Em primeiro lugar, porque nunca lhes reconheci a abertura intelectual nem a tolerância próprias de uma cidade cosmopolita que sabe absorver naturalmente a cultura mundana, tanto na qualidade de anfitriões como de visitantes. Bem pelo contrário. O lisboeta vulgar é sectário, invejoso, saloio e arrogante. Tem a típica mania dos novos ricos, daqueles que tudo fazem para parecerem muito mais do que efectivamente são. Muito mais cultos, mais espertos, mais civilizados, enfim, melhores em tudo. Comportam-se como se o epicentro da virtude humana emanasse de um único ponto: Lisboa.
Não estou com isto a dizer que em Lisboa não há gente boa, culta e acima de preconceitos, porque ela existe lá, como em toda a parte, só que pouco se revela. Não estou tão pouco a insinuar que os portuenses são todos bons rapazes e superiores a qualquer outro português, de Lisboa a Freixo-de-Espada-à Cinta. O que quero dizer, e tenho como dado adquirido, é que, enquanto o país inteiro é obrigado a olhar para Lisboa por força de um mediatismo hiper-centralista (ene canais de tv, rádios e jornais) o resto do país mal pode dar-se a conhecer pelos mesmos meios, pela simples razão de não os ter.
O Porto, só há poucos anos dispõe de um estação de tv, e mesmo assim em canal fechado. De resto, tudo está concentrado na capital. Digam o que disserem, nenhum cidadão de Lisboa pode contrariar esta realidade: os lisboetas são mais observados que observadores. Comparada com o resto do país - e cuidado que digo resto do país inconformado -, Lisboa é o palco, a estrela, os "outros" são espectadores, sem direito a aplaudir, ou a rejeitar. Logo, estando mais habituados a olhar para o país a partir do próprio umbigo, com a miopia daí derivante, só o podem ver desfocado, por isso limitam-se a especular, quase sempre secundariamente. No extremo oposto, fica o resto do país, que dessa discriminação medieval só tira uma vantagem: uma ideia mais fiável àcerca do que pensa um lisboeta em relação à "província", do que a noção real de um lisboeta sobre o que pensa e sobretudo sente, o resto do país... Por mais que o neguem, isto é inegável, porque são factos físicos, palpáveis, comprováveis, não apenas emocionais.
Como as coisas são mesmo assim, e não de outra forma, é legítimo dizer que também pela televisão se pode conhecer relativamente bem, não só a mentalidade dos que lá trabalham, como os personagens que ali colaboram, desde actores a políticos e jornalistas, etc.,etc. E é aqui que entra a sabedoria do tempo que ninguém pode negar, sem se assumir embusteiro. Durante longos anos a ver o Porto a ser lesado económica, política e desportivamente, caluniado e até gozado pela sua pronúncia em programas pseudo-humoristas (excluo o Herman, e outros como ele, porque sei distinguir o humor da maldade), não vi nem ouvi um único lisboeta a insurgir-se contra essa segregação miserável. Um único! Mas também (e é aí que dói mais) não vi muitos nortenhos, "portuenses" e até portistas que tiveram oportunidade para o fazer, a indignarem-se com veemência, mas apenas a sussurrarem tímidos lamentos em obediência à mui respeitável avença. Todos se deixaram esmagar pelos recados anti-bairristas e "portocentristas", mais os Big-Brothers estupidificantes, até se tornarem híbridos, assobiadores pipoqueiros despojados de alma, e de Porto.
Quando atrás falei da televisão do Porto, referia-me naturalmente ao Porto Canal sem tocar na sua utilidade, porque aí estamos conversados. Não quero repetir-me, mas porque detesto generalizar, sempre lamentarei que o efeito dominó do peso da mediocridade acabe por ensombrar programas como "Os caminhos da História", as entrevistas de Walter Hugo Mâe e poucos mais. Tal como sucede na gestão do FCPorto dos últimos 3 anos, a qualidade programática do Porto Canal foi um fracasso e não se vislumbra sinal nem vontade de mudança.
Quando lembro uma frase do Director Geral Júlio Magalhães, que intitulava uma sua entrevista dada à Meios & Publicidade onde dizia "Os canais de Lisboa não querem saber do país para nada", e depois verifico o tipo e a origem dos convidados e entrevistados (lisboetas), e uma programação política e regionalmente pobre, acrítica, indolente e visivelmente subalterna, tenho tremenda dificuldade em acreditar que toda aquela gente goste do Porto.
