15 julho, 2011
Crime do Estado
Uma ilegalidade desta envergadura não dá direito a prisão? Além da química, o que distingue uma inundação criminosa de um incendiário?
Será que vamos deixar cometer mais este crime?
Um Porto Canal, à FCPorto...
Se tudo correr como se espera, o Norte [e não apenas o Porto], poderá ficar a dever ao Futebol Clube do Porto, e ao seu líder carismático, Pinto da Costa, aquilo que nenhuma outra instituição ou pessoa, foi capaz de fazer até agora: dar à região, a voz e o protagonismo que ela precisa. Por mais justificações que apresentem, não serão os grandes empresários, e muito menos os políticos da região, que poderão orgulhar-se de terem sido eles a tomar a decisão de aproveitar a estrutura [já operacional] do Porto Canal, para, a partir daí, desenvolverem uma área de negócio autónoma, tão necessária ao Norte. Há, no entanto, que reconhecer o mérito de todos os que estiveram envolvidos na implantação do projecto original, quanto mais não seja por terem sido os primeiros a tomar a iniciativa.
Julgo não me enganar, se disser que haverá muita gente a partilhar do meu optimismo, por antever um longo e risonho futuro ao Porto Canal. É que, não sendo essa a área de negócio de Pinto da Costa, ele é exímio a rodear-se de gente competente em cada sector. Alguém devidamente habilitado lhe terá sugerido o nome de Domingos Andrade para a Direcção de Informação e Programação, e por isso só temos é que confiar e aguardar. Porém, há algumas vicissitudes no mundo da televisão que importaria evitar. A primeira, é fugir das imitações, do déjà vu seguido pelos canais lisboetas. Esse, será o caminho mais curto para o fracasso. Se à falta de ideias [e vamos crer que não vão faltar], tiverem de copiar um ou outro programa, então que optem pela qualidade, mas que copiem bem. Depois, que haja muita inteligência para saber associar o mais possível a criatividade à qualidade, sem descurar a rentabilidade. Caso se deixem dominar pelas audiências rápidas, a rapidez do insucesso será maior.
No Porto, e em todas as outras cidades do Norte, do interior ao litoral, não faltam temas nem pessoas potencialmente interessantes. Há que investir nelas. Que as mostrem às populações, que falem sobre elas e sem complexos, que esqueçam por uns tempos Lisboa, tanto tempo quanto Lisboa nos tem esquecido a nós. Pelo menos, até não haver um bom nortenho [ou nortenha] por descobrir.
Do Porto, vem-me à memória um Hélder Pacheco, um Germano Silva, e tantos outros homens de valor e nobre carácter, que [pasme-se], nunca tive o prazer de ver nos canais centralistas... E que se varie o mais possível, sobretudo, que não se descarrile para a piroseira, que não façam o que o simpático Ricardo Couto tem feito ultimamente, que é entrevistar gente por demais conhecida das estações lisboetas. Não nos podemos dar, para já, a esse "luxo".
Precisamos de recuperar o tempo e o espaço que nos negaram. Não sejamos ingénuos e saibamos ultrapassar de vez esta ideia de subalternidade relativamente à capital. Nós somos Norte, somos a História nacional contada na certa direcção. E estejemos atentos à concorrência que, nos últimos tempos, anda a dar-se ares de muito "descentralizadora". Cuidado, eles não dão ponto sem nó...
Precisamos de recuperar o tempo e o espaço que nos negaram. Não sejamos ingénuos e saibamos ultrapassar de vez esta ideia de subalternidade relativamente à capital. Nós somos Norte, somos a História nacional contada na certa direcção. E estejemos atentos à concorrência que, nos últimos tempos, anda a dar-se ares de muito "descentralizadora". Cuidado, eles não dão ponto sem nó...
Como não podia deixar de ser, o desporto terá um espaço priveligiado no Porto Canal. Muito se pode aproveitar de bom da actual grelha de programas, mas muito mais e melhor há ainda por fazer. Competência, imaginação e muito trabalho, é tudo o que se pede.
À FCPorto.
À FCPorto.
14 julho, 2011
Domingos Andrade, da Lusa para o Porto Canal
Domingos Andrade |
O director-adjunto troca a agência de notícias pelo Porto Canal.
O director de informação da Lusa, Luís Miguel Viana e Domingos Andrade, director-adjunto, despediram-se hoje da agência de notícias.
