27 março, 2009

já agora, também do Brasil, a poesia da nossa amiga Neli

COMEÇAR DE NOVO

E foram tantos
desencontros
que na noite
em que você
me disse adeus,
já não dava mais
para olhar
nestes olhos teus.
Ao invés
de me desesperar
pelos cantos
como era de se esperar,
achei que seria melhor
eu me calar!
Ainda com o nó na garganta
fui para a varanda respirar...
E assim me aquietei
e aguardei
um novo dia começar!
.
neli araujo

Alcione, dose dupla (ela merece)

A música brasileira é uma das minhas predilectas, embora não o tenha aqui manifestado em vídeo-clip, com a proporcional frequência. Do velhinho Miltinho, Vinícius, Jobim, Buarque, Bethânia, Lins, Calcanhoto, etc., etc., esta, é (para mim), a mulher com a voz mais forte e sensual do Brasil. Se dançasse e fosse um pouco mais magrinha (a idade não perdoa), diria que era a Tina Turner do Brasil.

Canta os amores falidos, corrosivos onde (aparentemente), a mulher, surge como o elemento dominado. Mas, só fará essa leitura quem tiver do Amor, uma ideia estereotipada e snobe.





A falência técnica do Metro, não é do Metro, é do Governo Centralista

Cego, surdo, indiferente e implacável, o Governo prossegue a sua estratégia de secundarização e de esvaziamento económico estabelecida para o Norte, com a cidade do Porto incluída.
A Metro do Porto encerrou o ano de 2008 com um prejuízo de 149 milhões de euros, apesar de ter conseguido um aumento nas receitas operacionais de cerca de 30 milhões, levando-a uma situação de falência técnica. A notícia, assim descrita , pode levar muita gente a tirar conclusões precipitadas, ou seja, que os maus resultados derivam de uma inadequada gestão da empresa. Mas, não é efectivamente, esse o caso.
Segundo a Administração da empresa, a Metro viu-se obrigada a endividar-se para efectuar obras e comprar novos veículos, tendo para tal investido cerca de 124 Milhões de euros, com a Administração Central comparticipando apenas com 7,4 miseráveis milhões de euros. A administração da Metro defende que só contou do governo com 11, 6 milhões de euros de comparticipação, quando esperava receber 246 milhões, para indemnizações compensatórias!
Quando o Estado demora 7 anos (não são 7 meses!) para dar resposta a um contrato programa de financiamento, que mais lhe resta senão entrar numa espiral incontrolável de mentiras e contradições? Como quer o Governo credibilizar os seus pares mais sérios, a sociedade civil e o empresariado? A resposta mais provável será, apostando teimosamente nos méritos dos seus atributos teatrais e no efeito narcótico das telenovelas na mente de muitos portugueses. Só pode ser essa a explicação.
Mas, atenção, senhores governantes, não convém esticar a corda demasiado, porque a reacção popular a estas repetitivas habilidades pode, um dia, ser-lhes fatal. E para ser sincero, eu acho até que já tarda.

Obras de reabilitação da Ponte Maria Pia começaram, mas...



... lembrem-se, que estas obras já podiam e deviam ter começado, pelo menos, há uns generosos dez anos, dado que está desactivada há dezoito (desde 1991)!

Lembrem-se também, que a REFER suspendeu recentemente, sem dar qualquer explicação às populações locais, as linhas do Corgo e do Tâmega, alegadamente com carácter provisório, numa óbvia estratégia de esperar que o tempo se encarregue de apagar da nossa memória a pulhice, para depois continuarem com as vergonhosas negociatas da praxe.

Por último, não se esqueçam igualmente que esta mania desacatada de realizar obras de interesse público, com alguma visibilidade, em vésperas de eleições, não são mera coincidência. São manha, de pura e dura caça ao voto. Não nos deixemos impressionar com as promessas.

26 março, 2009

Incêndios de Primavera

Ainda mal despontou a Primavera e já começa o inferno dos incêndios nas sempre descuidadas matas do país. Só em Vieira do Vinho e no Gerês, houve 53 incêndios, nos espaço de poucos dias.
O ano passado, ao contrário do que é habitual, a Natureza foi amiga com o Governo (e nossa), porque, como devem estar lembrados, a Primavera foi excepcionalmente fresca e húmida, prolongando-se quase por todo o Verão, o que o tranquilizou e pôs a salvo de mais um (entre centenas de outros) vexame de incompetência, no que concerne à política de prevenção e combate aos fogos. Haja Deus, suspirarão de alívio os mais supersticiosos.

