15 novembro, 2013

O desafio à Liga das Cidades

 

A criação de uma Liga das Cidades, "que vá do Porto a Bragança, passando, entre outras, por Viana do Castelo, por Braga e Guimarães, por Chaves e Vila Real, num traço contínuo" que una o Norte é um dos desejos do novo presidente da Câmara do Porto. Na tomada de posse, Rui Moreira explicou que só assim "a Região Norte, que indiscutivelmente partilha interesses, problemas e um destino comum, poderá ter hipótese de reivindicar com eficiência e de forma consistente aqueles que são os seus direitos e aspirações legítimas". Neste ponto, é impossível estar em desacordo com Moreira.

Pois aí está o primeiro grande desafio à Liga das Cidades, que, não existindo no papel, pode muito bem começar a forjar-se a partir do combate que tem pela frente. O facto de a peleja tocar a Região Centro torna o tema ainda mais atrativo.

Resumidamente, a matéria é esta: o Governo criou um grupo de trabalho para estudar que grandes projetos na área da mobilidade (portos, ferrovias, rodovias, aeroportos) devem ser abraçados nos próximos anos. Deste grupo não fazem parte as comissões de coordenação regional, por acaso as entidades que mais e melhor conhecimento e ligações têm ao território.

A explicação para esta ausência é muito simples: o que está em cima da mesa é a discussão sobre a distribuição dos milhões e milhões de euros de fundos comunitários que o país vai receber nos próximos anos, pelo que não dá jeito ter cadeiras para sentar os chatos que querem ir ao bolo cortar uma fatia para as regiões longe da capital.

Descontentes, as comissões de coordenação e as associações empresariais do Norte e Centro uniram-se e elaboraram um documento para entrar na discussão. Bastou, contudo, um telefonema de um governante a mandar parar o baile para que os comissões baixassem a crista, para dizer o mínimo. Quem pensou que, dobrando agora a espinha, dava um passo atrás para a seguir dar dois em frente, à moda de Lenine, enganou-se redondamente. É verdade que os presidentes das comissões regionais são indicados pelo Governo. Mas, uma de duas: ou se sentem capazes de defender os interesses do território em que trabalham - e aí batem o pé, independentemente das consequências; ou vergam ao primeiro ralhete - e aí perdem a face perante os atores do território, restando-lhes uma saída honrada e honrosa do cargo.

O Governo faz aqui o papel de Kit Carson, o temível caçador que, a mando do exército dos EUA, quis exterminar os índios Navajos. Já que os líderes das comissões regionais se escondem atrás das árvores à espera que Kit não os veja, cabe aos municípios do Norte e Centro (à proto Liga das Cidades) recorrer ao lema que serviu de escudo aos Navajos: se avançarmos, lutamos; se recuarmos, morremos. A tribo sabia que não tinha outra hipótese senão batalhar. Era uma questão de vida ou morte. Sobreviveu.
(do JN)


Nota de RoP:

É impressionante a rapidez com que determinados regionalistas "convictos" [adoro o qualificativo], mudam de agulhas, quando vão para o Governo. Não são capazes de opinar, sugerir, contrariar, aconselhar. Limitam-se, como dóceis cordeiros, a obedecer, sem se importarem de comprometer publicamente as suas firmes "convicções". Depois, à guisa da cereja no alto do bolo, queixam-se que no Norte há falta de líderes. Lá isso há. A começar por eles próprios. 

14 novembro, 2013

Governo esmaga Norte e Centro





1. Em pleno agosto o secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, consegue oficializar em "Diário da República" a criação de um "Grupo de Trabalho para as Infraestruturas de Valor Acrescentado" (GTIVA) com o objetivo de estudar os novos projetos na área da mobilidade do país - investimentos no porto de Sines e outros ao longo do país, a nova ferrovia de bitola europeia, políticas aeroportuárias, rodovias, etc..