Em comunicado enviado às equipas, a direcção de informação confirmou ainda que Domingos Andrade ocupará o cargo de director de Informação e conteúdos do Porto Canal, tomando posse a 1 de Agosto. Luís Miguel Viana sai da empresa através de um acordo de rescisão amigável.
David Pontes foi definido pela administração como novo director interino.
"Foi uma honra termos participado no processo de dinamização da Lusa, que tanto se modernizou nos últimos anos, sendo hoje uma agência de notícias presente em todas as plataformas. Agradecemos a todos os que nos ajudaram no nosso trabalho. E desejamos que continuem uma agência com cada vez mais país, cada vez mais lusofonia, cada vez mais multimédia", é a mensagem dirigida aos profissionais da agência.
[De/Económico]
13 julho, 2011
Será impressão minha, ou o Porto Canal já estorva?
Ou isto são sintomas de uma grave toxicidade informativa , ou algo de estranho se anda a passar, no obscuro mundo das televisões centralistas. Agora, mais do que nunca, é preciso ficarmos atentos com as suas movimentações e procurar descobrir o que têm escondido sob a manga. Passo a explicar.
Nos últimos tempos tenho observado uma inusitada presença dos 3 canais centralistas pela nossa região, coisa que habitualmente só costuma acontecer por más razões, e isso, está a deixar-me algo preocupado.
Aqui há umas semanas, a pretexto da inauguração da nova sede da EDP no Porto, a SIC aterrou em peso na nossa cidade, proporcionando um belo espectáculo televisivo nas margens do Douro, não faltando a presença da Bárbara Guimarães e outras figuras do jet-treta lisboeta. Tempos depois, outros canais vieram para as praias do Norte mostrar ao país real que há mais praias para além do Estoril e do Algarve. Foram à Foz, a Matosinhos, à Apúlia, falaram dos sargaceiros, foram até Ponte do Lima, enfim, parecia terem descoberto finalmente que há mais Portugal, a norte de Aveiro.
Ontem, a TVI andou por Espinho, e a história repetiu-se. Os repórteres lá se lembraram de falar com os pescadores, e de refazer a história de uma terra que já foi estância balnear de eleição, em tempos idos. Enfim, de repente, e ao fim de tantos anos, as televisões acordaram e desataram a tratar o Norte com uma atenção até aqui inexistente, e a olhar para a "província" com outro cuidado e olhos "condescendentes"...
E é esta súbita mudança das operadoras públicas e privadas da televisão centralista que me traz desconfiado, e preocupa. Preocupa-me muito, mesmo. Suspeito que este estranhíssimo comportamento não passe de uma estratégia concertada para tentar esvaziar o impacto regional [e nacional] da futura política de comunicação do Porto Canal que, como devem saber, vai ser propriedade do FC Porto a partir de Agosto. Então, é chegada a hora de "descentralizar" um bocadinho, antes que seja tarde...
Eles são cretinos, mas não são burros. Burros serão aqueles que não quiserem perceber o que poderá estar a passar-se. É que o povo, esse povo tão facilmente influenciável, costuma ter a memória curta, e quando é assim, torna-se fácil dar-lhe a volta...
Quase confirmado. Alex Sandro assinou pelo FCPorto
Adoro, quando leio aquelas notícias prenhes de venêno dos pasquins lisbonários, que em vez de dizerem que o FCPorto é, recorrentemente, hábil negociador na compra de jogadores que também interessam ao clube dos Goebells da 2ª circular, preferem dizer: o FCPorto roubou fulano, ou desviou beltrano do Benfica.
É impossível, tanta dor de cotovêlo!
Se não passar de falso alarme, não há azar. Até poderá servir de prova da bandalheira a que chegou a televisão do Estado. A fonte, é da RTP, aquela sobre a qual Cavaco Silva tem o supremo dever de controlar... Leiam aqui.
É impossível, tanta dor de cotovêlo!
Se não passar de falso alarme, não há azar. Até poderá servir de prova da bandalheira a que chegou a televisão do Estado. A fonte, é da RTP, aquela sobre a qual Cavaco Silva tem o supremo dever de controlar... Leiam aqui.
Um mata, outro esfola
O dr. Jorge Fiel, meu amigo de longa data, que integra actualmente a Direcção do nosso JN, é uma das pessoas com quem há mais tempo venho discutindo a questão da Regionalização e a questão colateral da sucessiva perda de influência do Porto e da Região Norte em Portugal.