O caso, é que a mãe Natureza, apesar das barbaridades que o bicho homem lhe faz, em nome de um suposto e muito discutível progresso, ainda é quem mais ordena, e de vez em quando zanga-se, pagando-se com juros das agressões a que a sujeitam. Só é pena, que esses juros - que se traduzem na morte de centenas de milhar de pessoas inocentes e de animais - não sejam pagos pelos principais responsáveis dos países, particularmente, daqueles que sistematicamente violam os acordos internacionais de protecção do Ambiente. Os furacões e tsunamis, deviam começar por atingir a Casa Branca e pregar uns valentes sustos a famílias como os Bushs (o Obhama merece o benefício da dúvida) e seus seguidores em todo o Mundo. Umas quantas "justiças" destas feitas pela mãe Natureza, e esta gente talvez começasse a perceber finalmente a fragilidade dos seus bunkers, da sua condição de simples mortais, e a encarar estas coisas com a seriedade que merecem.

Mas, voltando aos "nossos" incêndios prematuros, receio bem que, se este Verão não for atípico, se as temperaturas forem condizentes com a estação, não tenhamos ilusões, iremos constatar, mais uma vez, a inoperância do Estado para lutar contra este flagelo, contemplando impotentes e revoltados, mais umas centenas de milhar de hectares de floresta ardida, de algumas mortes, com casas e herdades destruídas.

A cena que se seguirá, já a conhecem: aparecerá nos ecrans das nossas televisões um ministro qualquer, para tentar contrariar os testemunhos da sua incompetência, a desculpar-se com o choradinho do costume, dos incendiários, do descuido dos proprietários por não limparem os terrenos, e a jurar a pés juntos que os meios de combate aos fogos, são suficientes. Pronto, o sentido do «dever» estará assim cumprido. Até ao próximo verão, que é como quem diz, até aos próximos incêndios...

Mas, não liguem ao que aqui está escrito, haverá sempre um f.d.p. qualquer a lembrar-nos que isto, que mais não é do que a realidade, não passa de populismo barato.

O 5º. Canal aberto

A ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação), excluiu à pouco dias a Telecinco e a Zon do concurso para o quinto canal aberto. Esta decisão, despoletou imediatamente uma série de protestos e afirmações tempestuosas das partes interessadas, culminadas com a ameaça de acções em Tribunal. Para que conste, as partes interessadas, são, como não podia deixar de ser, da região de Lisboa.
Entretanto, surge um novo óbice a estas duas irrefutáveis e mui lisbocêntricas candidaturas. É que, o detentor da tutela para a comunicação social, Augusto Santos Silva (um homem do Norte), disse que o Governo pode decidir legalmente a reafectação desse canal sem concurso público, desde que se trate de um canal para o Estado.
Assim sendo, e se o Governo decidir accionar esse "legal" poder reafectivo, e entregar o 5º. canal ao Estado, não é previsível que se disponha a fazêlo no Porto, sabendo nós da sua vocação hiper-centralista para controlar os media. Mais uma vez, o Governo apresentará aos portuenses a enésima prova dos argumentos vigaristas que lhes andou a vender antes das eleições quando lhes promenteu a descentralização.
Meus senhores, fixem e anotem no vosso caderno de apontamentos, uma a uma, a falta de palavra desta gente e preparem-se, como deve de ser, para lhes responderem à altura, nas próximas eleições legislativas, mas não se esqueçam que da parte da oposição «eleitoralmente respeitável», a pantominice é exactamente igual.

25 março, 2009

No país dos cobardes

Pela calada da noite, como os malfeitores, o governo mandou encerrar os dois últimos ramais afluentes que alimentavam a Linha do Douro. A semelhança com as estratégias e actos cavaquistas no sector não é mera coincidência. No centrão a cobardia política é endémica. Ridiculamente, nesse mesmo dia, Cavaco Silva perorou em Vila Pouca de Aguiar sobre os problemas da "interioridade".

Os trasmontanos e durienses, que em breve serão espoliados do troço Régua-Pocinho (é uma questão de tempo), são há muito também espoliados do potencial hidroeléctrico dos seus rios engrossando os lucros obscenos da lisboeta EDP que, ironicamente, tem sede na praça do famigerado marquês do Pombal. Em breve o sequestro definitivo da água do Douro será levado a cabo pela EDP e pela Iberdrola através das novas barragens. Depois, mais tarde, porque esse dia chegará, será transvasada para o Tejo e Alqueva onde regará os múltiplos campos de golfe que são a nova coqueluche turística que substituirá a sul o já degradado Algarve. Os trasmontanos nada ganharão com isso. Nem eles nem os minhotos, nem os portuenses, nem as gentes do Vouga. Acreditem que também esse último e definitivo roubo nos será apresentado como um inquestionável interesse nacional. E ai de quem ousar duvidar ou questionar. Se necessário for ressuscita-se o marquês e assassina-se de novo os Távoras. Por cá haverá sempre quem a troco de um prato de lentilhas achará tudo isto muito bem.