2. Sérgio Monteiro escolhe para presidir ao grupo José Eduardo Carvalho, um empresário e ex-mandatário de Miguel Relvas pelo PSD de Santarém em 2009 que é, simultaneamente, o presidente da Associação Industrial Portuguesa (com sede em Lisboa). Não é convidada a Associação Empresarial de Portugal (AEP), nem a Associação Industrial do Minho, nem o Conselho Empresarial do Centro (CEC). Só há um lugar para os empresários - a Confederação da Indústria Portuguesa. O GTIVA inclui o próprio Estado (LNEC, AICEP, Instituto Mobilidade Terrestre, CP, REFER) e as associações setoriais: Logística, Carregadores, Transportes Rodoviários, Mercadorias, além do operador privado de ferrovia, Takargo. Está também a Associação de Municípios, mas não estão as comissões de Coordenação Regionais (sobretudo Norte e Centro, com trabalho feito nestes dossiers).
Questão: o GTIVA (as tais 16 entidades) têm alguma capacidade de dizer "não" aos investimentos mais vultuosos que o Governo queira apresentar-lhes como cenoura apetitosa à frente do nariz? Não é crível. Os milhões são bons para todos os que lá estão sentados. Investimentos novos!, sejam eles quais forem.

3. Várias fontes afirmam que o principal objetivo do Governo é o de fazer um novo porto na outra margem de Lisboa (Trafaria) a todo o custo. O tal porto, supostamente privado, que precisa de quase mil milhões de investimento em infraestruturas ferroviárias, pagas por dinheiro comunitário e público. Algo para mostrar e criar emprego rapidamente.

4. O que fizeram as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento do Norte e Centro, juntamente com a AEP, AI Minho e CEC? Criaram um grupo de trabalho para mostrar que os empresários (os tais, exportadores, de que o Governo não para de elogiar) têm de ter uma palavra a dizer sobre como precisam de exportar. Esse trabalho ficou pronto há mais de uma semana e uma conferência de Imprensa esteve marcada para terça-feira.

5. A conferência de Imprensa foi desmarcada no próprio dia. Razões para a desmarcação? A oficial: o empresário líder do CEC, José Couto, verificou na noite anterior que, afinal, o documento não tinha a anuência da sua instituição. Uma desculpa tardia que só poderia envergonhar o Conselho Empresarial do Centro - caso fosse verdadeira.

Há outra versão, mais consistente: o secretário de Estado do Desenvolvimento Regional, o nortenho Castro Almeida, pede em desespero de causa ao presidente da CCDRN, Emídio Gomes, que cancele a conferência de Imprensa porque o Governo não quer ter os "exportadores" contra uma estratégia do Governo que já está a avançar a grande velocidade. Em consequência desta pressão, a CCDRN comunica unilateralmente aos outros parceiros a impossibilidade de se fazer a conferência de Imprensa. Tudo isto num contexto em que Castro Almeida e as Comissões de Coordenação estão impotentes para conseguir que os fundos comunitários 2014-2020 sejam atribuídos - mas também selecionados e geridos tecnicamente - nas regiões fora de Lisboa. Uma guerra quase perdida, diz-se.

A máquina do Estado está ao rubro. Quem fica com os fundos? E quem assegura os milhões com que se remunera os batalhões administrativos de aprovação de candidaturas europeias, advogados, consultores próximos do poder, etc., no formato "business as usual"? Lisboa não quer abrir mão desses empregos altamente remunerados.

Ninguém sabe como isto vai acabar - de que lado está Poiares Maduro ou Pires de Lima, Passos ou Portas. Quem é a voz do resto do país nisto. Enquanto isso, os números revelados há dias pelo JN mostram a acentuação das assimetrias Lisboa/resto do país na distribuição per capita do rendimento.

Enquanto isso, e debaixo do manto hipnótico das discussões troikianas, ficam duas perguntas concretas: a Trafaria é a nova Ota? E o farisaísmo centralista permanece para sempre?

11 novembro, 2013

FCPorto joga sobre brasas

Paulo Fonseca:  "Provámos que estamos fortes"! Estamos?
Como se pode constatar alguns posts mais abaixo, preferi não comentar o jogo do FCPorto com o Zenit para a Champions, tendo-me limitado a escrever um elucidativo "mais do mesmo", para dizer o que me ia na alma. 

