a cumplicidade do "nortenho" Rolando Oliveira (filho de Joaquim Oliveira), e de outros administradores da capital, como o advogado Proença de Carvalho, foram assentando arraiais na cidade, invadindo-a com luvas de pelica, para o transformarem em mais um jornal centralista.
Os centralistas, não são burros, mas também não se pode dizer que sejam inteligentes, porque todo o cuidado é pouco quando se tenta enganar gatos escaldados (como é o meu caso), só porque não despediram alguns dos jornalistas antigos com simpatias regionalistas, como é o caso de David Pontes, sub-director, e o ex-director de informação do Porto Canal, Domingos Andrade.
Pessoalmente, a manutenção destes jornalistas nos quadros da empresa não me convence, nem assegura que o perfil centralista do JN não seja o objectivo principal. Tal como o DN, o Público, o "I", e demais pasquins, o JN continua a tentar branquear o mais que pode o caso "Cartilha Encarnada", e ainda hoje não deu o destaque devido à absolvição de Pinto da Costa e Antero Henrique no (não) caso "Operação Fénix" como faz quando é para publicitar o Benfica ou para denegrir o FCPorto.
Pergunto: o que pensará o FCPorto/Porto Canal sobre isto? Como tenciona lidar com um jornal que lhes tem servido de guia para os noticiários, e que ao mesmo tempo trabalha, com subtiliza grosseira, para a corte centralista? E o que terá a dizer Domingos Andrade? Nada? Não terá opinião, ou também obedece à voz do dono, como todos os cartilheiros da comunicação social dominada pelo nacional-benfiquismo? Já repararam como estes dois horrorosos monstros parecem almas gémeas? Centralismo, e benfiquismo?
Termino, confessando uma fraqueza que ainda não consegui superar totalmente, e que me está a incomodar. A falta de um jornal credível do Porto tem-me coagido a comprar o JN, dia sim, dia não. Não o leio aos fins de semana. Antes, e durante anos a fio, comprava-o todos os dias. Mas esta dieta já é um progresso, para quem se habituou a rotinas de leitura diárias.
Como já aqui referi, não gosto de ser coagido, mesmo que seja por um vício que durante anos supunha saudável. É uma questão de tempo, e de alternativa... Não suporto a ideia de estar a dar pérolas a porcos.
Como já aqui referi, não gosto de ser coagido, mesmo que seja por um vício que durante anos supunha saudável. É uma questão de tempo, e de alternativa... Não suporto a ideia de estar a dar pérolas a porcos.