02 junho, 2012

Eu não votei na troika. E você?


Editorial: Porta-aviões ao fundo

1. Já aqui falei sobre a questão do porto de Leixões. É o mais rentável do país, o mais bem gerido e aquele com maior margem de crescimento. Talvez por isso, tornou-se num fruto apetecido, o ponta-de-lança para uma holding a agregar todos os portos nacionais, com uma gestão única e centralizada. Este é, sem sombra de dúvida, um projecto nefasto para o porto de Leixões e para o Norte. Em 2011, deu um lucro de 10 milhões de euros. Entretanto, inaugurou um terminal de passageiros que este ano, como o GRANDE PORTO adianta nesta edição, já vai atingir os objectivos previstos para… 2018. Dito de outra forma, o porto de Leixões encetou há uns anos uma estratégia de crescimento sustentado que deu plenos resultados. O que faz o Governo perante este caso de sucesso? Empurrado pela troika, que pouco ou nada percebe sobre as especificidades regionais do país, estuda juntá-lo a outras estruturas portuárias altamente deficitárias, promovendo na prática transvases financeiros que podem ser o caminho para o desastre. É imperativo que o Norte se manifeste claramente contra esta opção que não traz nada de bom para a região. Matos Fernandes, o até final de Maio presidente da Administração dos Portos do Douro e Leixões, não quis mais dar para este peditório e bateu com a porta. É um exemplo para a posição de firmeza que o Norte e todos os seus agentes políticos e económicos devem tomar. O projecto em causa não interessa a quase ninguém, mas não interessa principalmente à região. 


2. A questão dos transportes públicos é outra em que a intromissão da Administração Central só serve para baralhar. Com a Metro do Porto e a STCP a apresentarem cada vez melhores resultados operacionais, o Governo continua a não se decidir sobre o modelo de gestão que quer aplicar nas empresas. Mais grave, é directamente responsável por um vazio administrativo no metro, que reúne em sucessivas assembleias gerais sem nomear os administradores e sem traçar um rumo certo para a empresa. Os autarcas continuam às aranhas e ninguém sabe quando haverá fumo branco. A pressa, como se vê, é mesmo inimiga da perfeição. 

3. A Porto Vivo ainda não viu a cor do dinheiro que o Estado tem que injectar, e comprometeu-se a tal, na sociedade de reabilitação urbana. E nem o novo organigrama, onde deverá surgir um Conselho Geral, está definido. Mais palavras para quê?



[de Miguel Angelo / Grande Porto]

Sabedoria a mais para país a menos




[do Público]

31 maio, 2012

Hélder Pacheco e os vendidos da província

Há algum tempo atrás, o professor Hélder Pacheco escreveu no JN uma crónica magnífica onde recomendava aos  deputados da actualidade eleitos pela província a lerem a história de Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda, um seu antecessor eleito para as Cortes do liberalismo. A história resume-se ao seguinte: Elói Barbuda personagem do romance cómico "A Queda de um Anjo", de Camilo, era um pacato e tímido homem da serra que assim que chegou a Lisboa criticou severamente a vida luxuosa e fútil que por lá se fazia. Mas não durou muito a indignação. Com o tempo familiarizou-se com o ambiente, constituiu família e converteu-se ao mundanismo, juntando-se à sociedade hipócrita e golpista da capital.

Nesse artigo, Hélder Pacheco pretendia chamar a atenção para os continuadores de Elói que hoje gravitam por todo o lado e em todas as actividades, particularmente gente ligada ao jornalismo, à cultura e à política. Tudo por uma razão muito simples. Ainda é em Lisboa que se vive à tripa forra, e nalguns casos faustosamente, dos recursos do resto do país. Por isso não é para admirar a metamorfose dos "aculturados"...

O que realmente admira, e aí concordo absolutamente com Hélder Pacheco, é que essa gente se converta tão rapidamente ao centralismo, mais ainda que os próprios lisboetas, ignorando as próprias raízes. O que afinal pretendia dizer H. Pacheco era que ainda há excepções. E nessas excepções elegia o jornalista Júlio Magalhães, actual director geral do Porto Canal, por ter resistido às maravilhas e aos cantos de sereia do Terreiro do Paço, mantendo-se portuense e portista, regressando à terra mãe.

Tal como Hélder Pacheco, faço votos para que a resiliência do Juca [como lhe chamou] se mantenha e mesmo reforce porque o Porto vai precisar. A propósito, HPacheco aproveitou para mandar um recado a algumas meninas do Porto Canal aparentemente colonizadas de ouvido [como ele disse] por abrirem demasiadamente os "ás" e os "ós" à maneira de Lisboa. Esqueceu-se foi do Ricardo Couto e do seu inenarrável programa À Conversa com Ricardo Couto", que mais não é do que a versão Calistoeloiana de um programa de televisão.


