12 maio, 2017

Estamos sob ataque

David Pontes*

É uma nuvem ameaçadora aquela que paira hoje sobre as democracias ocidentais. Depois de Trump e da interferência russa, ainda sob investigação, mas que é clara no que respeita ao saque a que foram sujeitos os emails da candidatura democrata, anunciava-se que algo semelhante poderia suceder com as eleições francesas. O ataque informático à candidatura de Emmanuel Macron acabou por suceder, mas na sexta-feira antes da data do sufrágio e sem resultados evidentes.
Por um lado, porque a própria candidatura tomou precauções e espalhou documentos falsos entre os ficheiros roubados; por outro lado, porque o período de reflexão - tantas vezes escarnecido entre nós - impediu legalmente os jornais de publicar matérias que pudessem influenciar o resultado eleitoral. Mas quer isto dizer que a nuvem se dissipou?
Uma investigação jornalística do jornal "The Guardian" tem vindo a revelar uma teia de ligações que mostram que ela continua ameaçadora, capaz de influenciar as nossas democracias. No centro desta teia está Robert Mercer, um multimilionário de Silicon Valley dono de um dos fundos de investimento mais lucrativos do planeta e que sozinho apoiou Trump com 13,5 milhões de dólares. Mas a sua principal arma é uma empresa chamada Cambridge Analytica, capaz de reunir e analisar gigantescos volumes de dados e com eles desenhar estratégias para influenciar eleitores. A nossa pegada digital é um manancial de informações que facilmente pode ser utilizado para influenciar a maneira como vemos o Mundo, nomeadamente através do que nos é servido na Internet, nas nossas buscas ou no Facebook, por exemplo.
Esta empresa, ou alguma das suas sucursais, trabalhou para a campanha de Trump e para a campanha do Leave e se acrescentarmos que Robert Mercer é amigo de Nigel Farage, que o conselheiro de Trump Steve Bannon foi vice-presidente da Cambridge Analytica e que esta empresa opera intensamente com empresas estatais russas e mesmo nas eleições deste país, a teia começa a revelar a sua forma ameaçadora.
A revista "The Economist" classificava esta semana os dados informáticos como "o mais valioso recurso do Mundo", apelando às autoridades que se modernizassem para enfrentar os desafios para a economia que elas representam. Mas, como mostra o caso da Cambridge Analytica, temos de ir mais longe, com novas regras para a proteção e manipulação de dados, porque mesmo que não vejamos, que mal percebamos, é a democracia que está sob ataque.
* SUBDIRETOR (JN)

10 maio, 2017

Universo Porto da Bancada, vai-se ficar pelas queixas?

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O FCPorto transporta
o símbolo da cidade:
respeitem-no!

Desde que arrancou o programa Universo Porto da Bancada [volto a insistir] estranhamente tarde, fui aqui alertando para  a trivialidade da iniciativa caso não fosse posteriormente complementada com uma decisão mais enérgica. Custa-me sequer admitir que tal decisão não tenha sido previamente considerada pelo corpo jurídico do FCPorto na eventualidade de os órgãos que tutelam a disciplina no futebol continuarem a proceder como se nada e ninguém estivesse acima deles.

O FCPorto, pela voz de Francisco J. Marques, batizou com irónica pertinência esta competição de Liga Salazar, e é verdade: tresanda a PIDE. Daí que, estando na posse de tantos elementos que provam a pertinência das queixas apresentadas com os consequentes prejuízos  para o clube, torna-se indispensável recorrer a instâncias superiores, isto é, ao Governo. É preciso lembrar a quem de direito que, segundo consta da Constituição vivemos num Estado de Direito e o que está a acontecer além de anti-constitucional é crime punível por lei. 