O FC Porto sagrou-se campeão nacional na época transacta com larga vantagem sobre os seus adversários directos. Mesmo depois de num processo rocambolesco lhe terem subtraido 6 pontos, a vitória e a distância para os restantes foi clara e inequívoca. Espantosamente ainda não lhe entregaram o devido e merecido troféu. Apesar do clube portuense já ter reclamado, ingloriamente, para o ministro da presidência e para o secretário de estado do desporto, o "corajoso" político desempregado que por estes dias dirige a liga de futebol ainda não foi capaz de entregar a taça. Está com medo de quê?

UEFA põe ponto final

Não queria estragar a ideia do Rui em deixar o post anterior em cima o resto do dia, mas tenho visto isto hoje ao longo do dia. Penso que o Jogo foi o único a chamar o assunto à primeira página:

"O Comité Executivo da UEFA ratificou ontem a alteração ao regulamento de competições, designadamente a parte da admissão dos clubes para as provas europeias, substituindo a alínea d) do ponto 1.04, a tal que chegou a colocar em perigo a presença do FC Porto na edição deste ano da Champions. Recorde-se que, antes da mudança agora ratificada, lia-se na alínea em causa que um clube que "esteja ou tenha estado" ligado a actos de viciação de resultados seria automaticamente excluído das competições europeias.

Sem datas definidas, esse "esteja ou tenha estado" gerou discussões sobre retroactividade e obrigou mesmo o Tribunal Arbitral do Desporto (TAS), em resposta aos recursos apresentados, não só a legitimar a presença dos dragões na Champions, mas também a solicitar que a UEFA esclarecesse a norma.

A partir de agora, segundo o que foi ontem aprovado numa reunião que decorreu em Copenhaga, na Dinamarca - e sem prejuízo de outras sanções disciplinares -, serão punidos com o afastamento de um ano os clubes que tenham estado ligados, directa ou indirectamente, a actos ilícitos posteriores a 27 de Abril de 2007. A referência a Abril de 2007 explica-se por ter sido essa a data da revisão estatutária da UEFA, facto que serviu de baliza temporal à norma agora adoptada.

Por outras palavras, os portistas, punidos pela Comissão Disciplinar da Liga por factos ocorridos em 2004, não podem, de futuro, ver o acesso à Champions negado com base nesses casos.

Este é o ponto final de um processo que começou em Maio e que sofreu algumas voltas e reviravoltas, conforme se percebe pela cronologia da página ao lado, onde O JOGO faz o levantamento das datas mais relevantes, incluindo as partes da justiça desportiva portuguesa, que serviram de ponto de partida para todo

Os argumentos apresentados pelo FC Porto, na defesa pela legitimidade de participar na actual edição da Champions, acabaram por vingar. O caso dos portistas, recorde-se, tinha sido reenviado para o Comité de Disciplina da UEFA, mas, em função da alteração agora confirmada, o processo deverá ser arquivado."

Façam o favor de ler

Entrevista Aldo Naouri
"Os maus pais são os que acham que a criança tem direito a tudo"
Pediatra francês e autor de 14 livros sobre educação, Aldo Naouri defende uma educação ditatorial para ter filhos democratas.
Já está reformado, mas antes de ter deixado o exercício da pediatra ainda observou os netos de uma das suas primeiras doentes, orgulha-se. Sabe dizer "não tenhas medo" em 48 línguas, tantas quantas as nacionalidades de doentes que recebia no seu consultório, em Paris. Escolheu ser pediatra porque acreditava que não ia lidar com a morte. Enganou-se. Agora dedica-se à escrita de livros. Em Educar os Filhos: Uma Urgência nos Dias Que Correm, Por Bárbara Wong
publicada pela Livros d'Hoje, defende uma educação sem relações democráticas, onde as crianças são postas no seu lugar, que é o de obedecer sem questionar. Eles não têm direitos, porque não são o centro do mundo. Conservador? "Sim, mas no bom sentido da palavra", admite.
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Defende que os pais são muito permissivos e que devem exercer mais a autoridade. Como é que chegou a essa conclusão?

