Mesmo sabendo que às terças-feiras o jornal A Bola publica excelentes crónicas do Miguel Sousa Tavares, que defende em terra hostil [como poucos], as cores do FCPorto, só através da Net é que sou capaz de as ler, já que, gastar o meu dinheiro com esse jornal, para mim, é o mesmo que fazer Hara-Kiri. É excessivo? Pois será, talvez, mas que querem, chateia-me só de pensar que estou a dar pérolas a porcos, nem que seja uma vez por semana. Chateia-me este hábito muito portuguesinho e permissivo de deixar o crime sem castigo. Vale-me a blogosfera portista, que se encarrega de me fazer chegar, de borla, as suas crónicas.
Apreciei o artigo desta semana do Miguel, naturalmente, por ser honesto e por me rever em quase tudo o que lá vem escrito. No entanto, resolvi retirar-lhe alguns excertos, dado ter ficado com a impressão de lhes descobrir algumas contradições. Comecemos pelos primeiros:
«Pinto da Costa e Adelino Caldeira eram a imagem exuberante da derrota.»
«O que eles vão fazer, porém, já todos sabemos: apresentar aos sócios a cabeça de Jesualdo Ferreira, para assim tentarem desviar as atenções dos erros próprios de que são responsáveis.»
Miguel Sousa Tavares até poderá ter razão para apontar erros a PdCosta e a Adelino Caldeira, pela política de contratações seguida esta época, mas não concordo com as suas profecias quando diz que eles [PdC e AC] "
se preparam para apresentar aos sócios a cabeça de Jesualdo"... Já sei que o que vou dizer não é muito ortodoxo, mas se há alguém dentro da estrutura de um clube que pode influenciar a política de contratações, esse alguém é o treinador! Mas para isso, é preciso ousar, ser afirmativo, exigir,ter coragem para dizer não!
Vejamos. Jesualdo Ferreira foi convidado para trabalhar com o FCPorto, estabeleceu um contrato. Provavelmente, é de admitir, foram-lhe apresentadas condições. Além das remunerações, de prémios e objectivos, foi-lhe transmitida uma lista de jogadores para a constituição do plantel, ou então, exigiu-a, ele mesmo. Em qualquer dos casos, Jesualdo foi bem sucedido nas 3 primeiras épocas, o que não é coisa pouca, mas também em qualquer dos casos [bem sucedidos] continua a ser responsável pelos resultados desportivos. Porém, por alguma razão objectiva os adeptos [salvo raras excepções] nunca se convenceram totalmente desse sucesso. E, não me venham com estas análises simplistas que dão muito jeito à comunicação social anti-portista, que é por causa do seu benfiquismo. O José Mourinho também não era, nem é portista, e os adeptos adoravam-no! Boby Robson, idem, idem.
Às vezes, fico com a impressão que alguns adeptos seguem o raciocínio corporativista dos comentadores desportivos e de outros treinadores que tende sempre a proteger a imagem dos treinadores transferindo as responsabilidades do foro desportivo para cima das Direcções dos Clubes. Se há coisa que raramente faço, é proteger os mais poderosos, bem pelo contrário, mas no caso do FCPorto, manda a justiça dizer, que se o clube não foi gerido na perfeição, foi, pelo menos, muito melhor gerido que os clubes adversários, e neste caso, alguns adeptos parecem esquecer-se de contabilizar os muitos anos de sucesso que, com SAD ou sem ela, o clube conquistou. Ninguém está acima da crítica, nem mesmo Pinto da Costa, mas convém não soltar os cães todos ao mesmo tempo, num ano em que as coisas correm mal. Pergunto-me o que diriam alguns comentadores se Lisandro e Lucho estivessem ainda no plantel e os resultados fossem os que temos agora...
Além do mais, quando se trata de apontar espingardas, os ataques ao FCPorto vão preferencialmente para PdCosta, já se sabe, é por demais previsível. Mesmo quando ganha, continua a ser atacado pela comunicação social. Mas, os adeptos ainda não perceberam o veneno que por sistema os media anexam às notícias que envolvem o nosso clube. Sem darem por ela, são apanhados na ratoeira adoptando o discurso dos nossos adversários, e isso é deplorável. Depois, esquecem-se que, apesar da sua grande competência profissional, José Mourinho foi catapultado para a ribalta do futebol mundial no FCPorto, não no Sporting, no Benfica ou no União de Leiria! Há uma dívida de gratidão do FCPorto para com Mourinho, mas há-a também no sentido contrário.
Voltando à crónica do Miguel. Acrescenta:
«O FCPorto não teve atitude nem futebol. Nem crença nem ciência.» Depois prossegue:
«Jorge Jesus teve qualquer coisa de Mourinho, na confiança que soube dar aos jogadores, na coragem durante o jogo e no conhecimento perfeito do adversário que revelou ter.» Ora, aqui estou perfeitamente de acordo com o Miguel, mas é exactamente isso que falta ao Jesualdo, e até era desnecessário citar Mourinho, porque essas características num treinador são fundamentais para o futebol moderno. Se faltam jogadores, se a equipa está desfalcada, é nestas ocasiões difíceis que se descobrem os grandes líderes sem que contudo lhes deva exigir milagres. Numa época há a sorte e o azar, mas também há a boa gestão dos recursos humanos, ou então são os recursos humanos que não prestam. Não prestarão mesmo? Todos? Então porque os contrataram? Porque os aceitou Jesualdo? Falta uma 2ª. equipa ao plantel, e a primeira, deixou de jogar futebol só porque perdeu Lucho e Lisandro? Este diagnóstico não será demasiado cruel e injusto para os restantes 9 jogadores?
Nada tenho de pessoal contra JFerreira, estou-lhe grato porque atingiu excelentes objectivos em 3 épocas seguidas, por isso quero imediatamente afastada a ideia do crucifixo. Poupem-me por favor! Mas, bolas, temos de admitir [incluindo ele próprio] que este ano ele não esteve bem. Acontece, mas é assim. Porque também não custa nada inverter o sentido convencional da crítica. Se o treinador é elogiado quando é bem sucedido, se os epítetos de glória recaem sobre ele guindando-o para a fama e para a fortuna, porque razão nunca são reconhecidos na mesma proporção os méritos às direcções dos clubes? Nós já sabemos que não vivemos num país sério e democrático, e que o centralismo tem contribuído para desvirtuar os méritos do nosso clube, e isso é gravíssimo, mas não podemos é deixar-nos enganar pelos seus cantos de sereia. É de nossa obrigação, estarmos sempre alerta!
Agora, colocando-me no lugar de JFerreira, depois do descalabro no Algarve, o que eu faria era colocar o meu lugar à disposição deixando à SAD o peso da decisão de o manter até à Taça [se chegar à final]. A partir daí, acontecesse o que acontecesse, saía do FCPorto de cabeça levantada. Não o fazendo e se tiver o azar de perder a Taça, não só prejudicará o clube como afectará profundamente o prestígio até aqui conquistado e merecido. Ah, e a sua imagem de homem sério será inevitavelmente afectada.