12 novembro, 2009

A crise do FCPorto - uma reflexão

Rui Valente não quer este blogue transformado num blogue futebolístico. Tem toda a razão, já que existem outros assuntos de interesse para tratar. Mas há momentos em que não é possível seguir esta regra. Há dias foi ele, hoje sou eu.

Sobre JF já foi dito tudo o que havia a dizer. O seu obstinado conservadorismo no modelo de jogo, a sua teimosia doentia ao dividir os seus jogadores entre "protegidos" e "proscritos", a recusa em fazer real aproveitamento de jovens promessas, a sua postura receosa nos grandes jogos, etc. Muita gente, entre a qual me incluo, tira uma conclusão de tudo isto: JF não serve para treinador do FCP e quanto mais depressa sair, melhor ( a propósito, é confusão minha ou JF renovou o contrato por duas épocas, esta e a próxima?).

Se sobre JF está tudo dito e repetido, o mesmo não se passa sobre a SAD. É uma omissão curiosa, uma vez que a SAD é a entidade patronal e como tal é dela que têm de sair as medidas correctivas que reponham a equipa na sua habitual senda de vitórias e bom futebol. A SAD está forçosamente a par da situação menos boa da equipa de futebol, e também não é crível que não tenha conhecimento da preocupação e até angústia que percorrem milhões de adeptos. Até ao momento não lhes ouvimos uma única palavra de conforto nem promessas de medidas que restabeleçam a nossa abalada confiança no que diz respeito ao resto do campeonato. Este silêncio é uma falta de consideração para com os adeptos que verdadeiramente são o clube. Se pensam que o clube é a SAD e todos os corpos directivos, estão muito enganados. O clube são os seus adeptos, sem adeptos não há clube e muito menos haverá SAD.

Acredito que a SAD também esteja preocupada e que esteja a trabalhar num plano de contingência, mas este silêncio vem infelizmente dar continuidade ao porte majestático que a SAD parece ter passado a adoptar nos últimos anos, com evidente prejuízo das vias de comunicação que deverão existir entre a cúpula do clube e os seus seguidores.

Espero que esta carência de comunicação venha a ser modificada muito brevemente, até porque os dirigentes da SAD não podem lavar as mãos como Pilatos, na medida em que os técnicos e os jogadores não constituem os únicos culpados dos nossos actuais problemas. Uma parte substancial do que está a acontecer resulta das estratégias financeiras e desportivas que têm sido implementadas e que, na minha modesta opinião, necessitam, se não de novos interpretes pelo menos de uma cuidada reflexão na procura de novas vias.

Se eles o afirmam, nós confirmámos. Mas não aplaudimos.

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Depressão

Dizia-me o Rui Farinas visivelmente incomodado, à despedida, depois de alguns minutos de conversa sobre o estado da Nação: «temos de começar a falar de outros assuntos, isto é deprimente!». Antes, já eu lhe confessara a minha frustração por toda esta comédia e a vontade que às vezes tenho de acabar com o Renovar o Porto.
De facto, é deprimente viver num país como este. Querem ver? Só hoje, o JN [excluindo o fedorento processo "Face Oculta"], brindou-nos com estas animadoras notícias:
Temos aqui uma primeira boa razão para levantar o moral, sabendo do benefício directo que estes lucros da banca produzem no bolso dos portugueses tendo em conta a insuspeita seriedade dos respectivos gestores...
Outra razão para confiarmos nos argumentos dos nossos governantes sobre a necessidade da construção das barragens e, particularmente, na meticulosa atenção reservada aos impactes ambientais... Por falar nisto, não foi o Jorge Coelho quem disse que não era rico num famoso programa de televisão, antes de transitar para o poleiro da Mota Engil?
Cá está um belo terceiro motivo para o nosso contentamento. Quando acontecem estes lucros, é garantido que o desemprego desce, e a gasolina também. Ah, e os vencimentos dos administradores idem, idem, aspas, aspas...
Quem diria! As companhias de seguros, sempre tão zelosas em servir os seus clientes! Não, não pode ser verdade! Decididamente, esta não é uma boa razão para ficarmos optimistas.
Como? Com a qualidade de vida que temos? Com a competência dos nossos governantes? Com a funcionalidade das nosssas Instituições? Com a saúde da nossa Democracia? Não pode ser, a União Europeia não sabe fazer relatórios, é o que é.
Obs-Caro Rui Farinas, não seremos nós que estamos de mal com a vida? Ou somos mesmo Calimeros?

11 novembro, 2009

Bruxelas aponta falhas no programa nacional de barragens

Um relatório encomendado pela Comissão Europeia refere que os impactos e a verdadeira necessidade do programa nacional de barragens português foram mal avaliados.