Os problemas do FCPorto de carácter estritamente  desportivo  relacionados com jogadores e treinador, são uma realidade, mas pertencem  a outro departamento. Têm a ver com os dirigentes e a massa associativa e devem ser resolvidos entre estes, sem fugas às responsabilidades, de parte a parte. Ponto. Outra coisa bem diferente é o comportamento dos órgãos federativos que tem de ser tratado fora do clube com a Justiça.

Na minha opinião, o problema prioritário, não é interno, é o que comecei por referir nos primeiros parágrafos: perda de confiança nos órgãos federativos. É grave. Ao contrário de alguns portistas, que estranhamente preferem ganhar a qualquer custo, "contra tudo e contra todos", pela minha parte prefiro que o FCPorto providencie no sentido de obrigar o Governo a encarar esta situação com a responsabilidade que lhe cabe, e limpar a Federação dos corpos suspeitos que a compõem. Sem isso, não haverá equipa e treinador que resistam. Tal como está, é uma competição desigual, viciada à partida. 

Nem o FCPorto, nem qualquer outro clube, podem ser obrigados a participar em provas desportivas em condições desfavoráveis. Numa competição a valer, as regras do jogo têm obrigatoriamente de ser iguais para todos. Aceitar o contrário, é pactuar com os infractores. Há quem confunda garra, superação das adversidades, com valentias quixotescas, onde a uns se permite jogar com misseis, e a outros com fisgas.

Num contexto destes, se fosse jogador, aceitava que o treinador exigisse de mim todo o empenho, que suasse a camisola, mas já não aceitava que me pedisse resultados numa prova minada por árbitros vendidos, num clube que não soubesse defender os seus atletas quando fossem ostensivamente discriminados. Não me surpreendia muito se daqui a uns tempos, soubesse que alguns futebolistas (e não só) que jogaram no FCPorto nos últimos 3/4 anos, contassem nos seus países o ambiente que aqui viveram, e a discriminação que este clube suporta para poder competir...

Chega! Quem não pode mais encolher os ombros é o senhor Presidente. Nem pode mais falar, só para não estar  calado. Tem de provar que ainda é útil, mas com as atitudes e decisões correctas. É sobretudo ele, o primeiro* responsável por deixar uns canalhas, uns troca-tintas miseráveis brincarem com os portistas. Ou seja: o melhor que o Porto cidade tem.

*primeiro responsável dentro do clube apenas. Fora dele, o primeiro responsável é o próprio Governo que se alheia do assunto e todos os partidos políticos que por oportunismo e conveniência seguem os mesmos maus exemplos.

09 maio, 2017

Que mundo feio este

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Duarte Lima, um estadista...
Lançando um olhar probo sobre o mundo, para a situação anárquica em que se encontra, nada me convence que se quisermos preservar a liberdade e optimizar as virtudes da democracia, sem antes aprimorarmos o funcionamento dos partidos, as hipóteses de melhoras serão nulas.

A iniciativa teria de passar em primeiro lugar pelos próprios partidos, novos e antigos, e naturalmente por todos os cidadãos.

Dizer que os partidos são imprescindíveis à democracia é um argumento vago, redundante e cómodo. É como afirmar a importância produtiva dos trabalhadores numa fábrica. Pouco interessa se são trabalhadores ou operários, porque não é a gramática que vai avaliar o que produzem, é o resultado do produto. Na política, é o bem estar generalizado dos povos que define a qualidade dos políticos e dos governos. Tão simples como isso.

É muito complicado governar. Talvez por ter disso consciência, nunca me passou pela cabeça estar à altura de tamanha responsabilidade, das barreiras que teria de transpor para levar a cabo as minhas convicções. Talvez também porque sempre teimei em ver a política como uma actividade nobre, uma espécie de puzzle onde peças desavindas se obrigam a conviver harmoniosamente através da noção de justiça de quem o maneja. Mas, não é assim que a real política funciona.

Os paradigmas da grande política degradaram-se. E o pior, é que não despontam novas ideias, novos líderes, novos valores, outras formas de ordenar o mundo, a sociedade, sem sucumbir à soberba, e à discriminação. Todos diferentes, todos iguais. Haverá frase mais realista e simples que esta?

