Quando uma liderança cai na apatia, quando não reage às adversidades e se afasta da realidade, arrisca-se a perder-se. E se essa liderança tem a ver com a gestão de um clube como o FCPorto, se esse afastamento da realidade traduz indiferença pelos sentimentos dos adeptos, pode estar a dar os primeiros passos para um período regressivo da sua história, de ciclo imprevisível.
Ontem, assisti ao jogo de hóquei em patins do FCPorto com o Benfica, no Dragão-Caixa. A classificação geral apontava para um grande equilibrio entre as duas equipas, o que fazia adivinhar um jogo renhido, de resultado incerto, mas com ligeira preponderância para o FCPorto, por jogar em casa.
Quando o jogo começou ainda tive a ilusão que o FCPorto acabaria por vencer a partida, porque com o pavilhão cheio, a presença de Pinto da Costa e o apoio das claques, tudo parecia reunido para um final feliz. Pura ilusão. O FCPorto sofreu o 1º.golo, a seguir o 2º. e a partir daí nunca mais se encontrou. Resumindo: nova victória do Benfica na nossa casa, agora no hóquei.
Normalmente, a explicação para estas situações é delegar responsabilidades nos treinadores, e a bem da verdade, há que dizê-lo, já não é a primeira vez que Tó Neves falha em jogos decisivos. O ano passado claudicou contra o Barcelona, não por incompetência, mas por notória desmotivação mental. O mesmo não se pode concluir do caso de ontem, porque ainda há muito campeonato a disputar, mas o facto é que os jogadores não estiveram à altura daquilo que podiam fazer. Mas esse não é o único problema, porque se a fragilidade mental revelada pela equipa de futebol com os principais concorrentes na própria casa se pode dever à juventude do plantel, não será também desprezível a influência das arbitragens na tabela classificativa, aspecto a que a direcção do FCPorto de agora parece estar esquiva. E isso, é tudo o que os simpatizantes e os próprios atletas, não querem que aconteça. Tem de se admitir (por que não) que os jogadores estejam a reagir a uma crise de liderança, como os adeptos, que já nem se manifestam.
Os portistas, nestes últimos anos, mesmo os mais afoitos, andam preocupados com a gestão do clube em termos desportivos, e penso que só não explodiram, porque o capital de confiança no presidente ainda é muito forte. Mas, Pinto da Costa parece não estar a perceber o que se passa, não está a sentí-los, a compreendê-los, porque a sua postura não é aquela a que estavam habituados, um homem resiliente, dedicado ao clube, pragmático e de objectivos bem definidos. Se não voltar a 180º, se não encontrar rapidamente o antídoto para este estado letárgico, num ápice, pode hipotecar todo o prestígio que tanto lhe custou ganhar.
Fui daqueles que me insurgi, não vai muito tempo - talvez uns 3 anos - contra os que papagueavam o discurso de fim de ciclo do FCPorto usado pelos nossos adversários, que davam como "finito" Pinto da Costa. Naquela altura não via motivos para lhes dar razão, porque a margem de confiança tinha um currículo forte e brilhante a que se segurar. Agora, já não sei bem o que pensar. Pinto da Costa anda demasiado calmo e ocupado com assuntos de outra natureza que não os que o clube precisa. Fazer de cicerone do museu do clube não é censurável, se comedidamente, apoiar um ex-1º Ministro em apuros, tolera-se, embora se compreenda mal, agora ignorar as manigancias que os clubes da 2ª. circular andam a tramar, sem fazer um único comentário, é indesculpável, quase suicidário.
A liderança do FCPorto de agora, cheira a orfandade. Que tristeza.
A liderança do FCPorto de agora, cheira a orfandade. Que tristeza.