Ontem, o jogo para a Taça de Portugal, com o Vitória de Guimarães, não veio alterar grandemente o meu estado de espírito em relação ao jogo das Champions e de Belém. A diferença esteve apenas no resultado. Passámos para a próxima eliminatória, e pronto.

Se quisesse ser fiel à tese que reparte em doses iguais as responsabilidades pelos sucessos e fracassos por toda a estrutura do FCPorto [Presidente, direcção, treinador e jogadores] seria politicamente correcto e não acrescentava nada ao assunto. Sendo ainda cedo para tirar conclusões, a ideia com que fico é que, se a SAD portista falhou ao contratar Paulo Fonseca, este também parece estar a falhar na organização técnica, táctica e psicológica do plantel.

Enquanto certos adeptos, começam a lançar culpas sobre as prestações, e até a duvidar da qualidade dos jogadores - e nalguns casos, com razão -, eu continuo a pensar que existe da parte deles empenho, vontade de mudar, mas falta discernimento e calma para o conseguir. O modo como a equipa joga é notoriamente anárquico porque a inteligência deu  lugar à ansiedade. Se o leitor bem reparou, ontem, voltamos a ver certos movimentos de ataque [e contra-ataque] interrompidos porque o jogador que transportava a bola não tinha jogadores a acompanhá-los nas alas, a desmarcarem-se com rapidez, obrigando-o a parar, para passar para atrás, permitindo assim que a equipa adversária se reorganizasse. Se isto é recorrente, é porque isto o treinador não tem sabido corrigir... 

Custa-me argumentar com a falta de jogadores que já não estão no clube, como Moutinho, por exemplo. Mas a verdade é que, embora Fernando continue a fazer [e bem] o seu trabalho à frente da defesa, falta mais à frente um Moutinho não só a servir de primeiro tampão como a distribuir jogo para as linhas da frente. O que noto, é que o Fernando tem estado a fazer os dois papéis [ o dele e o de Moutinho], o que lhe provoca enorme desgaste e desestabiliza o sector defensivo.

Também não concordo totalmente com aqueles que dizem que Jackson Martinez não marca porque as bolas não lhe chegam. Se me disserem que as bolas que lhe servem não são em qualidade e quantidade suficiente, posso aceitar, agora, ele também tem falhado muitos remates. Ainda ontem aos 21' da 2ª. parte [creio], Defour colocou-lhe na perfeição uma bola longa, mas Jackson é que não teve talento para rematar espontaneamente. E isso aconteceu pelo menos, outras duas vezes... Ora, a conclusão que daqui se retira, é que quanto mais tempo a equipa tardar a reorganizar-se, mais tempo perdem os jogadores a recuperar a eficiência. E estas questões, é ao treinador, e só ao treinador, que compete rectificar. Não chega dizer que é preciso fazer isto ou aquilo, o importante é mostrar aos jogadores como se faz. Corrigir-lhes as posições, os movimentos errados, e reensiná-los [se souber] a atacar a bola e reaprender a contornar os adversários que têm pela frente com determinação e confiança. Embora isto possa parecer contraditório, a verdade é que não jogando tudo o que sabem, têm sido os jogadores, em lances individuais, que têm evitado dissabores maiores à equipa! Ora, não é isto que se pretende, os jogos têm de ser resolvidos pelo trabalho coordenado da equipa.

Portanto, não tendo um plantel de luxo, o FCPorto tem um plantel mais equilibrado que o ano passado, agora, falta é colocar as "peças" nos respectivos lugares para a equipa funcionar como uma máquina [afinada] e produzir um futebol atractivo e eficaz.

Porque se Paulo Fonseca não percebe a ansiedade que se instalou há já demasiado tempo nos jogadores e não faz o que é preciso para lhes restaurar a confiança, então, repito, apesar de ainda nada estar perdido, os portistas, tal como o ano passado, vão ter ainda muito que sofrer, e pior do que isso, vão ter de deixar de ver os jogos para não morrerem de tédio ou de um problema cardíaco. O amor ao clube não justifica tão alto sacrifício.