Quando os bebés vêm ao mundo, passam por um processo muito violento que é o da expulsão do corpo da mãe. Desde o primeiro dia que os pais procuram ajudá-los a adaptar-se e quando o bebé chora, a resposta dos pais é imediata na procura do seu conforto. Os pais acorrem imediatamente e o bebé compreende-o. O que defendo é que o bebé precisa de regras desde cedo, porque se estas não lhe forem ensinadas, ele permanecerá um bebé para o resto da vida.
Não é um cenário exagerado?
Não. A sociedade será constituída por indivíduos que estão centrados sobre si próprios, para os quais as regras e os outros não interessam. O problema da educação é não é só de cada uma das famílias, mas diz respeito directamente a toda a sociedade.
É por isso que defende que uma ordem, dada pelos pais, não deve ser explicada, mas executada?
Os pais e os filhos não estão no mesmo nível geracional, entre o pai e a criança a relação é vertical. Ao educarmos a criança, queremos elevá-la, fazê-la ascender ao nosso nível, ou seja, partimos do bebé para fazermos um adulto. Quando damos uma ordem e a explicamos, a relação vertical torna-se horizontal porque permitimos à criança que possa negociá-la. No entanto, ela precisa de saber que há limites.
Mas se aplicarmos este princípio, não estaremos a criar adultos sem pensamento crítico, que executam ordens sem perceber, nem contestar?
Este é um conceito que deve ser aplicado em qualquer idade: os pais dão a ordem e a criança executa. Claro que a ordem pode ser explicada, mas só depois. Dizer "não" a uma criança é como o parapeito de uma ponte, em cima da qual ela se encontra. Se não houver esse parapeito, a criança cai para o vazio e nenhum pai quer que isso aconteça. O "não" é uma protecção.
Os pais nunca pedem desculpa, nem mesmo quando erram ou são injustos?
Nunca! Os pais nunca pedem desculpa. Devem falar com firmeza e ternura. Nunca temos de nos justificar, nem de dar argumentos à criança. Podemos explicar, mas não justificar. O limite entre ambas é ténue, por isso defendo que na maior parte das vezes nem se explique.
O modo como os pais educam, por vezes, não é em reacção à forma como foram educados? Ou seja, eles tiveram pais rigorosos e autoritários, logo, são mais democráticos?
Justamente, quando os pais se tornam pais, por vezes, recordam que há algum ressentimento em relação aos seus pais e não querem repetir, nem querem que os seus filhos o sintam mais tarde. O que digo a esses pais é que as crianças estão condenadas a amá-los, porque foram eles que as educaram. É inútil entrar no jogo da sedução, esse é que é perigoso. Quando dizemos "não", estamos a impor limites, estamos a dizer à criança: "O teu percurso é por cima desta ponte e esta tem parapeitos para que não caias à água." Se os pais disserem "não" com tranquilidade, a criança não vai contestar.
Não haverá uma altura em que a criança quer espreitar por cima do parapeito ou por-se em cima dele?
A criança vai querer abanar a ponte, transgredir para ver se a ponte é sólida. Essa transgressão vai ajudá-la. As crianças são extremamente sensíveis aos limites, porque têm medo. A autoridade não é nociva, porque dá-lhes boas indicações sobre como é que devem seguir o seu percurso.
Por isso defende que é preferível educar as crianças de uma forma ditatorial a uma democrática?
Os pais são permissivos porque a ideia da democracia e dos direitos está muito espalhada. Ao criar as crianças de um modo ditatorial e autoritário, estas vão aprender a reprimir. A partir desse momento, compreendem que os outros também existem e, no futuro, serão democratas. Mas, se os criarmos em democracia, como se fossem iguais aos pais, vão crescer centrados sobre si mesmos, vão crescer como fascistas. O que é um fascista? É um indivíduo que pensa que tem todos os direitos.
Os pais têm mais direitos do que os filhos?
Hoje os pais procuram o prazer da criança e devia ser ao contrário. Os pais têm mais direitos, mas também mais deveres. O direito de saber o que é que lhes convém e às crianças e o dever de o impor à criança.
Não é isso a ditadura?
Não! Não é ditadura, mas autoridade. Se os pais continuarem a dar todos os direitos à criança, começam a pedir-lhe autorização para sair à noite, para fazer esta ou aquela compra. Em França, 53 por cento das decisões sobre que produtos comprar são decididas pelas crianças. Alerto para o risco de estarmos a criar tiranos.
Que tipo de adultos estamos a criar?
A mensagem do marketing insiste na importância dos filhos, o que paralisa os pais. A mensagem tem como objectivo aumentar o consumo. E estamos a criar crianças tiranas, autocentradas, perversas, que só pensam nelas.
São crianças que não sabem reagir à frustração? Que efeitos pode a actual crise económica ter sobre elas?
A crise económica é já um resultado de uma educação irresponsável.
Isso significa que as duas gerações anteriores já foram educadas nesse paradigma de que a criança é o centro do mundo?
Sim. As coisas começaram a mudar a partir do momento em que entrámos numa sociedade de abundância. Antes disso, dizíamos: "Não se pode ter tudo." A partir dos anos de 1955/1960, passámos a dizer: "Temos direito a tudo." A partir desse momento, começou a crescer a importância do "eu, eu, eu".
Sempre pensou assim, ou, à medida que foi envelhecendo, foi mudando?
As crianças vão ao meu consultório e não têm problemas. Porquê? Porque trato rapidamente desta dimensão da educação com os pais. Quando estes falam com outros pais, recomendam-me: "Vai falar com Naouri." E eles vêm. Preciso de duas ou três consultas para resolver os problemas com eles. Porquê? Porque dou este tipo de explicações.
Quais são as principais queixas dos pais?
Falta de disciplina, mau comportamento, desobediência nas horas de comer, tomar banho ou de dormir. Os pais pedem socorro, porque não conseguem reprimir as pulsões das crianças. Seja uma criança de um, três ou sete anos, procedo sempre do mesmo modo. Falo com os pais, escuto o que se passa, agradeço à criança por me ter vindo ver e ter trazido os pais e digo-lhe ainda que me vou ocupar dos pais. Em 80 por cento dos casos, as coisas ficam em ordem.
Como é que os pais sabem que são bons pais?
Os bons pais são os que permitem à criança poder desejar. Os excelentes não existem. Todos os pais têm defeitos, os maus são os que acham que a criança tem direito a tudo.
Qual é a sua opinião sobre as novas famílias, as monoparentais, as homossexuais, as divorciadas que voltam a casar... Podem ou não ser boas educadoras?
Em nome do egoísmo pessoal tomamos decisões que são prejudiciais para as crianças. As crianças filhas de pais divorciados divorciam-se mais rapidamente. As crianças de famílias monoparentais são crianças sós. Quanto aos casais homossexuais, a criança é como que um produto. Temos direito à felicidade, à saúde, a tudo o que queremos e também a uma criança. Isso é desumanizante.
Deviam existir escolas de pais, para estes aprenderem a educar?
Pessoalmente acho que a escola de pais vai ainda paralisá-los mais. Eles recebem demasiadas mensagens, algumas contraditórias e que paralisam. Defendo que os pais devem ser pais, que não tenham medo de o ser e de ter confiança. Se assim agirem, saberão o que fazer.
NOTA DO RoP
Dada a extensão da entrevista de Aldo Naouri ao jornal PÚBLICO, não tenciono escrever hoje qualquer outro post, ou artigo. O tema da Educação, é na actualidade, o mais importante a nível mundial.
Os métodos ditatoriais das gerações da classe política actual, são um pouco o espelho do que o pediatra francês nos fala nesta entrevista. São os primeiros herdeiros de uma educação mimada, pouco repressiva, cujos resultados são a síntese do que é brilhantemente descrito na entrevista.
Recomendo veementemente a sua leitura, porque o seu conteúdo, ao contrário do que parece, tem tudo a ver com o futuro do Porto, e da nação que queremos ser.

