Há uma parte da oposição a este Governo e à coligação que ainda não percebeu no que está metida. Nessa parte avulta o PS, que acha que isto é um filme para 6 anos, ou, vá lá, 12 e está num filme para adultos, ou como se dizia antes, "para adultos com sérias reservas". Não, não é o Bambi, é o Exorcista ou o Saw.
Tenho um bom lugar de observação da linha da frente no combate político com a actual "situação". Sei disso porque há muito tempo que conheço o vale-tudo, de artigos caluniosos a comentários encomendados em massa, até ao célebre cartaz anónimo, que não se sabe quem fez, nem quem pagou. Mas a mensagem é clara: não o ouçam porque é um radical violento. Tenho um processo instaurado pela "massa falida da Tecnoforma". Não digo "tenho sido vítima", porque não sou vítima coisa nenhuma, estou onde quero e faço o que entendo dever fazer. Se chovem paus e pedras, são para mim como elogios.
Mas vejo as coisas porque percebo do que, do lado da coligação, se é capaz de fazer quando se lhes toca nos interesses vitais, e estas eleições tocam em demasiadas coisas vitais para não serem travadas com todas as armas, e algumas são bem feias de se ver. Agressivos de um lado, frouxos do outro.
E vejo os exércitos juntarem-se, com armas e bagagens, muito ódio social, porque é um combate social e político que se vai travar e o ódio mobiliza as hostes, e muita agressividade. Do outro lado, salamaleques, um medo pânico de falar de "mudança", a quase total ausência de críticas ao Governo, o emaranhar-se em explicações e desculpas. Sempre na defensiva, sempre ao lado, sempre a perder.
Uma parte da oposição prefere objectivamente que tudo continue na mesma para manter o bastião da identidade, outra passa o tempo em actividades burocráticas e escolásticas, para o interior das suas contínuas divisões, enquanto o "maior partido da oposição" se entretém a mendigar "confiança" certamente porque não consegue lidar com os rabos de palha que vieram de 2011.
O caso do PS é parecido com aqueles generais franceses de luvas de pelica a almoçarfoie gras e champanhe, bem longe da frente, num castelo qualquer, com todo o tempo do mundo, enquanto os seus poilus morriam que nem tordos, ou fugiam para a retaguarda misturando-se com os civis, dependendo de que guerra se tratava. O modo como está o PS é devastador para toda a oposição, afecta as candidaturas presidenciais, permite o ascenso de candidaturas patrocinadas no seio do PS pela coligação, tem o duplo efeito de esmorecer e radicalizar, ambos processos de isolamento que abrem caminho para a assertividade e o espírito ofensivo da coligação.
A propaganda da coligação, assente num castelo de cartas que ruirá ao mais pequeno vento, como aliás o ex-amigo próximo, o FMI, diz, não é desmontada com clareza e frontalidade, porque os compromissos nacionais e europeus do PS são demasiados.
Por seu lado, os portugueses que sofreram, sofrem e sofrerão a crise estão cada vez mais invisíveis. Não desapareceram, o seu sofrimento social aumenta com a passagem do tempo, mas não conseguem ultrapassar o ecrã do "sucesso" que 10 mil ministros e secretários de Estado fazem todos os dias. Num dia são as mulheres, noutro dia são as crianças, no terceiro dia são os velhinhos. É só caridade e bondade a rodos. Com a cumplicidade acrítica de muitos que na comunicação social andaram a louvar as virtudes do "ajustamento" e por isso selam o seu destino também com o destino da coligação. O PS, por sua vez, como andou estes anos todos a fugir da contestação social, continua a preferir os salões.
(JPP/Sàbado)
Nota de RoP:
para os "coisas", comummente conhecidos por anónimos, replico esta frase do autor do artigo, na esperança de o fazer corar de burrice:
"A maioria muito expressiva dos portugueses que recusam este Governo, um dado sempre constante nas sondagens, não encontra no sistema político uma resposta. E, mesmo que existissem novos partidos que dessem corpo a esse descontentamento, a maioria dos partidos representados no parlamento, não quer competição e encarrega-se de os calar na comunicação social, com a colaboração da comunicação social."