De acordo com a Sic Notícias, que veicula a informação, o documento refere que ficaram estudos por fazer como aqueles para avaliar os impactos das novas barragens na qualidade da água.Na bacia hidrográfica do Douro, por exemplo, a construção de cinco novas barragens “irá deteriorar significativamente” a qualidade da água.

O governo já adjudicou a maior parte das construção referentes ao plano, uma das bandeiras do actual governo socialista. O Ministério do Ambiente esclarece à SIC que já conhece o conteúdo do relatório desde Junho.O relatório avisa ainda que caso Portugal concretize todas os dez aproveitamentos hidroeléctricos previstos no Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico, irá falhar o cumprimento da directiva europeia sobre a qualidade da água.

“Considerando a relação custo-benefício é difícil compreender esta decisão”, sustentam ainda os investigadores, citados pela mesma cadeia televisiva.

No Programa de Governo, apresentado e discutido na semana passada na Assembleia da República, a “implementação do Plano Nacional de Barragens” consta na alínea dedicada à energia hídrica do capítulo sobre a “revolução energética”

O Executivo de José Sócrates definiu como meta para a energia hídrica o aumento da actual potência hidroeléctrica instalada, ambicionando cumprir a redução de 54% para 33% do potencial hidroeléctrico por aproveitar até 2020.

[António Larguesa/Jornal de Negócios]

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EMEF pode perder trabalho na Metro

tudo dentro da «normalidade», a Norte... Até à independência final. E, por que não?

Informações importantes [jornal Público]


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10 novembro, 2009

Regionalização

Tenho que utilizar a página do leitor para desancar na maioria dos políticos portugueses,nomeadamente naqueles que já defenderam a Regionalização e que agora, bem situados e bem concentrados na capital do império à deriva, ignoram, escandalosamente, esta Reforma prevista na Constituição desde 1976!

Quem é o senhor Jorge Lacão para vir afirmar que “regionalizar não é uma prioridade para este governo e para o país”? Para este senhor, e para o governo, uma das prioridades é o casamento entre pessoas do mesmo sexo !!!

O que estes cavalheiros pretendem é continuar a concentrar, adicionando mais e mais sectores a uma capital cada vez mais Obesa, menos flexível, menos eficaz e muito menos solidária (Nada para a “província”. Tudo para a capital)!

Gostaria de os ver trabalhar e viver (com ordenados baixos e nível de vida precária) nasRegiões fora da capital, como a região Norte, por exemplo, que a leva a ser a terceira Região mais pobre da Europa!

A criação das preconizadas Cinco Regiões, atendendo às características de desenvolvimento económico e social, serão um excelente instrumento natural de aplicação do espírito de solidariedade inter e intra-regional, contribuindo para a democraticidade da administração dos interesses públicos regionais, e seu desenvolvimento, que se encontra num estado comatoso! Será muito vantajoso para os cidadãos, empresas e país, a criação de um Poder democrático regional, bem estruturado, nascido da regeneração desta administração pública que nos tem governado.

Só deste modo poderemos ter um país menos desigual, com mais justiça social e económica, e com uma melhor distribuição da riqueza produzida por cada região, mas não só. E acima de tudo para que o Norte e o Porto (assim como outras regiões) deixem de ser vilipendiados, como aconteceu com o desvio dos dinheiros oriundos da União Europeia, para Lisboa, a propósito do “spill-over effect”!

Se tudo continuar como até aqui, com as regiões a definhar, a luta das pessoas tornar-se-à inevitável!

É preciso dizer basta! Unidos vamos dar um novo rumo a este pobre país!

Renato Oliveira

Obs.- Esta carta foi enviada pelo autor para o correio do leitor dos jornais JN e Correio da Manhã

Políticos = Vigaristas

Governo não fica refém da regionalização

Ora aqui temos mais um bom motivo para continuarmos [como autênticos carneiros] a acreditar neste regime «democrático». Pergunto-me, um tanto estupfacto, confesso, o que pensarão neste momento os portuenses que foram a votos nas últimas legislativas.