Discussão daquelas que se travam entre pessoas que estão de acordo (sim, que discussão não obriga a contraditório, como alguns pensam) e em que os argumentos de um se somam ou reforçam os argumentos do outro.
Neste caso, como diz o povo, se um mata, o outro esfola.
Isto tudo para chamar à colação o editorial em que o Jorge (ele é licenciado, mas como o nosso novo ministro da Economia também gosta que o tratem por Jorge ou Fiel) se declara galego do Sul, lamentando a má opção do fundador da nacionalidade, Afonso Henriques. (Não sei se o nosso primeiro rei partilharia dos gostos do Jorge e do Álvaro, mas hoje fica só Afonso...).
Era possível dizer ou pensar que com este editorial o Jorge mata o assunto. Mas eu vou ainda tentar esfolá-lo.
O meu amigo Jorge, fiel aos ensinamentos da História que vários anos de frequência universitária lhe deram, começou a sua crónica em Guimarães, há mais de mil anos.
Não tendo possibilidade de apresentar tal currículo vejo-me forçado a começar a minha na actualidade e dá-me mais jeito que a casa partida seja na ilha da Madeira.
É sabido que a Região Autónoma da Madeira vive muito acima das suas possibilidades, gastando muito mais do que produz. Isso tem acontecido e continua a acontecer porque em nome da solidariedade nacional e dos custos de insularidade (seja lá o que isto quer dizer) o governo da República tem sustentado o défice crónico da Região. Será que o Estado pensa que a Madeira alguma vez pagará o que deve e que vai aumentando a cada ano que passa?
Claro que não e, "mutatis, mutandis" , era isso que a Europa devia pensar da nossa dívida, se fosse uma União Europeia tão unida como o nosso lindo Portugal.
Se o Norte fosse uma ilha de verdade e não apenas uma ilha de pobreza no meio do oceano europeu de ricos e remediados, em vez de galegos do Sul, bastar-nos-ia ser os madeirenses do continente...
Já se sabe que quando Passos Coelho aludiu à experiência a fazer com uma região piloto, não se estava a lembrar, ou melhor dizendo, não se estava a referir, nem à Região Autónoma da Madeira, nem à dos Açores. Talvez porque sendo regiões verdadeiras há muito, não são de pilotagem fácil...
Convém dizer aqui e desde já que não sou dos que dizem cobras e lagartos da maneira como a Madeira tem vivido melhor do que poderia. Bem pelo contrário, qual águia ou leão que sonha um dia ter um presidente como o dos dragões quase sempre campeões, eu jardinista me confesso, no sentido (único) de que numa Região Norte, com um Alberto João à frente, teríamos hoje melhores condições de vida.
Claro que não se trata disso quando defendemos a Regionalização, mesmo sabendo que o Norte teria muito mais razões e capacidades para agitar o espantalho da independência como gostam de fazer na Madeira sempre que as transferências de mais fundos do continente parecem ameaçadas.
Como é evidente a questão da independência do Norte só se pode colocar em termos académicos, mas num cenário (nestes dias mais remoto...) de aprofundamento federalista da União Europeia, a criação de uma grande Região do Noroeste Peninsular, independente economicamente do resto do antigo Portugal, não seria, não será pura ficção.
O que se pretende com ou sem a Madeira ou a Galiza, é que o Norte faça parte de um país equilibrado que trabalhe para esse equilíbrio e se reveja nele.
Será que não podíamos aproveitar a janela de oportunidade que a troika nos abre com a reorganização administrativa que nos é imposta?
[NO JN]
Nota de RoP
Declaração de interesses: sendo assumida e publicamente apoiante da reforma administrativa do Estado, vulgo, um regionalista [de longa data] desavergonhado, quero acrescentar que não se trata de uma questão de fé, mas de uma convicção profunda. Tão profunda e obsessiva, como profundo e absoluto é o meu descrédito pelo centralismo actual e dos últimos 30 anos!
Neste caso, como diz o povo, se um mata, o outro esfola.
Isto tudo para chamar à colação o editorial em que o Jorge (ele é licenciado, mas como o nosso novo ministro da Economia também gosta que o tratem por Jorge ou Fiel) se declara galego do Sul, lamentando a má opção do fundador da nacionalidade, Afonso Henriques. (Não sei se o nosso primeiro rei partilharia dos gostos do Jorge e do Álvaro, mas hoje fica só Afonso...).
