02 junho, 2016

Agora que há treinador, é comer e calar

Sinto-me algo isolado nas convicções que venho mantendo em relação à crise que se instalou no FCPorto. Há um grupo de portistas que partilham amiúde das minhas inquietações, eu sei, mas como disse anteriormente, decepciona-me ver tantos a assobiar para o lado, fingindo que não sabem onde está o centro dos problemas. Ou, se acanham, com receio de serem mal interpretados, acusados de falta de gratidão, ou preferem esperar (mais uma época) para ver no que dá. Como quer que seja, se quisermos fazer avaliações ponderadas sobre o assunto, deixando em banho-maria a objectividade, colocando em seu lugar questões de fé, é inútil andarmos a pregar todos os dias das maleitas do doente (FCPorto) se recusamos aceitar o diagnóstico da doença.

Se insisto nesta postura de cepticismo, é porque já cheguei à conclusão que o timoneiro não só perdeu qualidades, como hoje tem nas mãos "barcos"  a mais para pôr a navegar na rota certa (do êxito). Um deles chama-se Porto Canal. Além de continuarmos sem termos garantias de competitividade que implicam luta, dentro e fora do campo, nada sabemos (uma vez mais) do rumo que se entende dar ao Porto Canal. Porque, tal como está agora, nem para quem lá trabalha pode interessar, a não ser por mero comodismo ou falta de ambição.

Será que o presidente leva mais a sério a burocracia da SAD, que o futuro desportivo do FCPorto e pensa que também não deve explicações aos adeptos?  Não havendo uma estratégia de comunicação bem gizada, um plano programático que satisfaça as carências regionais e clubistas, que comporte a irreverência e a combatividade, para que serve um negócio que abdica da sua concepção genética? Passe o exagero, de que serve um rádio, sem som? Uma televisão híbrida, sem imagens, ideologicamente pobre? Já não bastam as que temos em Lisboa, que frequentemente e à mesma hora estão todas a dizer a mesma coisa? Será possível que alguém dentro da SAD considere o Porto Canal uma aposta bem sucedida? 

Há certos tabus que têm de acabar na actual organização do FCPorto. A blindagem de outrora não faz sentido hoje no clube, e muito menos no Porto Canal. A televisão é mais do que uma ferramenta, é uma arma. Uma arma, que outros têm usado e abusado para "destruir" o FCPorto e de que nós abdicamos, até para nos defendermos.  E eles lá em Lisboa não têm só uma, têm várias e manejam-nas conforme entendem sem preciosismos de consideração e respeito por nós. Não foi isso que ainda ontem Pinto da Costa disse? Que estavam a tentar matar-nos (o FCPorto)? Quem são os nossos inimigos? O Miguel Sousa Tavares? O Pedro Marques Lopes? O Renovar o Porto, que ele nem sequer lê? Quem, senhor Pinto da Costa? Não me responda a mim, responda ao universo portista que vai muito para lá do universo dos super-dragões.

Será com isto que vamos ter de viver nos próximos tempos? Nesta angústia, com este clima de fragilidade, sujeitos a tanta humilhação? Será este o peso que Nuno Espírito Santo também vai ter de suportar como treinador do FCPorto, ou haverá alguém na administração que assuma essa responsabilidade? São estas as respostas que não temos. Os discursos abstractos nunca foram o forte de Pinto da Costa. Podiam ser mordazes, pouco simpáticos, mas eram pragmáticos, e nós até gostávamos das comichões que eles geravam nos nossos adversários saloios. Como Mourinho, a simpatia nunca foi o seu forte, mas era eficaz. Tal como Pinto da Costa foi.  


31 maio, 2016

Opinem, opinem, e não falem do essencial...

Cada cabeça cada sentença
Respeito a opinião de todos estes portistas, embora me identifique mais com a de Carlos Tê. Como disse anteriormente e repito, para mim na actual conjuntura dirigente do FCPorto, não é a constituição do plantel, nem a escolha do treinador que mais me preocupa, é a liderança.

Se não invertermos as prioridades, se não cairmos na abstracção e ignorarmos a realidade tal qual ela se nos apresenta, e pensarmos que tudo se resume à equipa técnica e ao plantel, estaremos a negar tudo o que dissemos no passado (e bem) sobre a  solidez e competência de Pinto da Costa. Antes, dávamos ao presidente toda a liberdade para escolher a equipa técnica que bem entendesse, porque confiávamos nele, a ponto de nos convencermos que no FCPorto qualquer treinador estava "condenado" ao  sucesso. Agora, a exigência dos portistas está praticamente concentrada em quem vai ser o treinador e os jogadores. Compreende-se, mas dá-me a impressão que para eles o principal problema do FCPorto é a equipa e o treinador, quando a questão é outra.

Depois, começa a tornar-se maçador - de rotineiro que passou a ser -, vasculhar o passado deste ou daquele treinador, para daí concluirem se serve ou não para o FCPorto. Já se esqueceram que Mourinho era um ilustre tradutor de Robson e pouco mais, quando chegou ao clube e fez o que fez. Isto, depois de ter passado pelo Benfica com o moralizador currículo de nada ter feito. Fernando Santos tinha consigo a experiência de ter treinado esse colosso chamado Estrela da Amadora. Jesualdo Ferreira, idem aspas. Enfim, agora ninguém serve. Nem Nuno Espírito Santo que em termos de carácter é bem mais portista que Victor Baía. Nunca se queixou quando ficava no banco. Vi-o a defender a equipa como poucos. Contudo, não me arrisco a dizer se ele vai ser, ou não, bem sucedido, porque se dantes podíamos confiar praticamente em qualquer um, porque tínhamos um líder forte, hoje duvido que Simeone, ou Guardiola, fossem bem sucedidos mesmo com um bom plantel, mas com esta liderança permissiva de agora. 