O PS - como o PSD, aliás -, já tinha mentido antes, repetidas vezes. Prometeu uma coisa em campanha eleitoral e, com a naturalidade de quem está habituado a conviver impunemente com a fraude e a viver dela, incumpre logo que recupera o Poder. Meus senhores, quantas mais sacanices estão dispostos a tolerar?
Com vigaristas deste quilate, [este é o nome correcto a dar a esta gente], venham agora convencer-me que o voto em branco não pode ser viciado? Não tenham dúvidas meus senhores,
a abstenção, numa democracia doente e viciada como está a "nossa", é o segundo acto de cidadania mais inteligente e seguro. O primeiro, é descobrir uma fórmula célere e eficaz de encarcerar esta canalhada, e a seguir, arrumar a casa e recheá-la de gente séria para a governar [isto, se ainda houver...]
Concurso da segunda fase do metro volta a ser adiado
Ora toma, Zé Povinho portuense, aqui está a segunda dose [que é a forma gastronómica de dizer traição] !
Agora, não te esqueças de votar outra vez nas próximas eleições, porque estas pessoas que dizem representar-te são lestas a cumprir o que prometem... Vota Zé Povinho, vai lá, vai votar outra vez. Confia, porque como podes ver, vale a pena...
PS-Declaro aqui, publicamente, que não acredito em políticos honestos. São todos iguais. Há apenas uns que representam melhor do que outros.

09 novembro, 2009

Jesualdo Ferreira

Não gosto de engolir sapos, embora já tenha engolido alguns saborosos, como foi o terceiro campeonato consecutivo conquistado pelo professor Jesualdo Ferreira. Até já escrevi que não me importava de digerir o 4º. sapo se Jesualdo ganhasse o tetra, mas desta vez suponho que ele não vai ter essa sorte, nem eu este estúpido sentimento ambivalente que é gostar de ver sempre o FCPorto ganhar campeonatos sem gostar do modelo de jogo utilizado por Jesualdo Ferreira.
As opiniões dividem-se, o que pode ser salutar em certos casos, mas não me parece que seja o caso do futebol.
Há aqueles adeptos que, vá-se lá perceber porquê, interiorizaram a ideia de que criticar o treinador do nosso clube é como dar um tiro no próprio pé, mas eu ainda estou longe de perceber este modelo de solidariedade clubística. Para se gostar de um clube de futebol parece-me razoável que se comece por gostar de futebol, como me parece que para se gostar de futebol é fundamental distinguir o bom do mau futebol. É como comer. Há pratos que nos agradam muito, uns assim assim e outros, nada! Só nos dispomos a comer qualquer coisa quando não temos mais nada ou estamos cheios de fome.
Acontece que os adeptos do FCPorto, não estão habituados a comer qualquer coisa. Além de estarem [bem] habituados a ganhar, estão habituados a ver a sua equipa a praticar um futebol agradável e bater-se de igual para igual com equipas economicamente mais poderosas recheadas de jogadores de top, e já feitos. Mas, não é esse o rumo que a actual equipa do FCPorto parece querer continuar. O futebol agora praticado pelo FCPorto de Jesualdo, é anárquico, inconsequente e terrivelmente enfadonho, coisa que me parece não ser o mais recomendável para atrair adeptos ao estádio...
Sacrificando a equipa a um modelo de jogo exageradamente obstinado em termos estratégicos, Jesualdo consegue amputar a criatividade dos jogadores com essas características quando mais precisa deles. Não devo estar enganado se disser que o próprio Lucho Gonzalez, um jogador de classe internacional, foi perdendo criatividade, ficando mais inibido, menos versátil, de época para época.
Jesualdo, teve de conviver com algumas contrariedades, como as lesões de Varela e mais recentemente de Fucile a par do baixamento de forma de Cristian Rodriguez e do próprio Raul Meireles, mas mesmo assim não é razão para ter a equipa há 4 ou 5 jornadas seguidas a jogar cada vez pior. O discurso que teve ontem [que a equipa jogou mal e que era preciso reflectir para o interior o que se estava a passar], já o devia ter há algum tempo atrás. Vem tarde, como tardias são as substituições que faz, quase sempre sem grande convicção ou sentido.
Jesualdo, pode bem agradecer aos adversários directos terem andado distraídos estes últimos tempos com o ouro dos apitos ou com a organização interna dos seus clubes, e não lhe darem a luta que deviam, caso contrário os campeonatos ganhos não teriam sido tão acessíveis. Não é que me deixe impressionar pela verborreia em torno do «glorioso», porque essa é habitual, mas a verdade é que este ano estão a jogar melhor e o Braga continua meritoriamente a comandar o campeonato.
Com este modelo de jogo, sem brio nem brilho, a Champions não vai durar muito mais tempo, nem os milhares de euros vão continuar a encher os cofres do Dragão. A meta do afastamento da prova fica mais perto. Mais. Pergunto-me mesmo, se na eventualidade de o FCPorto se reforçar no mercdo de Inverno, Jesualdo saberá aproveitar os novos jogadores se não soube aproveitar os que tem à disposição desde o início da época... Das duas, uma: ou não é ele quem escolhe os jogadores e nesse caso "tudo" lhe é desculpado, ou se é [como quero crer], escolhe mal.
Seja como for, a continuar a produzir um futebol de tão baixa qualidade, não acho que o FCPorto mereça ser campeão, nem o 4º. sapo que estaria disposto a engolir teria qualquer sabor. É urgente uma mudança radical no sistema de jogo. Será Jesualdo capaz de a levar a cabo?

