08 outubro, 2015

O circo político vai começar, ou haverá juizo?

Os resultados das eleições não foram brilhantes para os partidos com tradição governativa. A coligação PSD/CDS já anda a cantar de galo como se tivesse obtido uma maioria. Confesso que, tendo-me tornado um abstencionista militante por imperativo de consciência, quero ver até que ponto a esquerda saberá, ou não,  explorar a almofada de conforto que a maioria conjunta dos 40,65% de votos conseguidos entre PS (32,38%) e PCP (8,27%), lhes permitirá apertar o governo e deixar Cavaco a fazer contas de cabeça. 

Não alinho pela conversa catastrofista dos que já andam preocupados com a hipótese de os dois partidos de esquerda se coligarem para derrubar o governo, e eventualmente ganharem novas eleições. E não alinho, justamente pelas mesmas razões que apontei no post anterior, porque não gosto de ser aldrabado nem de verdades impostas a martelo pelos que menos legitimidade têm para as impôr. Este, como o governo anterior, já deram provas ao país do que valem, nunca foram capazes de o governar satisfatoriamente. Bem pelo contrário, limitaram-se a sacrificar o povo obrigando-o a pagar dívidas que nunca soube como, quando, onde e com quem as contraiu.

A globalização e a crise económico/financeira tiveram o "dom" de fazer esquecer o povo que a Banca Nacional e Internacional e os países têm a governá-los pessoas, gestores pagos a peso de ouro para controlarem as oscilações dos mercados. Logo, são esses e apenas esses, que devem responder pela crise, não as populações que nunca foram tidas nem achadas para lidar com mercados monetários ou dívidas públicas, nem foram pagas para tal. 

Portanto, isto de pagarmos uma crise, com a qual nunca tivemos a menor noção de cumplicidade, são reles abusos de vários poderes políticos e económicos, internos e externos. Os supostos financiamentos para pagar dívida, são a trapaça do século. Quem quiser dar-lhe crédito político que lhe dê, eu ainda não vi qualquer sentido para tão macabra e abusiva colecta. De mais a mais, quando as instituições da finança mundiais têm pessoas com nome próprio a dirigí-las, e não uma abstractacção chamada  crise. A crise, não é mais que o resultado de uma situação muito  mal gerida, não uma calamidade natural. A crise,  não é uma entidade, nem pessoa colectiva, é a consequência de incompetências conjuntas de banqueiros e Chefes de Governo.

Voltando atrás, à hipótese de um eventual, mas improvável acordo político, entre PS e PCP, resta-nos saber em que pé ficarão as negociações (se as houver) com o Bloco de Esquerda. É que a percentagem de 10,22% corresponde 549.838 de eleitores somada aos 40,65% do PS e PCP, perfazem a bonita taxa de 50,87%, Como irá o PS lidar com este labirinto político-partidário, com as contradições ideológicas que o separam do PC e do BE? 

Terão os políticos dos partidos à esquerda do PSD coragem e sentido de Estado para se unirem e provarem aos respectivos eleitores que o país está em primeiro lugar? Antes dos caprichinhos interesseiros dos aparelhos?

Provem-nos que vale a pena acreditar nessa hipótese. 

07 outubro, 2015

Eu, abstencionista prevenido me confesso


Para as últimas gerações de políticos em Portugal - ou talvez para todas -, a última coisa que querem, é que os eleitores exijam responsabilidades severas pelas promessas feitas em campanha. Não será por acaso que durante toda a campanha eleitoral não se ouviu uma palavra sobre o assunto. E também já não espanta que nenhum jornalista se tenha lembrado de lhes colocar questão tão embaraçosa. Eles não estão para ultrapassar aquela linha limite de liberdade balizada no politicamente correcto e trocá-la pela liberdade absoluta de indagar aquilo que é realmente importante. Assim, tudo é mais simples. Mais uma vez se procura conservar a ideia que a "democracia" e as linhas que a regem em matéria de garantias são intocáveis, e ponto. Preferem habituar os cidadãos a encarar as eleições como uma espécie de jogo lúdico, fortuito, uma espécie de lotaria em que os políticos fazem o papel de números, do que correr o risco de lhes facultar o direito à fiabilidade na hora de votar. E tem de facto sido nestas precárias condições que  os eleitores se sujeitam a votar, sem nenhumas garantias.