Nota de RoP:
para os "coisas", comummente conhecidos por anónimos, replico esta frase do autor do artigo, na esperança de o fazer corar de burrice:
"A maioria muito expressiva dos portugueses que recusam este Governo, um dado sempre constante nas sondagens, não encontra no sistema político uma resposta. E, mesmo que existissem novos partidos que dessem corpo a esse descontentamento, a maioria dos partidos representados no parlamento, não quer competição e encarrega-se de os calar na comunicação social, com a colaboração da comunicação social."
Caro Rui Valente
ResponderEliminarNão leve a mal, mas não consigo levar a sério essa descrição dantesca da situação / da natureza da coligação. Nalgumas passagens lembra o Apocalipse de S. João, noutras o Padrinho, do Mário Puzo, ou algum daqueles romances sobre conspirações internacionais globais.
Eu, pessoalmente, não acho que a situação esteja folgada, que o Governo da coligação tenha conseguido fazer um milagre económico e financeiro. Acho simplesmente que estamos na corda bamba, no fio da navalha, sem margens de erro. Mas que aprendemos a andar nessa corda bamba, que aprendemos a nos equilibrar (é mais fácil, estando magros). E que os que de fora nos observam e julgam, avaliando a nossa capacidade de não cair, avaliam positivamente a nossa capacidade de aí nos aguentarmos.
Mas acho também que, por pouco que isso seja o ideal, o que queríamos, não era fácil sequer conseguirmos esse equilíbrio, no ponto de desequilíbrio e balanceio da corda bamba a que chegámos. E duvido que outros fossem mais capazes de conseguir esse pouco. Pelo menos, do que podemos ver por aí, nos candidatos ao lugar. E acho que corremos mesmo o risco de se esses outros voltarem, cheios da jactância dos inconscientes, até esse pouco equilíbrio podem voltar a perder.
Até ver, não vejo melhores do que estes. E fazem o que podem / sabem / conseguem fazer, dentro das suas limitações humanas. E acho difícil fazer muito melhor, rapidamente, tendo em conta o charco de interesses instalados que é o aparelho político / administrativo instalado há tanto tempo, o rolhão do "centrão".
Voltando ao assunto do seu anterior post, para mim o caminho para uma verdadeira reforma do nosso país, chegados ao ponto de debilidade económica a que chegámos, chegados ao "nó górdio" em que se tornou (em resultado do caminho que infelizmente temos andado a trilhar após a instauração da democracia) o aparelho político / administrativo que nos governa, passa por reduzirmos, o quanto for possível, o alcance governativo desse "cancro lisboeta", passando parte da capacidade governativa, das decisões políticas e administrativas, para as regiões.
Alexandre Sottomayor
Caro Alexandre Sottomayor:
ResponderEliminarConcordo por inteiro com o último parágrafo do seu comentário, mas como você mesmo reconheceu, ninguém está interessado em descentralizar e ainda menos em regionalizar o país. Isso é tema notoriamente incómodo, sempre inoportuno para os partidos do chamado arco do (des)governo.
Essa é a razão de ser do meu cepticismo. É fundamentado na realidade e não em expectativas de vã esperança. Tenho 67 anos, é tempo de mais para acreditar em regimes políticos que apenas dão como garantia aos eleitores as promessas. A porta está fechada.
Respeito contudo a sua opinião, e acredito na sua boa fé.
A vitoria foi da oposição, a coligação PSD/CDS perdeu, esta é que é a verdade. Agora na oposição quem esteve mal foi o PS que se dividiu, que teve uma má campanha e a sombra do Sócrates por tudo quanto era lado. E por tudo isto infelizmente para os portugueses vai ser uma Babilónia este próximo governo.
ResponderEliminarAbílio Costa.