Era possível dizer ou pensar que com este editorial o Jorge mata o assunto. Mas eu vou ainda tentar esfolá-lo.
O meu amigo Jorge, fiel aos ensinamentos da História que vários anos de frequência universitária lhe deram, começou a sua crónica em Guimarães, há mais de mil anos.
Não tendo possibilidade de apresentar tal currículo vejo-me forçado a começar a minha na actualidade e dá-me mais jeito que a casa partida seja na ilha da Madeira.
É sabido que a Região Autónoma da Madeira vive muito acima das suas possibilidades, gastando muito mais do que produz. Isso tem acontecido e continua a acontecer porque em nome da solidariedade nacional e dos custos de insularidade (seja lá o que isto quer dizer) o governo da República tem sustentado o défice crónico da Região. Será que o Estado pensa que a Madeira alguma vez pagará o que deve e que vai aumentando a cada ano que passa?
Claro que não e, "mutatis, mutandis" , era isso que a Europa devia pensar da nossa dívida, se fosse uma União Europeia tão unida como o nosso lindo Portugal.
Se o Norte fosse uma ilha de verdade e não apenas uma ilha de pobreza no meio do oceano europeu de ricos e remediados, em vez de galegos do Sul, bastar-nos-ia ser os madeirenses do continente...
Já se sabe que quando Passos Coelho aludiu à experiência a fazer com uma região piloto, não se estava a lembrar, ou melhor dizendo, não se estava a referir, nem à Região Autónoma da Madeira, nem à dos Açores. Talvez porque sendo regiões verdadeiras há muito, não são de pilotagem fácil...
Convém dizer aqui e desde já que não sou dos que dizem cobras e lagartos da maneira como a Madeira tem vivido melhor do que poderia. Bem pelo contrário, qual águia ou leão que sonha um dia ter um presidente como o dos dragões quase sempre campeões, eu jardinista me confesso, no sentido (único) de que numa Região Norte, com um Alberto João à frente, teríamos hoje melhores condições de vida.
Claro que não se trata disso quando defendemos a Regionalização, mesmo sabendo que o Norte teria muito mais razões e capacidades para agitar o espantalho da independência como gostam de fazer na Madeira sempre que as transferências de mais fundos do continente parecem ameaçadas.
Como é evidente a questão da independência do Norte só se pode colocar em termos académicos, mas num cenário (nestes dias mais remoto...) de aprofundamento federalista da União Europeia, a criação de uma grande Região do Noroeste Peninsular, independente economicamente do resto do antigo Portugal, não seria, não será pura ficção.
O que se pretende com ou sem a Madeira ou a Galiza, é que o Norte faça parte de um país equilibrado que trabalhe para esse equilíbrio e se reveja nele.
Será que não podíamos aproveitar a janela de oportunidade que a troika nos abre com a reorganização administrativa que nos é imposta?
[NO JN]
Declaração de interesses: sendo assumida e publicamente apoiante da reforma administrativa do Estado, vulgo, um regionalista [de longa data] desavergonhado, quero acrescentar que não se trata de uma questão de fé, mas de uma convicção profunda. Tão profunda e obsessiva, como profundo e absoluto é o meu descrédito pelo centralismo actual e dos últimos 30 anos!
11 julho, 2011
MPN: Pinto da Costa pode integrar comissão organizadora do congresso
“Ao Norte falta um grande partido, com gente credível, que não vá para Lisboa só para fazer número, só para se baixar ou levantar nas votações”. As palavras de Jorge Nuno Pinto da Costa, proferidas na semana passada durante a conferência promovida pela TSF para assinalar os 20 anos de emissões a partir do Porto, foram recebidas pelo Movimento Pró-Partido do Norte (MPN) como uma mensagem de “inequívoco apoio” ao movimento “que não é o Partido do Norte”, mas que quer sê-lo efectivamente.
Pedro Baptista, presidente da Comissão Coordenadora, lembra que o MPN é apenas “um movimento para constituir um partido do Norte” e afirma que se revê inteiramente nas palavras do presidente do FC Porto, que sempre se mostrou favorável à criação de um partido que defenda os interesses da Região. “O Norte precisa de um partido forte, que congregue as pessoas livres, que não virem as agulhas mal cheguem a Lisboa. É preciso dar um salto qualitativo na consciência politica dos nortenhos, que sejam capazes de criar uma força política autónoma que defenda a Região, independentemente de ser mais à esquerda ou à direita, independentemente de correlações ideológicas”.
