25 março, 2009

Autismo popular

Sobre super-heróis
Na Tailândia, um menino autista de oito anos que se isolara na varanda de um 3.º andar e aparentemente fazia tenção de se suicidar foi salvo por um bombeiro que, sabendo quanto ele gostava de super-heróis, se vestiu de Homem-Aranha. "Parece incrível, mas o menino lançou-se-lhe nos braços assim que o viu", relatou o sargento Virat Boonsadao.
O autismo é uma doença terrível, causadora de grande sofrimento, segundo se supõe (sabe-se ainda muito pouco) provocado por uma insuportável e permanente tensão ao nível das meninges. Fazer deste caso, comovente, uma alegoria pode parecer cruel. Mas interrogo-me se os povos, como os indivíduos, não podem também ser "autistas", se o alheamento, os interesses limitados, o défice de atenção e a incapacidade de resposta ao que, a nível social e político, se passa à sua volta, acompanhados do gesto repetitivo de votar sempre nos mesmos partidos, não serão características de uma cultura autista. Povos assim lançam-se facilmente nos braços do primeiro bombeiro que, vestido de super-herói, lhes aparece pela frente. Basta ver as sondagens.
[Manuel António Pina/JN]
PS-O itálico é nosso

5 comentários:

  1. Eliminei o comentário anterior por engano.

    Aqui vai de novo:

    Acho de um absoluto mau gosto o texto do Manuel António Pina. A questão das meninges parece também absurda.

    O autismo é um problema terrível e o grande sofrimento vem da incapacidade de comunicar com os outros, devido a, entre outros aspectos, à incapacidade de compreender e gerir as expectativas sociais.

    De facto comparar, alguém que por PREGUIÇA INTELECTUAL, FALTA DE CULTURA, FALTA DE CIVISMO E FALTA DE RESPONSABILIDADE, se alheia de um papel activo enquanto cidadão, a uma criança que tenta desesperadamente entender o mundo e encontrar o seu lugar no mesmo é, por si só, um sinal de burrice.

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  2. Miguel,

    Eu não interpretei o texto de M.A.Pina dessa maneira, caso contrário, nunca o teria publicado aqui.
    Observe-se o que o autor escreve sobre a doença: «o autismo é uma doença terrível, causadora de grande sofrimento, segundo se supõe provocada por uma insuportável e permanente tensão ao nível das meninges». A seguir diz: «Fazer deste caso, comovente, uma alegoria pode parecer cruel.»

    Para mim, a parte relevante do artigo é a que coloquei propositadamente em itálico, e, diga-se, que concordo totalmente com ele.

    Um abraço

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  3. Concordo plenamente com o que o Rui escreveu. Não acho nada de mau gosto o texto do António Pina, bem pelo contrário! Pensa-se pelos estudos feitos, que o autismo está ligado com problemas nas meninges.

    A dificuldade de comunicar, do autista, só se verifica quando não reconhece os seus "heróis" e os seus "idolos", o que não foi o caso!

    Renato

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  4. Caro Renato,

    Pensa-se em muitas possíveis causas para o autismo. Infelizmente os estudos do autismo estão ainda numa fase muito inicial.

    Fala-se de coisas diversas, desde alguns metais das vacinas, de alergias e até pre-disposições genéticas.

    Não sendo o autismo uma doença, mas antes um conjunto de manifestações mais ou menos graves, existem diversas possíveis origens e diversos tipos de diagnóstico de acordo com a sintomatologia ou grau de evolução no espectro autista. Uns casos terão origem genética, outros em factores exteriores. Hoje em dia diagnostica-se até tipos de autismo mais "ligeiros", com elevados níveis funcionais, como o Síndrome de Asperger" ou os "Savants". Nestes últimos casos, os indivíduos são autónomos e fruto de alguns comportamentos obsessivos e de uma capacidade fora de vulgar em áreas específicas, são normalmente muito bons nas suas áreas de especialidade.

    Em todos os casos, as dificuldades de comunicação são reais e terríveis, geradoras de grande sofrimento. Estas dificuldades podem ser minimizadas com um grande esforço, mas estão sempre lá.

    Continuo a achar que é uma injustiça comparar os auto-alienados da sociedade(que vão na corrente por preguiça e comodismo) com pessoas que todos os dias lutam para superar as suas dificuldades, que percebem o mundo, mas são incapazes de comunicar com ele.

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  5. Então, o ideal, é deixarmos, definitivamente, de usar, o termo "autista". Eu vou tentar fazê-lo, porque são aceitáveis e humanos os argumentos do Miguel.

    Duvido é que os políticos façam o mesmo...

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