Autismo popular

Sobre super-heróis
Na Tailândia, um menino autista de oito anos que se isolara na varanda de um 3.º andar e aparentemente fazia tenção de se suicidar foi salvo por um bombeiro que, sabendo quanto ele gostava de super-heróis, se vestiu de Homem-Aranha. "Parece incrível, mas o menino lançou-se-lhe nos braços assim que o viu", relatou o sargento Virat Boonsadao.
O autismo é uma doença terrível, causadora de grande sofrimento, segundo se supõe (sabe-se ainda muito pouco) provocado por uma insuportável e permanente tensão ao nível das meninges. Fazer deste caso, comovente, uma alegoria pode parecer cruel. Mas interrogo-me se os povos, como os indivíduos, não podem também ser "autistas", se o alheamento, os interesses limitados, o défice de atenção e a incapacidade de resposta ao que, a nível social e político, se passa à sua volta, acompanhados do gesto repetitivo de votar sempre nos mesmos partidos, não serão características de uma cultura autista. Povos assim lançam-se facilmente nos braços do primeiro bombeiro que, vestido de super-herói, lhes aparece pela frente. Basta ver as sondagens.
[Manuel António Pina/JN]
PS-O itálico é nosso

24 março, 2009

Reconhecimento tardio de José Mourinho

José Mourinho lembrou o passado
24.03.2009
FC Porto "foi a melhor equipa que alguma vez treinei"