Naturalmente que, para os interessados, é muito mais confortável terminar as campanhas eleitorais prometendo, ou então não prometendo nada, que apresentar garantias sérias de compromisso. Eu creio que os cidadãos eleitores ainda não perceberam que é essa a principal causa das péssimas prestações dos sucessivos governos pós 25 de Abril de 1974, e que explica também o sempre crescente abstencionismo. É também a nossa pouca exigência cívica que explica o falatório depreciativo contra os abstencionistas. É que, os abstencionistas assumidos (não confundir com negligentes), não dão votos, o tal papelinho precioso que, em vez de lhes facultar estabilidade social e económica, garante emprego e mordomias, aos carreiristas da política. Não se iludam, porque o que os políticos mais receiam não é a degradação da democracia, é a perda do cómodo caminho que escolheram para governar as suas vidas, porque governar a vida do povo nunca os comoveu. 

Há outro grande inconveniente nesse laxismo da classe política, que é continuarem a perder credibilidade enquanto classe. Pessoalmente, embora a eles me refira sempre de forma genérica, custa-me a acreditar que sejam todos uns malandros irresponsáveis, mas o facto de não se decidirem a purgar os respectivos partidos das suas "ervas daninhas", a par das más prestações governativas, faz com que, numa avaliação sintética, a má reputação se estenda a toda a classe, e se desvalorizem aqueles que individualmente deram o seu melhor. Surpreende-me que os partidos mantenham dentro dos seus quadros pessoas que só os envergonham, como é o caso, por exemplo, de Rui Gomes da Silva, e muitos outros, cujos líderes se recusam a assumir, face aos mesmos, uma postura crítica, quanto mais não seja perante os eleitores e perante a própria classe. Pelo contrário, calam-se como se o silêncio fosse a receita indicada para prevenir comportamentos similares no futuro. Não só não o fazem, como permitem que essas "ervas daninhas" se mantenham no activo, a conspurcar a classe  e a adensar a indignação da opinião pública.

Por ser recorrente a falta de auto-crítica nos partidos, e pela incapacidade de compreenderem as causas reais do abstencionismo, é improvável que a credibilidade político-partidária se robusteça nos próximos tempos. Quarenta e três por cento de desistentes votantes, não é o mesmo que 43% de eleitores sem vontade de votar. Salvo casos pontuais, pode até significar ser essa a fatia de eleitores mais conscientes. Deitar sobre as suas costas a responsabilidade pelos maus governos, é o mesmo que acusar a testemunha de um crime que outros cometeram de ser o seu autor, quando foram os votos dos eleitores que premiram o "gatilho" chamado voto.

A única maneira do eleitor se desvincular da acção negativa de futuros maus governantes, é simples: exigir garantias idóneas. E a única forma de um cidadão evitar cumplicidades convencionais com maus políticos e maus governantes, é a segurança que só o não voto permite.  O voto em branco, além de susceptível a manipulações (não há fraudes impossíveis), hoje em dia é pouco mais que ridículo.