Vejamos: terá sido o desempenho politico de Dias Loureiro que tornou os portugueses mais felizes? Foi o estatuto social e os conhecimentos económicos do banqueiro Ricardo Salgado que tornaram o povo mais rico? E terá sido o semi-analfabetismo de António Aleixo que o impediu de ser um dos poetas humoristas mais brilhantes do país?  Onde caberá aqui a superioridade das castas?

Nesse caso, por que será que esta gente "importante" não aprende a ser mais modesta? Por que é que continuam arrogantes quando tão pouco valem? Há espécies humanas desta natureza em excesso  no mundo. Se não mudam, é porque o regime o permite, até lhes dá alento para continuarem... É desta gente que os povos menos precisam porque na realidade, além de imprestáveis, são péssimos cidadãos.

Quando os regimes democráticos permitem interferências tão nefastas como estas na vida dos povos e conspurcam as sociedades com fraudes bilionárias, prolongando o tempo de liberdade aos infractores, aceita-se muito mal estes conceitos de liberdade numa Democracia que se quer adulta.

PS-Não falei num ex-político acusado de homicídio, roubo e outras singularidades pelo estado brasileiro, só para não ferir susceptibilidades... Está "em prisão domiciliária", num apartamento de luxo. Coitado. Abram-lhe a gaiola, que é um ex-político! Não há democracia sem partidos!?!? 

07 maio, 2017

O melhor que o FCPorto tem, são os adeptos!


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E com isto resumo globalmente  o melhor do FCPorto das últimas 4 épocas. 

Este é um elogio mais que merecido, tão merecido como é a minha total reprovação aos dirigentes, presidente incluído. Jorge Nuno Pinto da Costa pouco mais fez que confirmar o que o refrão dita sobre lideranças fracas: tornou, não só fraca a modalidade principal do FCPorto, como irreconhecível.

Falar do treinador antes do Presidente, como sempre disse, seria alterar a ordem natural da hierarquia e da responsabilidade. Para mim, este treinador é consumadamente fraco, falhou sempre em momentos cruciais. Mas não foi ele quem decidiu treinar o FCPorto, foi quem sempre o fez: o Presidente. 

As coisas são mesmo assim, louva-se o que é de louvar, censura-se o que é censurável. Considero algo medieval a gratidão não correspondida. Diga-se o que se disser, evoque-se o que PC fez no passado, nada justifica que a submissão ao silêncio por parte dos portistas se eternize no tempo. Chegou o momento de repensar bem a admirável solidariedade  que sócios e adeptos têm prestado a Pinto da Costa e interrogarmo-nos seriamente se vale a pena mantê-la. 

Quatro anos de insucessos, e de futebol angustiante, é demasiado tempo para um clube como o FCPorto. As probabilidades de vencer este campeonato são cada vez menores, e ainda que o consiga, não gostava de ver outra época Nuno E. Santo a usar o FCPorto como se fosse a sua escola privada de treinador. O FCPorto já atingiu um estatuto demasiado elevado para se compadecer com aprendizes. O Porto precisa de treinadores creditados. Os tempos hoje são outros, não é qualquer um que pode levar este clube às glórias do passado.

Por paradoxal que pareça, depois de aqui tanto elogiar os simpatizantes portistas, não me importo de passar por ovelha ranhosa deixando aqui bem vincada a minha total oposição à continuidade do treinador.  Para que conste, já o tinha feito antes, em anteriores comentários. Por quê? Porque estou plenamente convencido que  Nuno E. Santo não tem mesmo unhas para ser treinador de equipa grande.

Além demais, para mim, é muito cruel  ver um clube que sempre exalou alma, competência e valentia, transformado numa espécie de mosteiro onde aos jogadores, só falta usar o terço no lugar das chuteiras.