29 maio, 2012

A caça às bruxas abriu. O caçador-chulo chama-se Hélder Conduto

Vamos colocar as coisas nestes termos: se você apanhasse um colega de trabalho a fazer algo que pudesse afectar o bom funcionamento  da empresa, roubando, falsificando, ou mesmo fazendo o contrário daquilo que seria suposto fazer, sabendo que isso podia prejudicar a imagem e o trabalho de todos os outros colegas, calava-se ou denunciava a ocorrência? A sua resposta, caro leitor, fica ao critério da sua consciência, não precisa de ma dar. Mas eu dou a minha: denunciava-o imediatamente. 

Escrevo isto porque continuo profundamente convencido que quando alguém, seja de que profissão for, assiste a um acto grave dentro do seu local de trabalho praticado por um colega, tem o dever de o denunciar sob pena de, não o fazendo, se tornar cúmplice do infractor por omissão. 

Suponho que é por fazerem exactamente o contrário do que eu faria, que jornalistas e políticos gozam cada vez menos da confiança do povo e que já ninguém os leva a sério. Isto para dizer que a nova temporada de caça a Pinto da Costa e ao FCPorto está aberta. Foi logo pela manhã que esse escroque chamado Hélder Conduto, funcionário da RTP, chulo não assumido [recebe dinheiro dos impostos dos portistas e passa a vida a dar-lhes porrada], provavelmente a mando de outro mercenário conhecido pelo benfiquista de Paredes, deu início a nova época da má-língua e da conspiração contra Pinto da Costa sempre na vã esperança de assim poderem abalar o clube.

Agora, este moço de recados foi ao Brasil encomendar a Scolari mais umas telenovelas para encher o orgulho ferido da nação vermelha com a perda de mais um campeonato e assim afastar os holofotes da crítica a Luís Filipe Vieira, [mais conhecido por Orelhas ou negociante de coca-cola, sem cola]. É mais do mesmo, já sabemos, mas seja como for, é inadmissível que não haja uma entidade capaz de suster a fome de sangue desta escumalha.

Por conseguinte,  é  intolerável que andem agora a queixar-se de pressões do poder político [o caso Relvas é paradigmático], e que ao mesmo tempo assistam impávidos e serenos a este jornalismo de prostituta sem uma palavra pública a demarcarem-se dele. Por isso, comem todos por igual. E muito bem, digo eu.

Apreciem os actores... sem se rirem [se possível].

28 maio, 2012

Nós e os gregos

É claro que os processos prescritos de Isaltino Morais, de Ferreira Torres, de Fátima Felgueiras e de Domingos Névoa [só para citar os que vêm hoje a público no JN], como diriam os conformistas do costume, não passam de faits divers, nem tão pouco espelham toda a classe política e empresarial do país. Mas o que é certo, é que servem para provar que o Sol, ou melhor, a Justiça, quando nasce não é para todos, pois se estes trastes fossem outros, pobres, e acusados pelos mesmos crimes, já estariam há muito a ver o sol aos quadradinhos. E não vale a pena fazer fé nas declarações da Ministra da Justiça por dizer que "vai acabar com a prescrição dos processos", porque também ela [coitada], não é para levar a sério.

Também não é para levar a sério a alteração à lei que regula a contratação de bens e serviços por entidades públicas com os privados porque simplesmente o poder político não quer. Os velhinhos ajustes directos sempre permitem cambalachos mais "promissores" para a engorda bancária dos intervenientes do que os concursos públicos partilhados limpos e transparentes. Outrossim, não interessa à classe política alterar o regime legal que responsabilize financeiramente os gestores públicos, porque isso equivaleria a responsabilizá-los mesmo... Aliás, a obrigação das entidades públicas de apreciar propostas de três fornecedores distintos acompanhada da respectiva fiscalização já esteve prevista na lei, e ficou tudo na mesma. Por isso, mesmo que Cavaco Silva promulgue a versão entregue pelo Governo, nada de concreto mudará visto que continuará a ser permitido assinar contratos de grande valor a uma empresa "seleccionada" pelo gestor sem a obrigatoriedade de consulta a outras. Oito mil milhões de euros foi SÓ o valor  gasto em ajustes directos sem lançamento de concursos de 2009 a Maio de 2012 pelo Estado!

Tudo isto são não notícias, já pertencem ao caruncho político, às rotinas do mafioso noticiário do Estado. Só não se entende é porque a população ainda consegue obedecer às pequenas sacanices da Lei, como os impostos, as multas de trânsito, as portagens, os reboques de viaturas mal estacionadas, o gás, a electricidade, a água, etc., etc.

Tratando-se de seres humanos e não de cabras, o normal, a reacção expectável a esta pouca vergonha seria a desobediência civil, e deixar de pagar o que quer que fosse ao Estado [e à Troika]. Afinal de contas não faríamos mais do que imitar os exemplos dos nossos "queridos" políticos em termos de transparência e de civismo. Mas a verdade é que nós não somos a Grécia, como alguns dizem com "orgulho" . Lá isso não. Somos muito piores. Gostamos muito de pastar, como as cabras.