Degradação de Estado e seus derivados

Devem-se ainda lembrar que durante uns dias ou semanas seguidas, fartei-me de "martelar" contra o atraso vergonhoso do Processo Casa Pia. Cheguei mesmo a pensar continuar a fazê-lo todos os dias, mas, como qualquer ser humano normal que preserva a manutenção da sanidade mental, tive de apontar as "baterias" para outros assuntos igualmente graves que ocorrem com mais assiduidade do que seria desejável num país respeitável.
Acontece, que esta interminável bandalheira vai minando a credibilidade de todos os agentes do Estado com responsabilidades directas na manutenção de escândalos em que estão envolvidos "grandes" figuras da vida pública como acontece agora com este Processo Face Oculta, e aconteceu há bem pouco tempo, com o BPN/BPP, Freeport e a Operação Furacão.
O povo, já não acredita, e com toda a razão, na Justiça, e sabe de antemão que nestes casos, onde constam os "tubarões" da sociedade e altos funcionários do Estado, os processos irão arrastar-se indefinidamente, até à absolvição final dos mais poderosos. Se for possível [e costuma ser...], lá prendem durante uns diazinhos ou uns mezitos, um qualquer Bibi ou preventiva faz-de-conta, enquanto os tubarões continuam a gozar a vida e a [in] justiça...
Não descortino, por tudo isto, qualquer razão honesta para avocar o respeito público por figuras como o Presidente da República, o 1º. Ministro, ou o Procurador Geral da República [só para falar nas mais relevantes]. Nâo sei porque razão teremos de sentir especial consideração por um Presidente da República que permitiu - independentemente dos seus poderes estatutários -, que um homem como Dias Loureiro permanecesse no exercício de um cargo com a dignidade de Conselheiro de Estado depois de saber do seu envolvimento num caso obscuro de criminalidade sem exercer, em tempo útil, a sua inflûencia para o convencer a demitir-se, mais que não fora para poupar o Conselho de Estado a uma exposição pouco condizente com a sua respeitabilidade.
Tenho na minha estante o Arquipélago de Gulag, de Alexandre Soljenitsine, que já li há umas dezenas de anos, e me ajudou a perceber as vulnerabilidades pouco edificantes do regime comunista, mas em contrapartida [ainda] não li qualquer volume de O Capital, de Karl Marx, para poder ter uma ideia mais profunda sobre o mesmo. Mas também não preciso, para chegar à conclusão de que o Capitalismo não é a solução para a Humanidade, que não pode nem deve confundir-se com Democracia, nem a Democracia como uma espécie de sacramento inviolável. Todos estes preconceitos mascarados de ideologia ou de filosofia de vida, únicos, devem ser substituídos por conceitos sólidos e justos para governar o Mundo.
O tempo da escravatura, à primeira abordagem, parece-nos distante porque já não vemos o amo com o chicote na mão a obrigar o escravo a trabalhar, mas dela ainda há muitos resquícios. A roupagem, os cenários, foram as poucas coisas que mudaram. Os empresários da sociedade moderna ainda gostam de ser tratados por patrões, e os licenciados pela sigla anterior ao nome,
que lhes confere a diferença estatutária sobre o outro. Nunca, ou muito raramente, nos lembramos de aprofundar a discussão destas normalidades porque, de algum modo, sempre pensamos um dia poder vir a beneficiar desse estatuto, mesmo que seja por interposta pessoa ou um familiar. Nós queremos a mudança sem percebermos que ela implica uma nova maneira de encarar a vida e os costumes.
Desculpem-me estas aborrecidas dissertações sem pretensões filosóficas, mas tal como as sociedades estão hoje organizadas, não vislumbro forma de acabar com o lamaçal em que se transformaram. Os líderes, são marginais ambiciosos e sem escrúpulos. A Justiça, tenta livrar-se deste lixo, mas acaba por se envolver e afundar com ele.
A violência, as revoluções, o sangue, a morte de muitos inocentes, advêm sempre da degradação dos impérios. E por aqui, os vestígios do imperialismo estão mais vivos do que parecem. A camuflagem disfarça-os, mas é fraca.

