Abomino gente falsa. Se há coisa que me limita a tolerância são os tolerantes do regime, os pacifistas do caos. Aqueles que, em nome de optimismos feirantes, se recusam a ver o que está à vista de todos, sem revelarem predisposição para abdicar das suas regalias pessoais para ajudar o próximo.
Geralmente, falam, a coberto de chorudos ordenados que raramente merecem ou de reformas dúbias e escandalosamente confortáveis. Não duvidem, quando ouvirem um tipo destes, poupem os nervos e mudem de canal, trata-se dos defensores do
"deixa estar assim, que está bem" (para eles, claro).
Portugal está a caminhar para o caos. Social, económica, política e financeiramente falando. O descrédito está em toda a parte e os antecedentes não prenunciam melhoras. E nós, temos nas «mãos» uma democracia sem utilidade nenhuma.
Neste momento, os portugueses andam baralhados com o que se está a passar com o caso Freeport, porque sabem que no seio do próprio Ministério Público alguém está a faltar à verdade. Quem, é o que lhes resta descobrir, e isto, de per si, é extremamente grave por permitir todo o tipo de especulações. É o Estado que se esvazia, progressivamente, de prestígio e de eficiência. Depois, não podemos esperar que seja a sociedade civil a dar o exemplo, porque fazê-lo, num clima desta natureza, é o mesmo que passar a si mesma um atestado de incompetência videirinha. As pessoas dizem: se eles que são o Poder, não cumprem a lei e ninguém os detém, por que haveremos nós de a cumprir? Esta é também uma das explicações (quiçá a mais séria), para o aumento da criminalidade, mas raramente é citada pelos tais moralistas da conveniência pessoal.
No caso Apito Dourado, toda a gente já percebeu que Pinto da Costa está muito longe de corresponder ao mafioso com super poderes que andaram a apregoar. E quem o fez, não foi o povo, foi uma comunicação social centralista ao serviço dos clubes da Central (Benfica e Sporting), que se encarregou de lhes fazer a cabeça enfatizando as suspeitas.
O certo, é que, à medida que as investigações avançam mais se constata que tudo não passou de uma manobra orquestrada para, através do homem e apenas pela sua competência, poderem atingir de morte o Futebol Clube do Porto. Ora, neste caso, o Sr. Procurador Geral pôs-se a jeito para perder credibilidade, pelo menos, de parte desse povo (o do Porto/Norte e adeptos dispersos pelo mundo), já que permitiu ser conduzido, em vez de conduzir o referido processo.
Abriu assim, um gravíssimo precedente, tanto a nível pessoal, como para o próprio Ministério. Por outro lado, não deu qualquer sinal de isenção, ignorando sistematicamente todas as reclamações ao não proceder com igual diligência em relação às suspeitas que recaíam sobre o presidente do Benfica e das hipotéticas ligações à droga, bem como ao telefonema que fez (e todos pudemos ouvir), a Valentim Loureiro para seleccionar um árbitro. Logo aqui, o senhor Procurador e respectiva equipa, deram um sinal inequívoco de parcialidade prestando-se sem rebuço a toda a sorte de boatos, incluindo o de se deixar instrumentalizar.
Há o caso Casa Pia, que não ata, nem desata, há o de Vale e Azevedo que foge e ridiculariza o Estado português em Inglaterra e no Mundo, brincando com ele ao gato e ao rato, mantendo-se provocante e pomposamente em liberdade. Há a banca, e os escândalos que se conhecem, com um único detido, e com o outro implicado, continuando, calmamente, a ocupar o lugar supostamente prestigiado de Conselheiro de Estado. Há um presidente de Câmara (Oeiras) a fazer afirmações de uma leviandade gritante para os seus pares, a depositar na Suíça, em seu nome, dinheiros públicos. Há o recente caso de «solidariedade» ao Boavista, promovido por quem tudo fez (e conseguiu) para o prejudicar (o Benfica), com a anuência inqualificável do presidente do Boavista. E há agora o caso Freeport que, tal novelo de lã, não se consegue descobrir a ponta para o desfazer, deixando porém, uma certeza: no Ministério Público, alguém [ou alguns], está a fazer bluff.
Se, como tudo aparenta, alguém está a fazer bluff, há que apurar concretamente, quem. Mas, para nós, simples cidadãos, a parte que interessa saber, é esta: se tudo ficar na mesma, o que vamos nós fazer com estes cavalheiros? Se os deixarmos à solta, então estaremos a autorizar, implicitamente, a abertura das portas de todas as cadeias do país. E será «justo».
Errata:
Por lapso tinha escrito ex-presidente da Câmara de Cascais, quando devia ser Presidente da Câmara de Oeiras.