De resto, a realidade dos resultados fala por si:  

  • Abstenções:          43% 
  • Votos em branco:   2,09%


06 outubro, 2015

Ou, para quem olha para (est)a democracia como para o Pai Natal


PARA QUEM AINDA NÃO PERCEBEU NO QUE ESTÁ METIDO

Há uma parte da oposição a este Governo e à coligação que ainda não percebeu no que está metida. Nessa parte avulta o PS, que acha que isto é um filme para 6 anos, ou, vá lá, 12 e está num filme para adultos, ou como se dizia antes, "para adultos com sérias reservas". Não, não é o Bambi, é o Exorcista ou o Saw

Tenho um bom lugar de observação da linha da frente no combate político com a actual "situação". Sei disso porque há muito tempo que conheço o vale-tudo, de artigos caluniosos a comentários encomendados em massa, até ao célebre cartaz anónimo, que não se sabe quem fez, nem quem pagou. Mas a mensagem é clara: não o ouçam porque é um radical violento. Tenho um processo instaurado pela "massa falida da Tecnoforma". Não digo "tenho sido vítima", porque não sou vítima coisa nenhuma, estou onde quero e faço o que entendo dever fazer. Se chovem paus e pedras, são para mim como elogios. 

Mas vejo as coisas porque percebo do que, do lado da coligação, se é capaz de fazer quando se lhes toca nos interesses vitais, e estas eleições tocam em demasiadas coisas vitais para não serem travadas com todas as armas, e algumas são bem feias de se ver. Agressivos de um lado, frouxos do outro. 

E vejo os exércitos juntarem-se, com armas e bagagens, muito ódio social, porque é um combate social e político que se vai travar e o ódio mobiliza as hostes, e muita agressividade. Do outro lado, salamaleques, um medo pânico de falar de "mudança", a quase total ausência de críticas ao Governo, o emaranhar-se em explicações e desculpas. Sempre na defensiva, sempre ao lado, sempre a perder. 

Uma parte da oposição prefere objectivamente que tudo continue na mesma para manter o bastião da identidade, outra passa o tempo em actividades burocráticas e escolásticas, para o interior das suas contínuas divisões, enquanto o "maior partido da oposição" se entretém a mendigar "confiança" certamente porque não consegue lidar com os rabos de palha que vieram de 2011. 

O caso do PS é parecido com aqueles generais franceses de luvas de pelica a almoçarfoie gras e champanhe, bem longe da frente, num castelo qualquer, com todo o tempo do mundo, enquanto os seus poilus morriam que nem tordos, ou fugiam para a retaguarda misturando-se com os civis, dependendo de que guerra se tratava. O modo como está o PS é devastador para toda a oposição, afecta as candidaturas presidenciais, permite o ascenso de candidaturas patrocinadas no seio do PS pela coligação, tem o duplo efeito de esmorecer e radicalizar, ambos processos de isolamento que abrem caminho para a assertividade e o espírito ofensivo da coligação. 

A propaganda da coligação, assente num castelo de cartas que ruirá ao mais pequeno vento, como aliás o ex-amigo próximo, o FMI, diz, não é desmontada com clareza e frontalidade, porque os compromissos nacionais e europeus do PS são demasiados.


Por seu lado, os portugueses que sofreram, sofrem e sofrerão a crise estão cada vez mais invisíveis. Não desapareceram, o seu sofrimento social aumenta com a passagem do tempo, mas não conseguem ultrapassar o ecrã do "sucesso" que 10 mil ministros e secretários de Estado fazem todos os dias. Num dia são as mulheres, noutro dia são as crianças, no terceiro dia são os velhinhos. É só caridade e bondade a rodos. Com a cumplicidade acrítica de muitos que na comunicação social andaram a louvar as virtudes do "ajustamento" e por isso selam o seu destino também com o destino da coligação. O PS, por sua vez, como andou estes anos todos a fugir da contestação social, continua a preferir os salões. 

(JPP/Sàbado)

Nota de RoP:
para os "coisas", comummente conhecidos por anónimos, replico esta frase do autor do artigo, na esperança de o fazer corar de burrice: 

"A maioria muito expressiva dos portugueses que recusam este Governo, um dado sempre constante nas sondagens, não encontra no sistema político uma resposta. E, mesmo que existissem novos partidos que dessem corpo a esse descontentamento, a maioria dos partidos representados no parlamento, não quer competição e encarrega-se de os calar na comunicação social, com a colaboração da comunicação social."