Nunca me imaginei a falar de Salazar como vítima do que quer que fosse. Meu pai não gostava dele, nem muito menos do desprezível Cardeal Cerejeira, seu íntimo amigo e apoiante do Estado Novo. Duas personalidades mesquinhas que fizeram de Portugal o país retrógado e reaccionário que ainda é. Foi um ditador que conseguiu manter o país na miséria e no obscurantismo durante décadas, razões pelas quais exacerbei com aquilo que pensava vir a ser a revolução do 25 de Abril, um país finalmente livre e democrático. Enganaram-me!
Hoje, decorridos 45 anos dessa teórica democracia, mais quatro que os 41 anos de Estado Novo, esgotaram-se os argumentos sempre usados pelos políticos para justificarem a incapacidade crónica de fazerem o país avançar, à medida que o tempo passava. Decorreram todos estes anos com os pretextos do costume dos governantes como desculpa do baixo nível de vida do país, e que foram mantendo, acompanhado de uma incessante degradação económica e social.
Foram anos regressivos, não de progresso humano. A tecnologia nem sempre é progresso, está provado que muito desse progresso acaba por se transformar num autêntico cancro para o mundo. O petróleo trouxe-nos a mobilidade cómoda, mas também nos envenenou o planeta. E fico-me só por aqui. O progresso só fará sentido quando o homem viver com mais dignidade e a paz em todo o mundo se instalar. Sem isso, não há progresso, há a eterna treta do poder vigarista.
Voltando ao Estado Novo de Salazar e Caetano, a essa época cinzenta da nossa história, não há motivos válidos para a referenciar com saudade, mas merece a pena recordar que apesar dos Calabotes dessa época serem factuais, também não foi esta postiça democracia que os suprimiu. É também por isso que não vivemos uma Democracia a valer. É que uma Democracia de verdade serve também para transmitir segurança à população, nunca o medo. O medo é característica própria dos regimes com tendências ditatoriais.
Sem tencionar mudar de assunto, importa dizer que só a permissividade pode conceber que um clube se coíba de fechar as portas do seu estádio a gente e organizações desportivas que o discriminam, nem mesmo que seja para servir de palco da final de uma competição europeia! A mim, a selecção não me diz nada! Uma selecção a sério não divide clubes, nem jogadores, cria condições para os unir, que é coisa que não faz a Federação.
Mais uma vez, o FCPorto deixou-se enredar numa ratoeira de consideração hipócrita, cujo objectivo é procurar branquear os desaforos causados durante anos seguidos por essas instituições. Olhar para aquela gente na bancada, cínica e desonesta, como pessoas de bem, é aceitar a hipocrisia como prenda. Não corroboro nesta estratégia de defesa do FCPorto - se é que podemos considerar estratégia -, porque não lhe tem dado qualquer vantagem.
Permitimos que um gang de mafiosos conseguisse levar a melhor sobre nós (as vítimas), com a prepotência de juízes altamente duvidosos. Eu gostava de lhes ver a cara para saber o que ela vale, é bom conhecermos os rostos de quem não podemos confiar. As leis dos homens não são garantia de justiça, mas devia ser.
Servir a lei pode ser uma grande oportunidade para alguns refinarem o carácter, mas para outros também para o perverter. O estatuto é só isso, estatuto.