Bolas, ninguém lhes exigia que fizessem do Porto Canal um antro de mediocridade arruaceira. Queríamos apenas equilíbrio, resiliência, combatividade, orgulho, bom gosto, seriedade e sobretudo muita originalidade. Nada de debates pseudo-desportivos comprados e tendenciosos, como o Dia Seguinte, ou aqueles de chinela no pé como o "Prolongamento", mas apenas um pouquinho de coragem para não nos fazerem passar por aquilo que nunca fomos: submissos e complexados.
O Porto, só há poucos anos dispõe de um estação de tv, e mesmo assim em canal fechado. De resto, tudo está concentrado na capital. Digam o que disserem, nenhum cidadão de Lisboa pode contrariar esta realidade: os lisboetas são mais observados que observadores. Comparada com o resto do país - e cuidado que digo resto do país inconformado -, Lisboa é o palco, a estrela, os "outros" são espectadores, sem direito a aplaudir, ou a rejeitar. Logo, estando mais habituados a olhar para o país a partir do próprio umbigo, com a miopia daí derivante, só o podem ver desfocado, por isso limitam-se a especular, quase sempre secundariamente. No extremo oposto, fica o resto do país, que dessa discriminação medieval só tira uma vantagem: uma ideia mais fiável àcerca do que pensa um lisboeta em relação à "província", do que a noção real de um lisboeta sobre o que pensa e sobretudo sente, o resto do país... Por mais que o neguem, isto é inegável, porque são factos físicos, palpáveis, comprováveis, não apenas emocionais.
Como as coisas são mesmo assim, e não de outra forma, é legítimo dizer que também pela televisão se pode conhecer relativamente bem, não só a mentalidade dos que lá trabalham, como os personagens que ali colaboram, desde actores a políticos e jornalistas, etc.,etc. E é aqui que entra a sabedoria do tempo que ninguém pode negar, sem se assumir embusteiro. Durante longos anos a ver o Porto a ser lesado económica, política e desportivamente, caluniado e até gozado pela sua pronúncia em programas pseudo-humoristas (excluo o Herman, e outros como ele, porque sei distinguir o humor da maldade), não vi nem ouvi um único lisboeta a insurgir-se contra essa segregação miserável. Um único! Mas também (e é aí que dói mais) não vi muitos nortenhos, "portuenses" e até portistas que tiveram oportunidade para o fazer, a indignarem-se com veemência, mas apenas a sussurrarem tímidos lamentos em obediência à mui respeitável avença. Todos se deixaram esmagar pelos recados anti-bairristas e "portocentristas", mais os Big-Brothers estupidificantes, até se tornarem híbridos, assobiadores pipoqueiros despojados de alma, e de Porto.
Quando atrás falei da televisão do Porto, referia-me naturalmente ao Porto Canal sem tocar na sua utilidade, porque aí estamos conversados. Não quero repetir-me, mas porque detesto generalizar, sempre lamentarei que o efeito dominó do peso da mediocridade acabe por ensombrar programas como "Os caminhos da História", as entrevistas de Walter Hugo Mâe e poucos mais. Tal como sucede na gestão do FCPorto dos últimos 3 anos, a qualidade programática do Porto Canal foi um fracasso e não se vislumbra sinal nem vontade de mudança.
Quando lembro uma frase do Director Geral Júlio Magalhães, que intitulava uma sua entrevista dada à Meios & Publicidade onde dizia "Os canais de Lisboa não querem saber do país para nada", e depois verifico o tipo e a origem dos convidados e entrevistados (lisboetas), e uma programação política e regionalmente pobre, acrítica, indolente e visivelmente subalterna, tenho tremenda dificuldade em acreditar que toda aquela gente goste do Porto.
Bolas, ninguém lhes exigia que fizessem do Porto Canal um antro de mediocridade arruaceira. Queríamos apenas equilíbrio, resiliência, combatividade, orgulho, bom gosto, seriedade e sobretudo muita originalidade. Nada de debates pseudo-desportivos comprados e tendenciosos, como o Dia Seguinte, ou aqueles de chinela no pé como o "Prolongamento", mas apenas um pouquinho de coragem para não nos fazerem passar por aquilo que nunca fomos: submissos e complexados.