08 novembro, 2009

Aqueles que Júpiter quer perder

Portugal continua em foco, mas pelos piores motivos. A corrupção atinge níveis máximos, as desonestidades e pouca-vergonha sucedem-se com frequência cada vez maior. As maiores e mais significativas são em Lisboa, envolvendo altas figuras do Estado, incluindo o primeiro-ministro, protagonista de episódios por enquanto muito mal contados. Tem-se a impressão que os mecanismos de investigação funcionam, o que talvez seja o motivo da aparição à luz do dia de tantos casos de favorecimento público com origens criminosas.

O pior vem depois. A justiça portuguesa afunda-se cada vez mais no descrédito. A própria Procuradoria Geral da República que deveria ser um órgão acima de todas as suspeitas, dá sinais nunca desmentidos de procedimentos se não desonestos, pelo menos revestidos de inqualificável desleixo. Ainda na imprensa de hoje se podem ler notícias de demoras incompreensíveis na tramitação de documentos referentes ao processo Face Oculta. Dadas as figuras públicas envolvidas e considerando antecedentes conhecidos, a opinião pública tem toda a legitimidade para acreditar na possibilidade da existência de favorecimentos ilegítimos e de fortes movimentações de tráficos de influência. Esta desconfiança leva essa mesma opinião pública - na qual eu me incluo - a encolher os ombros em relação àquele processo, na convicção de que é mais um que, por incomodar poderosos, vai dar em "águas de bacalhau".

Há uma citação latina que diz que "Quos vult perdere Júpiter dementat prius" que significa que " aqueles que Júpiter quer perder, começa por lhes tirar o juízo". Parece que é o que está a acontecer. O atrevimento atingiu um nível tal como se os corruptores - activos e passivos - tivessem chegado ao grau de loucura que os vai perder.

Um dia, a bem ou a mal, este panorama vai terminar, porque estamos a atingir níveis impensáveis de manter no seio de uma União Europeia. Mas enquanto isso não acontece, o país vai-se enterrando na porcaria (para não lhe chamar outra coisa) perante a preocupação das maiorias impotentes e a satisfação cúmplice da minoria aproveitadora.

O Grande Polvo, é muito mais que futebol


A presunção de inocência de qualquer cidadão, incluindo daqueles que são constituídos arguidos, é algo a que se dá maior atenção consoante o perfil desses cidadãos e arguidos. Se a figura pertencer a um clube de futebol como o FCPorto e Pinto da Costa, a Procuradoria atalha caminho, promove entrevistas e nomeia equipas de investigação "especializadas" sem se preocupar minimamente em poupar a imagem do visado, alimentando sem grandes escrúpulos a voragem da comunicação social.

Vimos a triste figura do Sr. Procurador e de Maria José Morgado com todo o processo do Apito Dourado - cujo principal objectivo era, como sabemos, derrubar a liderança do Presidente do FCPorto e o próprio clube -, sem que, afinal, houvesse matéria incriminatória que a justificasse [se é que pode haver justificação possível para pessoas com este poder, fazerem figuras tristes...].

O populismo, a sede de fazer justicialismo à la carte, de mostrar serviço para agradar aos poderes regimentais e respectivas instituições desportivas [benfica e sporting], não os coibiu de levar aparatosamente a tribunal Pinto da Costa, acompanhado de agentes policiais como se faz com os arguidos que se recusam a comparecer voluntariamente às audiências [e mesmo assim, só em casos de perigo extremo]. Fizeram-no com o Boavista, arredando o histórico clube portuense da 1ª divisão à velocidade da "Luz", ainda que, com a cumplicidade irresponsável dos seus ex-presidentes [Valentim pai e filho], coisa impensável se o clube pertencesse a uma instituição desportiva da capital. Sem pudor, nem piedade, ajudaram ao funeral.

Tudo isso, para noutras circunstâncias e com protagonistas de outra dimensão social e responsabilidade política, serem tímidos, ambíguos e lentos no despacho de processos, como agora aconteceu com as certidões que há 4 mêses foram entregues pelo Departamento de Investigação de Aveiro na Procuradoria Geral da República!

O puzzle vai ganhando forma, e, como se pode verificar pelo teor do texto retirado do Público de hoje [em cima], as ligações promíscuas entre o futebol, a política e comunicação social, são muito mais profundas e gravosas para o erário público do que a "fruta" e as aleivosias de Carolina a Pinto da Costa. Dá para entender porque é que os senhores jornalistas nem sempre vão ao fundo das questões, e porque o Norte não tem quem o defenda. O "Polvo" é gigante. Está tudo comprado. Os rabos de palha são mais que muitos, e a maioria deles vão continuar a ficar no segredo dos Deuses, e a culpa é do Pinto da Costa...