Ao longo do dia, José Mourinho submeteu-se a perguntas de estudantes e de jornalistas. A estes últimos, lembrou a frustração que viveu quando abandonou o Benfica, a superequipa que criou no FC Porto e aquela que é a sua meta actual: conquistar "o título mais difícil" de todos, o campeonato italiano, ao serviço do Inter de Milão.
Exibindo as insígnias de doutor honoris causa, que lhe foram entregues pelo reitor da Universidade Técnica de Lisboa, Mourinho lembrou que, no início da sua carreira, foi alvo da "aversão daqueles que estavam no poder". " Viam [em mim] um jovem que queria chegar ao poder", sustentou. Agora, "em vez de deixar aos jovens algumas cascas de banana, como tentaram deixar a mim, prefiro ajudar na sua preparação", acrescentou. Cerca de 100 jornalistas, de diversos países, acompanharam o dia que José Mourinho passou na sua antiga faculdade. E foi inevitável falar dos clubes por onde passou, abordando FC Porto, Chelsea e Barcelona.
Em relação aos portistas, o actual treinador do Inter deixou avisos sobre o Manchester United. "Vai defrontar o actual campeão europeu, que é uma equipa muito, muito forte. Mas o FC Porto tem cultura na Liga dos Campeões", referiu. E, lembrando a equipa com que ganhou a Taça UEFA e a Champions, acrescentou: "Foi a melhor equipa que alguma vez treinei". Horas antes, enfrentou um ginásio repleto de alunos, a quem disse que gostaria de terminar a carreira no cargo de seleccionador nacional, algo que espera acontecer só daqui a uns 15 anos.
V.F. (jornal PÚBLICO)
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Pode dizer-se tudo sobre José Mourinho, excepto que é burro. Chega tarde, contudo, o reconhecimento de um facto que muito tardou a anunciar publicamente: que o Futebol Clube do Porto foi a melhor equipa que alguma vez treinou.
Obviamente, que esta declaração não se trata de um simples gesto de simpatia ou consideração pelo clube do Porto, porque quem conhece JM sabe que não é o galanteio a sua principal característica, e se fosse o caso, já o teria feito há mais tempo. A questão é outra. É que José Mourinho já percebeu que a fasquia que levantou a si mesmo, foi demasiado alta para quem está há tão poucos anos na alta roda do futebol europeu, e percebeu finalmente que o dinheiro, ainda não é tudo, para se ter sucesso.
A experiência com o Chelsea foi sensacional, tanto para ele, como para o próprio clube, visto ter conseguido levar a equipa londrina a ganhar duas vezes a fantástica Liga inglesa, mas foi tudo. No FCPorto, clube infinitamente mais modesto em recursos económicos e financeiros, foi muito mais além: ganhou tudo o que havia para ganhar. Campeonato Nacional, Taça de Portugal, Champions League e a Taça UEFA. Depois, enquanto saiu do Porto com o papo cheio de vaidade, de forma abrupta, quase ingrata, no Chelsea foi despedido. Sem grandes estragos, é certo, mas o facto é que foi despedido. Milionariamente, claro.
Agora, no Inter de Milão, JM está de novo muito bem colocado para ganhar o calccio, continuando a fazer um excelente trabalho, mas sente que ainda não pode cantar a vitória, porque o futebol italiano, tal como o inglês, é extremamente competitivo e (diga-se) pouco pacífico. Agora, Mourinho, começa a perceber que não vai ser fácil repetir a colecção dourada de êxitos conquistados no Dragão, não obstante a sua relativa juventude, e por isso disse o que disse, sobre o Futebol Clube do Porto. Sem favor. Afinal, foi o FCPorto quem lhe deu as condições óptimas para projectar a sua carreira, depois de passar sem brilho pelo Benfica e ser despromovido a treinador do União de Leiria, clube onde o FCPorto o foi buscar.
Mas há um detalhe que não perdôo a José Mourinho, que foi o longo silêncio a que se remeteu durante toda esta farsa do Apito Dourado, e das intrigas nacionais sobre Pinto da Costa, sem se dignar uma única vez solidarizar-se com o clube que lhe deu tudo. Ao fazê-lo, permitiu que se especulasse, sobre os seus próprios méritos como dos seus jogadores, o que no mínimo, se estranha, embora também tenha servido para pôr no escalão máximo do ridículo e da hipocrisia, aqueles que agora o homenageiam.

23 março, 2009

Boavista

Eu continuo a querer que o Boavista seja nosso e que continue para sempre a ser. Mas enquanto for dirigido por gente que aceita 'solidariedade' de quem contribuiu afincadamente para a sua desgraça não vai longe. Há gente que anda sempre com as calças baixadas.

Não é dia 28 que joga a selecção no Dragão?

