11 junho, 2012

Já agora, levem-nos também a alma. Democraticamente, s.f.favor...

Sei quem tem a resposta para as minhas dúvidas, ou melhor, sei que tipo de gente me responderia lá do alto da suprema sabedoria - com aqueles irritantes tiques de superioridade - a questões que a mim muito me intrigam. Mas desses iluminados nada me interessa saber, porque são por demais risíveis e previsíveis as suas ideias sobre a sociedade e o mundo.

Albert Camus, também não conseguiu esclarecer-me sobre o assunto, nem mesmo nessa magnífica peça teatral escrita, chamada Os Justos, onde nos confronta com o imperialismo russo dos czares e a inquietude de um grupo de jovens revolucionários em conflito com uma sociedade despótica que se dispõem a matar e a perder a própria vida para acabar com a tirania.  

Não estamos na Rússia, nem sob o jugo de um tirano ou de uma ditadura assumida, mas os caminhos que estão a ser trilhados pelos nossos representantes nesta aparvalhada democracia cada vez se parecem mais com aqueles que os ditadores costumam tomar.

E a questão que coloco é a seguinte: será alguma vez possível, num regime como este, derrubar do poder dirigentes políticos irresponsáveis antes de exaurirem completamente todos os recursos de sobrevivência ao povo? Os tais sábios que atrás referi diriam apressadamente que sim, que só "civilizadamente" e "em democracia" é que estas coisas se resolvem. Mas nós já sabemos qual é o entendimento que eles têm da democracia e do civismo.

A história antiga e recente prova-nos o contrário. Tivemos um aldrabão do PS no governo e contudo, a tal democracia de que eles falam não nos poupou agora de termos outro no PSD [o iva e as reformas eram intocáveis, lembram-se?].

Teremos nós serena e passivamente de os ver de novo a delapidar o país? São estes os poderes democráticos que o povo tem sobre quem tão mal o tem representado? Afinal quem é que elegeu a Troika? Fomos nós? Não é afinal a Troika que nos está a governar?  Como é que a Democracia lhes permitiu entrar no país e dominar vergonhosamente quem foi eleito para o governar? Percebem isto? Será aceitável isto?

Afinal, o que é que lhes faltará mais destruir?  As nossas almas?

10 junho, 2012

O que ficou por perguntar a Fernando Gomes no Porto Canal


O erro de Fernando Gomes



O ex-presidente da Câmara do Porto, Fernando Gomes, assumiu, pela primeira vez, ter cometido "um erro", ao integrar o Governo de Guterres, na qualidade de ministro-adjunto e da Administração Interna, deixando a meio o mandato que os portuenses lhe tinham entregue.

Numa entrevista concedida ao programa "Polo Norte", do Porto Canal, bateu com a mão no peito e disse: "A ideia era deixar espaço para quem cá estava, mostrar que as coisas não corriam mal no Porto, e, entretanto, criar em Lisboa, junto do Poder, um espaço para ajudar o Porto, complementar quem estava na liderança do Porto, através de Lisboa. Saiu errado. E eu nunca assumi a humildade de ter chegado ao Porto e dizer: eu errei".

Esta declaração pungente merece um pequenino reparo. Ou dois. Ou mesmo três.

O erro de Fernando Gomes não foi ter ido para a "maléfica" Lisboa. Esse era o seu destino óbvio, depois do trabalho feito na Câmara do Porto. Gomes desejava, muito legitimamente, ser ministro. O erro de Fernando Gomes foi ter regressado ao Porto como se Lisboa tivesse sido apenas e só um epifenómeno na sua vida política. Não foi.

A passagem por Lisboa marcou-o profundamente - não apenas porque foi trucidado por alguns "companheiros" de partido; não apenas porque lhe caiu em cima uma vaga de assaltos a bombas de gasolina (coisa de meninos de coro, quando comparada com a criminalidade violenta que hoje assusta o país de norte a sul); não apenas porque a atriz Lídia Franco foi apanhada na onda do crime, mediatizando-o até ao paroxismo; não apenas por todas estas circunstâncias, mas sobretudo porque, depois delas, Fernando Gomes entendeu que faria no Porto uma espécie de catarse política, para, quem sabe?, mais tarde regressar ao centro do Poder.

Os portuenses não lhe perdoaram a arrogância que esta estratégia continha. Gomes achou que o povo era bondoso, paciente e sabedor das tropelias de que ele havia sido vítima. Por isso o glorificaria de novo. A empatia entre Gomes e o povo (ou melhor: entre o povo e Gomes) terminou no dia em que ele assumiu nova candidatura à Câmara do Porto. Em certo sentido, Gomes fez então o que Passos Coelho está a fazer agora: pediu paciência aos portuenses. Os portuenses perderam a paciência.

É por isso que custa ouvi-lo dizer que escolheu ir para o Governo para, "junto do Poder, ajudar o Porto". Gomes seria no Executivo uma espécie de canivete suíço do Norte? Soa a desculpa, daquelas que não pegam mesmo usando a cola que agarra cientistas ao teto. Não é com atos quixotescos que o Porto e o

Norte se impõem. Como, aliás, Fernando Gomes muito bem sabe.

Último reparo: por que volta Fernando Gomes ao tema com as autárquicas na rua?

Nota de RoP:

Aqui atrasado publiquei uma crónica deste mesmo autor cujo conteúdo me suscitou alguma repulsa [as razões podem ser relidas aqui e aqui  ]. Hoje, reproduzi esta por razões opostas. É uma síntese muito interessante sobre a ascensão e queda de Fernando Gomes, ex-presidente da Câmara do Porto. 

Na interessante entrevista dada ao Porto Canal conduzida por David Pontes apenas faltou abordar Fernando Gomes sobre o caso relatado neste artigo de Paulo Ferreira, para ficarmos a saber o que pensa o ex-autarca portuense da cilada vergonhosa que lhe montaram em Lisboa para o descredibilizar politicamente, e por que é que nunca falou sobre o assunto, até hoje... Foi pena.