Só isto, explica em parte, por que é que os portugueses apesar de andarem há 42 anos a serem mal governados, discriminados, explorados mesmo, continuam a votar maioritariamente nos mesmos partidos que os desgraçaram. No entanto não me parece que essa maioria tenha a vida fácil, ou viva dos rendimentos...Vá lá, que desta vez pode ser que consigamos respirar um bocadinho melhor, graças à coligação insólita do PCP/Bloco de Esquerda com o Partido Socialista! Até Marcelo Rebelo de Sousa foi contagiado! Para melhor, quanto a mim.

Metam um coisa na cabeça, só quando Pinto da Costa disser que não vai mais permitir abusos, discriminações contra o nosso clube, quando nos provar que está preparado para enfrentar o centralismo pelos cornos, como tão bem sabia antigamente, é que podemos passar a discutir com a devida prioridade a questão dos treinadores. 




29 maio, 2016

Moncho Lopez conseguiu escapar à crise. Parabéns redobrados!



Como se previa, a crise de liderança instalada ao mais alto nível na estrutura directiva do FCPorto, reflectiu-se noutras modalidades que também muito prometiam pela excelência dos seus jogadores e treinadores (hóquei e andebol). Tanto numa, como noutra destas duas modalidades, não notei qualquer decréscimo em termos qualitativos, quer no que respeita a jogadores, quer a treinadores. Bem pelo contrário. 

No andebol, acho até que desenvolvemos um tipo de jogo mais coeso e espectacular que no tempo do insuspeito e fantástico Obradovic. Contudo, não escapamos à vergonha do proteccionismo das arbitragens que beneficiaram como vem sendo hábito, os nossos adversários da capital nos jogos decisivos, porque fomos mansos. O mesmo se aplica ao hóquei, muito embora aqui o factor juventude tenha contribuído também para o insucesso. Tudo isto torna o trabalho de Moncho Lopez duplamente louvável. Mas, isto não pode nem deve servir para branquear o efeito dominó que uma gestão descuidada sempre provoca nos atletas de um clube, seja em que modalidade fôr. A excepção foi o basquete, e provavelmente um ou outro escalão de formação (sub 19).

Tive o ensejo de ler as declarações aparentemente emocionadas de Pinto da Costa, em Espinho, no almoço de aniversário da conquista da Champions de 1987.  Aqui vai um excerto:


Luta contra o centralismo

“Se nos atacam desta forma é porque não nos consideram mortos, mas querem-nos matar. Desde jovens que fomos habituados a ouvir que o FC Porto, para vencer, tem que ser muito melhor do que os outros. Temos de estar atentos ao fenómeno que as nossas vitórias causam num país centralista, no qual os jornais teimam em ignorar-nos, sabendo que sempre somos obrigados a pagar o preço do nosso sucesso. No dia em que jogámos a final da Taça de Portugal, um jornal desportivo ignorava-o e trazia uma grande fotografia do Jorge Jesus. Mas no dia seguinte, só porque o FC Porto perdeu, o jornal já fazia primeira página com a vitória do Sporting de Braga.”

Vejamos: estas declarações não cheiram a prato requentado? Será alguma novidade para qualquer portista que tenha os olhos bem abertos, o que ele disse? Afinal, quem é que deixou de estar atento ao que dizem e escrevem os media centralistas? Nós, ou ele? Não foi ele quem abriu as portas a uns cavalheiros com responsabilidades nesses pasquins de Lisboa na gala do Dragões de Ouro? 

Não é a discutir o sexo dos anjos que pessoalmente me convenço que algo de importante está para acontecer para melhor num futuro próximo do FCPorto. Não é assim que se restaura a união, e se acaba com a especulação, é reconhecendo erros próprios e dando garantias que não voltam a acontecer,  e esses erros foram explícitos pelo silêncio e pela indiferença face à discriminação de que ele agora se queixa e que todos estamos cansados de saber.

Sendo assim, por que é que Pinto da Costa em vez de repisar no que já sabemos de ginjeira, não nos garante o que precisamos de ouvir? Por quê? Isto parece mais o jogo do gato escondido com o rabo de fora, que uma declaração de regresso à combatividade, que é o que o FCPorto precisa. Disso, e de uma estratégia de comunicação franca, destemida e aberta, sobretudo com o universo portista. 

Para mim, não é o treinador nem os jogadores que mais me interessam, é a consistência e a frontalidade de quem lidera. Se esta for garantida, o resto virá por acréscimo, como sempre foi, aliás. Não me meto a dar palpites sobre quem vem ou deixa de vir, desde que o mais importante seja garantido. E o mais importante, é sem dúvida, a força da liderança. Não me sinto incomodado por dizer aquilo que convictamente penso, nem belisco em nada o meu portismo, estou à vontade. O FCPorto não é uma única pessoa, por mais que ela tenha feito pelo clube, são todos os portistas, sejam eles sócios ou adeptos.