O presidente da Administração dos Portos do Douro e Leixões
(APDL), Matos Fernandes, renunciou ao cargo na quinta-feira e lamentou
“profundamente” a “ausência de decisões nas restantes empresas
do sector”.
“A ambição de Leixões não é compatível com a indefinição de mandatos e a minha saída, voluntária, tem como objectivo garantir a nomeação de um novo conselho de administração a 21 de Maio”, afirma o gestor, já depois de a sua saída se ter tornado pública em notícia avançada pelo semanário Grande Porto.
No texto enviado à agência Lusa, Matos Fernandes manifesta-se
“profundamente” preocupado com “a ausência de decisões nas restantes
empresas do sector” e sustentou não ser “razoável que aqui não haja uma
decisão”.
“Esta cabe ao accionista [Estado], que tem ainda um mês para a ponderar”, refere.
Com efeitos a partir de 30 de Maio, a renúncia de Matos Fernandes
acontece a um mês da realização da assembleia-geral da APDL, que deverá
nomear um novo conselho de administração para a gestora portuária.
O gestor diz, por isso, manter “a forte expectativa” de que a
renúncia “não necessite de concretização”, em consequência da sua
“normal substituição” naquela reunião magna de accionistas.
O ainda presidente da APDL destaca ter já enviado
ao accionista Estado os elementos de prestação de contas relativas ao
ano de 2011, “que confirmaram um resultado positivo de 10,3 milhões de
euros”.
“Os 7 anos que passei na APDL, 4 dos quais como presidente, foram os
mais gratificantes da minha vida profissional, tendo liderado
uma excepcional equipa, com a qual partilho o sucesso de Leixões”,
remata Matos Fernandes.
A saída de João Pedro Matos Fernandes acontece num contexto de
indefinição em torno do modelo de gestão dos portos portugueses, no
âmbito do qual o Governo pretenderá fundir as administrações portuárias
do país.
Esta decisão tem vindo a gerar grande polémica a Norte, dados os bons
resultados operacionais do porto de Leixões comparativamente com as
restantes estruturas portuárias do país.
Rui Moreira lamenta saída
O presidente da Associação Comercial do Porto (ACP), Rui Moreira,
lamenta, esta sexta-feira, ”profundamente” a renúncia de Matos Fernandes
à presidência do Porto de Leixões e critica a “indefinição”
do actual Governo “em todo o sector dos transportes”.
“Lamento profundamente a saída do engenheiro Matos Fernandes. Foi um
extraordinário presidente da APDL [Administração dos Portos do Douro e
Leixões], que soube modernizar e continuar o trabalho do seu
antecessor”, sustenta Rui Moreira.
Para Rui Moreira, a saída do presidente da APDL “é um péssimo
sintoma”, porque, “se sai, é porque não lhe foram dadas condições para
continuar”.
“Se uma pessoa não percebe se vai ser ou não reconduzida, se a APDL
vai ser ou não extinta, se vai haver ou não fusão [entre os portos
portugueses], tudo isto são coisas que deixam marcas e que não
contribuem para que aqueles que querem fazer investimento e definir as
suas estratégias de desenvolvimento o possam fazer”, afirmou.
A este propósito, Rui Moreira manifestou-se também “muito preocupado”
com a “indefinição por parte do Governo”, quer a nível da estratégia
portuária, quer “em todo o sector dos transportes”.
SE adia decisões
“Este secretário de Estado tem vindo a adiar progressivamente as
definições nas políticas nos transportes. Na questão dos portos, o
secretário de Estado anunciou há algum tempo a intenção de avançar com a
fusão, mas continuamos a não saber o que é que sucede”, referiu.
Na sua opinião, o mais “preocupante” é que “estas indefinições levam à
saída dos melhores” e, sendo Leixões e os portos portugueses no seu
todo “muito importantes para a economia nacional, tem que haver alguma
coisa mais concreta que permita que as pessoas se possam concentrar e
ter uma estratégia definida”.
Relativamente à intenção, reiterada pelo atual Governo, de avançar
com a fusão dos portos portugueses, Rui Moreira considera que é
“absolutamente inaceitável”:
“Não conheço nenhum argumento favorável, não há, ao contrário do que o
senhor secretário de Estado vai para aí dizendo, nenhum modelo europeu
de fusão de portos e vai ao arrepio das indicações da Comissão Europeia,
que se preocupa, exactamente, com a criação de concorrência saudável
entre os portos”.
Para Rui Moreira, não vinga o argumento da necessidade de coordenação
entre as várias infra-estruturas portuárias, pois “para isso é que
existe o IPTM [Instituto Portuário e dos Transportes Marítimos] como
instrumento regulador”.
“Tenho a certeza que isto não vai poder ser concretizado. Já
existiram estes propósitos nos 2 Governos anteriores e nunca conseguiram
levar isto a cabo. O que é pena é que estas indefinições levem ao
desapontamento, à saída dos melhores e a um ambiente de incerteza para o
qual lamento que seja o próprio Governo a contribuir”, rematou o
presidente da ACP.
Nota de RoP:
Cada vez me convenço mais que a ideia de governo que se apossou da classe política dos últimos anos, é destruir o pouco que funciona bem no país, e numa segunda fase, ocupar o tempo na televisão para branquear a incapacidade própria para construir qualquer coisa de jeito e consistente. E eu que pensava que em democracia "rotinas" destas eram impossíveis...