Já tudo foi dito na blogosfera e na imprensa, sobre o jogo de ontem entre o FCPorto e V. Guimarâes. Grande exibição do nosso clube na 1ª.parte, com bom futebol mas pouca produtividade, e um jogo arriscado. de menor pressão na segunda metade, felizmente sem influência no resultado final. De destacar pela positiva a postura de Lopetegui, quer no aspecto técnico-táctico, quer na reacção inconformista ao comportamento da equipa na 2ª parte prontamente corrigido com a saída de uns jogadores e a entrada de outros que para o caso não interessa agora identificar.
O que me parece importante repetir. se preciso fôr até à exaustão porque poucos parecem interessados em fazê-lo, é falar da aposta suicida na política de meninos bem comportados encetada pela directoria do FCPorto, mormente do seu presidente. Suicida porque, mais que ninguém, Pinto da Costa sabe perfeitamente em que país vive. Portugal, é conhecido como um país de brandos costumes, mas Pinto da Costa sabe que essa fama não é propriamente elogiosa, nem quer dizer país de bons costumes habituado a privilegiar quem se porta bem. E a prova que assim é, são as arbitragens tendenciosas - não apenas, mas particularmente - deste campeonato, visando favorecer o Benfica e dificultar o mais possível a vida ao FCPorto no sentido de lhe fazer concorrência. Isto, não é maniqueísmo de adepto frustrado, é por demais evidente e passível de provar, como aliás o próprio presidente e respectiva equipa directiva já terão percebido.
Por mais rebuscada que se possa imaginar uma estratégia para justificar o comportamento dos dirigentes portistas [pessoalmente ainda não consegui descobrir uma que seja], ela só faria sentido se pudéssemos descortinar alguma vantagem. Ora, como não consigo descortiná-la, e como pelo contrário, verifico que quem vem tirando vantagens do silêncio do FCPorto é o nosso principal adversário, apesar de jogar mal, só posso descortinar um final feliz para esta história se estivermos à espera, não de um, mas de dois milagres: um, da rendição súbita dos árbitros portugueses à causa da isenção e da seriedade e o outro o despertar tardio de Pinto da Costa para o combate fora do campo.
Com esta postura de menino bem comportado, tímido, quase submisso, Pinto da Costa [já o disse, mas porque o considero, não me canso de repetir], arrisca-se a perder parte do capital de confiança da massa adepta portista. Ele tem obrigação de saber que a estrada que desce para a obscuridade é mais célere e cruel que a que conduz ao sucesso, por isso receio essa possibilidade. Lopetegui está pouco a pouco a provar que tem qualidades de capitão mas pouco poderá fazer se não puder contar com o apoio dentro e fora do campo do General.
Esta cultura do medo, ou de algo parecido com isso, está instalada no país, mas custa muito admitir que seja irreversível. No Norte, ela é mais visível e prejudicial, porque tem sido também sem dúvida alguma a região mais discriminada pelos governos e o futebol come por tabela. Por isso, podia e devia ser a região cívica e politicamente mais combativa. Mas não é. Hoje, os nortenhos poderosos perderam a noção de identidade com as origens e vivem mais preocupados com a globalização dos seus investimentos do que no desenvolvimento das suas terras. Conseguiram um feito inacreditável e paradoxal, que foi provar que os empresários eram mais empreendedores e livres nas suas regiões antes do 25 de Abril, portanto na ditadura, que agora, supostamente num regime democrático. E digo supostamente porque não acho que esta palhaçada em que se transformou a sociedade tenha qualquer semelhança com aquilo que entendo ser uma democracia. Quem reduz a democracia à liberdade de votar, sem se interessar em credibilizá-la, ou é louco ou infantil.
Muito do êxito de Pinto da Costa deveu-se à sua combatividade, ao seu inconformismo com o nacional-benfiquismo, que alguns [como eu] interpretaram, se calhar erradamente, como uma expressão descentralizadora, clubista mas ao mesmo tempo política. Para muitos nortenhos, sobretudo portistas, foi o líder que nunca tiveram na política, depositando nele e na bandeira do FCPorto a representatividade de uma pequena nação. Mas receio que essa ideia não corresponda à realidade. Se assim fosse, o Porto Canal não era o que é, tinha há muito implantada uma linha editorial bem definida, corajosa, assumidamente regionalista. Os protagonistas teriam de ser seleccionados a dedo, empenhados, criativos e lutadores pela abolição do centralismo. Pura fantasia. O Porto Canal, é um projecto de televisão sem projecto, nem ideias, nem líderes que as tenham. É este o panorama da actualidade do clube, do Porto e da região.
Pensar que o que acabo de escrever é um simples estado de ânimo, é negar a realidade que se desnuda. Sem uma forte contestação popular ao centralismo, e sem um Pinto da Costa regenerado, será muito difícil ao clube competir em circunstâncias iguais com os rivais de Lisboa. É lá que tudo se decide, e é para lá que os governantes do passado e do futuro continuarão a concentrar as prioridades em todas as áreas, inclusivé a desportiva.
Pensar que alguma vez esta situação se alterará por si mesma, é renunciar à mudança, é abdicar do direito a ser tratado como português e implicitamente aceitar a condição de colonizado. Tudo o resto é história aldrabada.
Pensar que o que acabo de escrever é um simples estado de ânimo, é negar a realidade que se desnuda. Sem uma forte contestação popular ao centralismo, e sem um Pinto da Costa regenerado, será muito difícil ao clube competir em circunstâncias iguais com os rivais de Lisboa. É lá que tudo se decide, e é para lá que os governantes do passado e do futuro continuarão a concentrar as prioridades em todas as áreas, inclusivé a desportiva.
Pensar que alguma vez esta situação se alterará por si mesma, é renunciar à mudança, é abdicar do direito a ser tratado como português e implicitamente aceitar a condição de colonizado. Tudo o resto é história aldrabada.