Sem querer envolver-me demasiado nas questões técnico-tácticas, individual ou colectivamente, quero reafirmar aquilo que sempre disse relativamente à rotação* permanente de jogadores na formação das equipas de Lopetegui, e que se resume a isto: dado o equilibrio qualitativo do plantel esta época, concordo com algumas alterações nos próprios jogos (e não só nos treinos), que é a melhor forma de testar a qualidade de cada jogador com as suas próprias características, e a partir daí construir uma equipa que ofereça o máximo de garantias para chegar aos objectivos que, numa palavra, são as victórias. Só para exemplificar, acho que deu para perceber que Casimiro e Ruben Neves, jogando próximos, não dão profundidade à equipa, bloquendo-a logo à frente da defesa. Foi de certa maneira isso que gerou aquela confusão que esteve na origem do golo do adversário e desnorteou Fabiano naquela saída fora de tempo. Sofrendo um golo estúpido antes dos 2 minutos de jogo, é natural que isso tenha gerado alguma insegurança no resto da equipa.
Não querendo imitar o choradinho típico dos calimeros verdes (e vermelhos), com arbitragens, nem tão pouco seguir pela rota do silêncio submisso da direcção do FCPorto, é obrigatório falar no que ontem previa: o árbitro, como esperava, "fez as coisas pelo outro lado", deixando impunes faltas como as que originaram a expulsão de Maicon no jogo com o Boavista e permitindo que Brahimi levasse porrada de meia-noite, sem mostrar um cartão! E não vou entrar pela politicamente correcta treta de que «não foi por causa do árbitro que não ganhámos», porque isso em Portugal é admitir a justiça do resultado, é quase o mesmo que cometer Hara-Kiri à moda ocidental: sem honra (nem glória). Portanto, considerando a necessidade de alguns ajustamentos para a estabilidade da equipa de Lopetegui, a direcção do FCPorto não pode alhear-se destas assimetrias com as arbitragens, encolhendo-se como o mexilhão, nem transferir para o futebol o laxismo de gestão do Porto Canal.
É fácil, muito fácil mesmo atirarmo-nos aos treinadores, mas no FCPorto destas últimas épocas (3, +ou-), verifica-se que os erros têm partido do tôpo, da administração, seja por excesso de confiança, seja por outras razões desconhecidas. Tenho para mim que nem Victor Pereira nem Paulo Fonseca possuiam qualidade q.b. para treinar um clube como o FCPorto. Se o primeiro resultou de uma saída extemporânea do clube, quando Vilas Boas prometera continuar e ainda assim conseguiu in extremis ganhar o campeonato de 2012/2013, já Paulo Fonseca foi uma contratação de alto risco sustentado apenas num 3º. lugar louvável com o Paços de Ferreira, considerando as dificuldades manifestadas pelo anterior treinador.
Já falei nisto a alguns amigos e até já aqui escrevi, que na actual conjuntura se nota um défice de informação no que respeita aos jogadores e treinadores que chegam pela 1ª.vez, sobre a realidade do clube, a sua mística bairrista (que saudade!), as suas prioridades, a sua relação com a imprensa e para além de tudo, da discriminação a que historicamente é votado. O (agora) Museu do Clube ajuda a ter uma ideia, mas não chega. A comunicação dos que viveram essa mística com os recém-chegados de novo é bem mais preponderante. E percebe-se que tal não está ser feito, ou se está, não é da forma mais eficaz.
Se juntarmos a este cenário o que se está a passar com o Porto Canal, o amadorismo e a falta de imaginação dos directores, torna-se difícil admitir que se trata de uma situação ocasional. Notícias requentadas, falta de programação compensada com outra, repetida mil e uma vez, coberturas sempre atrasadas de eventos relevantes, são um facto, negá-lo é pura desonestidade. Por outro lado, dámos conta de excesso de pessoal, face ao que se tem produzido, em contra-ciclo com um vededismo exibicionista dos colaboradores (festas e festinhas c/ passagens de modelos com jornalistas de ambos os sexos), completamente deslocado com o currículo laborial num Canal ainda por se afirmar. Aquilo parece mais um grupo de amiguinhos, que um projecto de televisão apostado em vencer em fazer a diferença. Ali, tenta-se copiar. e mal. Há potencial? Há! Há gente? Há! Precisa é de ser bem encaminhada. Mas não é daquilo que o Porto precisa, nem foi com este amadorismo que o FCPorto de Pinto da Costa se impôs ao mundo.
Acho pois, que o que falta ao clube é precisamente aquilo que sempre teve (e bem): liderança! Há uma arrogância instalada na estrutura que em vez de unir, afasta os simpatizantes e potenciais associados do clube e que pode igualmente afastar os jogadores. É também com coesão e com o contacto com os adeptos que se restaura a mística. O que temos hoje, é um clube que está a fazer da chama do Dragão uma faísca inofensiva de pirilampo.
*Talvez seja desta que os maníacos do Quaresma (não falo dos vendedores da ideia) tenham percebido que Lopetegui não tem contencioso com o jogador. Pelo contrário, deu-lhe mais uma oportunidade para se afirmar, só que ele não correspondeu. Por mim, não jogava tão cedo. Se ele pede banco, é só sentá-lo, sem piar...