O Ramaldense

O campo de jogos do Ramaldense está em risco de desaparecer, o que coloca em risco a viabilidade do clube. Os proprietários do terreno querem reaver a sua posse plena e a Justiça já lhes deu razão. É um triste problema. O Ramaldense é um antiquíssimo clube da nossa cidade, inúmeras vezes campeão nacional de hoquei em campo. Sem parque de jogos deixará de existir e algumas centenas de jovens que ali treinam e competem em várias modalidades, serão lançados à rua. Mas, por outro lado, parece legítima a pretensão dos proprietários. O progresso urbanístico das cidades que não têm área exterior para onde se desenvolver, é feita à custa do edificado do passado. Há a obrigação colectiva de salvaguardar o que tenha interesse histórico ou artístico, mas não é o caso do campo de jogos do Ramaldense, que até tem um exterior pouco atractivo. Assim, em minha opinião, poderia ser sacrificado.

Como resolver esta contradição? Penso que há um modo muito fácil de enunciar mas talvez difícil de realizar. Os proprietários do terreno vão fazer uma fortuna com a sua venda para fins imobiliários. Deveriam ser obrigados a ficar com o encargo da substituição do campo. Não muito longe dali existe um parque desportivo que em tempos pertenceu à extinta FNAT. Não sei que uso tem hoje em dia, mas talvez esteja sem utilização ou em sub-utilização. Poderia ser cedido ao Ramaldense?

Ignoro se a CMPorto está envolvida nesta questão. Se não está, devia estar. Afinal de contas está em jogo a continuidade de um clube desportivo que é património da cidade e que o Porto não deve deixar desaparecer. São razões mais do que suficientes para que a Câmara se envolva na procura de uma solução justa e equilibrada.

Benfica, um mito canceroso, com rabos de palha

Agora, mudando o assunto para a área do anedotário saloio, não posso deixar de falar sobre o que aconteceu no sábado, no jogo entre o Sporting e o Benfica, para a «pré-fabricada Taça da Liga», parida para os clubes da capital poderem dizer que ganharam qualquer coisinha antes que não ganhem nada. Aquilo, foi um vómito autêntico, mas deu para os mais distraídos perceberem o nível de exigência daqueles que andam a apregoar aos sete ventos a «seriedade e a transparência» para o futebol português.
Não é que já não soubéssemos, mas pelo menos ficou ainda mais exposto o rabinho sujo desses meninos que têm passado estes últimos anos a conjecturar sobre a seriedade dos sucessos do Futebol Clube do Porto e a conspirar contra ele, na tentativa desesperada de o ultrapassarem através da perfídia, já que não o conseguem, como Homens, no futebol jogado, puro e duro.
Eu cobria a cara de bosta se os adeptos do meu clube se prestassem um dia a fazer esta figurinha triste de gente sem carácter e disposta a tudo, só para merecerem uns segundos das atenções do Mundo.
De tal maneira, disposta a tudo, que aceitam como boa e merecida, a «conquista» de um troféu através da alucinação [ele chama-se (a)lucínado baptista] de um árbitro que lhes ofereceu um penalti milagroso e expulsou ilegalmente um jogador da equipa adversária.
É esta, a seriedade dos vermelhos de um bairro ordinário de Lisboa, é com este mérito que consolam o ego de gente imoral e revelam à sociedade a linha tortuosa das sua colunas dorsais débeis e indefinidas.
É esta mesma gente que fala de transparencia e tem o desplante de andar a difamar quem é mais sério do que ela. Está à vista. O Benfica é isto. Trampa, corrupção e salazarismo pidesco.
PS-Vá, despachem-se, vão agora lá chamar o Platini & Ca., para ele ver como são sérios os vossos troféus...

Jornal de Notícias, irreconhecível

Paulatinamente, com a naturalidade de quem está habituado a escolher o que come, e não, tudo o que me põem no prato, fui deixando de ler o Jornal de Notícias. No princípio, como qualquer pessoa que dá importância aos afectos das raízes, fui resistindo à tentação de uma brusca ruptura com um jornal que sempre me habituei a associar ao Porto, mas, à força de tanto ser contrariado pelas suas políticas editoriais submissas e centralistas, não tive outro remédio senão deixar de o ler.
Devo dizer, que este "deixar de ler", para ser correctamente interpretado, é extensível ao verbo composto "deixar de comprar", o que, para a facturação de um jornal, é substancialmente diferente, e mais sério. Se, a este facto, juntarmos a possibilidade de procedimento igual ao meu, poder já estar a ser seguido por muitos outros leitores, o problema complica-se.