Conversas
Baptista revela que foram várias as conversas com o presidente do FC Porto sobre o projecto do MPN e que ele só não esteve presente no jantar do Conselho Nortenho, ocorrido em Maio, por incompatibilidades de agenda. E adianta ainda que é intenção do movimento reunir as pessoas mais representativas dos “diversos nortes do Norte e das diversas actividades da Região e sensibilidades ideológicas” para integrarem a comissão organizadora do congresso fundador do partido, que poderá realizar-se ainda este ano. Pinto da Costa será, “obviamente”, um dos convidados. “Nós somos uma espécie de comissão instaladora. Agora, é preciso é que essas pessoas apareçam e se predisponham a tomar essa atitude, porque o que os chamados notáveis do Norte têm feito não tem sido isso – ou remetem-se ao silêncio, andam à procura da sua portinhola privada para Lisboa ou têm andado no seio ou nas bordas dos partidos do arco do poder”, defende Pedro Baptista, acrescentando que afastar-se-á “suavemente” do processo, caso seja necessário.
Nova reunião no dia 16
À margem disso, a comissão coordenadora do movimento volta a reunir-se no dia 16 de Julho, para constituir grupos de trabalho que terão como missão aproximar o MPN dos movimentos sociais e de juventude.
[Do semanário GrandePorto/João Queiroz]
[Do semanário GrandePorto/João Queiroz]
Eu, galego do sul
Lisboa, no canto do cisne que nos atirou para o buraco negro em que sobrevivemos, persiste em agredir cegamente a cidade onde Portugal foi buscar o nome e a região que foi o seu berço.
Acho que todos nós, pelo menos uma vez na vida, nos interrogámos porque raio é que o bom do D. Afonso Henriques se virou para Sul, e não para o Norte, quando se tratou de dar forma e assegurar o espaço vital ao país que fundou a partir do Condado Portucalense.
Tenho boas razões para desconfiar que seríamos bem mais prósperos e felizes se o fundador e seus sucessores tivessem seguido a direcção indicada pela bússola em vez de terem ido por aí abaixo, de espada em punho, a fazer guerra aos mouros, só se detendo quando chegaram às praias algarvias.
O problema é que, apesar de imensamente sedutora, esta opção era desadequada, talvez até mesmo irrealista, à luz dos equilíbrios políticos da Península em meados do século XII.
A passividade com que o seu primo Afonso VII e a monarquia leonesa observaram a emancipação do Condado Portucalense deve-se ao facto de Afonso Henriques ter optado por combater o império almorávida, conduzindo os seus exércitos para além do Tejo.
Tivesse o fundador ousado atravessar o rio Minho, em vez de fazer guerra aos muçulmanos, e a realidade política da Península Ibérica seria hoje radicalmente diferente.
Por muito que nos custe, esse pecado original a que o nosso primeiro rei foi impelido deve-se a um pragmatismo que não lhe podemos censurar.
Hoje, quase nove séculos volvidos sobre o seu nascimento, Portugal combina uma invejável unidade linguística e as fronteiras mais estáveis e antigas da Europa com uma enorme diversidade de culturas, caracteres e paisagens.
Não é preciso ser antropólogo (basta ter olhos na cara) para constatar que um minhoto é muito parecido com um galego - e muito diferente de um alentejano ou algarvio. E não é preciso ser um geógrafo para observar, à vista desarmada, que a serra dos Candeeiros é a fronteira que cose dois países diferentes unidos há séculos pela política mas separados pela geografia e costumes.
Ignorante da história e da realidade do país que a sustenta, Lisboa, no canto do cisne do centralismo que nos atirou para o buraco negro em que sobrevivemos, persiste em agredir cegamente a cidade onde Portugal foi buscar o nome e região que foi o seu berço.
Quando se trata de portajar as Scuts, não começa pela mais antigas - mas pelas do Norte. E quando se trata de pôr em prática o criminoso plano de liquidação da rede ferroviária, começa por fechar a ligação Porto-Vigo - enquanto reabilita a linha das Vendas Novas.
É nestes momentos de revoltas, cada vez mais frequentes, que questiono a opção geográfica de Afonso Henriques - e me sinto mais um galego do sul do que um português do Norte.
[No JN]
Nota de RoP:
Tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado. E agora? O que se segue? O fado seguinte?
Abram as tascas então, e chorem, chorem. Com o "nosso" fado pode bem o centralismo.
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