Para uma apreciação mais generalizada do jogo de ontem contra o Sporting existem os blogues (des)portistas, por isso vou-me limitar a dizer o que me preocupa particularmente no actual FCPorto, que é o que mais me interessa.
Comecemos então pelos aspectos positivos: primeiro, o resultado, depois, o oportuníssimo golo de Danilo e algumas excelentes defesas de Helton em momentos cruciais do encontro, que evitaram mais uma grande decepção aos adeptos portistas. Em segundo lugar, o modo civilizado como os espectadores da casa reagiram às provocações do presidente sportinguista, que optando pela táctica gasta e populista de diabolizar e provocar o FCPorto, pouco mais conseguiu que exibir publicamente a sua boçalidade intelectual. Além, claro, de levar para casa a derrota da ordem [e da praxe], costumeira em estratégias semelhantes...
Passando ao lado menos positivo, devo dizer o seguinte: não gosto mesmo nada de jogadores bipolares, por uma razão muito simples, é que tão depressa marcam golos decisivos, como de repente os oferecem aos adversários tornando-os assim irrelevantes. Tenho nesta ordem classificativa Varela. Por isso me custa concordar com a nomeação para melhor jogador em campo. É que, ao contrário de alguns que condicionam a crítica construtiva ao resultado dos jogos, ou à autoria de um golo, não sou capaz de esquecer a quantidade de passes errados de Varela, de autênticos brindes aos adversários que só não deram em golo por mera sorte.
Seria injusto se dissesse que Varela foi o único a falhar passes e desvalorizasse o que de bom fez, mas é ele que reincide mais nesse tipo de falhas que costumam ser fatais noutro patamar competitivo. Por isso considero inadequado o prémio, que devia ser sempre balizado pelo percentual comparativo entre as boas e as más decisões. De resto, só houve uma época em que gostei mesmo do rendimento de Varela onde conseguiu mostrar-se mais consistente, que foi a primeira ao serviço do FCPorto, em 2009/2010. Era raçudo, jogava simples, cobria bem a bola, descia os flancos e cruzava com muita regularidade, marcando e dando a marcar [que foi aliás o que fez de melhor ontem].
Mais injusto seria se continuasse a falar de Varela sem falar de toda a equipa, e do próprio treinador. Aliás, acho que este tipo de problemas podiam ser sanados se os treinadores, além do ramerrão dos treinos se empenhassem em disciplinar tecnicamente os jogadores com potencial, como é o caso. Custa-me acreditar que o treino se limite aos aspectos físicos, ou às tácticas do 4x3x3, ou do 4x4x2, e aos
meínhos sem oportunas interrupções para corrigir movimentos específicos, coordenações entre sectores, desmarcações, etc.
A questão que coloco é a seguinte: terão os treinadores portugueses competências pedagógicas para o fazer? Saberão ensinar os jogadores a controlar uma bola corrida, a chutar sem preparação, a fazer rolar a bola [no passe] em vez de a chutar para não ganhar muita velocidade, a colocarem a bola no solo rapidamente nos lances aéreos com ressaltos para a tornarem jogável, e evitarem puxar o tronco para trás quando rematam para a bola não levantar?
A minha preocupação releva daquilo que tenho observado inclusivé na equipa B, e nos juniores. Tenho muita dificuldade em compreender a lentidão evolutiva destes jogadores porque lhes revejo esses "defeitos". Fraca qualidade de remate, movimentações oscilantes e baixos indíces de concentração. Contudo, o talento está lá, percebe-se. Então o que poderá explicar tanta inconsistência, tanta insegurança contagiante? Será que a resposta se poderá resumir a um simplista e cómodo "o futebol é mesmo assim!"? É que eu não acredito nisso. Há mais futebol e treinadores para além do que se faz em Portugal. E nem o facto de haver treinadores portugueses reputados a treinar em grandes clubes da Europa muda a minha opinião.
Se o FCPorto teve a desdita de nascer num país que adoptou o fado como símbolo nacional, não pode nem deve enveredar pelo fatalismo que lhe é peculiar, até porque isso é antagónico à sua génese, à sua maneira diferente de funcionar. Algo está a falhar na evolução dos escalões mais jovens. Não tenho na memória de Portugal produzir muitos jogadores tecnicamente evoluídos e desportivamente agressivos. E se esta tese pode ser contraditada com o argumento da pequena dimensão do nosso país, e se pode aceitar para jogadores com ADN de craques de nascimento, como Messis e Ronaldos, já não funciona para aqueles que não sendo génios de berço, possuem condições para serem jogadores de top, desde que devidamente ajudados. É isso que penso não estar a ser feito no FCPorto. Já nem falo dos outros clubes portugueses, porque são todos piores.
A propósito, quando ouvia chamar génio ao João Pinto [ex-Boavista e ex-Benfica], fazia-me sempre confusão, porque ele só conseguia rematar em preparação, não era capaz de ser espontâneo e perdia muitos golos por causa disso. Não é desses jogadores que nós precisamos, porque cada vez estão mais fora de moda. Será que os nossos treinadores estão preparados para ajudar a formar e completar jogadores com essas características? Sinceramente, eu penso que não. Este raciocínio até pode estar errado, admito-o. Apenas direi que ao ver, como tenho visto, os jogadores do FCPorto a errarem passes, a conformarem-se com um simples golo de vantagem, e logo a recuarem, oferecendo o jogo aos adversários e na sequência perderem a vantagem, é porque nada está a ser feito em contrário, ou se está, não funciona. Quando um simples adepto como eu prevê com precisão o que vai acontecer [o golo do adversário] e o treinador não faz nada, não interfere, algo de preocupante permanecerá na cabeça dos portistas. Será que o treinador é medroso, ou será outra coisa? Às vezes, fica a ideia que são os jogos que preparam os treinos e não o contrário.
O ano passado a coisa não foi muito diferente, mas ainda assim tudo acabou em bem. E lá está, os adeptos esqueceram as asneiras, os momentos de sofrimento e de mau futebol. Mas, e quando o final não fôr feliz, despeja-se a bílis em cima do(s) mesmo(s)?..
Estará Paulo Fonseca apostado em copiar [mal] Victor Pereira? Veremos.