O que me confrange mais, quando assisto ao definhar consciente (ou inconsciente) de um jornal como o JN, é mais a adulteração do próprio jornal e a falta de respeito por todos quantos contribuíram seriamente para ele ser o que foi e já não é, do que, por quem hoje nele trabalha. Neste momento, apenas lamento que pessoas, já de vetusta idade, como o Hélder Pacheco e o Germano Silva (e outros), que tanto contribuíram para o conhecimento da história do Porto, estejam a ser apanhadas nesta ratoeira montada por oportunistas sem escrúpulos, em que foi transformado o Jornal de Notícias. Daí, ter também alguma dificuldade em imaginar o estado de espírito destes homens em relação ao que está a acontecer numa casa que foi sempre mais deles, do que de quem agora manda nela.
Como dizia há dias, o nosso amigo e colaborador Rui Farinas, aqui num post: «Roma não paga a traidores!». Foi inspirado por esta sábia frase, que não me deixei impressionar com o destino de muitos jornalistas do JN agora no desemprego. Por quê? Porque assistiram impávidos e serenos à descaracterização do JN, todos estes anos, sem se imporem, sem se revoltarem, até ao dia em que levaram um pontapé no traseiro e foram postos na rua. Então aí, já se lembraram de lançar uma petição a favor da preservação e sobrevivência do Jornal de Notícias... Esqueceram-se, foi de esclarecer os leitores, a que Jornal de Notícias se referiam eles, se ao de outros tempos, se ao de agora, e se a eventual recuperação dos postos de trabalho nas mesmas condições bastaria para aceitarem continuar a lá trabalhar.
Acho patética esta nova mentalidade que pariu uma noção da ética e da dignidade orientada exclusivamente pelo dinheiro do ganha pão. Há pessoas que assimilaram uma ideia completamente distorcida do que é o direito à indignação e do preço que ele tem. A rejeição de algo que transcende os nossos níveis de tolerância e nos distingue do homem ordinário, tem um preço, normalmente elevado, e é preciso estar disposto a pagá-lo, para a merecermos. Será que os jornalistas agora despedidos tiveram a coragem de o fazer? Será que, quando o caminho desvirtuado do jornal começou, souberam unir-se e opôr-se a ele?

O JN de agora, só serve mesmo para contar histórias de faca e alguidar, e de processos com «apitos» para mouro entreter. O JN, está a afundar-se cada dia que passa, mais e mais. E, para ser sincero, era mesmo capaz de assinar uma petição para exigir a demissão imediata de toda a Administração e respectiva Direcção, e ver até que ponto o jornal ainda tem salvação.

22 março, 2009

Porto do passado, Porto do futuro

Intervenção do Porto na Guerra Peninsular
A histórica resistência da Invicta face aos franceses

As invasões francesas tiveram um impacto decisivo na sociedade portuguesa do século XIX e representam um momento histórico para Portugal, na medida em que conduziram à independência do Brasil e à instituição do regime da monarquia institucional.

Com efeito, foi da cidade do Porto que , durante a Primeira Invasão (1807-1808) partiu o movimento de libertação que haveria de expulsar as tropas do General Junot do país. Com a chegada das forças do marechal Soult, a capital do Norte foi rapidamente tomada e saqueada pelos franceses. Entre 29 de Março e 12 de Maio de 1809 viveu um dos seus períodos mais dramáticos, cujo climax foi o desastre da Ponte das Barcas, ainda hoje presente na memória colectiva. Já a Terceira Invasão (1810-1811) decorreu longe do Porto, onde pôde, no entretanto, preparar-se a Revolução de 1820.

(ana filipa gaspar/Público)



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Enquanto os políticos que temos se esforçam por bater todos os records da incompetência e da sem vergonhice, o Porto, vítima-mor das suas irresponsabilidades, continua, entregue a si mesmo, a resistir e a impor-se no estrangeiro. Não é só no futebol.

Os portuenses, nas últimas décadas, já se habituaram, a serem reconhecidos e respeitados lá fora, na razão inversa como são desprezados e desrespeitados cá dentro.
Qualquer cidadão normal de um país normal, terá imensa dificuldade em perceber esta política suícida e divisionista, levada a cabo pelos governantes de um país que esteve cerca de 40 anos debaixo de um regime ditatorial, no entanto, é isso mesmo que está a acontecer.

O caso relatado no recorte aqui ao lado (clicar sobre, para ler), à imagem do que vem sucedendo com a própria Universidade do Porto, é uma bofetada de luva branca no autismo dos governantes. A empresa chama-se Ablynx, e exporta 100% do que produz (projectos de investigação) e, ao contrário do Estado, combate a fuga de inteligência para o estrangeiro a ponto de a ir recuperar lá fora e reinserir no mercado de trabalho nacional.

A questão pertinente a colocar, seria procurar saber até que ponto estas pessoas terão ou não motivação para se orgulharem de ser portuguesas, antes de se orgulharem de ser portuenses...